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10 de junho de 2016

A LEI DO OESTE (RIDE OUT FOR REVENGE) – RORY CALHOUN EM WESTERN PRÓ-ÍNDIO


Bryna era o nome da mãe de Kirk Douglas.
Entre os grandes astros do cinema, Kirk Douglas foi um dos que obteve maior sucesso como produtor com sua Bryna Productions. A Bryna produziu um total de 25 filmes, entre eles os aclamados “Glória Feita de Sangue”, “Spartacus” e “O Segundo Rosto”; no gênero western Douglas produziu nada menos que aete faroestes, sendo “Duelo de Titãs” (Last Train from Gun Hill), “O Último Por-do-Sol” (The Last Sunset) e “Ambição Acima da Lei” (Posse) os mais importantes. Em seus primeiros anos de atividades, a Bryna produziu alguns filmes modestos como o western “A Lei do Oeste” (Ride Out for Revenge), com Rory Calhoun no papel principal, um dos quatro faroestes que ele estrelou em 1957. No ano seguinte Calhoun iniciaria sua participação na série de TV “O Texano” (The Texan), isto após uma bela carreira como um dos principais cowboys do cinema.


Frank DeKova e Vince Edwards com
Lloyd Bridges e Rory Calhoun.
Usurpação de terras - Em “A Lei do Oeste” Rory Calhoun é Tate, o xerife de Sand Creek, hostilizado pelos moradores da cidade por sua declarada simpatia pelos índios. Tate namora Salgueiro Bonito (Joanne Gilbert), jovem índia filha do chefe Lobo Cinzento (Frank DeKova) e irmã de Pequeno Lobo (Vince Edwards). O Capitão George (Lloyd Bridges) da Cavalaria, tem por missão convencer os índios a seguir para a reserva, em Oklahoma, deixando suas terras situadas nas colinas de Black Hills. Lobo Cinzento e seu filho se reúnem com o intransigente Capitão e tentam negociar com ele informando-o, inocentemente, que há ouro em Black Hills. Ao sair do encontro Lobo Cinzento é alvejado e morto por Garvin (Richard Shannon), um dos mais radicais cidadãos de Sand Creek. Liderados agora por Pequeno Lobo, os Cheyennes se organizam para atacar a cidade, iniciando por roubar os cavalos dos militares. Durante essa ação o menino Billy (Michael Winkelman) é morto e Tate, destituído do cargo de xerife, decide investigar a morte do garoto. Testemunha então o assassinato de Pequeno Lobo, executado pelo Capitão George, com quem Tate duela em seguida. O militar é morto e Tate permanece com Salgueiro Bonito, ao lado de quem assiste com tristeza os Cheyennes serem encaminhados para a reserva sem nada poder fazer para salvá-los desse destino.

Acima Rory Calhoun e Joanne Gilbert;
abaixo Gloria Grahame.
Disputa pelo xerife Tate - Nos anos 50 incontáveis westerns tiveram como temática a defesa dos nativos norte-americanos, denunciando o quase total extermínio dos mesmos. “A Lei do Oeste” é mais um desses filmes que, com 78 minutos de duração e orçamento bastante reduzido (em preto e branco), consegue dar uma pálida ideia do que foi a ocupação das Black Hills, em Dakota pelos brancos. Resumidamente mostra que estes se apossaram daquelas terras e qualquer chance de negociação com os nativos desapareceu com o descobrimento de ouro nas colinas de Black Hills. Para contar esse capítulo sangrento e doloroso da capitulação dos índios que habitavam aquela região seria necessário um filme melhor produzido e por essa razão optou-se por um roteiro menos pretensioso. Para tornar este western mais interessante foi inserida uma subtrama em forma de triângulo amoroso com o xerife Tate (consciente e solidário com os Cheyennes) se apaixonando pela filha do chefe ao mesmo tempo que a viúva Amy Porter (Gloria Grahame) disputa o amor de Tate. Amy, no entanto, é preconceituosa como quase todos os brancos, julgando os índios, a quem discrimina, inferiores. Essa disputa das duas mulheres por Tate não chega a entusiasmar por ser o desenvolvimento bastante previsível.

Fotos feitas para a publicidade do filme, com Rory Calhoun entre
Gloria Grahame e Joanne Gilbert.

Acima Lloyd Bridges, Rory Calhoun e
Richard Shannon; abaixo Bridges e
Calhoun ladeando Frank DeKova e
Vince Edwards.
Os muitos defeitos dos brancos - Como mais um western pró-índio, “A Lei do Oeste” cumpre sua finalidade e surpreendentemente contém até violência em excesso para o tipo de público que pretendia atingir. O assassinato covarde do chefe Lobo Amarelo ocorre logo no início do filme; pouco depois o menino Billy é quem morre atingido por um tiro de rifle disparado por um índio que, no escuro o havia confundido; acontece ainda a morte de Lobo Pequeno para em seguida Tate colocar um ponto final na ação do Capitão George. Assim como os demais brancos do filme, George é homem de má índole, que vê os índios segundo a máxima do General Philip Sheridan que afirmava que “índio bom é índio morto”. Ambicioso, o Capitão George é mostrado ainda como alcoólatra. A viúva Amy, por sua vez, se exaspera por ser preterida por Tate que prefere ficar ao lado de uma índia que, como seria natural, com ela se casar. Afinal Amy é uma mulher atraente e dona da pensão onde Tate vivia, precisando apenas mudar para o quarto da humilhada senhoria. Os assassinatos cometidos pelos brancos são feitos de forma covarde, enquanto Lobo Pequeno enfrenta Tate numa luta justa, um dos poucos momentos de ação do filme.

Lloyd Bridges
Lloyd Bridges sempre limitado - Rory Calhoun tem pouco a fazer em “A Lei do Oeste”, ficando para Lloyd Bridges os momentos mais intensos como o maléfico Capitão. Uma pena que Bridges seja um ator tão limitado, canastrão mesmo, ele que brilharia em final de carreira como comediante, isto quando passou a ser mais lembrado como o pai do excelente Jeff Bridges. Vince Edwards em pequeno papel como índio, antes de se tornar Ben Casey, o médico-galã da série de TV com esse mesmo nome e que disputava o público feminino com o Dr. Kildare (Richard Chamberlain). Frank DeKova, ator novaiorquino especializado em interpretar nativos aparece dez minutos na tela. Joanne Gilbert, a índia por quem o personagem de Calhoun se apaixona é inexpressiva como atriz, não tendo ido adiante em sua carreira. A notar as participações apenas como figurantes de Iron Eyes Cody e de Beulah Archuletta, esta a índia ‘Look’ de “Rastros de ódio” (The Searchers). Bernard Girard, diretor que atuou mais na televisão que no cinema dirigiu “A Lei do Oeste”, filme cuja cinematografia ficou a cargo de Floyd Crosby, mais lembrado por seu trabalho em “Matar ou Morrer” (High Noon) e por ser o pai do cantor David Crosby.

Vince Edwards e Frank DeKova; Rory Calhoun.

Gloria Grahame
A desgraça de uma atriz - Gloria Grahame é a grande presença do elenco, parecendo pouco à vontade e desinteressada neste pequeno filme já da fase decadente de sua carreira. Gloria era uma estrela em ascensão, esbanjando sensualidade em cada filme que fazia, recebendo um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua participação em “Assim Estava Escrito”, curiosamente um filme em que Kirk Douglas interpreta um produtor de Hollywood. Gloria era dona de uma beleza invulgar que fugia do padrão das mais lindas atrizes, tendo participado de filmes memoráveis nos anos 40 e até meados dos anos 50. A atriz era casada com Nicholas Ray com quem viveu uma das mais estranhas histórias da capital do cinema. Gloria tornou-se amante do filho adolescente que Ray teve em casamento anterior e, após separar-se do diretor de “Johnny Guitar”, Gloria casou-se com o enteado, com quem viveu por 14 anos, até se divorciar dele. Esse escândalo e ainda o comportamento de estrela que Gloria teve durante as filmagens de “Oklahoma”, em 1955, foram determinantes para que deixasse de receber propostas para filmes melhores, levando a atriz a ser esquecida pelo grande público.

Filme para programa duplo - Se “A Lei do Oeste” tivesse potencial para se tornar um grande filme, certamente Kirk Douglas guardaria para si a oportunidade de interpretar o xerife simpático aos índios. Espertamente Kirk investiu pouco neste filme que foi exibido como complemento de programa duplo. Rory Calhoun prosseguiu em sua carreira que durou 50 anos, com muitos faroestes melhores que este, imperdível apenas para os fãs do ator.

Luta a faca entre Vince Edwards e Rory Calhoun; Calhoun com um rifle;
Lloyd Bridges atirando.

A cópia de "A Lei do Oeste" utilizada para esta resenha foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.

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