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1 de outubro de 2012

IMPÉRIO DA DESORDEM (The Desperadoes) – GLENN FORD A CAMINHO DO ESTRELATO



Harry Cohn e
Charles Vidor
Em 1943 Hollywood produziu 397 filmes. Desse total 103 deles eram faroestes e desses 103 apenas quatro podem ser classificados como 'A'. Os demais 99 se enquadravam entre os chamados B-Westerns. Estúdios como a MGM, a Paramount e a Warner Bros. não produziram nenhum western em 1943, nem mesmo dos ‘Bs’. Em tempo do 2.º conflito mundial o que mais Hollywood fazia era produzir filmes de guerra. Os minguados quatro faroestes de melhor orçamento de 1943 foram: “Consciências Mortas” (Fox), “Quando a Mulher se Atreve” (Republic), “O Proscrito” (RKO-Howard Hughes) e “Império da Desordem” (Columbia). A Columbia Pictures então lutava para ganhar status de grande estúdio e em 1943 produziu seu primeiro filme em cores, utilizando o processo Technicolor. Curiosamente, Harry Cohn, o mogul da Columbia, escolheu justamente um faroeste para ser o mais caro filme até então produzido por aquele estúdio. O filme chamou-se “Império da Desordem” (The Desperadoes) A direção foi entregue ao húngaro Charles Vidor, que a Columbia tinha sob contrato. O principal nome do elenco de “Império da Desordem” era Randolph Scott, mas a Columbia apostava mesmo era no jovem Glenn Ford, que pretendia transformar num dos grandes galãs de Hollywood.



Buchanan e Big Boy
Sucesso que não aconteceu - Além de Scott e Glenn Ford, “Império da Desordem” tinha ainda no elenco os nomes de Claire Trevor e de Evelyn Keyes, esta namorada e futura esposa de Charles Vidor (depois Evelyn se casaria também com John Huston). Baseado em história de Max Brand, mesmo autor de “Destry Rides Again” (Atire a Primeira Pedra), o roteiro de Robert Carson foi concebido para tornar “Império da Desordem” um retumbante sucesso para um público que se ressentia de grandes faroestes. O elenco de apoio contando com os nomes de Guinn ‘Big Boy’ Williams e Edgar Buchanan, além dos veteranos Porter Hall, Irving Bacon e Raymond Walburn seria garantia de momentos engraçados como os muitos criados no grande sucesso que foi “Atire a Primeira Pedra”. Mas “Império da Desordem” não resultou no êxito esperado ainda que contenha tudo que os fãs do gênero gostem de assistir num interessante e movimentado faroeste. Após este filme o canadense Glenn Ford foi para a U.S. Army lutar na II Grande Guerra e no seu retorno alcançaria a verdadeira fama ao lado de Rita Hayworth, em “Gilda”, clássico do filme noir que fez enorme sucesso, dirigido pelo mesmo Charles Vidor.

Acima Porter Hall, Bernard Nedell e
Charles Buchanan; no centro
Glenn Strange, Slim Whitaker,
Bernard Nedell, Ethan Laidlaw
e Joan Woodbury;
 abaixo Randolph Scott
e Raymond Walburn.
Assalto fraudulento - “Império da Desordem” se passa em 1863, na cidade de Red Valley, onde o escroque Stanley Clanton (Porter Hall), dono do banco local, com a ajuda de Willie McLeod (Charles Buchanan) forja um assalto ao próprio banco. Três pessoas morrem durante esse assalto, o que contraria McLeod que não queria vítimas. Clanton indeniza os clientes do banco com 50% do valor que cada um tinha em depósitos, sob a promessa de logo integralizar o pagamento restante. Steve Upton (Randolph Scott) é o xerife da cidade e nada pode fazer por falta de provas. Chega a Red Valley um estranho chamado Cheyenne Rogers (Glenn Ford), procurado pela Justiça em outros Estados. Cheyenne e o xerife são velhos amigos e Steve sabe do passado de Cheyenne e quer ajudá-lo a retornar para o caminho do bem, especialmente depois que Cheyenne conhece a bela Allison (Evelyn Keyes), filha de McLeod. A condessa Maletta (Claire Trevor), dona do saloon, também conhece Cheyenne e quer ajudá-lo na sua recuperação. A condessa sabe que Cheyenne se tornou um fora-da-lei para vingar a morte de seus pais. O banqueiro Clanton manobra para que Cheyenne seja responsabilizado e julgado pelo assalto ao banco juntamente com Nitro Rankin (Guinn Williams), desastrado especialista em explosões. Ambos são presos mas fogem da prisão com a ajuda do xerife Steve. Quem acaba preso então é o próprio xerife. Nitro assalta o banco de Clanton e juntamente com Cheyenne foge de Red Valley. Os dois retornam à cidade mais tarde para salvar o xerife Steve. McLeod se defronta com o banqueiro Clanton, matando-o e o inocentado Cheyenne fica ao final com Allison McLeod.

As espetaculares sequências de estouro da manada,
dirigidas por Budd Boetticher.
O incrível ‘stampede’ - “Império da Desordem” causa a indisfarçável impressão de filme já visto e a razão é conter em sua história as situações clássicas dos faroestes e personagens bastante comuns ao gênero. Isso porém não tira o sabor do filme que no geral é muito bem feito com ótimas sequências como as brigas no saloon e no estábulo, as perseguições a cavalo com espetaculares cavalgadas sem dublês de Glenn Ford e ‘Big Boy’ Williams e mesmo de Randolph Scott, arriscando-se, o que não é comum. Glenn Ford sofreu uma queda de cavalo o que levou as filmagens a serem interrompidas por duas semanas. A grande e inesquecível sequência de “Império da Desordem” é o ‘stampede’ (estouro de equinos ou bovinos) produzido por uma explosão que provoca a debandada de uma manada de mais de trezentos cavalos, isto num tempo em que não se levava truques à tela. Tudo foi filmado de verdade com os cavalos em impressionante disparada entrando perigosamente em Red Valley. Há um grosseiro erro cronológico em “Império da Desordem”, cuja ação se passa em 1863 e cita a ‘última campanha do General Custer’. Custer levaria seu Regimento de Cavalaria à morte em Little Big Horn somente 13 anos depois, em 1876. Bastante agradável é o tom humorado dos diálogos do filme de Charles Vidor, como por exemplo quando Claire Trevor entra numa sala onde Big Boy Williams massageia Glenn Ford e Big Boy diz a ela: “Você deveria bater antes de entrar. Eu poderia estar tomando banho.” Claire responde: “Se eu souber que algum dia você toma banho, então eu baterei na porta...”

Glenn, Randy e Big Boy, atores que sabiam cavalgar de verdade.


Francis Ford e Bud Osborne
O dedo de Budd Boetticher - Outro ponto que agrada os fãs de faroestes é a presença de incontáveis personagens conhecidos de tantos westerns. Lá estão o moustachudo Hank Bell jogando pôquer; o trio de bandidos Glenn Strange, Ethan Laidlaw e Slim Whitaker; um sem barba Francis Ford (irmão de John Ford); Bud Osborne, o ator que mais filmes fez na história de Hollywood; o desesperado bartender Irving Bacon; e a bela Joan Woodbury. Primeiro nome dos créditos que aparecem em forma de álbum fotográfico, Randolph Scott é quase um coadjuvante em “Império da Desordem”, ficando todas as honras de mocinho para Glenn Ford que dá mostras do ótimo ator que viria a ser nos anos seguintes. Claire Trevor mais uma vez interpreta a prostituta de coração de ouro, papel que ninguém fez melhor que ela no cinema. Edgar Buchanan mais sério que de costume é outro destaque num elenco adorável. O produtor é Harry Joe Brown, que logo formaria a lendária sociedade produtora com Randolph Scott que teria nos filmes dirigido por Budd Boetticher seu ponto alto. E a presença de Boetticher como assistente de direção em “Império da Desordem” explica a fantástica sequência do estouro da manada, tarefa difícil para um diretor de musicais e policiais noir como Charles Vidor. Longe de ser um marco do gênero, “Império da Desordem” pela movimentação e qualidade dos atores é imperdível para os fãs de faroestes.

Os créditos de "Império da Desordem" apresentados em forma de álbum.

Randolph Scott, Evelyn Keyes, Glenn Ford e Charles Buchanan.
Glenn e Charles tornaram-se amigos para toda vida.

Acima Porter Hall, Bernard Nedell e
Charles Buchanan; no centro
Glenn Strange, Slim Whitaker,
Bernard Nedell, Ethan Laidlaw
e Joan Woodbury;
 abaixo Randolph Scott
e Raymond Walburn.

3 comentários:

  1. Como fã de Glenn Ford, não poderia deixar de ver esse western. Por sinal, bem empolgante.

    O Falcão Maltês

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  2. Prezado Darci,

    Como sempre seu comentário é excelente.

    "Império da Desordem" (The Desperadoes) é um ótimo western tradicional, da época que ainda não existiam os chamados psicológicos, talvez com exceção de “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident), também, de 1943.

    Além de Budd Boetticher é importante destacar Richard Talmadge, antigo astro de ação do cinema mudo, como o coordenador das cenas perigosas e, também, uma figura bastante conhecida em pequenas aparições semelhantes as de Hank Bell, cuja característica era o seu enorme bigode, é Tex Cooper sempre vestido de preto com bigode e cavanhaque parecendo irmão gêmeo de Buffalo Bill Cody.

    Randolph Scott naquela época era muito mais conhecido do que Glenn Ford e já se destacava como “Western star”. No entanto, como os seus biógrafos, diretores e colegas atores sempre comentam sobre a sua humildade em aceitar que atores em ascensão ou coadjuvantes se destacassem no filme em que ele era o astro principal e ter o cuidado de que sua pessoa (que possuía enorme carisma) não ofuscasse os demais atores em cena. Inclusive, Joan Weldon que foi sua mocinha em dois filmes, conta que RS se afastava quase que imperceptível para permitir que ela e outros atores quando contracenavam juntos fossem melhor enquadrados pela câmera. Era também um dos poucos astros que contracenavam nas cenas de "close-up", quando geralmente eram substuidos pelos assistentes que liam a fala fora do alcance da câmera.

    Grato pela oportunidade,

    Mario Peixoto Alves

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  3. Olá, Mário - Esse personagem que você citou me chamou a atenção mesmo. Parecia o próprio Buffalo Bill. Você é daqueles que procuram reconhecer cada um dos rostos que surgem nos faroestes e isso é muito agradável. Espécie de reconhecimento pelos quase anônimos.
    Quanto a Randolph Scott, sempre desconfiei dessa generosidade. Creio que tem algo a ver com uma certa falta de vontade de se empenhar mais. Havia aquela história que Randy não via a hora de terminar as filmagens para jogar golfe, esta sim, sua atividade preferida. Seja lá como for, Randolph Scott foi um dos maiores mocinhos. Para o Doutor Aulo Barretti ele era o terceiro atrás apenas de Buck Jones e de John Wayne. E o Doutor Aulo viu tudo, desde o começo...
    Um abraço do Darci

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