|
Clair Huffaker e alguns de seus liros que viraram filmes. Note-se que "Flaming Star" (Estrela de Fogo) traz na capa Gregory Peck como aparece em "A Noite da Emboscada" (The Stalking Moon). |
Quando foi apresentada a John Wayne a
história intitulada “Badman”, escrita por Clair Huffaker, o Duke se interessou
em filmá-la. Wayne percebeu uma pequena semelhança com o clássico “Vera Cruz” e
orientou sua produtora Batjac a contratar Burt Lancaster para interpretar um
dos dois personagens principais que em muito lembrava o ‘Joe “Erin’ criado por
Lancaster no western de Robert Aldrich. As diferenças políticas entre Burt e
Wayne eram enormes e Lancaster respondeu que jamais trabalharia com John Wayne.
A Batjac foi então atrás de Kirk Douglas que, apesar de ferrenho adversário do
pensamento político de Wayne, havia atuado duas vezes ao lado do Duke e até que
se dera bem com ele, política à parte. Douglas teria ainda a oportunidade, no
novo faroeste, de fazer tudo que Wayne imaginara que só Lancaster seria capaz
de fazer com perfeição. O próprio Clair Huffaker, autor de inúmeros livros com
histórias de faroeste levados ao cinema, foi incumbido de escrever o roteiro
que basicamente narra uma situação de vingança com um inusitado detalhe: uma
rocambolesca perseguição a uma carroça blindada armada com metralhadora
Gattling. Em função desse estrambótico veículo, o título escolhido foi “The War
Wagon”, que no Brasil virou “Gigantes em Luta”, mesmo título de outro western
(Guns of Timberland), exibido no Brasil em 1960 e estrelado pelos baixinhos Alan
Ladd e Frankie Avalon.
|
John Wayne e Kirk Douglas |
Missão
irrealizável – Neste “Gigantes em Luta” dirigido por Burt Kennedy, Taw
Jackson (John Wayne) viu sua fazenda ser usurpada por Pierce (Bruce Cabot) que
conseguiu ainda uma condenação de três anos para Jackson. Este consegue
liberdade condicional e retorna a Emmett, no Novo México, com a intenção de se
vingar. Pierce é o homem mais poderoso da cidade e contrata, por 10 mil
dólares, o pistoleiro Lomax (Kirk Douglas) para que este mate Jackson. Lomax e
Jackson são velhos conhecidos e Jackson faz uma proposta ao pistoleiro para que
este venha a ganhar 100 mil dólares aos invés dos 10 mil prometidos por Pierce.
Para isso eles deverão assaltar uma carroça inexpugnável, armada com uma
metralhadora e escoltada por trinta homens fortemente armados. Essa engenhoca e
toda a logística é para transportar com segurança 500 mil dólares em ouro que
Pierce conseguira extrair da propriedade de Taw Jackson. Além de Lomax, Jackson
contrata outros três homens: Billy Hyatt (Robert Walker Jr.), um jovem bêbado
que entende como ninguém de explosivos; Levi Walking Bear (Howard Keel) um
índio que deserdou sua tribo; e o velho e desonesto Wess Fletcher (Keenan
Wynn), este para transportar o ouro a ser roubado na missão aparentemente
impossível. Um intrincado plano é urdido e a vingança de Taw Jackson tem êxito
total.
|
Kirk Douglas e John Wayne |
Duelo
de galhofas - Mesmo com o estranho ingrediente de uma carroça que mais
parece um tanque de guerra com tração animal, “Gigantes em Luta” seria um faroeste
comum. O que torna este filme notável é o duelo entre John Wayne e Kirk
Douglas, confronto não realizado com armas mas sim com a fina ironia dos
diálogos entre os dois. E essa disputa verbal dá o tom bem humorado do início à
última sequência do filme. Jackson sabe que Lomax é destituído de qualquer
escrúpulo quando o assunto é dinheiro e convencer o petulante pistoleiro a
trair quem o contratou para matá-lo é tarefa fácil. Lomax tenta a todo custo
mostrar que é superior a Jackson e faz isso a cada vez que monta ou desmonta de
seu cavalo, cativa mulheres ou é obrigado a mostrar sua perícia com o revólver.
Quando reagem à tentativa de uma dupla de bandidos de alvejá-los, o sarcástico
Lomax diz: “O meu (Bruce Dern) caiu primeiro”, ouvindo como resposta de
Jackson “O meu (Chuck Roberson) era mais alto”... Ao final, com todo o
ouro aparentemente perdido, Lomax deixa Jackson a pé levando seu cavalo como
compensação pela frustrada empreitada. Ao se reencontrarem em Emmett, Jackson
leva a zombaria ao extremo com sua estratégia de só recompensar o parceiro dali
a seis meses, arrematando: “Lomax, você é
o maior interessado em me manter vivo”. Vitória de John Wayne? Nada disso
pois assim como em “Vera Cruz” quem se dá melhor ao final é Gary Cooper, enquanto
Burt Lancaster fica com os melhores momentos do filme, neste “Gigantes e Luta”
é o saltitante Douglas quem rouba todas as cenas, aos 50 anos de idade e
demonstrando forma física de invejar o próprio Lancaster.
|
Kirk Douglas em ação. |
|
John Wayne e Kirk Douglas (acima). |
Clímax
bem elaborado - No entanto o western de Burt Kennedy não é apenas a
deliciosa peleja entre os dois atores pois o que não falta no filme é ação de
boa qualidade. Há uma luta no saloon excelentemente coreografada com socos para
todo lado; ataque dos índios; e Douglas escalando com a ajuda de uma corda,
numa sequência sem cortes, uma montanha escarpada quase em completo aclive.
Como não poderia deixar de ser o clímax é atingido com o elaboradíssimo plano
de isolar a carroça blindada e tomá-la de assalto, numa sequência espetacular.
E a maior parte do ouro é perdida para os oprimidos nativos expulsos de suas
terras pelos brancos, o que faz o vivaz Levi Walking Bear retornar a seu povo.
Finais em que o produto de roubos se perdem são comuns no cinema para
justificar que o crime não compensa, o que não é o caso de “Gigantes em Luta”.
Misturado à farinha o ouro fica também para os índios pois todas aquelas terras
a eles pertenciam antes mesmo de serem propriedade de Taw Jackson. Final política
e zombeteiramente correto.
|
A carroça blindada. |
|
Howard Keel e Bruce Cabot |
Um
índio patético - Dois atores do porte de Wayne e Douglas, ambos atuando
com o costumeiro brilho, não foi suficiente para fazer de “Gigantes em Luta” um
western memorável. Longe de ser um mau filme, faltou a esta produção um melhor
aproveitamento do excelente elenco de apoio que não encontra espaço maior no
enredo. Entre outros Keenan Wynn, Gene Evans e Emílio Fernández fazem pouco
mais que pontas no filme, o que é uma pena. Incontáveis atores brancos
interpretaram inconvincentemente índios no cinema, mas Howard Keel está entre
os casos mais dramáticos, ele que mesmo com nariz postiço parece mais estar fantasiado
de pele-vermelha. Joanna Barnes tenta fazer lembrar a ‘Feathers’ de “Onde
Começa o Inferno” (Rio Bravo), obviamente sem a graça e sensualidade de Angie
Dickinson. Robert Walker Jr. não precisa de muito esforço para se mostrar
tímido e hesitante como o jovem alcoólatra e Bruce Cabot ótimo como o bandido
Pierce. Cabot era amigo pessoal de John Wayne, com quem trabalhou muitas vezes
no final de carreira. As versões posteriores ao lançamento tiveram excluída a
sequência em que Kirk Douglas aparece de costas vestido unicamente com... seu
cinturão, mostrando mais uma vez as nádegas num western. Afinal, quem venceu o
duelo, Wayne ou Douglas? Como foi dito acima, seria impossível o Duke competir
com Kirk, mais jovem, mais dinâmico e mais engraçado que Wayne. Mas a
associação entre os dois funcionou, com ambos se completando mutuamente.
|
Coadjuvantes em pequenos papéis: Emílio Fernández, Gene Evans e Bruce Dern. |
|
John Wayne |
Kennedy
na direção - “Gigantes em Luta” contou com trilha musica de Dimitri
Tiomin, menos inspirado que outras vezes e a cinematografia foi de William H.
Clothier, um mestre em filmar cenários deslumbrantes como o de Durango, onde o
filme foi rodado. Esta produção da Batjac cumpre seu intento de divertir, deixando,
porém, a impressão que poderia ser ainda melhor pelos nomes envolvidos,
inclusive o do pouco experiente Burt Kennedy na direção. Tendo se destacado
como escritor e roteirista dos dramáticos faroestes com a dupla Budd
Boetticher-Randolph Scott, Kennedy atingiu o ponto mais alto como diretor curiosamente
em westerns mais leves e engraçados. “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your
Local Sheriff) e “Latigo, o Pistoleiro” (Support Ypur Local Gunfighter) são
ótimos exemplos dos bons momentos de Burt Kennedy como diretor. Uma
singularidade ocorreu nos Estados Unidos no mês de maio pois no dia 24 estreou “Desbravando
o Oeste” (The Way West); três dias depois era lançado “Gigantes em Luta” e na
semana seguinte os fãs de John Wayne podiam vê-lo na tela em “El Dorado”. Que
bons tempos esses, heim?!?!?!
|
Kirk Douglas e John Wayne |
|
Kirk Douglas em grande forma. |
|
Robert Walker Jr. e John Wayne; Valora Noland e Keenan Wynn. |
Muito boa a crítica. Estou baixando para conferir.
ResponderExcluirObrigado!
o filme é muito bom.
ResponderExcluir