Em 1964 um filme de Stanley Kubrick
chamou a atenção não apenas por sua importante mensagem antibélica, mas e principalmente
pelo seu extravagante título: “Dr. Strangelove or How I Learned to Stop
Worrying and Love the Bomb”, que ficou conhecido no Brasil como “Dr.
Fantástico”, comédia que, quando lançada, manteve o longo complemento “... ou Como
eu Aprendi a Deixar de me Preocupar e a Amar a Bomba”. Apesar de estranho, esse
tipo de título fez escola, principalmente nos westerns spaghetti produzidos na
Itália que apresentaram alguns dos mais sugestivos, jocosos e longos títulos cinematográficos.
Esses faroestes continham em seus títulos ameaças de morte nada veladas,
algumas delas verdadeiramente assustadoras e feitas por Django, Ringo,
Sabata, Gringo e pelos menos lembrados Garringo, Shango, Aleluia, Espírito
Santo e Campo Santo, entre outros. Essas intimidações somadas aos nomes estranhos dos
justiceiros resultaram nos mais estrambóticos títulos que o cinema conheceu nos
seus já longos 110 anos de vida, tornando-se marca registrada dos westerns
spaghetti.
Vou, ameaço e volto... - Levados em consideração seus
arrepiantes títulos, muitos westerns spaghetti poderiam ter sido censurados
rigorosamente. Isto se considerarmos que uma década antes nosso Departamento de
Censura Federal deliberou que o western “Matar ou Morrer” fosse impróprio a
menores de 18 anos. O que dizer então de títulos de euro-westerns como
“Morrerás como um Cão” (Lo Amazzó Come um
Cane... Ma Lui Rideva Ancora), “Fico Só, mas Mato Todos” (Rimase Uno Solo. E Fu la Morte per Tutti),
“Matarei Um por Um” (Ad Uno ad Uno...
Spietatamente), “Mato e Assino – Blacky” (L’Odio è Il mio Dio!), “Mato os Vivos e Rezo pelos Mortos” (Prega Il Morto e Ammazza Il Vivo), “Vivo
ou Preferivelmente Morto” (Vivi o
Preferibilmente Morti). Curiosamente, por vezes o título era alongado pelos
distribuidores brasileiros como em “Um Minuto para Rezar, Um Segundo para
Morrer” (Senteza di Morte). Outros
títulos fortes foram “Gringo, Reze para Morrer” (Straniero... Fatti il Segno della Croce!), “Não Sou Trinity... Nem Carambola”
(Prima ti Suono e Poi ti Sparo), “Plomo
Sobre Dallas” (Prendi la Colt e Prega Il
Padre Tuo), “Hoje Eu, Amanhã Você” (Oggi
a Me... Domani a Te), “No Rastro do Ouro Maldito” (Amigo mio Frega tu Che Frego Io!). Algumas vezes a ameaça tinha a
assinatura do matador como em “Eu Lavrei Tua Sentença” (Sei già Cadavere Amigo, ti Cerca Garringo), cujo título em Espanhol
não é menos aterrorizante com a mudança de Garringo para Sabata: “Abre tu Fosa Amigo... Llega Sabata”. No
Brasil virou bordão popular a frase ‘Vou no mato e volto’, significando que
alguém iria fazer suas necessidades, isto quando aqui foi exibido com sucesso
“Vou, Mato e Volto” (Vado, L’Amazzo e Torno”, de Enzo Castellari.
Django e Sartana, os favoritos do público - Difícil mesmo era escolher o
personagem preferido nos western spaghetti e os produtores sabiam da força dos
nomes desses personagens, razão pela qual sempre que possível eles eram
anunciados nos títulos, especialmente Sartana e Django. Eis alguns exemplos:
“Se Encontrar Sartana, Reze pela tua Morte” (Se Incontri Sartana Prega per la tua Morte), “Sou Sartana, Venha em
Quatro para Morrer” (E Vennero in 4 per
Uccidere Sartana), “Django Contra Quatro Irmãos” (Anche per Django le Carogne Hanno um Prezzo), “Django Mata em
Silêncio” (Bill, Il Taciturno),
“Sartana está Chegando” (Uma Nuvola di
Polvere, um Grido di Morte Arriva Sartana), “Com Sartana cada Bala é uma
Cruz” (C’è Sartana... Vendi la Pistola e
Comprati una Bara). Por vezes Django e Sartana estavam nos mesmos cartazes
como nos westerns de Demófilo Fidani “Django e Sartana no Dia da Vingança” (Arrivano Django e Sartana è la Fine) e
“Django e Sartana – Até o Último Sangue” (Quel
Maledetto Giono d’Inverno... Django e Sartana all’Ultimo Sangue). Juntos
estiveram ainda em “Django Desafia Sartana” (Django Sfida Sartana). No
filme “Sartana Volta para Matar” (Mi
Chiamavano Requiescant, ma Avevano Sbagliato) o distribuidor brasileiro
inventou um Sartana que devia estar ocupado com matanças em outro western spaghetti...
Dando nomes aos justiceiros - Como nem só de Djangos e Sartanas
vivia o faroeste europeu, muitos títulos traziam os nomes de outros personagens
como “Sabata” (Hei, amigo, c’è Sabata,
Hai Chiuso!), na comédia “Ringo e Gringo Contra Todos” (Ringo e Gringo Contra Tutti), “E o
Chamavam Espírito Santo” (...E lo
Chiamarono Spirito Santo), “Espírito Santo e os Cinco Magníficos Canalhas’
(Spirito Santo e le 5 Magnifiche Canaglie),
“Garringo” (Garringo), "Califórnia Adeus" (Lo Chiamavano California). Clint Eastwood
fez história no western spaghetti, mas voltou aos Estados Unidos para se tornar
o maior nome do cinema norte-americano por muitos anos. Antes disso recebeu uma
‘homenagem’ com “Clint, o Solitário” (Clint,
Il Solitario), estrelado pelo espanhol George Martin. Outro George, o
uruguaio George Hilton saiu de Montevidéu para, como ator, interpretar Sartana,
Aleluia e Tricky Dicky, também chamado de Tresette nas comédias “Dicky Luft em
Sacramento” (Di Tressette ce n’è Uno,
Tutti gli Altri son Nessuno) e “Lo
Chiamavano Tresette... Giocava Sempre col Morto”. Klaus Kinski era o mais sádico e considerado o Rei dos Bandidos dos Westerns Spaghetti, mas em (Lo Chiamavano King), o 'King' era
mesmo o ator Richard Harrison. Os produtores italianos chegaram a um de seus pontos
máximos de delirante criatividade com o filme “Zorro Contra Maciste” (Zorro Contra Maciste) que apesar da
presença do personagem criado por Johnston McCulley, não era um faroeste. Ainda
bem...
Um Homem Chamado... - O cartão de visita nos faroestes
italianos era a pistola, mas com o sucesso do filme “Um Homem Chamado Cavalo” estrelado por Richard Harris,
de Elliot Silverstein, os distribuidores nacionais passaram a apresentar alguns
westerns spaghetti com esse modelo de título como em “Um Homem Chamado Django” (A Man Called Django), “Um Homem Chamado
Sabata” (Arriva Sabata), “Um Homem
Chamado Dakota” (Un Uomo Chiamato Dakota),
“Un Uomo Chiamato Apocalisse Joe”,
“Um Homem Chamado Sacramento” (Sei
Ielatto, Amigo. Hai Incontrato Sacramento”, “Um Homem Chamado Gringo” (Sien Nannten ih Gringo), esta uma
produção alemã. E houve as variantes como “Meu Nome é Pecos” (Due Once di Piombo). “Um Animal Chamado
Homem” (Un Animale Chiamato Uomo!!!),
“E o Chamavam Espírito Santo” (...E lo
Chiamarono Spirito Santo), “Meu Nome é Mallory, com M de Morte” (Il Mio Nome é Mallory), “Chamam-me
Aleluia” (Testa ‘Amazzato, Croce... Sei
Morto... Mi Chiamano Allelluia). Também apelidado de ‘Cemitério’, Gianni
Garko matou muita gente apresentado como Campo Santo em “Já não é mais Sartana.
Seu nome é Campo Santo” (Gli Fumavano le
Colt... Lo Chiamavano Campo Santo).
As insinuadoras reticências... - Se havia Espírito Santo, Campo Santo e
Aleluia, ninguém estranhou quando surgiu ‘Jerusalém’ em “Pistoleiro Não Muito
Mortal” (E Alla Fine lo Chiamarono
Jerusalem l’Implacabilli). “Lobo, o Bastardo” foi o título brasileiro de “Il Suo Nome era Pot... Ma... Lo Chiamavano Allegria”,
outro western de Demófilo Fidani, desta vez assinando ‘Dennis Ford’. O título
nacional “Sangue, Ouro e Vingança” escondia o original “Attento Gringo è Tornato Sabata”. E Fidani também perpetrou o
título “Era Sam Wallach... Lo Chiamavano
Cosi Sai” que no Brasil matreiramente foi exibido como “Um Pistoleiro mais
Violento que Ringo”. Além dos títulos inusitados os westerns spaghetti usaram e
abusaram do uso de reticências, o que lhes dava uma característica toda
especial e facilmente identificável como filme do gênero. Na quarta e última
parte desta série ‘Os Incríveis Títulos dos Westerns Spaghetti’ serão
apresentados os dez melhores títulos, bem como os dez mais estapafúrdios entre as centenas de irreverentes
títulos apresentados pelos euro-westerns. Aguarde amigo, neste blog chamado... WESTERNCINEMANIA.
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