UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

14 de dezembro de 2015

BURT REYNOLDS: “CLINT, ESTE SERGIO É CORBUCCI E NÃO LEONE!”


Acima Clint Eastwood e Burt
Reynolds num trabalho para a TV;
abaixo Reynolds com Amanda Blake,
Milburn Stone e James Arness, do
elenco de "Gunsmoke".
Clint Eastwood e Burt Reynolds eram muito amigos, conheceram-se ‘nos tempos das vacas magras’ e tiveram inícios de carreiras semelhantes. Confinados a séries de TV nos Estados Unidos, ambos alcançaram sucesso verdadeiro no cinema depois de atuar em westerns spaghetti. Clint atuava na série “Rawhide” na televisão americana e a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone o catapultou para a fama aos 34 anos. Burt Reynolds iniciou sua vida artística como stuntman (dublê), obteve uma participação na série “Riverboat” (1959/61) e posteriormente passou para o elenco fixo da série “Gunsmoke”, estrelada por James Arness. Nessa série, interpretando o mestiço 'Quint Asper', Burt Reynolds passou quatro anos (1962/65), participando de 50 episódios, foi quando se casou, em 1963, com Clint como um dos convidados à cerimônia. Eastwood foi para a Itália e retornou com uma cópia de “Por um Punhado de Dólares” (Per um Pugno di Dollari), que exibiu para o amigo numa seção privada. Burt ficou impressionado com o que viu, elogiando entusiasticamente a música e o estilo do diretor Bob Robertson. Clint então explicou que aquele ‘Bob Robertson’ era um pseudônimo e que o nome verdadeiro do diretor era Sergio Leone, com quem havia feito outro western e com quem em seguida filmaria um terceiro. Clint disse ao amigo que o produtor Dino De Laurentiis procurava um ator norte-americano para estrelar um western-spaghetti que ele iria produzir.

Acima Dino De Laurentiis
e abaixo Burt Reynolds.
Substituindo Marlon Brando - Nesse western o herói era um índio navajo e o diretor escalado, também chamado Sergio (Corbucci) queria Marlon Brando para interpretá-lo. Como Brando já havia assumido compromisso com outro filme, Clint conseguiu uma entrevista de Burt Reynolds com o conhecido produtor italiano. Na conversa entre ambos Burt Reynolds explicou que possuía sangue índio nas veias pois um de seus avôs era Cherokee. Falou também que antes de ser ator fora dublê, gostando muito de fazer sequências arriscadas. De Laurentiis ficou satisfeito pois além de o candidato ser parecido com Marlon Brando, era muito mais esbelto que o ator de "A Face Oculta" (One-Eyed Jacks), ao contrário de Brando que não vencia a ingrata luta contra a balança. O produtor sorriu e disse: “O Sergio vai gostar de trabalhar com você”. Quando da assinatura do contrato, Burt lembrou que só poderia ficar na Europa até julho (corria o ano de 1966) pois nesse mês iria iniciar novo trabalho estrelando uma série de TV intitulada “O Falcão” (The Hawk), interpretando um detetive também de origem índia. De Laurentiis ainda profetizou: “Depois de atuar no meu western dirigido pelo Sergio, você vai se tornar um astro igual ao Clint Eastwood e não vai mais precisar de trabalhar em séries de televisão”. Burt Reynolds havia entendido que o Sergio era o mesmo talentoso diretor que dirigira o amigo.

Sergio Leone (à esquerda) e Sergio Corbucci.
O Sergio de “Django” - Burt Reynolds chegou a Roma em fins de fevereiro e permaneceu aguardando pela finalização do roteiro e pelo início das filmagens, o que se deu em fins de abril, quando embarcou para a Espanha e foi apresentado ao diretor. Assim como Sergio Leone, Corbucci nascera na Província de Lazio, ambos eram gordinhos, tinham quase a mesma idade (Corbucci era três anos mais velho que Leone) e haviam dirigido alguns das dezenas de épicos apelidados de ‘Sandálias e Espadas’, antes de enveredarem pelo faroeste. Mesmo com todas as coincidências, logo Burt descobriu que aquele não era o Sergio dos westerns europeus do amigo Clint, para quem ligou dizendo: “Clint, esse Sergio é outro! Pensei que fosse o Leone, mas esse é o Corbucci”. Eastwood comentou que Sergio Corbucci estava fazendo muito sucesso com seu western intitulado “Django”, batendo recordes de bilheteria, o que acalmou Burt Reynolds.

Acima Sergio Corbucci; abaixo Nicoletta
Machiavelli com Burt reynolds.
Proibido de beijar Nicoletta - Convencido do talento de Sergio Corbucci, durante as filmagens Burt Reynolds fez tudo que o diretor lhe pedia e o que não faltou foram cenas perigosas desenvolvidas com espetaculares performances de Reynolds, lembrando um outro Burt mais famoso, o Lancaster. ‘Navajo Joe’ tinha a bela Nicoletta Machiavelli como uma mestiça que acompanhava o índio Navajo em muitas sequências e certo dia Reynolds fez uma sugestão ao diretor. Cansado de bater, apanhar e matar tantos bandidos, o ator pediu que a Corbucci que criasse pelo menos um interlúdio amoroso, espécie de pausa em meio a tanta violência. Claro que Burt Reynolds queria mesmo era beijar a doce Nicoletta, ele que em poucos anos se tornaria o maior sex-symbol do cinema norte-americano. Corbucci então explicou a Reynolds que o western renascera pelas mãos de diretores europeus, especialmente os italianos, que deram ao gênero um estilo e um ritmo que os faroestes norte-americanos não conheceram em mais de 60 anos e milhares de filmes. Corbucci continuou explicando que nos westerns que Hollywood produzia havia muitas sequências de amor, muito blá-blá-blá e o que o público gostava mesmo era ação. Para azar de Reynolds, as filmagens de “Navajo Joe” foram encerradas sem que ele beijasse a Nicoletta Machiavelli uma única vez.

Burt Reynols como 'Bandit' em um de seus
maiores sucessos: "Agarre-Me Se Puderes".
Pentacampeão de bilheterias - O vaticínio de Dino De Laurentiis foi correto e alguns anos depois, Burt Reynolds havia se tornado um superastro, campeoníssimo de bilheteria nos Estados Unidos sendo o Number One Money Making Star por cinco anos seguidos, 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982. Burt fez parte da lista dos Top-Ten de bilheteria de Hollywood por doze anos e quando não foi o campeão obteve estas colocações: 1973 (4.º), 1974 (6.º), 1975 (7.º), 1976 (6.º), 1977 (4.º), 1983 (4.º) e 1984 (6.º). Nem Clint Eastwood e nem John Wayne conseguiram a proeza de ser campeões de bilheteria por cinco anos seguidos, façanha que só foi alcançado por Bing Crosby nos anos 40 e por Burt Reynolds durante seu reinado como Top Money Maker.

Burt Reynolds como Navajo Joe e abaixo em
"Cidade ardente", com Clint Eastwood.
“O pior filme da minha carreira” - Após atingir a condição de ídolo em seu país, Burt Reynolds gostava de falar da sua experiência no western spaghetti, fazendo-o sempre com ironia, quando não com sarcasmo. Burt afirmou em muitas entrevistas que “Joe, o Pistoleiro Implacável” havia sido o pior filme que fizera em sua carreira. Chegou a dizer que esse western era tão horrível que só deveria ser exibido nas prisões e em aviões, locais em que os espectadores não poderiam ir embora. Burt disse que nunca se sentiu mais ridículo tendo que usar uma pavorosa peruca. Injusto para com "Navajo Joe", talvez o ator jamais tivesse aceitado o fato do equívoco com os dois ‘Sergios’ e acabou sendo amargo com este filme de Corbucci que foi seu primeiro e único western spaghetti. “Joe, o Pistoleiro Implacável” de forma alguma merece as críticas abomináveis de Burt Reynolds, mesmo porque nem todos seus filmes foram tão bons quanto o admirável “Amargo Pesadelo”. Em 1984 os amigos Clint Eastwood e Burt Reynolds atuaram juntos em “Cidade Ardente” que para muitos críticos foi, este sim, um filme horrível, ponto baixo nas carreiras de ambos e do qual Reynolds nunca falou mal.

Burt Reynolds naquele que talvez seja seu melhor filme:, "Amargo Pesadelo";
os dois amigos campeões de bilheteria como capa da revista 'Time'.

Nenhum comentário:

Postar um comentário