Se a palavra ‘dólar’ é a campeã
absoluta entre os títulos dos westerns spaghetti, outras também apareceram em
incontáveis filmes chegando a confundir os espectadores menos atentos. É o caso
de pistola/pistoleiro por vezes acompanhadas por um numeral. “Sete Homens e um
Destino” certamente foi um western cultuado na Itália, tantas as vezes que esse
número envolto numa estranha mística apareceu em títulos de faroestes. E como não
poderia deixar de ser em países eminentemente católicos como Itália e Espanha,
Deus, diabo, céu e inferno causavam forte impressão nos ávidos espectadores que
viam como cenário constante dos westerns spaghetti os cemitérios. Ameaças
amedrontadoras prometendo a morte breve eram pronunciadas pelos taciturnos maus
e feios personagens cujos nomes eram outra atração dos cartazes dos spaghetti.
Pistoleiros e Pistoleiras - “As Pistolas não Discutem” (Le Pistole non Discutono), com o canadense
Rod Cameron foi,em 1963, um dos primeiros faroestes europeus a citar a palavra pistola,
iniciando uma sequência enorme de filmes com essa palavra que possuía forte
poder de atração sobre os espectadores. Seguiram-se “O Homem da Pistola de
Ouro” (L’Uomo dalla Pistola d’Oro) que
é título homônimo de uma aventura de James Bond/Roger Moore, “Uma Pistola e Cem
Cruzes” (Una Pistola per 100 Croci),
“Uma Pistola para Cem Sepulturas” (Una
Pistola per Cento Bare). Por vezes omitia-se a palavra pistola nos títulos
nacionais, como ocorreu em “Duelo em Dallas City” (Le Maledette Pistole di Dallas). Quando não era pistola era
pistoleiro o chamariz do título e exemplos não faltam como em “O Pistoleiro que
Mudou o Oeste” (I Senza Dio), neste
caso invenção dos distribuidores patrícios. Na falta de pistoleiros surgiam as
mulheres armadas como em “A Pistoleira Virgem” (Giarrettiera Colt) com a bela Nicholetta Machiavelli e “As
Pistoleiras” (Las Petroleras) com as
fascinantes Brigitte Bardot e Claudia Cardinalle. Estes dois títulos também
criações de nossos distribuidores já que não há pistoleiras nos títulos
originais. Clássico absoluto do gênero western, independente de sua origem, “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo” recebeu
no Brasil o título de “Três Homens em Conflito”, isto em 1967 quando aqui foi exibido
e num momento em que muitos outros westerns made-in-Italy mais pareciam
máquinas calculadoras, tantos eram os números que seus títulos continham.
Numerosas pistolas - Um pistoleiro é pouco e muitos
pistoleiros nunca foram demais em westerns spaghetti. Melhor ainda se eles
vierem em número de sete, evocativo, sem dúvida, dos sete magníficos do
faroeste de John Sturges baseado nos “Sete Samurais” de Akira Kurosawa. Foi
assim em “Os Sete Pistoleiros” (7
Magnifiche Pistole) e em “Sete Cavalgam até a Morte” (7 Cabalgan Hacia La Muerte), esta uma produção espanhola. Mezzo
italiana, mezzo spagnola foram as aventuras lideradas por Gregor MacGregor em
“Sete Pistolas para os MacGregors” (Sette
Pistole per i MacGregors), e “Sete Mulheres para os MacGregors” (Sette Donne per i MacGregors), este claramente
lembrando o inesquecível musical “Sete Noivas para Sete Irmãos”. O número
sete apareceu ainda em “Adios, Hombre” (7
Pistole per un Massacre), “Sete Pistolas para Gringo” (7 Pistole per El Gringo), “O Grupo dos Sete Selvagens” (I 7 Gruppo del Selvaggio) e “Sete Horas
de Fogo” (Sette Uore di Fuoco). Exibido
entre nós como “Texas 1867”, o título original desse filme estrelado por Guy
Madison era mesmo “7 Winchester per um
Massacre”. Até uma aventura de Trinity intitulada originalmente como “Una Ragione per Vivere e una per Morire”
foi chamada no Brasil como “Trinity e os Sete Magníficos” numa inacreditável
tentativa de iludir os espectadores. De Trinity nesse filme só havia a presença
de seu parceiro Bud Spencer, mas em compensação o astro foi o excelente James Coburn ao lado
de Telly Savalas Nem sempre o número escolhido era sete como ocorreu com os
títulos de “Seis Invencíveis Pistoleiros” (Sei
Bounty Killers per una Strage) e “Cinco Pistolas com Sede de Sangue” (Giu Uomini dal Paso Pesante), boas
soluções dos tituladores brasileiros. Certo sádico exagero ocorreu em “15
Forcas para um Assassino” (15 Forche per
un Assassino), mas o que seria exagero em se tratando de títulos de
westerns spaghetti que apelavam até para a religiosidade, como em “Os Quatro da
Ave Maria” (I Quattro dell’Ave Maria)
e como se vê a seguir.
Deus, Perdoa a Minha Pistola -
“Quatro Pistoleiros de Santa Trinitá” (I quattro Pistoleri di Santa Trinità) também mesclou numeral,
pistoleiro e referência à Santíssima Trindade. Mas muitos westerns spaghetti
eram indiferentes ao segundo mandamento da igreja católica que prega não tomar
o nome de Deus em vão. E exemplos não faltam como em “Deus não Paga aos
Sábados” (Dio non Paga Il Sabato), “E
agora Faça as Pazes com Deus” (Ed ora Raccomanda
l’Anima a Dio), “Eu Mato e Recomendo a Deus” (T’Ammazzo Raccomandati a Dio), “Peça Perdão a Deus, Nunca a Mim” (Chiedi Perdono a Dio, non a Me), “E Deus Disse a Caim” (E Dio Disse a Caino) com o terrível homem mau Klaus Kinski. Vez por
outra o nome de Deus era omitido no título em Português como em “Semeando a
Morte no Texas” (Semino Morte. Lo
Chiamavano Il Castigo di Dio), com Brad Harris como Django. Pelo sim pelo
não, foi evitada a tradução literal de “Dio
Perdoni la mia Pistola” que passou aqui como “Texas Calibre 38”, faroeste
estrelado pelo norte-americano Wayde Preston. A religiosidade muitas vezes se
manifestou em forma de oração sem que o executante pense no perdão: “Reze a
Deus e Cave sua Sepultura” (Prega Dio...
E Scavati la Fossa) e “Rezo a Deus e Odeio meu Próximo” (Odia Il Prossimo Tuo). No Brasil, como
não poderia deixar de ser apareceu um título imitando os dos faroestes
italianos como em “Rogo a Deus e Mando Bala”, de Oswaldo de Oliveira com Inácio
Araújo (ele mesmo, o crítico) no elenco.
O faroeste "Rogo a Deus e Mando Bala" é uma produção brasileira que tentou enganar o público fazendo-se passar por um westernspaghetti ou seja, a contrafação da contrafação. |
Túmulos, diabo e morte - O capeta também tinha vez nos títulos
dos westerns spaghetti como em “Um Colt na Mão do Diabo” (Una Colt in Pugno al Diavolo). E se Satanaz não aparecia nossos
tituladores lembravam dele como em “Um Colt para os Filhos do Demônio” (Al di lá della Legge), ou indo até a
casa dele como em “Até no Inferno Irei à sua Procura” (Dinamite Jim). Num tempo em que nosso Zé do Caixão assombrava o
mundo, faroestes italianos faziam também referência à morte. “Réquiem para
Matar” (Requiescant), filmado em
1967, é famoso por ter em seu elenco a presença de Pier Paolo Pasolini Seguindo
essa linha houve ainda “Ei, Amigo, Descanse em Paz” (Eh, Amico... Sei Morto), “Cemitério sem Cruzes” (Cimitero Senza
Croci), “Uma Longa Fila de Cruzes” (Una
Lunga Fila di Croci), “Bom Funeral Amigos... Paga Sartana” (Buen Funeral Amigos... Paga Sartana),
“Os Cadáveres não Fazem Sombra” (Inginocchiati
Straniero... I Cadaveri non Fanno Ombra). Nossos tituladores ora apelavam
para o terror como em “O Túmulo do Pistoleiro” (Attento Gringo, ora si Spara), ora evitavam o funesto, como em “A
Vingança é Minha” (Quei Dispari Che
Puzzoni di Sudore e di Morti) e em “Bandidos” (Bandidos, Creppa tu Che Vivo Io). Leia na próxima postagem a
terceira parte de ‘Os Incríveis Títulos dos Westerns Spaghetti’.
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