Não foi difícil para Dale Evans receber
os apelidos de Rainha do Oeste (Queen of the West) e Rainha das Cowgirls (Queen
of the Cowgirls). Dale cantava, dançava, compunha, montava e para completar a
realeza, era casada com Roy Rogers. O casal foi, durante várias décadas, a
maior referência da cultura country do país e mesmo passados mais de dez anos
de suas mortes continuam sendo idolatrados pelos fãs. Roy e Dale foram casados
por 51 anos e eram o melhor exemplo de felicidade e amor entre pessoas famosas, o que é pouco comum no mundo do cinema.
Mas antes de se encontrar com Roy, a vida de Dale Evans não foi tão colorida
quanto eram suas roupas e as do Rei dos Cowboys.
|
Acima Dale Evans em um de seus primeiros filmes; abaixo com Don Ameche e o boneco McCarthy com o ventríloquo Edgar Bergen atrás. |
Três
casamentos em sete anos -
Dale Evans nasceu em 31 de outubro de 1912 na cidade de Uvalde, no
Texas, com o nome Lucille Madeira Smith. Ainda pequena seu nome foi mudado para
Frances Octavia Smith. A infância de Frances foi bastante pobre e com muitas
mudanças de residências. Aos nove anos, quando morava no Arkansas Frances fez sua
primeira apresentação como cantora numa rádio local. Aos 15 anos Frances já
estava casada com Thomas Frederick Fox, grávida naturalmente. Dois anos depois,
em 1929, divorciou-se do marido e se casou novamente nesse mesmo ano com Wayne August
Johns, com quem viveu até 1935. Durante esse casamento Frances se mudou para
Memphis, Tennessee, onde trabalhou numa empresa de seguros e onde cantava nas
rádios de Memphis. Divorciada do segundo marido, Frances retornou ao Texas,
passando a morar em Dallas, onde se casou pela terceira vez, em 1935, com
Robert Butts Dale, músico e arranjador que deu maior impulso à carreira
artística da esposa. A primeira providência foi a mudança de nome para Dale
Evans e a segunda uma mudança para Chicago, onde Dale passou a cantar com big
bands de jazz As apresentações da jovem cantora chamaram a atenção dos agentes
e em 1942 Dale Evans conseguiu um contrato com a 20th Century-Fox onde não foi
bem aproveitada, tendo participado da comédia “Girl Trouble”, estrelada pelo
galã do estúdio Don Ameche. A garota do título não era ela e sim a linda Joan
Bennett. Um dos programas de maior sucesso do rádio nos anos 40 era o do ventríloquo Edgar Bergen (pai da atriz Candice Bergen) e durante algum tempo Dale Evans participou do programa de
rádio de Bergen, o que permitiu que seu nome se tornasse mais conhecido.
|
Dale Evans em foto do filme "Quando a Mulher se Atreve", estrelado por John Wayne.
|
|
Mary Lee, Roy Rogers e Dale Evans. |
Faroeste
com John Wayne - Sem maiores chances na Fox, Dale Evans assinou contrato
com a pequena Republic Pictures estúdio que fazia outros tipos de filmes, além
dos famosos pequenos faroestes. No seu primeiro ano na Republic, Dale atuou em
cinco comédias, até que teve a oportunidade de contracenar com o maior astro do
estúdio, John Wayne, no western-comédia “Quando a Mulher se Atreve” (In Old
Oklahoma), em que a atriz principal era Martha Scott. No filme seguinte, em
1944, Dale foi escalada para um filme com o segundo maior astro da Republic, Roy
Rogers, já conhecido como ‘O Rei dos Cowboys’. Era apenas mais um faroeste da
série que Roy Rogers filmava em não mais que cinco dias cada um. O título do filme era “Cowboy and
the Señorita”, exibido no Brasil como “Pulseira Misteriosa”. Mesmo
interpretando a ‘señorita’ do filme, nos créditos o nome de Dale Evans vinha
depois do nome de Mary Lee, atriz em quem a Republic apostava para virar
estrela.
|
Roy Rogers e Mary Hart (Lynne Roberts). |
O
Cowboy e a Senhora Evans - Roy Rogers era ‘O Rei dos Cowboys’ e
Dale Evans nem senhorita era pois continuava casada com Robert Butts Dale.
Seguiram-se outros faroestes com Roy Rogers, agora tendo sempre a companhia de
Dale Evans como sua mocinha. Quando Roy passou à condição de mocinho na
Republic, o estúdio tentou fazer de Lynne Roberts, a sua leading-lady, mudando
o nome da atriz para Mary Hart para combinar os nomes Rogers-Hart. A dupla ‘Rogers-Hart’ da Republic estrelou sete faroestes seguidos [leia neste blog a postagem “O Gênio
que Separou Dale Evans de Roy Rogers"]. Depois de Lynne Roberts, Roy Rogers
teve como mocinhas em seus filmes muitas atrizes, entre elas Penny Edwards,
Joan Woodbury, Helen Talbot, Adrian Booth, Carol Hughes, Jacqueline Wells,
Sheyla Ryan, Ruth Terry e até mesmo uma chamada Doris Day, homônima da
maravilhosa cantora e atriz de “Ardida como Pimenta” (Calamity Jane). Depois de
“Pulseira Misteriosa” veio “Rosa do Texas” (Yellow Rose of Texas) e tanto
Herbert J. Yates, o dono da Republic Pictures, quanto os fãs de Roy Rogers
perceberam que Dale era a mocinha ideal para Roy Rogers. E ‘O Rei dos Cowboys’
também percebeu isso.
|
O casamento do ano de 1947 em Hollywood. |
O
casamento do ano - A atração mútua foi inevitável e nos
momentos de descanso entre as filmagens em Iverson Ranch, Roy e Dale se
tornaram grandes amigos. Roy havia se casado duas vezes e com Arlene, sua
segunda e então esposa, tinha os filhos Linda e Roy Rogers Jr. (Dusty), além de
Cheryl que era adotiva. A Republic escondia como podia o filho de Dale (Thomas
F. Fox Jr.) um rapagão de 17 anos , dizendo que ele era irmão da atriz, isto
para não envelhecê-la diante dos fãs. Dois fatos importantes ocorreram nas
vidas de Roy e Dale em 1946: a esposa de Roy faleceu, deixando-o viúvo com três
filhos; Dale divorciou-se do marido, de quem estava há tempos separada.
Aproximaram-se inevitavelmente e 13 meses depois da morte da esposa, Roy e Dale
se casaram numa cerimônia que foi o evento mais importante do ano na comunidade cinematográfica. Por ocasião da
cerimônia Roy Rogers fez questão de apresentar Tommy, o filho de Dale, ao
público, dizendo que agora ele era também filho dele. Roy Rogers não era
somente o mais rentável mocinho da Republic, mas ficou, em 1946, entre os dez
astros de maior bilheteria nos Estados Unidos, ao lado de Bing Crosby, Ingrid
Bergman, Gary Cooper, Bob Hope, Humphrey Bogart, Betty gable e outros. Detalhe:
John Wayne não estava na lista, o que fazia de Roy Rogers o maior nome da
Republic Pictures.
|
Acima Roy com Jane Frazee. |
Separação
nas telas - Antes de se casarem Roy e Dale haviam feito 15 faroestes
juntos, com crescente sucesso. Foi então que Herbert J. Yates entendeu que, casados de verdade, Roy-Dale não seriam bem aceitos pelo público que preferia
ver o mocinho ao lado de outras atrizes e não da esposa. Yates escalou Jane Frazee cinco vezes
para ser a mocinha de Roy, além de Adele Mara, Gail Davis e até Lynne Roberts.
Mas depois das toneladas de cartas que não paravam de chegar ao estúdio
protestando contra o afastamento de Roy e Dale nos filmes, eles voltaram em
1949 em “Mistério do Lago” (Susanna Pass). O estrondoso sucesso de bilheteria
não deixou nenhuma dúvida mais na cabeça dura de Yates e Roy e Dale voltaram a
compor o mais famoso casal dos faroestes. Quando Dale engravidou, em 1950, ela
foi substituída por Penny Edwards. Dale Evans foi a mocinha nos dois últimos
filmes que Roy Rogers filmou para a Republic Pictures, antes de ambos se aventurarem
com enorme sucesso na nova mídia chamada televisão.
|
O best-seller escrito por Dale Evans e outros livros que ela escreveu. |
Dale
e sua preocupação com as crianças deficientes
- A filha de Dale e Roy, chamada Robin Elizabeth, nasceu com Síndrome de Down e
veio a falecer antes de completar dois anos. Mais tarde o casal adotou quatro
outras crianças, as meninas Mimi, Dodie, Sandy e Debbie, sendo que duas delas
faleceram ainda pequenas. Essa sucessão de tragédias aproximou Dale e Roy da
religiosidade e inspirou Dale a escrever livros e a compor canções também. Entre as
mais de 200 músicas compostas por Dale Evans, uma se tornou imortal e foi “Happy
Trails (to you until we meet again)”. Essa bela canção que é um hino à
espiritualidade acabou sendo utilizada como tema da série de TV produzida e
estrelada por Roy Rogers, sendo conhecida e muito executada até hoje, não
havendo quem não a conheça. “Angel Unaware”, um dos livros escritos por Dale Evans tornou-se
best-seller. Dale Evans é uma dessas pessoas que ao
invés de se abater com tragédias pessoais, faz delas uma razão para crescer
como ser humano. Paralelamente a isso, Dale Evans e Roy Rogers ganharam muito
dinheiro com a série de TV, somando-se aos valores recebidos com as publicações
de livros e músicas. Foi quando o casal passou a destinar grande parte desses
recursos na criação e manutenção de centros para atendimento de crianças com
deficiências mentais, o “Dale Rogers Training Center”.
|
A elegância de Dale Evans ao lado de Buttermilk. |
Dale
e seu Buttermilk - Na série de TV que fizeram para a TV surgiu um rival para
Trigger, o cavalo mais inteligente do Oeste. Era Buttermilk, o cavalo que Dale
Evans montava e que se tornou parte integrante da família e do “The Roy Rogers
Show”. Em 1960 Roy e Dale tentaram voltar à TV com um programa de variedades
que permaneceu apenas três meses no ar, sendo esse talvez o único fracasso do
casal no meio artístico. Muito requisitado para participar de eventos por todo
o país, o casal Rogers, que morava em Victorville, na Califórnia, criou o ‘The
Roy Rogers and Dale Evans Museum’, onde durante muitos anos recebiam visitantes do mundo todo que queriam ter contato com Roy, Dale e ainda Trigger, Buttermilk e Bullet, expostos
juntamente com as roupas, botas e revólveres de Dale e Roy. Assim como os
meninos queriam se vestir como seu ídolo, as meninas compravam as roupinhas com
a griffe ‘Dale Evans’, sentindo-se a própria ‘Rainha das Cowgirls’.
|
Acima o museu de Victorville; abaixo o de Branson, Missouri. Nenhum sobreviveu. |
O
fim do Museu, fim de uma era - Roy Rogers veio a
falecer em 6 de julho de 1998, depois de 51 anos de casamento com sua adorada
Dale. Bastante adoentada, com problemas cardíacos, Dale submeteu-se a uma delicada
cirúrgia. Participando cada vez menos dos eventos para os quais era convidada,
Dale Evans faleceu de insuficência cardíaca em 7 de fevereiro de 2001.
Posteriormente à sua morte, o filho Dusty Rogers transferiu o ‘The Roy Rogers
and Dale Evans Museum’ para a cidade de Branson, no Missouri. Lamentavelmente,
em 2009 Dusty Rogers encerrou as atividades do museu fazendo leilão dos pertences de
Roy e Dale. Uma instituição tão importante como essa não deveria conhecer dificuldades financeiras e, se necessário fosse, deveria ser mantida pelo próprio Governo em nome da cultura do Velho Oeste. A extinção e a exata localização do ‘The Roy Rogers and Dale Evans Museum’ foram gentilmente lembradas a WESTERNCINEMANIA pelo leitor
Mário Peixoto Alves. Com duas estrelas na Calçada da Fama de Hollywood, uma por
seu trabalho no rádio e outra por sua atuação na televisão, Dale Evans recebeu
em vida todos os grandes prêmios que uma artista poderia desejar. Entre eles sua introdução, junto com Roy, no Hall of Great Western Performers of the National
Cowboy and Western Heritage Museum, em 1976. Em 2002, o nome de Dale Evans estava entre os homenageados entre as
grandes mulheres da música country, ao lado de Emmylou Harris, Dolly Parton, Linda
Ronstadt, Loretta Lynn, Patsy Clyne e outras igualmente talentosas. Justo
reconhecimento para quem foi a mais famosa mocinha do cinema, a ‘Queen of the
Cowgirls’, Dale Evans.
|
Na foto menor à direita Glenn Ford, Dale Evans, Roy Rogers e Gene Autry, por ocasião da condução de todos ao Hall da Fama dos Grandes Artistas do National Cowboy and Western Heritage Museum, de Los Angeles. |
Nunca vi nada dela, tampouco do Roy Rogers como protagonista...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Grande Darci, você como sempre nos trazendo pérolas através desses artigos raros e inéditos. Não conhecia a história de Evans e pouco sobre Rogers, no entanto preciso me corrigir acerca do trabalho de Roy Rogers, preciso adquirir os filmes dele urgente....
ResponderExcluirGrande abraço