Em 1959, quando foi lançada a série
“Bonanza”, os estúdios norte-americanos produziam nada menos que 48 séries
faroestes de TV. A televisão exibia esse tipo de filme sete dias por semana e
muitos deles no horário nobre, para alegria dos fãs do gênero. Já em 1972,
quando a série “Bonanza” foi cancelada, o número de séries de faroestes
produzidas havia sido reduzido a sete. Nos dias atuais a única série faroeste
de TV exibida regularmente no Brasil é a mesma “Bonanza”, levada ao ar
diariamente às 20 horas pelo canal TCM que faz parte das grades de tevês por
assinatura. E isto há longos quatro anos e com direito a reprises diárias às 12
horas. Atualmente está sendo apresentada a 12.ª temporada, restando apenas a
13.ª e a truncada 14.ª para que todos os 430 episódios tenham sido exibidos
pelo TCM.
Jack Elam e Neville Brand, dois dos muitos convidados especiais da 12.ª temporada de Bonanza. |
Convidados de La Ponderosa -
Um dos pontos de maior interesse da série “Bonanza” é a participação dos
convidados especiais, muitos deles atores cujas carreiras estavam em declínio,
enquanto outros perseguiam o sucesso. Nesta 12.ª temporada, por exemplo,
participaram como convidados especiais, entre outros, Denver Pyle, Gene Evans,
Will Geer, Neville Brand, Strother Martin, Jack Elam, Paul Fix, Jill Haworth,
Vera Miles, Victor French, Dean Jagger, Jo Van Fleet, Lou Gosset Jr. e Ben
Johnson. Desse grupo, Dean Jagger e Jo Van Fleet eram ganhadores do Prêmio
Oscar. Ben Johnson e Lou Gosset Jr. também receberiam esse prêmio,
respectivamente em 1971 e 1983. Depois que deixou de ser protegido por John
Ford (ler a biografia de Ben Johnson neste blog), Ben prosseguiu em sua
carreira sempre mostrando que era muito mais que apenas um ex-campeão de
rodeios e exímio cavaleiro. Suas atuações em “Os Brutos Também Amam”, “A Face
Oculta” e “Meu Ódio Será Sua Herança” comprovam isso. Ben Johnson já havia
participado de dois outros episódios da série “Bonanza” (‘The Gamble’ em 1962 e
‘The Deserter’ em 1969).
Walter Barnes e Lorne Greene. |
A escolha do líder - O
episódio do qual Ben Johnson participou na 12.ª temporada de “Bonanza” foi o de
n.º 378, intitulado “Top Hand” (O Capataz). A presença desse ator é uma razão a
mais para que se assista ao episódio que surpreendentemente é uma produção
acima da média da série. Isto tanto em qualidade quanto ao orçamento, uma vez
que “Top Hand” foi rodado inteiramente em locações em Old Tucson. Lembrando um
pouco “Rio Vermelho”, de Howard Hawks, em 'Top Hand’ o patriarca Ben Cartwtright
junta seu gado aos rebanhos de outros rancheiros, devendo a enorme manada ser
conduzida para ser comercializada. Cartwright apresenta aos rancheiros seu
veterano capataz Kelly James (Ben Johnson) para ser o responsável (top hand) para
dirigir a difícil empreitada. Faz parte do grupo de vaqueiros o jovem cowboy
Bert Yates (Roger Davis) que logo demonstra seu inconformismo pela escolha de
Kelly James como líder. James é desafiado por Yates numa disputa para domar um
cavalo bravo e vê Kelly ser jogado ao chão pelo animal que mais tarde Yates consegue
amansar. Porém há um cavalo selvagem que se apresenta como novo desafio para os
dois cowboys e desta vez quem leva a melhor é Kelly James, após o que é
reconhecido como o líder inconteste por Bert Yates.
Roger Davis e Ben Johnson apostando em suas habilidades como cavaleiros. |
O ‘vovô’ Ben Johnson - Como
não poderia deixar de ser, Ben Johnson proporciona magnífica interpretação,
sendo possível perceber a admiração e quase reverência nos rostos de Lorne
Greene, Michael Landon e Dan Blocker ao contracenar com Johnson. E os três
Cartwright pouco têm a fazer neste episódio uma vez que a ação é centralizada
em Ben Johnson e em seu rival na trama, Roger Davis. O personagem de Ben
Johnson é provocado pelo jovem vaqueiro rebelde que o chama repetidamente de ‘old timer’
(traduzido por ‘vovô’), numa cruel humilhação. Só mesmo um grande ator como
Johnson poderia interpretar com tal resignação o personagem do velho cowboy. Sem
que seja disparado um único tiro, ‘Top Hand’ é assistido com prazer pois mostra
um pouco do universo dos cowboys, ainda que sem a profundidade de “E o Bravo
Ficou Só”, de 1968. Esse western dirigido por Tom Gries e estrelado por
Charlton Heston contou com a participação de Ben Johnson também interpretando
um capataz. Quase que paralelamente à filmagem de ‘Top Hand’, Ben Johnson
interpretaria o personagem ‘Sam the Lion’ em “A Última Sessão de Cinema”. Por seu magnífico
trabalho nesse filme de Peter Bogdanovich, Ben Johnson receberia o Oscar de
Melhor ator Coadjuvante de 1971.
Michael Landon lutando espetacularmente com o cavalo; abaixo Ben Johnson e os Cartwrights. |
Cenas perigosas - Filmado
em outubro de 1970, ‘Top Hand’ foi ao ar em 17 de janeiro de 1971. Curiosamente
Ben Johnson que havia participado como dublê do clássico “Rio Vermelho”,
atuaria em 1971 no filme “Dez Segundos de Perigo” (Junior Bonner), o belo filme
de Sam Peckinpah sobre o mundo do rodeio estrelado por Steve McQueen. ‘Top
Hand’ não é um filme sobre rodeios, mas a ótima sequência em que é domado um
cavalo bravo lembra bastante essas disputas tão prestigiadas entre os cowboys.
Há ainda outras sequências em que se faz uso de habilidade no montar e no laçar
animais e Ben Johnson, aos 52 anos de idade, demonstra estar em excelente
forma. ‘Top Hand’ contou com as participações dos stuntmen Jerry Gatlin, Richard
Farnsworth, Eddie Jauregui e Hal Burton que atuaram como atores e como dublês.
Um dos melhores momentos deste episódio é quando ‘Little Joe’ Cartwright luta
para dominar um cavalo segurando-o firmemente pelo pescoço e sendo elevado e
sacudido pelo animal a uma altura de mais de dois metros. Nesta cena é o
próprio Michael Landon quem se arrisca, dispensando seu habitual dublê Hal
Burton. Como ocorria em filmes feitos para a TV, imperava a economia e a
sequência inicial com a presença de centenas de cabeças de gado atravessando um
rio são cenas de arquivo da Paramount.
Manada na água em cena de arquivo; Ben Johnson e (abaixo) Lorne Greene, Michael Landon e Dan Blocker. |
‘A very special guest star’ – Completam o elenco de ‘Top Hand’ o fortíssimo ator Walter Barnes,
bastante conhecido de muitos faroestes e que enfrentou Clint Eastwood numa violenta luta de boxe em “Doido
para Brigar... Louco para Amar”. Barnes atuou por dez anos na Itália e entre os
filmes que filmou por lá estão “A Grande Rapina do Oeste” e “O Dia da Desforra”.
Roger Davis, o rival de Ben Johnson, não alcançou sucesso no cinema, atuando
mais na TV. Richard Farnsworth tenta imitar o cozinheiro que Walter Brennan
criou em “Rio Vermelho”. Destaque ainda para Jerry Gatlin. ‘Top Hand’, foi
dirigido por William F. Claxton e a bela fotografia coube a Haskell Boggs,
cinegrafista habitual da série “Bonanza”. A música de David Rose é típica dos
anos 70 e não muito apropriada a este tipo de filme. Assim como muitos outros
episódios de “Bonanza”, ‘Top Hand’ funciona bastante bem e mostra como eram os saudosos
tempos das séries westerns de TV, tempos em que depois de se assistir “Bonanza”
mudava-se de canal para ver “Gunsmoke”, ou “Maverick”, ou “O Homem do Rifle”,
ou “Laramie”, ou “Chaparral”, ou “Big valley” e uma longa lista que tornava
difícil a escolha entre tantas séries inesquecíveis. E melhor ainda quando como
‘special guest star’ tinha-se um ator como Ben Johnson.
O belíssimo cavalo negro selvagem perseguido e laçado por Ben Johnson que aos 52 anos mantinha a forma; note-se na segunda foto Ben mudando de cavalos que estão em disparada. |
Prezado Darci,
ResponderExcluirEste seu excelente comentário deve ser traduzido como mais uma homenagem a Ben Johnson, até então o único cowboy de verdade que saiu das arenas dos rodeios para conquistar um Oscar, um Globo de Ouro e outros prêmios de melhor ator coadjuvante de 1971.
Creio que Ben Johnson poderia ter sido indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante pelos filmes “Crime e Paixão” (Hustler) e “O Risco de uma Decisão” (Bite the Bullet), embora ele esteja perfeito,como sempre, interpretando fora-da-lei em “Wild Bunch”(Meu ódio...) e “One-Eyed Jack” (A Face Oculta).
Em entrevista após ter recebido o Oscar, Ben Johnson disse: “Em Hollywood existem muitos atores melhores do que eu, mas nenhum sabe interpretar Ben Johnson da forma como eu faço.”
Na vida real era um “nice fella” (um cara legal) como ele gostava de ser considerado.
A biografia escrita por você neste “blog” diz tudo.
Lembrar, também, que Richard Farnsworth, ex-stunt man como Ben Johnson, foi indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante (1979) e melhor ator (2000 ), porém, não ganhou.
E por fim, para mim, o melhor da série “Bonanza” eram os coadjuvantes.
Mario Peixoto Alves
Olá, Mário
ResponderExcluirA biografia escrita sobre Ben Johnson chama-se justamente 'A Nice Fella'. Não li, mas escreveram que ela é muito ruim e pessimamente escrita. Richard Farnsworth é outro que merece e uito ser lembrado por quem escreve sobre cinema, mas nem sempre isso acontece.
Vale lembrar que a maior parte da interpretação de Ben Johnson em Os Brutos Também Amam ficou na sala de montagem, sem ser aproveitada. Uma pena.
Darci Fonseca
Prezado Darci,
ResponderExcluirEu tenho o livro escrito por Richard Jensen, cujo título é "The Nicest Fella - The Life of Ben Johnson". Eu particularmente não achei ruim como li em alguns comentários, até coloquei minha opinião no site da Amazon. Na verdade, a narrativa às vezes fica monótona e pula para outros assuntos como o relacionamento entre John Ford e Tyrone Power durante a filmagem de "The Long Gray Line", revelado por Maureen O' Hara em sua biografia , mas contém a filmografia completa detalhada do biografado desde 1939, fotos e fatos que ocorreram desde sua infância com sua família e amigos e nos set das produções. É um livro de 501 páginas sendo cerca de 200 referentes à filmografia, indicações das fontes informativas e bibliografia.
O autor é um "wrangler" em Hollywood e já escreveu outros livros, conforme informações no livro.
Mario Peixoto Alves
Olá, Mário
ResponderExcluirVocê corrigiu o título da biografia, que por sinal é perfeito para Ben Johnson que deve mesmo ter sido um cara legal. Não sabia que também Ben Johnson havia escrito sobre a amizade de Ford com Tyrone Power, que por sinal no livro de Maureen não tem o nome citado. Depois da sua opinião vou procurar comprar essa biografia.
Darci Fonseca
Darci
ResponderExcluirCreio que eu não me expressei bem, mas não é Ben Johnson quem relata o episódio entre Ford e Tyrone Power, sim o autor Richard Jensen no capítulo VIII no qual cita que Maureen O'Hara na sua autobiografia "Tis Herself" expõe o esse fato entre outros, porém ela evitou dar nomes ou testemunhas.
Quando há alguma referência de Johnson sobre Ford, elas não são desabonadoras.
Mario Peixoto Alves
Mário
ResponderExcluirDe fato acreditei que Ben Johnson houvesse dado entrevista ao autor. Cavalheiro como sempre foi, jamais Ben Johnson falaria sobre esse episódio contado por Maureen em sua autobiografia. O que será que deu nela?
Darci Fonseca
Assistirei a este episódio para ver Landon sendo chacoalhado pelo belíssimo cavalo, e a perseguição de Ben J. ao Negro selvagem.
ResponderExcluirE viva Bonanza. Abraços.
Assistirei este episódio e com certeza prestarei mais atenção
ResponderExcluirGostaria de saber qual é o episódio cujo tema central é o ensinamento que o velho rancheiro leva ao garoto que o desobedece ao ir pela estrada perigosa e destruir toda a carroça ....
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