UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

10 de agosto de 2016

GIGANTES EM LUTA (THE WAR WAGON) – JOHN WAYNE E KIRK DOUGLAS EM ANIMADO WESTERN


Clair Huffaker e alguns de seus liros que viraram filmes.
Note-se que "Flaming Star" (Estrela de Fogo) traz na
capa Gregory Peck como aparece em
"A Noite da Emboscada" (The Stalking Moon).
Quando foi apresentada a John Wayne a história intitulada “Badman”, escrita por Clair Huffaker, o Duke se interessou em filmá-la. Wayne percebeu uma pequena semelhança com o clássico “Vera Cruz” e orientou sua produtora Batjac a contratar Burt Lancaster para interpretar um dos dois personagens principais que em muito lembrava o ‘Joe “Erin’ criado por Lancaster no western de Robert Aldrich. As diferenças políticas entre Burt e Wayne eram enormes e Lancaster respondeu que jamais trabalharia com John Wayne. A Batjac foi então atrás de Kirk Douglas que, apesar de ferrenho adversário do pensamento político de Wayne, havia atuado duas vezes ao lado do Duke e até que se dera bem com ele, política à parte. Douglas teria ainda a oportunidade, no novo faroeste, de fazer tudo que Wayne imaginara que só Lancaster seria capaz de fazer com perfeição. O próprio Clair Huffaker, autor de inúmeros livros com histórias de faroeste levados ao cinema, foi incumbido de escrever o roteiro que basicamente narra uma situação de vingança com um inusitado detalhe: uma rocambolesca perseguição a uma carroça blindada armada com metralhadora Gattling. Em função desse estrambótico veículo, o título escolhido foi “The War Wagon”, que no Brasil virou “Gigantes em Luta”, mesmo título de outro western (Guns of Timberland), exibido no Brasil em 1960 e estrelado pelos baixinhos Alan Ladd e Frankie Avalon.


John Wayne e Kirk Douglas
Missão irrealizável – Neste “Gigantes em Luta” dirigido por Burt Kennedy, Taw Jackson (John Wayne) viu sua fazenda ser usurpada por Pierce (Bruce Cabot) que conseguiu ainda uma condenação de três anos para Jackson. Este consegue liberdade condicional e retorna a Emmett, no Novo México, com a intenção de se vingar. Pierce é o homem mais poderoso da cidade e contrata, por 10 mil dólares, o pistoleiro Lomax (Kirk Douglas) para que este mate Jackson. Lomax e Jackson são velhos conhecidos e Jackson faz uma proposta ao pistoleiro para que este venha a ganhar 100 mil dólares aos invés dos 10 mil prometidos por Pierce. Para isso eles deverão assaltar uma carroça inexpugnável, armada com uma metralhadora e escoltada por trinta homens fortemente armados. Essa engenhoca e toda a logística é para transportar com segurança 500 mil dólares em ouro que Pierce conseguira extrair da propriedade de Taw Jackson. Além de Lomax, Jackson contrata outros três homens: Billy Hyatt (Robert Walker Jr.), um jovem bêbado que entende como ninguém de explosivos; Levi Walking Bear (Howard Keel) um índio que deserdou sua tribo; e o velho e desonesto Wess Fletcher (Keenan Wynn), este para transportar o ouro a ser roubado na missão aparentemente impossível. Um intrincado plano é urdido e a vingança de Taw Jackson tem êxito total.

Kirk Douglas e John Wayne
Duelo de galhofas - Mesmo com o estranho ingrediente de uma carroça que mais parece um tanque de guerra com tração animal, “Gigantes em Luta” seria um faroeste comum. O que torna este filme notável é o duelo entre John Wayne e Kirk Douglas, confronto não realizado com armas mas sim com a fina ironia dos diálogos entre os dois. E essa disputa verbal dá o tom bem humorado do início à última sequência do filme. Jackson sabe que Lomax é destituído de qualquer escrúpulo quando o assunto é dinheiro e convencer o petulante pistoleiro a trair quem o contratou para matá-lo é tarefa fácil. Lomax tenta a todo custo mostrar que é superior a Jackson e faz isso a cada vez que monta ou desmonta de seu cavalo, cativa mulheres ou é obrigado a mostrar sua perícia com o revólver. Quando reagem à tentativa de uma dupla de bandidos de alvejá-los, o sarcástico Lomax diz: “O meu (Bruce Dern) caiu primeiro”, ouvindo como resposta de Jackson “O meu (Chuck Roberson) era mais alto”... Ao final, com todo o ouro aparentemente perdido, Lomax deixa Jackson a pé levando seu cavalo como compensação pela frustrada empreitada. Ao se reencontrarem em Emmett, Jackson leva a zombaria ao extremo com sua estratégia de só recompensar o parceiro dali a seis meses, arrematando: “Lomax, você é o maior interessado em me manter vivo”. Vitória de John Wayne? Nada disso pois assim como em “Vera Cruz” quem se dá melhor ao final é Gary Cooper, enquanto Burt Lancaster fica com os melhores momentos do filme, neste “Gigantes e Luta” é o saltitante Douglas quem rouba todas as cenas, aos 50 anos de idade e demonstrando forma física de invejar o próprio Lancaster.

Kirk Douglas em ação.

John Wayne e Kirk Douglas (acima).
Clímax bem elaborado - No entanto o western de Burt Kennedy não é apenas a deliciosa peleja entre os dois atores pois o que não falta no filme é ação de boa qualidade. Há uma luta no saloon excelentemente coreografada com socos para todo lado; ataque dos índios; e Douglas escalando com a ajuda de uma corda, numa sequência sem cortes, uma montanha escarpada quase em completo aclive. Como não poderia deixar de ser o clímax é atingido com o elaboradíssimo plano de isolar a carroça blindada e tomá-la de assalto, numa sequência espetacular. E a maior parte do ouro é perdida para os oprimidos nativos expulsos de suas terras pelos brancos, o que faz o vivaz Levi Walking Bear retornar a seu povo. Finais em que o produto de roubos se perdem são comuns no cinema para justificar que o crime não compensa, o que não é o caso de “Gigantes em Luta”. Misturado à farinha o ouro fica também para os índios pois todas aquelas terras a eles pertenciam antes mesmo de serem propriedade de Taw Jackson. Final política e zombeteiramente correto.

A carroça blindada.

Howard Keel e Bruce Cabot
Um índio patético - Dois atores do porte de Wayne e Douglas, ambos atuando com o costumeiro brilho, não foi suficiente para fazer de “Gigantes em Luta” um western memorável. Longe de ser um mau filme, faltou a esta produção um melhor aproveitamento do excelente elenco de apoio que não encontra espaço maior no enredo. Entre outros Keenan Wynn, Gene Evans e Emílio Fernández fazem pouco mais que pontas no filme, o que é uma pena. Incontáveis atores brancos interpretaram inconvincentemente índios no cinema, mas Howard Keel está entre os casos mais dramáticos, ele que mesmo com nariz postiço parece mais estar fantasiado de pele-vermelha. Joanna Barnes tenta fazer lembrar a ‘Feathers’ de “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo), obviamente sem a graça e sensualidade de Angie Dickinson. Robert Walker Jr. não precisa de muito esforço para se mostrar tímido e hesitante como o jovem alcoólatra e Bruce Cabot ótimo como o bandido Pierce. Cabot era amigo pessoal de John Wayne, com quem trabalhou muitas vezes no final de carreira. As versões posteriores ao lançamento tiveram excluída a sequência em que Kirk Douglas aparece de costas vestido unicamente com... seu cinturão, mostrando mais uma vez as nádegas num western. Afinal, quem venceu o duelo, Wayne ou Douglas? Como foi dito acima, seria impossível o Duke competir com Kirk, mais jovem, mais dinâmico e mais engraçado que Wayne. Mas a associação entre os dois funcionou, com ambos se completando mutuamente.

Coadjuvantes em pequenos papéis: Emílio Fernández, Gene Evans e Bruce Dern.

John Wayne
Kennedy na direção - “Gigantes em Luta” contou com trilha musica de Dimitri Tiomin, menos inspirado que outras vezes e a cinematografia foi de William H. Clothier, um mestre em filmar cenários deslumbrantes como o de Durango, onde o filme foi rodado. Esta produção da Batjac  cumpre seu intento de divertir, deixando, porém, a impressão que poderia ser ainda melhor pelos nomes envolvidos, inclusive o do pouco experiente Burt Kennedy na direção. Tendo se destacado como escritor e roteirista dos dramáticos faroestes com a dupla Budd Boetticher-Randolph Scott, Kennedy atingiu o ponto mais alto como diretor curiosamente em westerns mais leves e engraçados. “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your Local Sheriff) e “Latigo, o Pistoleiro” (Support Ypur Local Gunfighter) são ótimos exemplos dos bons momentos de Burt Kennedy como diretor. Uma singularidade ocorreu nos Estados Unidos no mês de maio pois no dia 24 estreou “Desbravando o Oeste” (The Way West); três dias depois era lançado “Gigantes em Luta” e na semana seguinte os fãs de John Wayne podiam vê-lo na tela em “El Dorado”. Que bons tempos esses, heim?!?!?!

Kirk Douglas e John Wayne

Kirk Douglas em grande forma.

Robert Walker Jr. e John Wayne; Valora Noland e Keenan Wynn.


2 comentários: