John Wayne foi, de modo peculiar, um
extremado patriota e tentou se expressar politicamente também pelo cinema. Em
plena Guerra do Vietnã Wayne dirigiu o polêmico “Os Boinas Verdes” que lhe
custou uma quase totalidade de críticas negativas. Após essa sua segunda
aventura na direção (a primeira havia sido “O Álamo”), Wayne atuou, em seguida,
no grande sucesso que foi “Bravura Indômita (True Grit) e recebeu a unanimidade
de elogios e ainda um Oscar de Melhor Ator. Foi então que a 20th Century-Fox
fez uma proposta irrecusável a John Wayne para um novo western, oferecendo a
ele, além do normal um milhão de dólares que recebia por filme, participação
nos lucros e liberdade para aprovar diretor, elenco e roteiro. O filme se
chamaria “The Undefeated” (Os Imbatíveis) e, mais que tudo, tinha uma história
que muito interessou ao Duke pois o filme possibilitaria nova manifestação
indireta à Guerra do Vietnã, segundo sua visão. Assim como havia acontecido com
“Os Boinas Verdes”, a maioria da crítica norte-americana (e brasileira, por
tabela), detestou “Jamais Foram Vencidos” (título nacional), forma de se vingar
do reacionarismo de John Wayne. Hoje, à distância dos tempos em que a Guerra do
Vietnã dominava as manchetes e assistido com isenção, este western de Andrew V.
McLaglen está entre os bons filmes da fase final da carreira do Big Duke.
À direita o roteirista James Lee Barrett na foto menor
e o diretor Andrew V. McLaglen.
À direita o roteirista James Lee Barrett na foto menor
e o diretor Andrew V. McLaglen.
Acima John Wayne e Rock Hudson; abaixo Antonio Aguilar, Wayne e Hudson. |
Norte
e Sul alinhados - Finda a Guerra de Secessão, o Coronel
do Exército da União John Henry Thomas (John Wayne) retorna à vida civil e reagrupa
ex-soldados que ele comandava, todos antigos cowboys, para voltar ao trabalho
de capturar e vender cavalos selvagens. Enquanto isso, alguns confederados
derrotados não aceitam a rendição, entre eles o Coronel James Langdon (Rock
Hudson) que, após incendiar sua casa e plantação para que não caiam em mãos de
especuladores, lidera um grupo de ex-soldados, mulheres e crianças numa jornada
rumo ao México. Thomas e seus cowboys capturam três mil cavalos que serão
negociados, inicialmente com o Exército norte-americano. As tratativas não dão
certo e a manada é então negociada com representantes do exército de
Maximiliano, o vienense Imperador do México que está em luta com os revoltosos
fiéis a Benito Juarez. No trajeto para o México, Thomas e Langdon se reencontram,
eles que haviam tido rápido contato ao final da Guerra Civil. Isso ocorre
quando a caravana sulista é atacada por bandidos mexicanos, sendo salva com a
ajuda dos homens de Thomas. Ao chegar ao quartel onde se encontra o General
Rojas (Antonio Aguilar), este revela que está do lado dos juaristas,
necessitando de cavalos. Rojas faz reféns os sulistas e ameaça matá-los caso
Langdon não convença Thomas a entregar a manada aos juaristas, o que é feito e
os confederados libertados. Thomas e seus cowboys retornam aos Estados Unidos
sem os cavalos e sem dinheiro enquanto a caravana de Langdon também retorna ao
país, com destino a Oklahoma. As diferenças entre irmãos do Norte e do Sul
desaparecem quando se fez necessário que estivessem do mesmo lado.
John Wayne e Rock Hudson |
Acima Melissa Newman, Lee Meriwheter, Marian McCargo, Edward Faulkner e Rock Hudson; abaixo Ben Johnson e Harry Carey Jr. |
Metáfora
com o Vietnã - A lição de patriotismo escrita por Stanley Hough foi
roteirizada por James Lee Barrett, o mesmo roteirista do ultranacionalista “Os
Boinas Verdes” e que antes havia escrito a sentimental história de “Shenandoah”.
Com “Jamais Foram Vencidos” John Wayne pretendeu dar uma lição de civismo na
qual norte-americanos de diferentes visões políticas se irmanam numa luta
contra um inimigo comum, no caso o comunismo que o ator combateu por toda vida.
Metaforicamente o México é o Vietnã invadido e dominado por estrangeiros (os
franceses) e os juaristas são os bravos que resistem com a ajuda de
norte-americanos que lhes cedem os cavalos para a luta contra as forças de
Maximiliano. Ainda que inverossímil, a história de “Jamais Foram Vencidos”
propiciou um western bastante movimentado com sequências de batalha da Guerra
Civil, confronto com renegados mexicanos, captura de cavalos, longa condução de
uma gigantesca manada atravessando a fronteira Estados Unidos-México e aspectos
da vida nômade dos cowboys.
Rock Hudson; abaixo Dub Taylor |
Influência
do Mestre Ford - Pelo fato de Andrew V. McLaglen ter sido assistente de
direção de John Ford em “Depois do Vendaval” e também por ter convivido, quando
jovem, nos sets das filmagens em que seu pai Victor McLaglen atuava sob a
direção do Mestre Ford, sempre se esperou que os westerns de Andrew se
aproximassem dos clássicos do irascível diretor de “Sangue de Heróis” (Fort
Apache). Essa comparação nunca foi benéfica para McLaglen que, apesar de uma
filmografia irregular demonstrou inegável talento para sequências de ação, como
neste western. A influência de John Ford se faz sentir em “Jamais Foram
Vencidos” que tem, como fazia Ford, uma sequência de festa no acampamento dos
confederados com direito a uma luta desigual entre um gigantesco soldado e um
cowboy. E lá estão também o irritadiço cozinheiro (Dub Taylor) preparando
refeições intragáveis e os cowboys com suas brincadeiras e, acima de todos,
John Wayne, mais generoso que nunca, ainda que com as características reações
intempestivas.
Acima Roman Gabriel; abaixo Merlin Olsen. |
Excesso
de esportistas - Onde menos funciona este western é no romance que não
poderia faltar, desta vez com o triângulo entre o índio Cherokee Blue Boy
(Roman Gabriel), filho adotivo de Thomas, que se enamora (e é correspondido)
por Charlotte (Melissa Newman), filha de Langdon e ainda pelo jovem soldado sulista Bubba Wilkes (Jan-Michael Vincent). A
bem intencionada proposta de demonstrar que preconceitos podem ser superados
para construir ‘uma nação digna’ é exemplar na pieguice. Piora ainda mais porque
a adolescente interpretada por Melissa Newman é fraca como atriz e Roman
Gabriel foi mais uma tentativa frustrada de transformar um famoso jogador do American
Football em astro do cinema. No final do filme o casal fica junto, mas as
carreiras de ambos não vingou. John Wayne, aos 62 anos de idade estava um tanto
fora de forma, mais para gordo que robusto, reflexo dos quilos a mais ganhos
para interpretar ‘Rooster Cogburn’ em “Bravura Indômita” e mesmo assim flerta
com a bela viúva sulista interpretada por Marian McCargo, ela também ex-esportista
campeã de tênis que enveredou pela carreira artística. O interesse recíproco
poderia sim ser estendido e não ficar apenas no terreno platônico, culpa do respeitador
Coronel Thomas. Outro ex-jogador de American Football do elenco é Merlin Olsen,
que estreando como ator em “Jamais Foram Vencidos”, fez boa carreira na
televisão, fazendo parte do elenco fixo de “Os Pioneiros”, a prestigiosa série
criada por Michael Landon.
O exército mexicano e sequência de fuzilamento. |
Epílogo
sem brilho - Após inúmeras peripécias vividas pelo grupo de cowboys e
pela caravana de sulistas, o final é um tanto desapontador com a aceitação da
imposição do General Rojas. A chantagem praticada por Rojas, ameaçando fuzilar
ex-soldados confederados, é típica de homens inescrupulosos e as figuras
heroicas dos dois ex-coronéis (Wayne e Hudson) permitiriam imaginar que alguma
atitude seria tomada por parte de ambos. Pelo contrário, simplesmente conduzem
seus conformados grupos, cruzando o Rio Grande e voltando ao país, num final de
pouco brilho para um filme que parecia caminhar para o épico. Talvez McLaglen
tenha imaginado que “Jamais Foram Vencidos”, assim como se deu com a ‘Trilogia
da Cavalaria’ de John Ford, dispensasse um final apoteótico em favor de um epílogo mais poético. O que ficou, no
entanto foi a impressão que a produção foi encerrada às pressas por falta de
recursos ou de ideias.
Rock Hudson e John Wayne |
Capa
e penacho - Quando a 20th Century-Fox deixou John Wayne à vontade
para opinar sobre o elenco, o Duke logo reuniu um grupo de atores e dublês com
quem gostava de trabalhar. A lista começa com Ben Johnson, Bruce Cabot, Harry
Carey Jr., John Agar, Paul Fix, Chuck Roberson e Jerry Gatlin entre outros,
todos veteranos de muitas jornadas ao lado do Duke, aos quais se juntaram os
ótimos Dub Taylor e Royal Dano, forma de compensar o noviciado de celebridades
do esporte como Roman Gabriel e Merlin Olsen. Sempre é bom lembrar que o próprio
Wayne era jogador de American Football antes de ser descoberto por John Ford em
“Salute!” (Em Continência), de 1928. Rock Hudson não foi a primeira opção para
interpretar o Coronel sulista, mas sim James Arness que teve que recusar devido
ao longo tempo que passaria em locações no México e o afastaria da série “Gunsmoke”.
Arness foi substituído por Rock Hudson que se esforça para fazer frente a John Wayne
que não se aplica nem um pouco pois sabe que sua presença na tela é mais que
suficiente para dar status a um western. Hudson era um bom ator nem sempre
reconhecido por seu talento dramático e como comediante e seu chapéu com
penacho e esvoaçante capa neste filme, são, para dizer o mínimo, engraçadas. No
quesito vestuário, Marian McCargo também surpreende ao surgir em cena vestida
com um finíssimo vestido que parece ter chegado de uma elegante loja de New
Orleans. A linda Lee Meriwheter um tanto apática como a esposa de Rock Hudson
no filme.
John Wayne com Marian McCargo; Lee Meriwheter com Rock Hudson. |
Dublês em ação; abaixo Jerry Gatlin. |
Seleção
de dublês - Esta bem cuidada produção contou com a sempre magnífica
cinematografia de William H. Clothier, especialista em capturar vastos
panoramas como os de Sonora e Durango, no México e a vegetação de Baton Rouge,
na Louisiana. Hugo Montenegro, cuja orquestra era especializada em covers de
grandes sucessos nos anos 60 e 70, poucas vezes compôs trilhas para filmes, o
que é de lamentar pois para “Jamais Foram Vencidos” Montenegro acertou com uma
trilha vibrante que valoriza todo o conjunto. Como é do feitio de Andrew V.
McLaglen, são muitas as sequências com show de quedas de cavalos em todas as
posições imagináveis, trabalho das três dezenas de stuntmen, uma verdadeira
seleção com a presença dos nomes famosos de Gil Perkins, Chuck Roberson, Jerry Gatlin
e Tap Canutt, coordenados por Hal Nedham, o mais bem pago dublê de Hollywood.
Nedham se tornou diretor de sucesso dos filmes de Burt Reynolds da série ‘Bandit’
(“Agarre-me se Puderes”).
Big Duke John Wayne |
Western
satisfatório - Mesmo com os muitos senões de “Jamais Foram Vencidos”,
este é um western satisfatório que os fãs de John Wayne não podem deixar de
assistir, esquecendo-se da críticas que não recomendam o filme. O Duke ganhou
um Oscar pelo muito bom “Bravura Indômita”, comentando em seguida que ele não
comia e nem bebia prêmios, mas gostava mesmo é que o público assistisse a seus
filmes. E os espectadores foram em grande número assistir a este western que se transformou num grande sucesso de bilheteria.
Olá, Darci!
ResponderExcluirAcabo de conferir este filme em Blu-ray (é um dos 6 que fazem parte do generoso box "The Ultimate Western Collection"). Um faroeste que tinha tudo para ganhar uma nota 9/10, mas caiu para 7,5/10 devido ao final surpreendentemente desapontador, que parece até ser o oposto do que sugere o título (e justo num filme estrelado por John Wayne, quem diria...). Hugo Montenegro realmente acertou com sua imponente trilha, ele que é muito conhecido pela música da série "Jeannie é um Gênio" e uma versão cover do tema principal de "Três Homens em conflito", que é outro componente do box citado no início do comentário. Apesar de seu final insatisfatório, "Jamais Foram Vencidos" não deixa de ser um indispensável exemplar do gênero devido às particularidades já descritas na resenha, a começar pela presença de John Wayne e sua atuação que tanto nos agrada. Não me lembro de outro filme com manada de cavalos tão imensa como a deste. Mesmo não figurando entre os tops, Andrew V. McLaglen tem suas notórias qualidades e, na minha concepção, foi muito injustamente atacado por Leonard Maltin e seu equivalente tupiniquim Rubens Ewald Filho. O subestimado "The Way West" segue sendo o meu favorito do diretor.
Aquele abraço!