Frederick W. Ziv |
Em 1948 havia 44 mil televisores
espalhados pelos lares norte-americanos, 30 mil deles em Nova York. Dois anos
depois, em 1950, era de seis milhões o número de aparelhos de televisão
existentes em o todo país, começando a ameaçar a indústria cinematográfica. A TV
norte-americana começou, em 1949, a exibir com boa audiência os filmes de Hopalong Cassidy feitos
para o cinema, tanto que o mocinho grisalho reconquistou a fama que tinha nos anos 30 e início dos anos 40. Espertamente William Boyd (o Hopalong Cassidy), de forma pioneira, produziu uma nova
série de westerns com meia hora de duração especialmente para exibição na
televisão. Em seguida, também em 1949, foi a vez do The Lone Ranger, depois de filmes e seriados no cinema, ter aventuras,
também de 25 minutos, produzidas para a nova mídia que se tornava o objeto do
desejo de todas as famílias dos Estados Unidos. O produtor Frederick W. Ziv,
através da sua ZIV Television Production, sem perda de tempo criou uma série
com um herói tão conhecido e carismático quanto Hoppy Cassidy e o Cavaleiro
Solitário (e seu amigo Tonto): “The Cisco Kid”.
Duncan Renaldo e Edwina Booth em "Mercador das Selvas" (Trader Horn), filme de 1931. |
A
escolha do Cisco Kid da TV - Duncan Renaldo mal havia se despido de
sua indumentária de Cisco Kid que havia interpretado em três filmes produzidos
pela Monogram em 1945 e depois em cinco outros filmes da United Artists, em
1949, quando foi procurado por Frederick Ziv. Duncan Renaldo era romeno de
nascimento, mas quase tudo em sua biografia gera controvérsias. Por vezes
Renaldo dizia ter nascido na Espanha e quanto à data de nascimento é aceito o
ano de 1904. Renaldo contava que rodou boa parte do mundo em atividades as mais
diversas, uma delas como membro da tripulação de um navio cargueiro brasileiro
que transportava minério. Ao chegar nos Estados Unidos, em 1927, esse cargueiro
afundou e Renaldo ficou por lá mesmo, trocando a profissão de carregador pela
de ator. Renaldo, cujo nome verdadeiro (será?) é Renault Renaldo Duncan, já
havia feito uma dúzia de filmes e era namorado da atriz Edwina Booth quando o
Serviço de Imigração lhe deu voz de prisão, em 1934, por estar irregularmente
no país. Quem o tirou da cadeia através dos advogados da Republic Pictures foi
Herbert J. Yates.
Cisco Kid produzido em cores e assistido em preto e branco. |
Um
produtor visionário - Praticamente todos os mocinhos do
cinema tinham seus sidekicks e o companheiro do Cisco Kid de Duncan Renaldo nos
filmes feitos em 1949 para o cinema era Leo Carrillo. Esse ator gorducho
nascido em Los Angeles já fazia planos para se aposentar pois estava com 69
anos em 1950, quando foi chamado para continuar a parceria com Duncan Renaldo
na nova série. Pode se dizer que o produtor Frederick Ziv era um visionário
pois num tempo em que a totalidade dos televisores era em preto e branco, ele
decidiu produzir a série em cores. Filmou a primeira temporada em Kodachrome 16
mm pois as telas dos aparelhos retransmissores eram tão pequenas e a sintonia
tão sofrível que aquele tipo de imagem estava pra lá de bom. Posteriormente a
série passou a ser filmada em 35 mm com impecável qualidade, ainda que chegando
aos lares em preto e branco. Quando a série foi encerrada, em 1956, não chegava
a mil o número de televisores que captavam imagens em cores nos Estados Unidos.
Porém nos anos seguintes esse número cresceu expressivamente e os episódios em
cores de “The Cisco Kid” nunca deixaram de ser exibidos em reprises nos 15 anos
subsequentes, rendendo bom dinheiro para o produtor. Quando “Bonanza” foi
produzido e exibido em cores desde seu primeiro episódio (11/9/1959), os
possuidores de TVs em cores já assistiam “The Cisco Kid” também em cores. A
diferença é que Frederick Ziv se antecipou a David Dortort, produtor de
“Bonanza” em dez anos.
Leo Carrillo |
Pancho
sentindo o peso dos anos - O escritor de pequenas histórias
O’Henry (William Sidney Porter) não podia imaginar o número de aventuras em que
se envolveria o herói que criara em 1907. Primeiro no cinema, depois no rádio,
mais tarde nas histórias em quadrinhos e finalmente na televisão, Cisco Kid e
seu companheiro (na maioria das vezes chamado de Pancho) não deixavam de ser
escritas por autores os mais diversos. De 1939, com Cesar Romero e Warner Baxter
até 1956, com a série de TV e a de rádio, igualmente encerrada em 1956, foram
quase mil histórias ‘diferentes’. Só a série de TV “The Cisco Kid” teve 156
episódios, todos estrelados por Renaldo e Carrillo. Este último estava com 75
anos de idade quando foi rodado o último episódio, em 1956, demonstrando
visível dificuldade para cavalgar ‘Loco’, o cavalo de Pancho. ‘Diablo’ era o
nome do cavalo malhado de Cisco Kid. Loco e Diablo conheciam cada pedra de
Corriganville e do Iverson Ranch, cenários constantes dos episódios da série.
Duncan Renaldo |
A
máscara de Cisco Kid - “The Cisco Kid” não se tornou uma
série clássica e a explicação para isso é que os roteiros dos episódios em nada
diferiam de tantos e tantos westerns B filmados em Hollywood nos anos 30 e 40.
E ao contrário do que acontecia com o mesmo herói nos gibis desenhados por José
Luís Salinas, a empatia com o público deixava a desejar. Nas seis temporadas em
que foi produzida, a série nunca conseguiu se colocar entre os 20 programas
mais assistidos na medição feita pelo Nielsen Ratings. Com seus trajes que mais
lembravam um mariacchi, o Cisco Kid de Duncan Renaldo deixava saudade dos
mocinhos mais ‘autênticos’ que começavam a proliferar em séries feitas para a
televisão, entre eles Gene Autry e Roy Rogers. A falta de identificação com o
público, porém, não impediu que Cisco Kid fosse produzida por número quase igual
de temporadas que as séries de Autry, Rogers e The Lone Ranger. Por falar no
Justiceiro Mascarado, o desajeitado e pouco ágil Duncan Renaldo, durante um
episódio da 3.ª temporada da série caiu de uma rocha e ficou afastado das
filmagens por alguns meses. Foi quando Cisco Kid surgiu mascarado como o Lone
Ranger, solução encontrada para que o substituto de Duncan Renaldo passasse por
ele sem ser descoberto pelos telespectadores. A voz gravada em estúdio era do
próprio Renaldo que, recuperado, retornou sem máscara às aventuras do ‘Robin
Hood do Oeste’.
Renaldo e Carrillo |
Heróis
cansados - Em 1956 as três grandes redes – NBC, CBS e NBC –
produziam séries como “Gunsmoke”, “Cheyenne”, e “Wyatt Earp”, entre outros
programas com roteiros mais criativos e que faziam com que as histórias vividas
por Cisco Kid parecessem totalmente sem imaginação e repetitivas. Foi então que
por falta de audiência e porque os dois atores se mostravam a cada episódio
mais cansados, especialmente Leo Carrillo, que a ZIV Television Production decidiu cancelar a série após seis temporadas e 156 episódios. Foi lançada toda
a série em DVD, em quatro caixas e também em coleções com o ‘The Best of Cisco
Kid’ e o herói da televisão volta hoje a ser apreciado pelos antigos fãs e por
aqueles que gostam de colecionar séries antigas, no caso, uma das pioneiras do gênero
western na TV norte-americana. Pode-se então ouvir a cada abertura de episódio
o exageradamente empolgado locutor exclamar: “Agora teremos aventura! Agora teremos
romance! – The Cisco Kid”.
Eu vi "Cisco Kid" pela primeira vez há alguns anos, numa TV aberta de Miami que trazia como maior parte de sua programação seriados dos anos 50, como Roy Rogers, Lassie, etc.
ResponderExcluirAchei muito fraco, típico da TV do início dos anos 50, o que quer dizer excessivamente esquemático, simplório até. Mas entre os motivos para a falta de sucesso original da série eu acrescentaria outro: o preconceito ético, já que os principais personagens eram de origem claramente mexicana.
Uma curiosidade: os episódios (uns 3 ou 4) a que assisti eram em preto e branco. Diante da informação de que eles foram originalmente produzidos em cores, fiquei confuso. Das duas, uma: ou a informação está equivocada ou o que anda sendo reprisado lá são cópias em P&B do original em cores.
Muito legal o texto sobre Cisco Kid! Antes de ler o texto, tive a ideia de mudar o nome de um amigo chamado Francisco, para Cisco; por ser melhor de pronunciar; mas lembrei tambem do Cisco Kid, das HQs que lia quando de minha adolescência, na década de 60. Seria bom que retornasse. A editora "dois pontos" está relançando vários super-heróis do passado, como Fantasma, Mandrak etc...
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