Bryna era o nome da mãe de Kirk Douglas. |
Entre os grandes astros do cinema, Kirk
Douglas foi um dos que obteve maior sucesso como produtor com sua Bryna Productions.
A Bryna produziu um total de 25 filmes, entre eles os aclamados “Glória Feita
de Sangue”, “Spartacus” e “O Segundo Rosto”; no gênero western Douglas produziu
nada menos que aete faroestes, sendo “Duelo de Titãs” (Last Train from Gun
Hill), “O Último Por-do-Sol” (The Last Sunset) e “Ambição Acima da Lei” (Posse)
os mais importantes. Em seus primeiros anos de atividades, a Bryna produziu
alguns filmes modestos como o western “A Lei do Oeste” (Ride Out for Revenge),
com Rory Calhoun no papel principal, um dos quatro faroestes que ele estrelou
em 1957. No ano seguinte Calhoun iniciaria sua participação na série de TV “O
Texano” (The Texan), isto após uma bela carreira como um dos principais cowboys
do cinema.
Frank DeKova e Vince Edwards com Lloyd Bridges e Rory Calhoun. |
Usurpação
de terras - Em “A Lei do Oeste” Rory Calhoun é Tate, o xerife de Sand
Creek, hostilizado pelos moradores da cidade por sua declarada simpatia pelos
índios. Tate namora Salgueiro Bonito (Joanne Gilbert), jovem índia filha do
chefe Lobo Cinzento (Frank DeKova) e irmã de Pequeno Lobo (Vince Edwards). O
Capitão George (Lloyd Bridges) da Cavalaria, tem por missão convencer os índios
a seguir para a reserva, em Oklahoma, deixando suas terras situadas nas colinas
de Black Hills. Lobo Cinzento e seu filho se reúnem com o intransigente Capitão
e tentam negociar com ele informando-o, inocentemente, que há ouro em Black
Hills. Ao sair do encontro Lobo Cinzento é alvejado e morto por Garvin (Richard
Shannon), um dos mais radicais cidadãos de Sand Creek. Liderados agora por
Pequeno Lobo, os Cheyennes se organizam para atacar a cidade, iniciando por
roubar os cavalos dos militares. Durante essa ação o menino Billy (Michael
Winkelman) é morto e Tate, destituído do cargo de xerife, decide investigar a
morte do garoto. Testemunha então o assassinato de Pequeno Lobo, executado pelo
Capitão George, com quem Tate duela em seguida. O militar é morto e Tate
permanece com Salgueiro Bonito, ao lado de quem assiste com tristeza os
Cheyennes serem encaminhados para a reserva sem nada poder fazer para salvá-los
desse destino.
Acima Rory Calhoun e Joanne Gilbert; abaixo Gloria Grahame. |
Disputa
pelo xerife Tate - Nos anos 50 incontáveis westerns
tiveram como temática a defesa dos nativos norte-americanos, denunciando o
quase total extermínio dos mesmos. “A Lei do Oeste” é mais um desses filmes que,
com 78 minutos de duração e orçamento bastante reduzido (em preto e branco),
consegue dar uma pálida ideia do que foi a ocupação das Black Hills, em Dakota
pelos brancos. Resumidamente mostra que estes se apossaram daquelas terras e
qualquer chance de negociação com os nativos desapareceu com o descobrimento de
ouro nas colinas de Black Hills. Para contar esse capítulo sangrento e doloroso
da capitulação dos índios que habitavam aquela região seria necessário um filme
melhor produzido e por essa razão optou-se por um roteiro menos pretensioso. Para
tornar este western mais interessante foi inserida uma subtrama em forma de
triângulo amoroso com o xerife Tate (consciente e solidário com os Cheyennes)
se apaixonando pela filha do chefe ao mesmo tempo que a viúva Amy Porter
(Gloria Grahame) disputa o amor de Tate. Amy, no entanto, é preconceituosa como
quase todos os brancos, julgando os índios, a quem discrimina, inferiores. Essa
disputa das duas mulheres por Tate não chega a entusiasmar por ser o
desenvolvimento bastante previsível.
Fotos feitas para a publicidade do filme, com Rory Calhoun entre Gloria Grahame e Joanne Gilbert. |
Acima Lloyd Bridges, Rory Calhoun e Richard Shannon; abaixo Bridges e Calhoun ladeando Frank DeKova e Vince Edwards. |
Os
muitos defeitos dos brancos - Como mais um western pró-índio, “A
Lei do Oeste” cumpre sua finalidade e surpreendentemente contém até violência
em excesso para o tipo de público que pretendia atingir. O assassinato covarde
do chefe Lobo Amarelo ocorre logo no início do filme; pouco depois o menino
Billy é quem morre atingido por um tiro de rifle disparado por um índio que, no
escuro o havia confundido; acontece ainda a morte de Lobo Pequeno para em
seguida Tate colocar um ponto final na ação do Capitão George. Assim como os
demais brancos do filme, George é homem de má índole, que vê os índios segundo
a máxima do General Philip Sheridan que afirmava que “índio bom é índio morto”.
Ambicioso, o Capitão George é mostrado ainda como alcoólatra. A viúva Amy, por
sua vez, se exaspera por ser preterida por Tate que prefere ficar ao lado de
uma índia que, como seria natural, com ela se casar. Afinal Amy é uma mulher
atraente e dona da pensão onde Tate vivia, precisando apenas mudar para o
quarto da humilhada senhoria. Os assassinatos cometidos pelos brancos são
feitos de forma covarde, enquanto Lobo Pequeno enfrenta Tate numa luta justa,
um dos poucos momentos de ação do filme.
Lloyd Bridges |
Lloyd
Bridges sempre limitado - Rory Calhoun tem pouco a fazer em “A
Lei do Oeste”, ficando para Lloyd Bridges os momentos mais intensos como o
maléfico Capitão. Uma pena que Bridges seja um ator tão limitado, canastrão
mesmo, ele que brilharia em final de carreira como comediante, isto quando
passou a ser mais lembrado como o pai do excelente Jeff Bridges. Vince Edwards
em pequeno papel como índio, antes de se tornar Ben Casey, o médico-galã da
série de TV com esse mesmo nome e que disputava o público feminino com o Dr.
Kildare (Richard Chamberlain). Frank DeKova, ator novaiorquino especializado em
interpretar nativos aparece dez minutos na tela. Joanne Gilbert, a índia por
quem o personagem de Calhoun se apaixona é inexpressiva como atriz, não tendo
ido adiante em sua carreira. A notar as participações apenas como figurantes de
Iron Eyes Cody e de Beulah Archuletta, esta a índia ‘Look’ de “Rastros de ódio”
(The Searchers). Bernard Girard, diretor que atuou mais na televisão que no
cinema dirigiu “A Lei do Oeste”, filme cuja cinematografia ficou a cargo de
Floyd Crosby, mais lembrado por seu trabalho em “Matar ou Morrer” (High Noon) e
por ser o pai do cantor David Crosby.
Vince Edwards e Frank DeKova; Rory Calhoun. |
Gloria Grahame |
A
desgraça de uma atriz - Gloria Grahame é a grande presença
do elenco, parecendo pouco à vontade e desinteressada neste pequeno filme já da
fase decadente de sua carreira. Gloria era uma estrela em ascensão, esbanjando
sensualidade em cada filme que fazia, recebendo um Oscar de Melhor Atriz
Coadjuvante por sua participação em “Assim Estava Escrito”, curiosamente um
filme em que Kirk Douglas interpreta um produtor de Hollywood. Gloria era dona
de uma beleza invulgar que fugia do padrão das mais lindas atrizes, tendo
participado de filmes memoráveis nos anos 40 e até meados dos anos 50. A atriz
era casada com Nicholas Ray com quem viveu uma das mais estranhas histórias da
capital do cinema. Gloria tornou-se amante do filho adolescente que Ray teve em
casamento anterior e, após separar-se do diretor de “Johnny Guitar”, Gloria
casou-se com o enteado, com quem viveu por 14 anos, até se divorciar dele. Esse
escândalo e ainda o comportamento de estrela que Gloria teve durante as
filmagens de “Oklahoma”, em 1955, foram determinantes para que deixasse de
receber propostas para filmes melhores, levando a atriz a ser esquecida pelo
grande público.
Filme
para programa duplo - Se “A Lei do Oeste” tivesse
potencial para se tornar um grande filme, certamente Kirk Douglas guardaria
para si a oportunidade de interpretar o xerife simpático aos índios.
Espertamente Kirk investiu pouco neste filme que foi exibido como complemento
de programa duplo. Rory Calhoun prosseguiu em sua carreira que durou 50 anos,
com muitos faroestes melhores que este, imperdível apenas para os fãs do ator.
Luta a faca entre Vince Edwards e Rory Calhoun; Calhoun com um rifle; Lloyd Bridges atirando. |
A cópia de "A Lei do Oeste" utilizada para esta resenha foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.
onde posso conseguir a legenda em português...
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