Coronel Pardee (Edmond O'Brien) |
A TRAMA DE RIO CONCHOS – Theron Pardee é um coronel confederado inconformado com a derrota na Guerra Civil. Apelidado de “The Gray Fox” (Raposa Cinzenta), o coronel vive o sonho tresloucado e delirante de construir um quartel general para seu exército às margens do Rio Conchos, em Chihuahua, no México. O exército de Pardee é composto por um uma dezena de desatinados soldados sem rumo que, igualmente ao enlouquecido e megalomaníaco coronel, recusam-se a aceitar a derrota imposta pelo Norte. O tirano coronel que se orgulha de sua ‘esperteza’, demonstra sua insensatez ao fuzilar um oficial apenas porque este ousou infringir levemente seu código militar. E o desvairado coronel Pardee intenta comandar um exército de sanguinários apaches para retomar a sequência de batalhas que o sul chegou a vencer antes da rendição em Appomattox. O doentio coronel apossa-se de dois mil rifles de repetição com os quais pretende armar um exército formado pelos índios apaches. Para impedir que isso aconteça é destacado pelo coronel Wagner, comandante de um forte ianque, um grupo de quatro homens para essa missão que se aparenta quase suicida. No comando da missão está o capitão Haven (Stuart Whitman), responsável direto pela perda dos rifles. Haven tem como homem de confiança um Buffalo Soldier, o sargento negro Franklyn (Jim Brown). Os outros dois homens são os prisioneiros James Lassiter (Richard Boone) e um mexicano fanfarrão, mulherengo e condenado por assassinato chamado de Martinez ou Hernandez (Anthony Franciosa), conforme a ocasião. Lassiter é um ex-major Confederado e sedento por vingança contra os apaches que, liderados por Bloodshirt (Rodolfo Acosta), com crueldade torturaram e mataram sua esposa e filha. Porém Lassiter assume o compromisso de deixar de lado seu ódio pelos apaches para executar a tarefa de impedir que os rifles caiam nas mãos dos índios. O quarteto parte em busca do coronel Pardee (Edmond O’Brien) pois sabe-se que os rifles estão em seu poder. Durante a desgastante jornada o grupo do capitão Haven se defronta com diversas situações de perigo, inclusive um grupo de apaches. Uma jovem índia apache (Wende Wagner) é feita prisioneira da expedição para lhes indicar onde estão Pardee e Bloodshirt. Por colocar em risco a missão o mexicano acaba sendo morto por Lassiter. Quando finalmente encontram o quartel general do enlouquecido Pardee, são feitos prisioneiros e torturados. Com a ajuda da jovem índia apache, Lassiter, Haven e Franklyn conseguem explodir o quartel general pondo fim ao delírio do alucinado coronel Pardee.
O GRANDE FILME DE GORDON DOUGLAS – O diretor Gordon Douglas, dirigiu mais de 70 filmes em 40 anos de carreira. Sob sua direção atuaram Oliver & Hardy, Sinatra, Elvis e até formigas gigantes... Certa vez Gordon Douglas declarou: “Não assistam meus filmes ou vocês poderão nunca mais querer ir a um cinema.” Douglas era o chamado pau-para-toda-obra e seria um daqueles muitos diretores fadados ao esquecimento não fosse pelo clássico de ficção-científica “O Mundo em Perigo” (Them!) de 1954 e pelo eletrizante faroeste “Rio Conchos”. Esses títulos sobressaem-se de sua carreira mediana repleta de filmes, quase todos burocraticamente dirigidos. “Rio Conchos” foi escrito por Clair Huffaker, autor de roteiros empolgantes como “Gigantes em Luta” (The War Wagon) e “Os Comancheiros”. E este western de Douglas guarda real semelhança com o último filme dirigido por Michael Curtiz pois o assunto é idêntico. Huffaker adicionou ainda uma pitada de Joseph Conrad na composição do delirante coronel Pardee e seu quartel general ao lado do Rio Conchos, semiconstruído no melhor estilo das mansões sulistas que demonstravam a riqueza de seus donos. Conrad, em “Heart of Darkness” desenvolveu a alucinação de Kurtz próximo ao Rio Congo e Francis Ford Coppola possibilitou a Marlon Brando uma de suas geniais interpretações como o coronel Kurtz em “Apocalipse Now”. Ocorre que “Rio Conchos” é de 1964, antecipando-se, portanto à obra-prima de Coppola. E muito mais que em “Os Comancheiros”, foi criada uma atmosfera de ódio e crueldade na luta entre brancos e índios tendo como tema o muito batido contrabando de armas. É importante ressaltar que em “Os Comancheiros”, memorável pelas cenas de ação, o adoentado Michael Curtiz teve o notável Cliff Lyons como diretor de 2.ª Unidade. Em “Rio Conchos, aparentemente o próprio Gordon Douglas, secundado pelo assistente de direção Joseph E. Rickards foi o responsável pelas incessantes e emocionantes cenas de ação. “Rio Conchos” representou, inegavelmente, o ponto mais alto da carreira de Gordon Douglas.
RACISMO DE TODAS AS CORES - “Rio Conchos” é um dos westerns onde a questão do racismo foi melhor tratada. O sulista Lassiter naturalmente despreza negros como o sargento Franklyn. E mais que tudo Lassiter odeia os apaches que massacraram sua família, sendo matar apaches sua sádica diversão. Racismo também é evidente nas relações do mexicano Hernandez/Martinez com nortistas e sulistas, minimizado porém no trato com a índia apache. O ódio maior, porém, revestido de cega sede de vingança é aquele que o coronel confederado destila contra aqueles que derrotaram a causa sulistas. Atitudes preconceituosas permeiam inteiramente “Rio Conchos” fazendo dele um western amargo. Paralelamente, a conduta fiel ao compromisso relutantemente assumido pelo atormentado Lassiter é o elemento-chave que possibilita a destruição do objetivo do alienado coronel Pardee.
GRANDE MOMENTO DE RICHARD BOONE – Sempre considerado vilão perfeito, Richard Boone teve seu ponto alto como ator com a série Paladino do Oeste. O cinema não havia até então lhe proporcionado a oportunidade de um papel principal tão expressivo como o do major James Lassiter em “Rio Conchos”. E Boone domina o filme inteiro com sua quase asquerosa e maiúscula figura de homem cruel e obstinado. Muito do Lassiter de Boone se percebe nos anti-heróis de Peckinpah em “Meu Ódio Será Sua Herança”. E a lembrança dessa obra-prima nos remete a Edmond O’Brien que personifica excelentemente a trágica figura do coronel Pardee, ao final tragado pelas chamas da sua megalomania. “Rio Conchos” marcou a estréia no cinema de Jim Brown, uma espécie de Pelé do futebol americano. Porém, ao contrário de Pelé, Jim Brown é ótimo intérprete como demonstrou em “Rio Conchos”. Anthony Franciosa proporciona uma aula de overacting, arruinando um papel que poderia ser bastante melhor desempenhado se menos caricatural. Stuart Whitman está discreto como de hábito. Interpretando Bloodshirt (Camisa de Sangue), Rodolfo Acosta é um justo inimigo de Lassiter, tendo também destacada atuação. A garota apache é Wende Wagner, muito bem aproveitada neste que foi o melhor filme de sua curta carreira. Wende apareceria mais tarde em “A Revolta dos Sete Homens”. Rodado todo em locação em Moab, Arizona, “Rio Conchos” é daqueles westerns com intensas cenas de ação elaboradas com perfeição e roteiro que aborda questões intrínsecas ao Velho Oeste do pós-Guerra Civil e à justificada rebeldia indígena. O score musical de Jerry Goldsmith sob influência direta do trabalho de Elmer Bernstein em “Sete Homens e Um destino” e a belíssima fotografia de Joseph MacDonald completa esse western quase desprezado que é “Rio Conchos”, filme que deve ser considerado como um dos grandes westerns dos anos 60.
Olá SR, Darci, poderia fazer o álbum deste filme e incluilo no post? Coleciono todos que o Sr. tem feito. Grata. Rafaella.
ResponderExcluirOi, Rafaela - As primeiras resenhas neste blog de fato não tiveram os álbuns, que são marca registrada do Westerncinemania. Vou providenciar, na medida do possível, os que não foram feitos no devido tempo. Abraço do Darci
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