22 de dezembro de 2013

OS INCRÍVEIS TÍTULOS DOS WESTERNS SPAGHETTI (Parte II) – PISTOLAS E CADÁVERES


Se a palavra ‘dólar’ é a campeã absoluta entre os títulos dos westerns spaghetti, outras também apareceram em incontáveis filmes chegando a confundir os espectadores menos atentos. É o caso de pistola/pistoleiro por vezes acompanhadas por um numeral. “Sete Homens e um Destino” certamente foi um western cultuado na Itália, tantas as vezes que esse número envolto numa estranha mística apareceu em títulos de faroestes. E como não poderia deixar de ser em países eminentemente católicos como Itália e Espanha, Deus, diabo, céu e inferno causavam forte impressão nos ávidos espectadores que viam como cenário constante dos westerns spaghetti os cemitérios. Ameaças amedrontadoras prometendo a morte breve eram pronunciadas pelos taciturnos maus e feios personagens cujos nomes eram outra atração dos cartazes dos spaghetti.

Pistoleiros e Pistoleiras - “As Pistolas não Discutem” (Le Pistole non Discutono), com o canadense Rod Cameron foi,em 1963, um dos primeiros faroestes europeus a citar a palavra pistola, iniciando uma sequência enorme de filmes com essa palavra que possuía forte poder de atração sobre os espectadores. Seguiram-se “O Homem da Pistola de Ouro” (L’Uomo dalla Pistola d’Oro) que é título homônimo de uma aventura de James Bond/Roger Moore, “Uma Pistola e Cem Cruzes” (Una Pistola per 100 Croci), “Uma Pistola para Cem Sepulturas” (Una Pistola per Cento Bare). Por vezes omitia-se a palavra pistola nos títulos nacionais, como ocorreu em “Duelo em Dallas City” (Le Maledette Pistole di Dallas). Quando não era pistola era pistoleiro o chamariz do título e exemplos não faltam como em “O Pistoleiro que Mudou o Oeste” (I Senza Dio), neste caso invenção dos distribuidores patrícios. Na falta de pistoleiros surgiam as mulheres armadas como em “A Pistoleira Virgem” (Giarrettiera Colt) com a bela Nicholetta Machiavelli e “As Pistoleiras” (Las Petroleras) com as fascinantes Brigitte Bardot e Claudia Cardinalle. Estes dois títulos também criações de nossos distribuidores já que não há pistoleiras nos títulos originais. Clássico absoluto do gênero western, independente de sua origem, “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo” recebeu no Brasil o título de “Três Homens em Conflito”, isto em 1967 quando aqui foi exibido e num momento em que muitos outros westerns made-in-Italy mais pareciam máquinas calculadoras, tantos eram os números que seus títulos continham.


Numerosas pistolas - Um pistoleiro é pouco e muitos pistoleiros nunca foram demais em westerns spaghetti. Melhor ainda se eles vierem em número de sete, evocativo, sem dúvida, dos sete magníficos do faroeste de John Sturges baseado nos “Sete Samurais” de Akira Kurosawa. Foi assim em “Os Sete Pistoleiros” (7 Magnifiche Pistole) e em “Sete Cavalgam até a Morte” (7 Cabalgan Hacia La Muerte), esta uma produção espanhola. Mezzo italiana, mezzo spagnola foram as aventuras lideradas por Gregor MacGregor em “Sete Pistolas para os MacGregors” (Sette Pistole per i MacGregors), e “Sete Mulheres para os MacGregors” (Sette Donne per i MacGregors), este claramente lembrando o inesquecível musical “Sete Noivas para Sete Irmãos”. O número sete apareceu ainda em “Adios, Hombre” (7 Pistole per un Massacre), “Sete Pistolas para Gringo” (7 Pistole per El Gringo), “O Grupo dos Sete Selvagens” (I 7 Gruppo del Selvaggio) e “Sete Horas de Fogo” (Sette Uore di Fuoco). Exibido entre nós como “Texas 1867”, o título original desse filme estrelado por Guy Madison era mesmo “7 Winchester per um Massacre”. Até uma aventura de Trinity intitulada originalmente como “Una Ragione per Vivere e una per Morire” foi chamada no Brasil como “Trinity e os Sete Magníficos” numa inacreditável tentativa de iludir os espectadores. De Trinity nesse filme só havia a presença de seu parceiro Bud Spencer, mas em compensação o astro foi o excelente James Coburn ao lado de Telly Savalas Nem sempre o número escolhido era sete como ocorreu com os títulos de “Seis Invencíveis Pistoleiros” (Sei Bounty Killers per una Strage) e “Cinco Pistolas com Sede de Sangue” (Giu Uomini dal Paso Pesante), boas soluções dos tituladores brasileiros. Certo sádico exagero ocorreu em “15 Forcas para um Assassino” (15 Forche per un Assassino), mas o que seria exagero em se tratando de títulos de westerns spaghetti que apelavam até para a religiosidade, como em “Os Quatro da Ave Maria” (I Quattro dell’Ave Maria) e como se vê a seguir.



Deus, Perdoa a Minha Pistola -  “Quatro Pistoleiros de Santa Trinitá” (I quattro Pistoleri di Santa Trinità) também mesclou numeral, pistoleiro e referência à Santíssima Trindade. Mas muitos westerns spaghetti eram indiferentes ao segundo mandamento da igreja católica que prega não tomar o nome de Deus em vão. E exemplos não faltam como em “Deus não Paga aos Sábados” (Dio non Paga Il Sabato), “E agora Faça as Pazes com Deus” (Ed ora Raccomanda l’Anima a Dio), “Eu Mato e Recomendo a Deus” (T’Ammazzo Raccomandati a Dio), “Peça Perdão a Deus, Nunca a Mim” (Chiedi Perdono a Dio, non a Me), “E  Deus Disse a Caim” (E Dio Disse a Caino) com o terrível homem mau Klaus Kinski. Vez por outra o nome de Deus era omitido no título em Português como em “Semeando a Morte no Texas” (Semino Morte. Lo Chiamavano Il Castigo di Dio), com Brad Harris como Django. Pelo sim pelo não, foi evitada a tradução literal de “Dio Perdoni la mia Pistola” que passou aqui como “Texas Calibre 38”, faroeste estrelado pelo norte-americano Wayde Preston. A religiosidade muitas vezes se manifestou em forma de oração sem que o executante pense no perdão: “Reze a Deus e Cave sua Sepultura” (Prega Dio... E Scavati la Fossa) e “Rezo a Deus e Odeio meu Próximo” (Odia Il Prossimo Tuo). No Brasil, como não poderia deixar de ser apareceu um título imitando os dos faroestes italianos como em “Rogo a Deus e Mando Bala”, de Oswaldo de Oliveira com Inácio Araújo (ele mesmo, o crítico) no elenco.


O faroeste "Rogo a Deus e Mando Bala" é uma produção brasileira
que tentou enganar o público fazendo-se passar por um
westernspaghetti ou seja, a contrafação da contrafação.

Túmulos, diabo e morte - O capeta também tinha vez nos títulos dos westerns spaghetti como em “Um Colt na Mão do Diabo” (Una Colt in Pugno al Diavolo). E se Satanaz não aparecia nossos tituladores lembravam dele como em “Um Colt para os Filhos do Demônio” (Al di lá della Legge), ou indo até a casa dele como em “Até no Inferno Irei à sua Procura” (Dinamite Jim). Num tempo em que nosso Zé do Caixão assombrava o mundo, faroestes italianos faziam também referência à morte. “Réquiem para Matar” (Requiescant), filmado em 1967, é famoso por ter em seu elenco a presença de Pier Paolo Pasolini Seguindo essa linha houve ainda “Ei, Amigo, Descanse em Paz” (Eh, Amico... Sei Morto), “Cemitério sem Cruzes” (Cimitero Senza Croci), “Uma Longa Fila de Cruzes” (Una Lunga Fila di Croci), “Bom Funeral Amigos... Paga Sartana” (Buen Funeral Amigos... Paga Sartana), “Os Cadáveres não Fazem Sombra” (Inginocchiati Straniero... I Cadaveri non Fanno Ombra). Nossos tituladores ora apelavam para o terror como em “O Túmulo do Pistoleiro” (Attento Gringo, ora si Spara), ora evitavam o funesto, como em “A Vingança é Minha” (Quei Dispari Che Puzzoni di Sudore e di Morti) e em “Bandidos” (Bandidos, Creppa tu Che Vivo Io). Leia na próxima postagem a terceira parte de ‘Os Incríveis Títulos dos Westerns Spaghetti’.




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