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24 de dezembro de 2013

OS INCRÍVEIS TÍTULOS DOS WESTERNS SPAGHETTI (Parte III) – BRUTAIS AMEAÇAS


Em 1964 um filme de Stanley Kubrick chamou a atenção não apenas por sua importante mensagem antibélica, mas e principalmente pelo seu extravagante título: “Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb”, que ficou conhecido no Brasil como “Dr. Fantástico”, comédia que, quando lançada, manteve o longo complemento “... ou Como eu Aprendi a Deixar de me Preocupar e a Amar a Bomba”. Apesar de estranho, esse tipo de título fez escola, principalmente nos westerns spaghetti produzidos na Itália que apresentaram alguns dos mais sugestivos, jocosos e longos títulos cinematográficos. Esses faroestes continham em seus títulos ameaças de morte nada veladas, algumas delas verdadeiramente assustadoras e feitas por Django, Ringo, Sabata, Gringo e pelos menos lembrados Garringo, Shango, Aleluia, Espírito Santo e Campo Santo, entre outros. Essas intimidações somadas aos nomes estranhos dos justiceiros resultaram nos mais estrambóticos títulos que o cinema conheceu nos seus já longos 110 anos de vida, tornando-se marca registrada dos westerns spaghetti.

Vou, ameaço e volto... - Levados em consideração seus arrepiantes títulos, muitos westerns spaghetti poderiam ter sido censurados rigorosamente. Isto se considerarmos que uma década antes nosso Departamento de Censura Federal deliberou que o western “Matar ou Morrer” fosse impróprio a menores de 18 anos. O que dizer então de títulos de euro-westerns como “Morrerás como um Cão” (Lo Amazzó Come um Cane... Ma Lui Rideva Ancora), “Fico Só, mas Mato Todos” (Rimase Uno Solo. E Fu la Morte per Tutti), “Matarei Um por Um” (Ad Uno ad Uno... Spietatamente), “Mato e Assino – Blacky” (L’Odio è Il mio Dio!), “Mato os Vivos e Rezo pelos Mortos” (Prega Il Morto e Ammazza Il Vivo), “Vivo ou Preferivelmente Morto” (Vivi o Preferibilmente Morti). Curiosamente, por vezes o título era alongado pelos distribuidores brasileiros como em “Um Minuto para Rezar, Um Segundo para Morrer” (Senteza di Morte). Outros títulos fortes foram “Gringo, Reze para Morrer” (Straniero... Fatti il Segno della Croce!), “Não Sou Trinity... Nem Carambola” (Prima ti Suono e Poi ti Sparo), “Plomo Sobre Dallas” (Prendi la Colt e Prega Il Padre Tuo), “Hoje Eu, Amanhã Você” (Oggi a Me... Domani a Te), “No Rastro do Ouro Maldito” (Amigo mio Frega tu Che Frego Io!). Algumas vezes a ameaça tinha a assinatura do matador como em “Eu Lavrei Tua Sentença” (Sei già Cadavere Amigo, ti Cerca Garringo), cujo título em Espanhol não é menos aterrorizante com a mudança de Garringo para Sabata: “Abre tu Fosa Amigo... Llega Sabata”. No Brasil virou bordão popular a frase ‘Vou no mato e volto’, significando que alguém iria fazer suas necessidades, isto quando aqui foi exibido com sucesso “Vou, Mato e Volto” (Vado, L’Amazzo e Torno”, de Enzo Castellari.



Django e Sartana, os favoritos do público - Difícil mesmo era escolher o personagem preferido nos western spaghetti e os produtores sabiam da força dos nomes desses personagens, razão pela qual sempre que possível eles eram anunciados nos títulos, especialmente Sartana e Django. Eis alguns exemplos: “Se Encontrar Sartana, Reze pela tua Morte” (Se Incontri Sartana Prega per la tua Morte), “Sou Sartana, Venha em Quatro para Morrer” (E Vennero in 4 per Uccidere Sartana), “Django Contra Quatro Irmãos” (Anche per Django le Carogne Hanno um Prezzo), “Django Mata em Silêncio” (Bill, Il Taciturno), “Sartana está Chegando” (Uma Nuvola di Polvere, um Grido di Morte Arriva Sartana), “Com Sartana cada Bala é uma Cruz” (C’è Sartana... Vendi la Pistola e Comprati una Bara). Por vezes Django e Sartana estavam nos mesmos cartazes como nos westerns de Demófilo Fidani “Django e Sartana no Dia da Vingança” (Arrivano Django e Sartana è la Fine) e “Django e Sartana – Até o Último Sangue” (Quel Maledetto Giono d’Inverno... Django e Sartana all’Ultimo Sangue). Juntos estiveram ainda em “Django Desafia Sartana” (Django Sfida Sartana). No filme “Sartana Volta para Matar” (Mi Chiamavano Requiescant, ma Avevano Sbagliato) o distribuidor brasileiro inventou um Sartana que devia estar ocupado com matanças em outro western spaghetti...



Dando nomes aos justiceiros - Como nem só de Djangos e Sartanas vivia o faroeste europeu, muitos títulos traziam os nomes de outros personagens como “Sabata” (Hei, amigo, c’è Sabata, Hai Chiuso!), na comédia “Ringo e Gringo Contra Todos” (Ringo e Gringo Contra Tutti), “E o Chamavam Espírito Santo” (...E lo Chiamarono Spirito Santo), “Espírito Santo e os Cinco Magníficos Canalhas’ (Spirito Santo e le 5 Magnifiche Canaglie), “Garringo” (Garringo), "Califórnia Adeus" (Lo Chiamavano California). Clint Eastwood fez história no western spaghetti, mas voltou aos Estados Unidos para se tornar o maior nome do cinema norte-americano por muitos anos. Antes disso recebeu uma ‘homenagem’ com “Clint, o Solitário” (Clint, Il Solitario), estrelado pelo espanhol George Martin. Outro George, o uruguaio George Hilton saiu de Montevidéu para, como ator, interpretar Sartana, Aleluia e Tricky Dicky, também chamado de Tresette nas comédias “Dicky Luft em Sacramento” (Di Tressette ce n’è Uno, Tutti gli Altri son Nessuno) e “Lo Chiamavano Tresette... Giocava Sempre col Morto”. Klaus Kinski era o mais sádico e considerado o Rei dos Bandidos dos Westerns Spaghetti, mas em (Lo Chiamavano King), o 'King' era mesmo o ator Richard Harrison. Os produtores italianos chegaram a um de seus pontos máximos de delirante criatividade com o filme “Zorro Contra Maciste” (Zorro Contra Maciste) que apesar da presença do personagem criado por Johnston McCulley, não era um faroeste. Ainda bem...


Um Homem Chamado... - O cartão de visita nos faroestes italianos era a pistola, mas com o sucesso do filme “Um Homem Chamado Cavalo” estrelado por Richard Harris, de Elliot Silverstein, os distribuidores nacionais passaram a apresentar alguns westerns spaghetti com esse modelo de título como em “Um Homem Chamado Django” (A Man Called Django), “Um Homem Chamado Sabata” (Arriva Sabata), “Um Homem Chamado Dakota” (Un Uomo Chiamato Dakota), “Un Uomo Chiamato Apocalisse Joe”, “Um Homem Chamado Sacramento” (Sei Ielatto, Amigo. Hai Incontrato Sacramento”, “Um Homem Chamado Gringo” (Sien Nannten ih Gringo), esta uma produção alemã. E houve as variantes como “Meu Nome é Pecos” (Due Once di Piombo). “Um Animal Chamado Homem” (Un Animale Chiamato Uomo!!!), “E o Chamavam Espírito Santo” (...E lo Chiamarono Spirito Santo), “Meu Nome é Mallory, com M de Morte” (Il Mio Nome é Mallory), “Chamam-me Aleluia” (Testa ‘Amazzato, Croce... Sei Morto... Mi Chiamano Allelluia). Também apelidado de ‘Cemitério’, Gianni Garko matou muita gente apresentado como Campo Santo em “Já não é mais Sartana. Seu nome é Campo Santo” (Gli Fumavano le Colt... Lo Chiamavano Campo Santo).



As insinuadoras reticências... - Se havia Espírito Santo, Campo Santo e Aleluia, ninguém estranhou quando surgiu ‘Jerusalém’ em “Pistoleiro Não Muito Mortal” (E Alla Fine lo Chiamarono Jerusalem l’Implacabilli). “Lobo, o Bastardo” foi o título brasileiro de “Il Suo Nome era Pot... Ma... Lo Chiamavano Allegria”, outro western de Demófilo Fidani, desta vez assinando ‘Dennis Ford’. O título nacional “Sangue, Ouro e Vingança” escondia o original “Attento Gringo è Tornato Sabata”. E Fidani também perpetrou o título “Era Sam Wallach... Lo Chiamavano Cosi Sai” que no Brasil matreiramente foi exibido como “Um Pistoleiro mais Violento que Ringo”. Além dos títulos inusitados os westerns spaghetti usaram e abusaram do uso de reticências, o que lhes dava uma característica toda especial e facilmente identificável como filme do gênero. Na quarta e última parte desta série ‘Os Incríveis Títulos dos Westerns Spaghetti’ serão apresentados os dez melhores títulos, bem como os dez mais estapafúrdios entre as centenas de irreverentes títulos apresentados pelos euro-westerns. Aguarde amigo, neste blog chamado... WESTERNCINEMANIA.



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