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30 de outubro de 2012

DALE EVANS, A RAINHA DO OESTE – CENTENÁRIO DE NASCIMENTO


Não foi difícil para Dale Evans receber os apelidos de Rainha do Oeste (Queen of the West) e Rainha das Cowgirls (Queen of the Cowgirls). Dale cantava, dançava, compunha, montava e para completar a realeza, era casada com Roy Rogers. O casal foi, durante várias décadas, a maior referência da cultura country do país e mesmo passados mais de dez anos de suas mortes continuam sendo idolatrados pelos fãs. Roy e Dale foram casados por 51 anos e eram o melhor exemplo de felicidade e amor entre pessoas famosas, o que é pouco comum no mundo do cinema. Mas antes de se encontrar com Roy, a vida de Dale Evans não foi tão colorida quanto eram suas roupas e as do Rei dos Cowboys.

Acima Dale Evans em um de seus primeiros filmes;
abaixo com Don Ameche e o boneco McCarthy
com o ventríloquo Edgar Bergen atrás.
Três casamentos em sete anos -  Dale Evans nasceu em 31 de outubro de 1912 na cidade de Uvalde, no Texas, com o nome Lucille Madeira Smith. Ainda pequena seu nome foi mudado para Frances Octavia Smith. A infância de Frances foi bastante pobre e com muitas mudanças de residências. Aos nove anos, quando morava no Arkansas Frances fez sua primeira apresentação como cantora numa rádio local. Aos 15 anos Frances já estava casada com Thomas Frederick Fox, grávida naturalmente. Dois anos depois, em 1929, divorciou-se do marido e se casou novamente nesse mesmo ano com Wayne August Johns, com quem viveu até 1935. Durante esse casamento Frances se mudou para Memphis, Tennessee, onde trabalhou numa empresa de seguros e onde cantava nas rádios de Memphis. Divorciada do segundo marido, Frances retornou ao Texas, passando a morar em Dallas, onde se casou pela terceira vez, em 1935, com Robert Butts Dale, músico e arranjador que deu maior impulso à carreira artística da esposa. A primeira providência foi a mudança de nome para Dale Evans e a segunda uma mudança para Chicago, onde Dale passou a cantar com big bands de jazz As apresentações da jovem cantora chamaram a atenção dos agentes e em 1942 Dale Evans conseguiu um contrato com a 20th Century-Fox onde não foi bem aproveitada, tendo participado da comédia “Girl Trouble”, estrelada pelo galã do estúdio Don Ameche. A garota do título não era ela e sim a linda Joan Bennett. Um dos programas de maior sucesso do rádio nos anos 40 era o do ventríloquo Edgar Bergen (pai da atriz Candice Bergen) e durante algum tempo Dale Evans participou do programa de rádio de Bergen, o que permitiu que seu nome se tornasse mais conhecido. 

Dale Evans em foto do filme "Quando a Mulher se Atreve", estrelado por John Wayne.


Mary Lee, Roy Rogers e Dale Evans.
Faroeste com John Wayne - Sem maiores chances na Fox, Dale Evans assinou contrato com a pequena Republic Pictures estúdio que fazia outros tipos de filmes, além dos famosos pequenos faroestes. No seu primeiro ano na Republic, Dale atuou em cinco comédias, até que teve a oportunidade de contracenar com o maior astro do estúdio, John Wayne, no western-comédia “Quando a Mulher se Atreve” (In Old Oklahoma), em que a atriz principal era Martha Scott. No filme seguinte, em 1944, Dale foi escalada para um filme com o segundo maior astro da Republic, Roy Rogers, já conhecido como ‘O Rei dos Cowboys’. Era apenas mais um faroeste da série que Roy Rogers filmava em não mais que cinco dias cada um. O título do filme era “Cowboy and the Señorita”, exibido no Brasil como “Pulseira Misteriosa”. Mesmo interpretando a ‘señorita’ do filme, nos créditos o nome de Dale Evans vinha depois do nome de Mary Lee, atriz em quem a Republic apostava para virar estrela.

Roy Rogers e Mary Hart (Lynne Roberts).
O Cowboy e a Senhora Evans - Roy Rogers era ‘O Rei dos Cowboys’ e Dale Evans nem senhorita era pois continuava casada com Robert Butts Dale. Seguiram-se outros faroestes com Roy Rogers, agora tendo sempre a companhia de Dale Evans como sua mocinha. Quando Roy passou à condição de mocinho na Republic, o estúdio tentou fazer de Lynne Roberts, a sua leading-lady, mudando o nome da atriz para Mary Hart para combinar os nomes Rogers-Hart. A dupla ‘Rogers-Hart’ da Republic estrelou sete faroestes seguidos [leia neste blog a postagem “O Gênio que Separou Dale Evans de Roy Rogers"]. Depois de Lynne Roberts, Roy Rogers teve como mocinhas em seus filmes muitas atrizes, entre elas Penny Edwards, Joan Woodbury, Helen Talbot, Adrian Booth, Carol Hughes, Jacqueline Wells, Sheyla Ryan, Ruth Terry e até mesmo uma chamada Doris Day, homônima da maravilhosa cantora e atriz de “Ardida como Pimenta” (Calamity Jane). Depois de “Pulseira Misteriosa” veio “Rosa do Texas” (Yellow Rose of Texas) e tanto Herbert J. Yates, o dono da Republic Pictures, quanto os fãs de Roy Rogers perceberam que Dale era a mocinha ideal para Roy Rogers. E ‘O Rei dos Cowboys’ também percebeu isso.

O casamento do ano de 1947 em Hollywood.
O casamento do ano - A atração mútua foi inevitável e nos momentos de descanso entre as filmagens em Iverson Ranch, Roy e Dale se tornaram grandes amigos. Roy havia se casado duas vezes e com Arlene, sua segunda e então esposa, tinha os filhos Linda e Roy Rogers Jr. (Dusty), além de Cheryl que era adotiva. A Republic escondia como podia o filho de Dale (Thomas F. Fox Jr.) um rapagão de 17 anos , dizendo que ele era irmão da atriz, isto para não envelhecê-la diante dos fãs. Dois fatos importantes ocorreram nas vidas de Roy e Dale em 1946: a esposa de Roy faleceu, deixando-o viúvo com três filhos; Dale divorciou-se do marido, de quem estava há tempos separada. Aproximaram-se inevitavelmente e 13 meses depois da morte da esposa, Roy e Dale se casaram numa cerimônia que foi o evento mais importante do ano na comunidade cinematográfica. Por ocasião da cerimônia Roy Rogers fez questão de apresentar Tommy, o filho de Dale, ao público, dizendo que agora ele era também filho dele. Roy Rogers não era somente o mais rentável mocinho da Republic, mas ficou, em 1946, entre os dez astros de maior bilheteria nos Estados Unidos, ao lado de Bing Crosby, Ingrid Bergman, Gary Cooper, Bob Hope, Humphrey Bogart, Betty gable e outros. Detalhe: John Wayne não estava na lista, o que fazia de Roy Rogers o maior nome da Republic Pictures.

Acima Roy com Jane Frazee.
Separação nas telas - Antes de se casarem Roy e Dale haviam feito 15 faroestes juntos, com crescente sucesso. Foi então que Herbert J. Yates entendeu que, casados de verdade, Roy-Dale não seriam bem aceitos pelo público que preferia ver o mocinho ao lado de outras atrizes e não da esposa. Yates escalou Jane Frazee cinco vezes para ser a mocinha de Roy, além de Adele Mara, Gail Davis e até Lynne Roberts. Mas depois das toneladas de cartas que não paravam de chegar ao estúdio protestando contra o afastamento de Roy e Dale nos filmes, eles voltaram em 1949 em “Mistério do Lago” (Susanna Pass). O estrondoso sucesso de bilheteria não deixou nenhuma dúvida mais na cabeça dura de Yates e Roy e Dale voltaram a compor o mais famoso casal dos faroestes. Quando Dale engravidou, em 1950, ela foi substituída por Penny Edwards. Dale Evans foi a mocinha nos dois últimos filmes que Roy Rogers filmou para a Republic Pictures, antes de ambos se aventurarem com enorme sucesso na nova mídia chamada televisão.

O best-seller escrito por Dale Evans e outros livros
que ela escreveu.
Dale e sua preocupação com as crianças deficientes - A filha de Dale e Roy, chamada Robin Elizabeth, nasceu com Síndrome de Down e veio a falecer antes de completar dois anos. Mais tarde o casal adotou quatro outras crianças, as meninas Mimi, Dodie, Sandy e Debbie, sendo que duas delas faleceram ainda pequenas. Essa sucessão de tragédias aproximou Dale e Roy da religiosidade e inspirou Dale a escrever livros e a compor canções também. Entre as mais de 200 músicas compostas por Dale Evans, uma se tornou imortal e foi “Happy Trails (to you until we meet again)”. Essa bela canção que é um hino à espiritualidade acabou sendo utilizada como tema da série de TV produzida e estrelada por Roy Rogers, sendo conhecida e muito executada até hoje, não havendo quem não a conheça. “Angel Unaware”, um dos livros escritos por Dale Evans tornou-se best-seller. Dale Evans é uma dessas pessoas que ao invés de se abater com tragédias pessoais, faz delas uma razão para crescer como ser humano. Paralelamente a isso, Dale Evans e Roy Rogers ganharam muito dinheiro com a série de TV, somando-se aos valores recebidos com as publicações de livros e músicas. Foi quando o casal passou a destinar grande parte desses recursos na criação e manutenção de centros para atendimento de crianças com deficiências mentais, o “Dale Rogers Training Center”.

A elegância de Dale Evans ao lado de Buttermilk.
Dale e seu Buttermilk - Na série de TV que fizeram para a TV surgiu um rival para Trigger, o cavalo mais inteligente do Oeste. Era Buttermilk, o cavalo que Dale Evans montava e que se tornou parte integrante da família e do “The Roy Rogers Show”. Em 1960 Roy e Dale tentaram voltar à TV com um programa de variedades que permaneceu apenas três meses no ar, sendo esse talvez o único fracasso do casal no meio artístico. Muito requisitado para participar de eventos por todo o país, o casal Rogers, que morava em Victorville, na Califórnia, criou o ‘The Roy Rogers and Dale Evans Museum’, onde durante muitos anos recebiam visitantes do mundo todo que queriam ter contato com Roy, Dale e ainda Trigger, Buttermilk e Bullet, expostos juntamente com as roupas, botas e revólveres de Dale e Roy. Assim como os meninos queriam se vestir como seu ídolo, as meninas compravam as roupinhas com a griffe ‘Dale Evans’, sentindo-se a própria ‘Rainha das Cowgirls’.



Acima o museu de Victorville; abaixo o de
Branson, Missouri. Nenhum sobreviveu.
O fim do Museu, fim de uma era - Roy Rogers veio a falecer em 6 de julho de 1998, depois de 51 anos de casamento com sua adorada Dale. Bastante adoentada, com problemas cardíacos, Dale submeteu-se a uma delicada cirúrgia. Participando cada vez menos dos eventos para os quais era convidada, Dale Evans faleceu de insuficência cardíaca em 7 de fevereiro de 2001. Posteriormente à sua morte, o filho Dusty Rogers transferiu o ‘The Roy Rogers and Dale Evans Museum’ para a cidade de Branson, no Missouri. Lamentavelmente, em 2009 Dusty Rogers encerrou as atividades do museu fazendo leilão dos pertences de Roy e Dale. Uma instituição tão importante como essa não deveria conhecer dificuldades financeiras e, se necessário fosse, deveria ser mantida pelo próprio Governo em nome da cultura do Velho Oeste.  A extinção e a exata localização do ‘The Roy Rogers and Dale Evans Museum’ foram gentilmente lembradas a WESTERNCINEMANIA pelo leitor Mário Peixoto Alves. Com duas estrelas na Calçada da Fama de Hollywood, uma por seu trabalho no rádio e outra por sua atuação na televisão, Dale Evans recebeu em vida todos os grandes prêmios que uma artista poderia desejar. Entre eles sua introdução, junto com Roy, no Hall of Great Western Performers of the National Cowboy and Western Heritage Museum, em 1976. Em 2002, o nome de Dale Evans estava entre os homenageados entre as grandes mulheres da música country, ao lado de Emmylou Harris, Dolly Parton, Linda Ronstadt, Loretta Lynn, Patsy Clyne e outras igualmente talentosas. Justo reconhecimento para quem foi a mais famosa mocinha do cinema, a ‘Queen of the Cowgirls’, Dale Evans.



Na foto menor à direita Glenn Ford, Dale Evans, Roy Rogers e Gene Autry,
por ocasião da condução de todos ao Hall da Fama dos Grandes Artistas do
National Cowboy and Western Heritage Museum, de Los Angeles.


2 comentários:

  1. Nunca vi nada dela, tampouco do Roy Rogers como protagonista...

    O Falcão Maltês

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  2. Grande Darci, você como sempre nos trazendo pérolas através desses artigos raros e inéditos. Não conhecia a história de Evans e pouco sobre Rogers, no entanto preciso me corrigir acerca do trabalho de Roy Rogers, preciso adquirir os filmes dele urgente....

    Grande abraço

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