O diretor Budd Boetticher, autor da história "Two Mules for Sister Sara". |
Lee Marvin e Clint Eastwood no fracassado "Os Aventureiros do Ouro". |
Freira
provocante-mente casta - Shirley MacLaine é uma das grandes
comediantes da história do cinema norte-americano e não foi difícil para ela
transformar Sister Sara num personagem mais engraçado que sério. O roteiro
queria assim. Ainda que não seja uma freira de verdade, fato só revelado ao
final do filme, Shirley MacLaine faz de Sister Sara a mais provocante irmã do
cinema. Mais até que a suave Deborah Kerr, por quem Robert Mitchum se apaixonou
no limitado pela Igreja Católica “O Céu por Testemunha”. E Sister Sara carregou
muito do espírito aventureiro da missionária Rose (Katharine Hepburn) de “Uma
Aventura na África”. Curiosamente estes dois últimos filmes foram dirigidos por
John Huston, talvez a aposta ideal para mexer com a líbido do cowboy Clint
Eastwood. Se em sua fase com Leone Clint pouco falava, não tinha nome, nem
passado, nem futuro e muito menos sentimento, em “Os Abutres têm Fome” seu
personagem é humanizado e passam por sua cabeça os desejos naturais dos homens.
Mesmo diante de uma casta freira cujo corpo parece nunca ter visto a luz do sol.
Amor
e dinheiro em Chihuahua - Em “Os Abutres têm Fome” Clint
Eastwood é Hogan, mercenário que salva uma mulher de um estupro prestes a ser
consumado. O corpo alvo e apetitoso da vítima bem que poderia mais tarde ser dele,
Hogan, após exterminar os três violadores. Quando a moça se recompõe, o que
surge, para desgostosa surpresa de Hogan, é uma freira. Bonita, é certo, mas
freira. Irmã Sara não é só bonita, mas também engajada na luta dos mexicanos contra
as forças de Napoleão III que através do Imperador Maximiliano tentavam
colonizar o México. E Hogan gosta disso. O soldado da fortuna Hogan se interessa ainda mais quando a
freira lembra que há muito dinheiro em jogo. Hogan coloca sua experiência a
serviço de Sara e de uma centena de juaristas. Hogan lidera o ataque a uma
fortificação das tropas francesas em Chihuahua onde se apoderam de um tesouro
que vai servir tanto à causa patriótica mexicana como ao mercenarismo de Hogan.
Depois de conter seus desejos pecaminosos em relação à freira durante quase
todo o filme, Hogan afinal descobre que Sara é uma prostituta. Como um dia bem lembrou Billy Wilder, “ninguém é perfeito” e ao final Hogan parte de Chihuahua
cheio de dinheiro e comboiando duas mulas. Uma delas montada por sua desejada
Sara e a outra carregando muitos vestidos, chapéus e sapatos que nenhuma freira
jamais sonharia usar.
Bons
diálogos, ação fraca - O assunto revoluções mexicanas já havia
rendido muitos faroestes como o clássico “Vera Cruz” e a obra-prima “Meu Ódio
Será Sua Herança”. E vale lembrar “Sete Homens e um Destino”, faroeste não
propriamente sobre as revoluções na terra de Emiliano Zapata e de Pancho Villa.
“Os Abutres têm Fome” é um western menor pois lhe faltou justamente o que sobrava
nos filmes de Aldrich (humor), Peckinpah (emoção) e Sturges (coesão). Shirley
MacLaine praticamente carrega o filme de Don Siegel sozinha pois a sisudez de
Clint Eastwood em nada ajuda os bons diálogos do roteiro. É exemplar um diálogo
para mostrar essas diferenças, quando Sara diz: “Somos humanas, por certo e quando bate aquela vontade... nós rezamos para
ela passar.” E Hogan pergunta: “No
seu caso, irmã, você precisa rezar muito?”. As sequências de ação de “Os
Abutres têm Fome” são sempre previsíveis e o ataque ao quartel do General
LeClair (Alberto Morín) parece ter sido feito com cenas de arquivo de tantos
outros filmes do gênero. Sem falar na mal disfarçada miniaturização do trem despencando num vale. Se o espectador aceitar que uma notória prostituta
torna-se guerrilheira e foge das patrulhas francesas pelo deserto vestida com
um pesado hábito de freira, então “Os Abutres têm Fome” é perfeitamente
coerente em seu roteiro.
Famosa cena de "Domínio de Bárbaros", de John Ford com fotografia de Gabriel Figueroa. |
Don Siegel, Clint e Shirley devidamente protegida. |
Sara retirando a flecha de Hogan e ajudando o pistoleiro a acertar o alvo. |
Os amigões Don e Clint; Shirley cuidando das queimaduras. |
Parece inacreditável, mas a dupla MacLaine-Eastwood funciona muito bem.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Boa noite a todos os assiduos a este maravilhoso blog. Esta semana o Darci escreveu sobre Don Siegel e em especial sobre OS AQBUTRES TEM FOME/TWO MULES FOR SISTER SARA. O filme é um western spagueti sob a tutela de um americano. Como eu falei no meu TOP TEN quem sabe fazer western é americano. Neste filme vemos todos os vicios de interpretação de Clint Eastwood quando ele esteve sob a tutela de Sergio Leone: olhos fechados, o riso sardonico e o habitual charuto. Mas o filme é bom. A quimica dele com Shirley é muito boa. As cenas de ação e os momentos "comicos" também são apreciaveis. Mas, mais uma vez tenho que falar que a trilha envolve o cinéfilo por completo. A Abertura é digna de constar como uma das melhores do genero. Os cortes, o rugido e o close no puma são demais. O contraste dos metais com as cordas são magnificas. Sugiro que vocês assistam a OBRA PRIMA de SIEGEL: THE BEGUILED/O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS. Um filme que ficou, aqui no Rio uma semana em cartaz, não foi idolatrado pela critica (o unico que falou bem foi Valerio Andrade em O GLOBO) e para a minha surpresa anos depois foi dado pelos mesmos como um filmaço. Assistam que vocês não se arrependeram. O cast feminino (a sua Totalidade) é invejável. Geraldine Page dá um show e o que falar da candura de Elizabeth Hartman, grande atriz que de repente sumiu. Um abraço a todos e até derepente.
ResponderExcluirEu vi as duas versões (a do Clint de1970, e a do Colin Farrel de 2017) a primeira versão dá de 10/0. Desculpe Colin — mas a Sofia Coppola estragou tudo.
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