27 de dezembro de 2013

OS INCRÍVEIS TÍTULOS DOS WESTERNS SPAGHETTI (Parte IV, FINAL) – OS DEZ MAIS AUDACIOSAMENTE IRREVERENTES


Quentin Tarantino
Os westerns spaghetti, de modo geral, nunca se levaram muito a sério. A intenção de seus produtores, diretores e roteiristas era, antes de tudo, a de ganhar dinheiro divertindo um público menos exigente. Bem depois, se possível, realizar faroestes aceitos pela crítica, o que veio a acontecer com alguns que se tornaram clássicos ou obras-primas do gênero. Desde as primeiras produções os títulos dos westerns spaghetti se mostraram diferentes, mais atrevidos e ousados que os originais norte-americanos. Vale, então, a pergunta: será que John Ford, Sam Peckinpah, Howard Hawks, John Sturges, Budd Boetticher, Delmer Daves, Anthony Mann e outros assinariam westerns intitulados “Por um Punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a Mais”, “O Bom, o Mau, o Feio”, como fez o Mestre do Western Spaghetti Sergio Leone? Certamente não e aí começam as diferenças não apenas estéticas entre os criadores do gênero western e seus imitadores (ou recriadores, como também são chamados) europeus, diferenças capazes de criar polêmicas homéricas como já ocorreu neste blog. Admirador confesso dos westerns spaghetti, Quentin Tarantino deve ter perdido muitas horas de sono para encontrar o título adequado para seu ‘Django’, que afinal foi lançado sem nenhuma inspiração como “Django Unchained”, aqui “Django Livre”. Nada mais chocho e sem graça que esse título para quem quis homenagear um ciclo cinematográfico de inegável importância e que tanto o influenciou a ele, Tarantino, um dos poucos diretores do cinema moderno que asseguraram lugar no hall dos grandes cineastas de todos os tempos.

Filho de quem mesmo? - À longa lista de títulos de western spaghetti apresentados nas três primeiras partes desta matéria merecem ser aduzidos ainda alguns provocantes nomes de filmes, seja no original ou aqueles criados em língua portuguesa. Entre eles estão “Os Dez Homens do Oeste” (Il Mio Nome é Scopone e Faccio Sempre Cappotto); “Trinity, o Herói do Oeste” (Sentivano uno Strano, Eccitante, Pericoloso Puzzo di Dollari); “Sob o Fogo das Pistolas” (Tutti Fratelli nel West... Per Parte di Padre); “Meu cavalo, Minha Pistola e Sua Viúva” (Domani Passo a Salutari la Tua Vedova, parola di Epidemia); “Em Nome do Padre, do Filho e do Colt” (In Nome Del Padre, Del Figlio e della Colt). Palavrões eram indicados pelo uso de reticências de uso livre para o espectador, como “Mato Todos Eles e Salvo a Minha Pele” (Monta in Sella Figlio di...!) e “Aquela Alma Maldita” (Aquelle Sporche Anime Dannate); “Indio Black, Sai Che ti Dico... Sei um Grande Figlio di...”. O último western assinado por Sergio Leone como diretor foi “Quando Explode a Vingança” (Giù la Testa), que em Portugal recebeu o título de “Aguenta-te, Canalha”. E “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo) foi traduzido em Portugal como “O Bom, o Mau e o Vilão”.


Demófilo Fidani
Os dez mais - Entre a criatividade de Sergio Leone e o deboche de Demófilo Fidani WESTERCINEMANIA escolheu os 10 títulos mais irreverentes, para não dizer impudentes e zombeteiros e também seminais dos westerns spaghetti. Em meio a 800 filmes produzidos pelo chamado euro-western não foi possível tomar conhecimento de todos mas os ‘eleitos’ são exemplares para demonstrar até onde chegou a audácia dos responsáveis pelos westerns spaghetti. Vamos a eles com os títulos originais e o título da exibição no Brasil ou em língua inglesa:

1.º) “Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo” (Três Homens em Conflito), 1966 – De Sergio Leone, com Clint Eastwood, Eli Wallach e Lee Van Cleef
Em 1966 os títulos dos euro-westerns ainda eram comportados, mas após o lançamento e consequente sucesso do terceiro faroeste de Sergio Leone com Clint Eastwood, tudo mudou e vieram os títulos insólitos. Tentou-se com todas as palavras mas jamais foi superado o impacto do título original de "Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo", que no Brasil ficou conhecido como "Três Homens em Conflito". Em língua inglesa prevaleceu a originalidade italiana traduzida para "The Good, The Bad, The Ugly".

2.º) “Per uma Bara Piena di Dollari” (Por um Caixão Cheio de Dólares), 1971 – De Demófilo Fidani, com Hunt Powers e Klaus Kinski
Os tempos dos muitos dólares já havia passado quando em 1971 Demófilo Fidani os ressuscitou. E para dar mais expressividade Fidani ainda juntou dólares com caixão de defuntos.

3.º) Uma Nuvola di Polvere... Um Grido di Morte... Arriva Sartana” (Fujam, Sartana Chegou), 1970 – De Giuliano Carnimeo, com Gianni Garko e Nieves Navarro
Giuliano Carmineo foi quem mais se aproximou das ousadias de Demófilo Fidani ao criar títulos paradoxalmente capazes de assustar e atrair irresistivelmente os espectadores ao mesmo tempo.

4.º) “Sentivano uno Strano, Eccitante, Pericoloso Puzzo di Dollari” (Charity and the Strange Smell of Money), 1973 – De Ítalo Alfari – Com Robert Malcolm e Spartaco Conversi
Mais até que os próprios filmes eram os títulos que ainda atraíam o público em 1973, quando era pronunciada a decadência dos euro-westerns como subgênero. Este western colocou três adjetivos para mais impressionar a assistência. A tradução seria: ‘Sentiamos um estranho, excitante e perigoso fedor de doláres’.

5.º) “Lo Ammazzò Como um Cane... Ma lui Rideva Ancora” (Requiem for a Bounty Hunter), 1972 – De Angelo Pannacció, com Michael Forest e Antonio Molino Rojo
Sequer havia necessidade de atores famosos com um título como esse criado para o faroeste de Ângelo Pannaciò, título que chegou ao limite da crueldade sadomasoquista. A tradução para o Português seria ‘Matei-o como um cão, mas ele ainda ri’.

6.º) “Quel Maledetto Giorno d’Inverno... Django e Sartana all’Último Sangue” (Django e Sartana – Até o Último Sangue), 1970 -  De Demófilo Fidani, com Jack Betts e Fabio Testi
Praguejando e ao mesmo tempo dando um toque poético, Fidani deu espaço para dois famosos justiceiros neste título.

7.º) “Quel Maledetto Giorno della Resa dei Conti” (Vingança até o Fim), 1971 – De Sergio Garrone, com George Eastman e Ty Hardin
O fatal acerto de contas (resa dei conti) num dia amaldiçoado dá título forte a este faroeste do menos conhecido dos diretores italianos chamados ‘Sergio’. O genovês George Eastman é irmão do norte-americano Ty Hardin (o Bronco Layne da série de TV ‘Bronco’). O facínora a ser enfrentado é Bruno Corazzari.

8.º) “Domani Passo a Salutari la Tua Vedova, Parola di Epidemia” (Meu cavalo, Minha Pistola e Sua Viúva), 1972 – De Juan Bosch, com Craig Hill e Claudie Lange
O catalão Juan Bosch foi o diretor deste western-comédia, produção ítalo-espanhola, cujo título faz uma insólita ameaça de morte desonrando a vítima, cuja esposa será protegida pelo justiceiro.

9.º) “Chiedi Perdono a Dio... Non a Me” (Peça Perdão a Deus, Nunca a Mim), 1968 – De Vincenzo Musolino, com George Ardisson e Pietro Martelanza
Um dos primeiros westerns spaghetti a citar o nome de Deus e que depois seria profusamente imitado. O herói tem o estranho nome de ‘Cjamango’, que já havia feito uma aventura em 1967 no filme “Cjamango, o Vingador”.

10.º) “Seminò Morte... Lo Chiamavano Il Castigo di Dio” (Semeando a Morte no Texas), 1972 – De Roberto Mauri, com Brad Harris e Zara Cilli
Entre os muitos euro-westerns invocando o nome de Deus este é um dos mais interessantes pois de certa forma desculpa a matança semeada por Django que, curiosamente, não aparece no título original e nem no nacional.


3 comentários:

  1. Olá Darci

    Foi realmente de tirar o fôlego, ler esta postagem. Já havia lido a primeira parte, mas como é enorme, só agora terminei. Uma bela pesquisa sobre o sempre cativante e polêmico western spaghetti, que tem ainda muita história e curiosidades para virem a público. Considero o faroeste Italiano como um gênero dentro de outro gênero, que por ter sofrido tamanha e inesperada hipertrofia, acabou tendo vida própria e inquestionavelmente, provocou uma espécie de revolução e contribuiu com mais um passo na evolução desta arte.
    Não foi só por um acaso, que este novo gênero conquistou multidões em todo o planeta, como bem comentastes, os títulos destes filmes, iam desde o mau gosto, o enganador, o exagerado, até ao mais poético e criativo, jamais vistos.
    Ainda hoje, me confundo muitas vezes com esta profusão de títulos parecidos.
    Já copiei, "com a sua permissão", este post para guardá-lo como referência. Continuas um cinéfilo, com todas as bandeiras. Parabéns. Joailton.

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  2. Olá, Joailton
    Recentemente assisti 'Cine Holliúdy' e uma das sequências mais divertidas é quando um espectador se levanta e diz que o filme que está sendo exibido (filme de kung-fu) não é o mesmo do cartaz que está na porta do Cine Holliúdy. A graça da piada é que aqueles filmes eram todos iguais. Nos westerns spaghetti ficava difícil o espectador saber se havia ou não visto alguns filmes pois os títulos de muitos deles provocam uma grande confusão pela semelhança. A diferença é que os astros dos westerns spaghetti eram mais conhecidos, enquanto nos filmes de artes marciais, excetuando-se Bruce Lee, os artistas principais pareciam os mesmos com os olhos puxados.
    Um abraço - Darci

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