UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

20 de maio de 2011

BARBARA STANWYCK, A RAINHA DO WESTERN


Eram bastante raras as incursões de atrizes consagradas no gênero Western nos anos 30, 40 e 50. Somente a partir dos anos 60 em diante, quando passou-se a produzir menos westerns foi que mais atrizes se aventuraram nesse gênero predominantemente masculino. Entre aquelas verdadeiramente grandes atrizes que na época de ouro do cinema fizeram faroestes podem ser lembradas Audrey Hepburn (“O Passado não Perdoa”), Marlene Dietrich (“Atire a Primeira Pedra” e “O Diabo Feito Mulher”), Doris Day (“Ardida como Pimenta”), Jennifer Jones (“Duelo ao Sol”) e Joan Crawford (“Johnny Guitar”). Uma dessas atrizes, no entanto, jamais teve medo de montar a cavalo, disparar um rifle ou enfrentar as dificuldades naturais de filmar em regiões nem um pouco acolhedoras onde os faroestes se desenrolavam. Essa atriz é Barbara Stanwyck.

Annie Oakley
INÍCIO EM GRANDE ESTILO - Em 1935 o western “A” atravessava seu pior momento, momento tão ruim que poucos atores aceitavam filmar faroestes. Foi quando a já consagrada e muito requisistada Barbara Stanwyck, que atuava em média em três a quatro filmes por ano, aceitou ser a lendária atiradora Annie Oakley no biográfico “Na Mira de um Coração” (Annie Oakley). Esse western foi dirigido pelo jovem diretor George Stevens que se imortalizaria dirigindo um western intitulado “Shane”. Em 1939, sob a direção do campeão das superproduções Cecil B. DeMille, Barbara Stanwyck esteve à frente do elenco de “Aliança de Aço” (Union Pacific), épico que contou a epopéia que foi a implantação das ferrovias transcontinentais. O mocinho era Joel McCrea. E o mesmo Joel McCrea, um dos melhores mocinhos do cinema, secundou Barbara no elenco de “Até que a Morte nos Separe” (The Great Man’s Lady), de 1942, dirigido por William A. Wellman. Nesse western Barbara como uma mulher que atinge idade centenária relembra sua vida de pioneira no Oeste ao lado do marido. Em 1944 Barbara Stanwyck foi a mulher norte-americana que mais dinheiro ganhou nos Estados Unidos, graças aos filmes que estrelava e que viravam sucesso devido a suas primorosas atuações. Desse ano é a obra-prima noir “Pacto de Sangue” (Double Indemnity), de Billy Wilder. Em 1946 Barbara voltou ao faroeste em “Califòrnia”, filme que abordou o período da formação dos grandes impérios de gado. Dirigido por John Farrow, o ator principal foi Ray Milland e Barbara Stanwyck era aquela mulher em quem não se podia confiar e muito menos mandar.

"Almas em Fúria", com Walter Huston e Judith Anderson
ANOS 50, SEMPRE SOBRE A SELA - Na virada da década Barbara estrelou “Almas em Fúria” (The Furies), western de Anthony Mann em tom de tragédia grega. Último filme do grande Walter Huston que sofreu nas mãos da filha interpretada por Barbara, com quem mantinha, no filme, relação de amor e ódio. Outro excepcional momento de Barbara Stanwyck no cinema, “Almas em Fúria”, em meio a muitas cenas marcantes, tem a famosa sequência, de grande violência para a época, em que Barbara desfigura o rosto de Judith Anderson com uma tesoura. No elenco também a presença forte de Gilbert Roland por quem Barbara é apaixonada, mas quem acaba domando a neurótica e possessiva Barbara é o inexpressivo Wendel Corey. Nos anos 50 a carreira de Barbara sofreu ligeiro declínio, o que fez com que ela atuasse sob as ordens de Roy Rowland em “No Reino das Sombras” (The Moonlighter), em 1953, ao lado de Fred MacMurray. Filmado em 3.ª Dimensão, que era a grande novidade da época, “No Reino das Sombras” é um pequeno western com outra excelente interpretação de Barbara.

NASCE UMA RAINHA - Barbara fazia um western por ano e em 1954 atuou em “Montana, Terra do Ódio” (Cattle Queen of Montana). Ronald Reagan é um pistoleiro que vem ajudar a ‘Rainha do Gado’ Barbara Stanwyck, que luta para manter o império herdado de seu pai. A direção é do veterano Allan Dwan. No ano seguinte, 1955, sob a direção de Rudolph Maté, Barbara atuou em “Um Pecado em Cada Alma” (The Violent Men), em que interpreta a esposa do sempre excelente Edward G. Robinson. Brian Keith é o amante de Barbara e Glenn Ford é o mocinho do filme. Mais uma vez um filme explora bem a maldade de Barbara que numa cena de grande impacto retira as muletas do paraplégico marido deixando-o à beira da morte na casa incendiada. Em 1956 Barbara estaria em novo western, desta vez dirigida por Joseph Kane em “Até a Última Bala” (The Maverick Queen). Joseph Kane passou a maior parte de sua vida dirigindo Roy Rogers e Gene Autry em B-Westerns da Republic e ao dirigir Barbara certamente viveu um momento consagrador em sua carreira. Ela interpreta Kit Banion, desta vez Rainha dos Bandidos, entre eles Scott Brady (Sundance Kid) e Howard Petrie (Butch Cassidy), enquanto Barry Sullivan é um detetive da Pinkerton Agency. O grande problema deste western é que ele foi filmado pela Republic Pictures no processo anafórmico que ela desenvolveu para entrar na briga do widescreen. Quando é exibido na TV ou na cópia lançada em DVD, alguns atores que estão nas extremidades da tela ou desaparecem ou são cortados pela metade.

Inesquecível Jessica Drummond
INESQUECÍVEL CAVALGADA - Em 1957 Barbara atuou em dois westerns. Primeiro em “Vingança no Coração” (Trooper Hook), de Charles Marquis Warren. Este é um, desprezado e corajoso filme que toca em assuntos inconvenientes na época que eram sexo e racismo no faroeste. Excelentes interpretações de Joel McCrea como o sargento do Exército Clóvis Hook e Barbara como a mãe que teve seu filho capturado pelos índios. 1957 marcou a despedida de Barbara Stanwyck dos westerns no cinema. Estava então com 50 anos mas sempre perfeita como atriz e exemplar como profissional. E Samuel Fuller, que a dirigiu em “Dragões da Violência” (Forty Guns), nunca se cansou de elogiar o trabalho de Barbara neste brilhante western. Fuller submeteu-a cenas dificílimas (ler mais a respeito neste blog) que ajudaram a transformar “Dragões da Violência” num dos melhores westerns da década que foi a melhor década de todos os tempos para o faroeste. Apoteótica despedida de Barbara (como Jessica Drummond) dos westerns em tela grande com a impressionante cena de cavalgada que abre o filme em que esta verdadeira Rainha do Faroeste montada em seu corcel branco lidera o bando de 40 dragões da violência.


Victoria Barkley
RECONHECIMENTO ARTÍSTICO - Agradável surpresa para os fãs de Barbara Stanwyck foi poder vê-la semanalmente como a matriarca Victoria Barkley em “The Big Valley”, seriado da TV. “The Big Valley” permaneceu cinco temporadas no ar (de 1965 a 1969), sempre com grande audiência devida em grande parte às performances de Barbara. No elenco fixo de “The Big Valley” estavam Richard Long, Peter Breck, Linda Evans e Lee Majors. Todos eles, assim como Barbara atuaram em todos os 112 episódios da série. Muitos lembram de Barbara como uma das mais injustiçadas atrizes do cinema pois mesmo com tantas grandes atuações jamais recebeu a estatueta da Academia de Artes de Hollywood, a não ser um Oscar especial, em 1982, “Prêmio especial por sua criatividade incomparável à arte de interpretação na tela”. Esse pomposo nome poderia ser reduzido a outro mais simples e realista: “Prêmio de Amargo Arrependimento da Academia”. A TV fez mais justiça à grande atriz premiando-a com três Emmys (o Oscar da TV). Em 1961 pelo programa “The Barbara Stanwyck Show”, em 1966 por “The Big Valley” e em 1983 pela mini-série “Pássaros Feridos”. De igual ou maior importãncia que o Oscar foi o prêmio que Barbara recebeu em 1973 ao ser conduzida ao Cowboy Hall of Fame of Westerns Performers. Nesse mesmo ano Buck Jones foi também conduzido. Melhor companhia impossível, não é mesmo? Antes de Barbara, a única mulher a receber tal honraria havia sido Amanda Blake, a Miss Kitty de “Gunsmoke”. Outra honraria que apenas Barbara Stanwyck conseguiu foi quando de sua participação em “Montana, Terra do Ódio”, em 1954. Ao final das filmagens os índios Black Foot em emocionante cerimônia laurearam Barbara Stanwyck com o título de Princess of Many Victories. Os chefes e anciãos da tribo que pensavam já haver visto tudo pois participaram em dezenas de faroestes, ficaram impressionados com a coragem e as qualidade de amazona de Barbara. Os sábios indígenas erraram apenas no grau do título pois Barbara jamais poderia ser menos que “The Queen”. A Rainha dos Westerns.

9 comentários:

  1. Darci, que post genial. Fiquei muito contente em saber um pouco mais sobre minha atriz favorita. Dos seus westerns, só não conheço Até Que a Morte nos Separe e Califórnia.
    Era uma atriz extraordinária, a melhor de todas (e parece que super profissional).
    Das grandes que fizeram faroestes, esqueceu de Jean Arthur, Joan Bennett, Claudette Colbert e Jean Simmons.
    Abração,


    O Falcão Maltês

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  2. Antonio, gosto muito de Jean Simmons, mas não creio que ela pudesse entrar na lista das verdadeiramente grandes atrizes. Jean Arthur menos ainda. Claudette não tinha nem cacote para westerns. Joan Bennett era tão bonita quanto tipicamente noir. Um abraço.

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  3. Não acha que a Jean Arthur está muito bem em "Jornadas Heróicas"?
    E a Susan Hayward?
    Darci, um pedido, que tal escrever algo sobre "Rio da Aventura", de Hawks?

    O Falcão Maltês

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  4. Quero me desculpar a quanto se arrisquem a ler meus comentários. É que eu não sei escrever em compacto, como nossos queridos Nahud e Darci. Quando me sento para comentar, me eletrifico.
    Esta fantastica atriz, que deveria mesmo ter recebido muitos Oscar's e sendo intitulada, de verdazde como, A Rainha dos Westerns, seria a Viena que jamais Joan Crawford foi. E digo mais; tenho ainda certeza de que sua melhor interpretação no cinema ainda estar em Só a mulher peca, proporcionando a Robert Ryan, possivelmente, também o seu melhor trabalho. Perfeita em cada take, em cada momento em que abre a boca ou se movimenta. Um trabalho, com toda certeza, invejado por muitas colegas suas, e injustiçada novamente no premio maior do ano.
    Assisti a nove de seus faroestes. Cada um melhor que outro. Que atriz formidavel! Ela mesma se superava a cada nova pelicula.
    Colocar Brian Keith para ser seu amante em Um Pecado em Cada Alma foi o maior erro cometido pelo selecionador de elenco. Ele não tinha cacife para dar de frente com uma mulher poderosa como Barbara. Mas as coisas mudavam quando entrava em cena Edward G Robinson. Ali o páreo era bom, a coisa fluia, o filme deslanchava. Acredito até que as coisas andavam melhores para Rundolph Maté, no seu mais potente filme.
    Em Almas em Furia ela ensina a interpretar. Sempre perfeita, sempre magistral. Chegam a me faltar titulos de honras para coroar a estabilidade cênica desta que foi, um monstro mais que sagreado do cinema.
    O que seria da setima arte se Stanwyck não houvesse existido? Eu respondo; muitas lacunas sem preenchimentos.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  5. Uma das maiores "injustiçadas" de Hollywood.
    Recebeu 4 indicações ao Oscar de Melhor Atriz, mas nunca foi devidamente valorizada.
    Bab's é minha atriz favorita, coleciono tudo que tem ela.
    Sua presença nas telas me enche de satisfação porque adoro mulheres fortes e independentes e nelas me espelho e mesmo assim ela nunca perde seu charme e sua sensibilidade. Uma das parceiras mais belas de Gary Cooper, a que mais amo ver com ele.
    Tenho muitos filmes preferidos com ela:
    Almas em Fúria, Dragões da Violência, Aliança de Aço, Stella Dallas, Escravos do dever,Bola de Fogo, Califórnia, Um pecado em cada alma,Adorável Vagabundo enfim...
    Filmes que eu amo eternamente.

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  6. Joan Bennett era muito sofisticada para westerns, tenho uma vaga lembrança em filmes noir.

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  7. Maravilhoso texto, meus parabéns, amigo! Continue nos presenteando.

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  8. Uma das mais versáteis atrizes fez de tudo um pouco ! Claire Trevor que brilhou em no tempo das diligências merecia ser lembrada!

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