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John Wayne e Kirk Douglas |
A não ser quando dirigido por John
Ford, John Wayne atormentou a vida de quase todos os diretores com quem
trabalhou depois de ficar famoso. Certa vez, durante as filmagens de “Rio
Lobo”, o Duke se intrometeu tanto na direção que Howard Hawks disse a ele: “Como é bom ganhar sem trabalhar. Digo isso
pois você é quem está dirigindo este faroeste...” Por sinal “Rio Lobo” foi o
mais fraco dos filmes que o Duke fez com Hawks. Se essas coisas aconteciam
quando Wayne era contratado para atuar, imagine-se o que ocorria quando ele
produzia algum filme através da sua Batjac. Esse foi o caso de “Gigantes em
Luta” (The War Wagon) em que Kirk Douglas atuou ao lado de Wayne, western
produzido pela Batjac em 1967. Douglas declarou tempos depois: “Olhem, eu sou meticuloso quando estou produzindo algum filme, mas John
Wayne é muito mais chato do que eu. John chega nos sets de filmagem antes de
todo mundo, checa tudo minuciosamente e fica o tempo inteiro dando palpites.
Pobre do Burt Kennedy que não sei como aguentou passar por aquilo...”
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Burt Kennedy e John Wayne |
O
provocador Kirk Douglas - Burt Kennedy foi contratado para
dirigir e teve que se submeter ao temperamento inquieto e nem sempre polido de
John Wayne. Kirk Douglas, que recebeu 300 mil dólares e mais uma porcentagem
sobre os lucros do filme, entendeu-se melhor com o Duke, a quem gostava de
provocar. Numa sequência em que John Wayne ‘dirigia’ em lugar de Burt Kennedy,
Wayne posicionou os atores como gostava de fazer, ladeando-o e ele falando ora
com os da direita e ora com os da esquerda. Enquanto Wayne falava com os atores
à sua esquerda, Kirk à sua direita se afastou sorrateiramente e quando Wayne
foi olhar para ele, Kirk estava agachado... enchendo uma caneca do café que
estava numa fogueira. Nervoso Wayne perguntou: “Por que você saiu de perto de mim?” Sorrindo, o galhofeiro Kirk
respondeu: “Assim a cena fica mais
natural...”, com o que Wayne acabou concordando. Se com Douglas não ocorreu
nenhum problema maior, o mesmo não se pode dizer em relação a Howard Keel.
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Howard Keel |
Gigantes
quase em luta - Passado o tempo dos musicais, Howard Keel começou a ter
cada vez menos propostas de trabalho e aceitou interpretar o índio Levi Walking
Bear em “Gigantes em Luta”. John Wayne com seu costume de dar instruções desprovido
de qualquer delicadeza, empurrou Howard Keel com força para a posição que ele
queria e o ator-cantor não gostou. Isso se
repetiu mais duas vezes até que Keel perdeu a paciência. Howard tinha a mesma
altura de John Wayne (1,93m), mas era 12 anos mais novo e muito mais forte que
o Duke que ainda se recuperava da retirada de um pulmão dois anos antes,
respirando muitas vezes com a ajuda de um tubo de oxigênio. Ao ser empurrado mais
uma vez, todos que estavam no set empalideceram ao escutar o que Howard Keel
disse para Wayne: “Pare com isso! Se você
me empurrar de novo eu vou esquecer quem você é e como você está e vou empurrar
você com um soco na sua cara!” Mais que todos Wayne ficou surpreso e calado
por alguns segundos, pedindo em seguida desculpas a Keel. Se Duke resolvesse brigar sabia
que levaria a pior
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John Wayne socando Howard Keel em "Gigantes em Luta". |
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John Wayne e Kirk Douglas |
O
Duke quase atropelado - Esperava-se que Wayne despedisse
Keel, o que não aconteceu, ainda que as relações entre os dois demonstrasse
claramente que jamais poderiam ser amigos. E também Keel nunca mais foi
empurrado por Wayne que se mostrou a partir daí mais prudente. O simpático e
muito querido Howard Keel encontrou uma boa oportunidade anos mais tarde na interminável
série “Dallas”, na qual atuou por dez anos em 268 capítulos. Claro que Wayne
nunca empurrou Kirk Douglas, também produtor e de certa forma muito melhor
sucedido que o Duke. Realizados no mesmo ano de 1960, “Spartacus”, produção da
Bryna de Douglas, foi um extraordinário sucesso de público e crítica, enquanto
“O Álamo” deixou Wayne praticamente a zero financeiramente e desagradou boa
parte da crítica. “O Álamo” rendeu 20 milhões de dólares e o épico de Douglas
bateu nos 60 milhões. A diferença é que Wayne acabou não recebendo um único centavo
de dólar pelo filme da sua vida. O republicano Wayne e o democrata Douglas
nunca trocaram uma só palavra sobre política pois sabiam que se isso
acontecesse a mútua admiração poderia esfriar.
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Na foto à esquerda pode-se observar o quanto Howard Keel estava mais forte que John Wayne; à direita Howard Keel parecendo Sansão. |
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Howard Keel vendo-se Doris Day sentada. |
Artista
queridíssimo - Se Howard Keel acertasse o combalido John Wayne, seria como
se a carroça blindada e carregada de ouro de “The War Wagon” tivesse passado
por cima dele. Ainda bem que isso não aconteceu e Keel será sempre lembrado
como o ‘Adam’, o mais velho dos irmãos Pontipee em “Sete Noivas para Sete
Irmãos”. Ou ainda como Wild Bill Hickok no igualmente adorável “Ardida como
Pimenta” (Calamity Jane) no qual Keel aparece vestido como índio pagando uma
aposta perdida para Calamity. Figura marcante em tantos musicais inesquecíveis da MGM,
impondo-se não apenas pelo seu porte mas também por sua fantástica voz de
barítono, nos anos 60 Keel atuou em dois faroestes produzidos por A.C. Lyles em
sua famosa série cujos elencos eram formados apenas por veteranos como Howard
Keel. A imagem deixada por Howard Keel em Hollywood foi a de um verdadeiro
gigante gentil, querido que era por toda a comunidade artística. Menos, claro,
que por John Wayne.
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Doris Day (Calamity Jane) e Howard Keel (Wild Bill Hickok); à direita Howard Keel vestido como índio em "Ardida como Pimenta". |
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Howard Keel e Betty Hutton em "Bonita e Valente" (Annie Get Your Gun); à direita Jane Powell com Howad Keel em "Sete Noivas para Sete Irmãos". |
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