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16 de maio de 2016

TUDO POR UMA MULHER (ALONG CAME JONES) – GARY COOPER TENTANDO SER ENGRAÇADO


Arte de Norman Rockwell retratando
Gary Cooper para este western.
Em meados dos anos 40, no auge da fama, Gary Cooper decidiu se tornar produtor e achou interessante a história “Useless Cowboy” escrita por Alan LeMay (“Rastros de Ódio”/The Searchers e “O Passado Não Perdoa”/ The Unforgiven). Nunnaly Johnson (autor dos roteiros de “Jesse James”, “Vinhas da Ira” e “Um Retrato de Mulher”) foi contratado para roteirizar a história. Loretta Young, uma das mais belas atrizes de Hollywood aceitou ser a leading-lady de Gary Cooper no filme que teria também Dan Duryea, que já se destacava como um dos melhores homens maus do cinema. Com esse time de alto nível (LeMay ainda não era tão renomado), tudo que Gary Cooper conseguiu foi produzir um western em tom de comédia que acabou sendo um dos pontos mais baixos de sua brilhante carreira. A pequena International Pictures que na década de 40 produziu alguns clássicos do filme noir e depois foi absorvida pela Universal, resultando daí a Universal International, se associou a Gary Cooper para filmar “Along Came Jones”, que no Brasil foi exibido como “Tudo por Uma Mulher”. A produção da International Pictures foi de uma incomodante pobreza, assemelhando-se às produções ‘B’ da Republic, o que mais ainda prejudicou este filme com história nada criativa e roteiro que custa a acreditar tenha sido de autoria de Nunnaly Johnson.


Acima Gary Cooper com William Demarest;
abaixo Cooper com Chris-Pin Martin.
Pistoleiro por equívoco - Melody Jones (Gary Cooper) e George Fury (William Demarest) são dois cowboys que erram o caminho e chegam à cidade de Payneville. Melody, assim chamado por estar sempre cantando, é confundido com um facínora chamado Monte Jarrad e a princípio gosta do equívoco pois todos temem o violento fora-da-lei e Melody, que mal sabe sacar seu revólver, adquire um respeito nunca antes experimentado. E Payneville traz ainda outra vantagem para Melody Jones quando este descobre a beleza e vivacidade de Cherry de Longpre (Loretta Young), o que faz com que o cowboy desista de deixar a cidade, a contragosto de seu parceiro George Fury. Cherry é amante de Monte Jarrad, que está ferido, e trama com este usar o inútil cowboy fazendo com que ele caía nas mãos da Justiça e possibilite a fuga do bandido. Jarrad está de posse de 42 mil dólares roubados em um assalto e, além do xerife e seus homens, estão também atrás dele um enviado de uma agência de detetives e bandidos que sabem do roubo. Todos acreditam que Melody Jones, por ser alto e forte e ter as iniciais MJ, seja de fato Monte Jarrad que se vê repentinamente caçado nos arredores de Payneville. Embora sem nenhuma outra qualidade além de cantar, a bela Cherry simpatiza com Melody, o que faz com que Jarrad enfurecido tente matá-lo. Os dois homens duelam sem a mínima chance para Melody, mas quando Jarrad está prestes a desferir o tiro fatal, Cherry dispara mortalmente contra ele. Melody e Cherry terminam juntos e apaixonados.

Dan Duryea com Loretta Young.
Engraçado mas não muito... - Gary Cooper foi um dos principais galãs de Hollywood, fascinando as mulheres e ainda conseguindo o respeito da crítica e do público em geral, por suas atuações. Em alguns filmes Cooper ensaiou personagens semicômicos como nos clássicos “Adorável Vagabundo” e “Bola de Fogo”, nos quais foi dirigido por Frank Capra e Howard Hawks, respectivamente, diretores que eram mestres em comédias românticas. Ocorre que em “Tudo por Uma Mulher”, o diretor não é Capra e nem Hawks, mas sim Stuart Heisler, incapaz de dar uma identidade aos tantos filmes que dirigiu. A mão pesada de Heisler na direção e a absoluta falta de graça de Gary Cooper foram fatais para esta primeira produção do grande astro. E Heisler não poderia fazer milagres com o roteiro aborrecido de Nunnaly Johnson, partindo da batida situação da confusão de identidades. Para piorar as coisas, fica a impressão que esqueceram de dizer a Loretta Young e a Dan Duryea que o filme deveria ter o tom que os norte-americanos chamam de ‘tongue-in-cheek’, ou seja, dominado pela ironia. Loretta e Duryea, assim como alguns coadjuvantes, levaram a sério demais “Tudo por Uma Mulher” e seus personagens conflitam com a ideia de Cooper de mostrar que pode ser engraçado.

Gary Cooper com William Demarest; Cooper disparando a esmo.

Gary Cooper
Gary Cooper num western ‘B’ - E a produção em preto e branco não se esforça para disfarçar os cenários de estúdio na maior parte das externas, mais parecendo um daqueles seriados de televisão com alguma vegetação dividindo o espaço com rochas de papelão tendo ao fundo montanhas e céu pintados. O filme até que se inicia bem com Monte Jarrad assaltando uma diligência, quando é ferido na fuga. Outra boa sequência é quando o xerife (Arthur Loft) e seus dois assistentes (Lane Chandler e Ray Teal) tentam capturar Melody Jones num casebre, travando uma luta com o bandido que não é bandido. Os melhores momentos de “Tudo por uma Mulher” são aqueles em que Dan Duryea entra e ação, ainda que a sequência da troca de roupas entre ele e Gary Cooper seja forçada, culpa da falta de talento de Heisler, da nenhuma graça de Cooper e de Duryea que aparentemente não entendeu bem o que deveria fazer. O romance entre Melody e Cherry não funciona, mesmo porque o ‘useless cowboy’ da história de Alan LeMay não tem nada que possa atrair a moça, inicialmente apaixonada até o último fio de cabelo pelo bandido. Sem falar que optando em ficar com Melody, Cherry se condenará para sempre a escutar o tedioso cantor a desfilar a enfadonha centena de versos de uma das canções com que atormenta o pobre pardner George Fury. Este, durante todo o filme demonstra ser mais inteligente que Melody que deveria ser o verdadeiro sidekick...

O strip-tease de Dan Duryea e Gary Cooper.

Loretta Young
Loretta Young, escolha errada - A participação de Dan Duryea se resume a meros 15 minutos em cena, as quais domina com facilidade, ele que foi um dos grandes vilões de Hollywood, influência indiscutível no maior de todos que foi Lee Marvin. A belíssima Loretta Young desfila sua elegância e bons modos, num personagem que deveria ter muito de mulher de caráter duvidoso. Ainda que se deva a ela os momentos em que a tela fica mais luminosa com seus olhos irresistivelmente lindos, Loretta não tem a maldade na alma de atrizes como Susan Hayward ou Barbara Stanwyck, mais adequadas à personagem Cherry de Langpre.  Gary Cooper produziu um filme para mostrar um possível versatilidade que ele não possui e criou um personagem caricato na vasta galeria de heróis inesquecíveis que ele criou. William Demarest, que era então o ator preferido das ácidas comédias de Preston Sturges, não se destaca desta vez. Atenção para o ainda jovem Ray Teal que viria a ser um dos principais coadjuvantes de seu tempo, terminando a carreira como o simpático Sheriff Roy Cofee, de Virginia City, da série “Bonanza”. Presenças ainda, no elenco, dos conhecidos Frank Sully, Lane Chandler, Chris-Pin Martin e Russel Simpson.

Ray Teal com Arthur Loft; Lane Chandler, Gary Cooper e Ray Teal.

Gary Cooper
Mudança de título - Exibido no Brasil como “Tudo por uma Mulher”, título mais apropriado para um daqueles dramas de Douglas Sirk, este western foi exibido no Telecine Cult e posteriormente lançado por aqui em DVD. Como o antigo título não funciona bem para um western, optou-se pelo título mais chamativo “Pistoleiro do Destino”. Pior que o vulgar título do DVD nacional foi o escolhido em Portugal, onde este western se chamou “Aí Vem Ele” (???), numa tradução aproximada do original mas que também não funciona. Considerado um dos principais cowboys do cinema, o que não falta na carreira de Gary Cooper são clássicos do gênero nos quais ele tem brilhantes e séria interpretações. Este “Tudo por uma Mulher” deve repousar entre “Matar ou Morrer” (High Noon) e “O Homem do Oeste” (Man of the West), estes sim memoráveis westerns estrelados por Cooper.

A sequência final com o duelo entre Gary Cooper e Dan Duryea
e o disparo de Loretta Young.



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