Exemplar da 'Collier's', de 1937. |
Tendo
estreado como diretor em 1917, no final dessa década John Ford já havia
dirigido 40 filmes, alguns deles curta-metragens de um único rolo. É desse
período a célebre parceria entre John Ford e Harry Carey, que interpretava o
personagem 'Cheyenne Harry', nos westerns da Universal. E o jovem diretor, que
ainda atendia pelo nome de 'Jack Ford', dirigiu os principais mocinhos daquele
tempo, entre eles Tom Mix e Buck Jones. Nos anos 20, contratado pela Fox Film
Corporation, John Ford consolidou sua reputação como um dos principais
diretores norte-americanos e para isso muito ajudaram seus westerns clássicos
"O Cavalo de Ferro" (1924) e "Três Homens Maus" (1926). Na
década de 30 John Ford se afastou dos faroestes e na 20th Century-Fox era o
diretor favorito do homem forte do estúdio, Darryl F. Zanuck. E não era para
menos, pois os filmes de Ford eram sempre bem recebidos pela crítica e mais
ainda pelo público. Mas para fugir do jugo do 'boss' da Fox, o contrato de Ford
permitia que ele dirigisse eventualmente para outros estúdios. E foi na RKO que
John Ford realizou "O Delator" (1935), que lhe valeu o Oscar de
Melhor Diretor. Ávido devorador de pequenas histórias, John Ford leu numa
edição da revista semanal ‘Collier’s’, em 1937, a história "Stage to
Lordsburg", de autoria de Ernest Haycox. Ford gostou tanto da história que
comprou do autor os direitos cinematográficos, pagando por eles 2.500 dólares. Ford
decidiu que era hora de retornar aos westerns, gênero que não filmava há 12
anos, desde quando dirigiu "Três Homens Maus".
Ernest Haycox |
Ninguém mais gosta de faroestes - John Ford levou a história de Haycox a
Darryl F. Zanuck que respondeu ao diretor que de forma alguma produziria um
faroeste e se recusou até a ler a história. Zanuck disse a Ford que havia três
projetos de filmes no estúdio esperando por ele e os títulos desses filmes eram
"A Mocidade de Lincoln", "Vinhas da Ira" e "Como Era
Verde o Meu Vale" (Zanuck acrescentaria a essa lista “Ao Rufar dos
Tambores”). O que Ford queria mesmo naquele momento era desenvolver seu próprio
projeto baseado em "Stage to Lordsburg", o que o fez procurar Jack
Warner. O chefão da Warner Bros. disse ao diretor que o público não queria mais
ver faroestes pois eles eram coisa do passado. Curiosamente, na escassez de
faroestes ‘A’ que foi a década de 30, no ano de 1939 tanto a Fox com “Jesse
James”, quanto a Warner com “Uma Cidade que Surge” e “A Lei do Mais Forte”,
produziram westerns simultaneamente ao filme que Ford queria fazer. O produtor
independente David O. Selznick se interessou em produzir o faroeste para John
Ford, mas queria Gary Cooper e Marlene Dietrich nos papéis principais. Ford
percebeu que se o filme fosse produzido por Selznick não seria aquilo que ele
sonhava pois o arrogante produtor tiraria do faroeste a simplicidade sempre
presente nos filmes de Ford. Ainda bem que Selznick estava envolvido com “E o
Vento Levou” e se esqueceu do projeto baseado na história de Ernest Haycox. Como
acreditava muito no potencial do projeto, John Ford não desistiu e depois de
bater às portas de outros estúdios sem nenhum resultado prático, recebeu
proposta do produtor independente Walter Wanger.
Pôster francês de "No Tempo das Diligências". |
Enos Edward Canutt, o grande Yakima. |
Um amigo chamado Enos - Tendo atuado por muitos anos nas
pequenas companhias produtoras de westerns B, como a Mascot, Monogram e
Republic, Wayne falava muito de seu amigo e companheiro de faroestes Yakima
Canutt a John Ford. O Duke disse ao diretor que Yakima era imbatível no
trabalho de stuntman. Para surpresa de Wayne e de Canutt, Ford os convidou para
ir ao seu escritório e lá recebeu o dublê cumprimentando-o: "Olá, 'Enos'. Tudo bem com você?" Surpreso por ser assim chamado, Yakima percebeu que Ford estava bem informado
sobre ele já que seu nome verdadeiro era Enos Edward Canutt. As proezas que
‘Yak’ realizava nos faroestes B iriam finalmente chegar ao grande cinema. Ford
queria contar com Yakima como ator, dublê e diretor de 2.ª unidade para as
cenas de ação que surpreenderiam o mundo. Com filmagens previstas para durar 47
dias e com início programado para 31/10/1938, Ford juntou-se então a Dudley
Nichols.
Adaptação de “Bola de Sebo” - O escritor francês Guy de Maupassant
escreveu o conto “Bola de Sebo” em 1880, quando estava com 30 anos de idade.
Maupassant morreria em um manicômio 13 anos depois. “Bola de Sebo” conta a
história passada durante a Guerra Franco-Prussiana, com uma carruagem tentando
atravessar a fronteira entre a França e a Prússia. Entre os aristocratas passageiros
franceses estava a nada aristocrata e gorda prostituta Elizabeth Rousset.
Desprezada pelos demais passageiros, recebendo o indecoroso apelido de ‘Boule
de Suif’ (Bola de Sebo), Elizabeth acaba sendo a responsável pelo salvo-conduto
obtido pelo grupo para prosseguir viagem, ao preço de dormir com o oficial
prussiano. Ernest Haycox, com o título "Stage to Lordsburg", adaptou
o conto de Maupassant para o Velho Oeste, numa viagem entre Tonto (Arizona) e
Lordsburg (Novo México). Na história de Haycox a prostituta chama-se Henriette,
é dona de um bordel em Lordsburg e durante o longo trajeto se apaixona pelo vagabundo
Malpais Bill. Este pretende, em Lordsburg, vingar a morte de seu pai e seu
irmão. Na boléia da diligência está o cocheiro Happy Stuart e o auxiliar armado
John Strang. O grupo de passageiros da diligência, todos sem nome, é formado
pela esposa de um oficial da Infantaria, um jogador, um vendedor de uísque, um
criador de gado e um inglês.
Andy Devine e George Bancroft. |
Nomes aos personagens - O roteirista Duddley Nichols que era o
preferido de John Ford foi o responsável por transformar "Stage to
Lordsburg" em roteiro cinematográfico, simplificando o título para “Stagecoach”,
mantendo o trajeto original. Nichols alterou os nomes dos personagens principais e deu
nome aos demais. Malpais Bill virou Ringo Kid (John Wayne); Henriette passou a
se chamar Dallas (Claire Trevor); o guarda de diligência passou a xerife de
Tonto com o nome Curley Wilcox (George Bancroft); o cocheiro virou Buck Rickabaugh
(Andy Devine); a esposa do oficial ganhou o nome de Lucy Mallory (Louise
Platt); o jogador Hatfield (John Carradine); o vendedor de uísque Samuel
Peacock (Donald Meek); o criador de gado foi transformado no banqueiro Elsworth
Gatewood (Berton Churchill) e foi criado o médico Dr. Josiah Boone (Thomas
Mitchell).
O médico bêbado-filósofo e a prostituta. |
Vingança, hipocrisia e amor - Dallas e Dr. Boone são expulsos de
Tonto porque seus comportamentos ofendem a moral e os bons costumes preservados
com rigor pela Liga da Lei e da Ordem da cidade. No trajeto o procurado pela
justiça Ringo Kid agrega-se ao grupo na condição de capturado por Curley mas
com o objetivo único de chegar a Lordsburg e concretizar sua vingança. De
início parte do grupo, exceto Ringo e Dr. Boone, discrimina Dallas e o mais
exacerbado é o banqueiro Gatewood que havia fugido de Tonto com todo dinheiro
do banco da cidade. Quando, porém, Lucy dá à luz prematuramente quem salva mãe
e criança são os dois rejeitados pelo grupo, exatamente Dallas e Dr. Boone. O
parto é feito em Apache Wells, um posto de troca de cavalos. A admiração de
Ringo por Dallas aumenta e passa a ser recíproca, ainda que ela tema que Ringo
descubra seu passado. Os apaches liderados por Gerônimo estão em guerra e
atacam a diligência que conta com a habilidade e coragem de Ringo Kid para defender
o veículo e seus passageiros. Hatfield é ferido mortalmente enquanto o cocheiro Buck e Peacock
são também feridos mas sobrevivem. Quando o extermínio do grupo parece iminente
ouve-se o trompete da Cavalaria que se defronta com os apaches, dispersando-os.
Em Lordsburg Ringo Kid enfrenta e mata, com as três balas de carabina que lhe
restaram, os irmãos Plummer. O xerife Curley permite que Ringo e Dallas sigam
juntos para um novo caminho comum em suas vidas, longe da hipocrisia humana.
John Wayne e Claire Trevor. |
Um único vilão - O brilhante roteiro de Dudley Nichols
discute os conflitos entre as diversas classes sociais reunidas na diligência.
A soberba da jovem Lucy; a cobiça e desonestidade do banqueiro; a altivez e o
orgulho do sulista Hatfield derrotado na Guerra de Secessão, que sucumbem à
visão de uma dama verdadeira que ele não encontra nos meios e que frequenta.
Deles, só mesmo Gatewood é um vilão, seja pelo crime praticado, seja pela
doentia superioridade que julga possuir. A maioria dos passageiros são seres
humanos com mais qualidades, como o xerife Curley, cuja experiência o faz
acreditar na inocência de Ringo. Peacock, o vendedor de uísque é o menos
interessante dos personagens mesmo porque é difícil crer que um homem tão
frágil e inseguro rode o Oeste como sua profissão obriga. O simpático e
beberrão médico-filósofo Dr. Boone é uma das grandes criações de John Ford,
tanto que seria usado em muitos outros filmes do Mestre. Ringo Kid, o herói da
aventura nos conquista por sua inocência e pelo caráter como ao se solidarizar com
Dallas. E mais que todos, é Dallas a personagem principal, a mais comovente, a
que sofre a dor da odiosa discriminação. O amor entre ela e Ringo nasce de
forma sublime sob a mágica direção de Ford. E “No Tempo das Diligências” acaba
sendo um faroeste também para as mulheres.
Início da perseguição pelos apaches à diligência, filmada no Deserto de Mojave. |
Recursos de filme B - O que mais marca o espectador em “No
Tempo das Diligências” é o esplendoroso cenário no qual aparentemente transcorre a maior
parte da história. Este western foi o primeiro filme com sequências filmadas no Monument
Valley, para onde John Ford retornaria inúmeras vezes para filmar outros
westerns nos próximos 25 anos. No entanto poucos membros do elenco estiveram de
fato naquele local pois somente algumas cenas foram lá rodadas. Ford usou
bastante o recurso de back-projection, com os atores à frente de uma tela na
qual era projetado o Monument Valley. A própria sequência da frenética
perseguição dos apaches à diligência foi filmada em Lucerne Dry Lake, no
Deserto de Mojave, na Califórnia. Mas espertamente Ford pontuou o filme todo
com as tomadas feitas no Monument Valley com a diligência em movimento, como se
nela estivessem os passageiros. A cidade de Tonto era uma rua do Velho Oeste nos
estúdios da Republic Pictures, enquanto as sequências em Lordsburg foram
filmadas nos estúdios de Samuel Goldwyn. A diligência usada era do modelo
Concord, na cor marrom e que por mais de 50 anos transportou passageiros na
linha El Passo-San Diego.
John Wayne como Ringo Kid. |
A entrada em cena de John Wayne - John Ford não ficou satisfeito com a
entrada de Ringo Kid em cena, achando-a fraca. Após o filme concluído, Ford
convocou John Wayne para refazer a cena à frente de um cenário em back-projection. Foi
quando teve a idéia de Ringo Kid rodar seu rifle criando um impacto visual que
nunca mais seria esquecido. Inesquecível também a participação de Yakima Canutt
em duas sequências da perseguição à diligência. A primeira quando ele como um apache salta sobre os cavalos e acaba caindo entre as parelhas. 20 anos mais tarde
Yakima repetiria o feito numa quadriga em “Ben-Hur”, épico em que foi diretor
de segunda unidade. A segunda espetacular cena de ação é quando Ringo Kid (John
Wayne substituído por Yakima) salta da boléia sobre as parelhas para deter a diligência desgarrada.
Yakima já havia feito o mesmo no western B “O Cavaleiro do Destino”, estrelado
por John Wayne, em 1933. John Ford foi mais econômico no confronto entre Ringo
Kid e os irmãos Plummer, sequência filmada à noite e que o diretor preferiu
rodar de forma rápida e discreta. “No Tempo das Diligências” é um faroeste com
brilhantes sequências de ação, mas nunca antes e poucas vezes depois o gênero
produziu um filme que expusesse de forma tão admirável e profunda tantos
personagens em admiráveis interpretações.
Yakima Canutt em ação; na última foto é John Wayne, claro. |
Thomas Mitchell |
Mestre da Psicologia - Mestre da arte fílmica, John Ford era
também um mestre da Psicologia. São conhecidas as histórias de como John Ford
tratava John Wayne durante as filmagens humilhando o ator. O pobre e inexperiente Duke (até então
só fazia westerns B) estava cercado por excepcionais atores, alguns deles com
experiência de palco, o que mais fazia com que aumentasse sua insegurança. À noite, após as filmagens, Wayne tomava aulas com seu orientador Paul
Fix, repetindo os poucos diálogos que teria no dia seguinte. Mesmo assim Ford o
insultava cada vez com maior sadismo. Isso fez com que todo o elenco se
solidarizasse com Wayne, ajudando-o nas cenas nas quais participavam. Quando
Ford percebeu isso, disse ao ator: “Duke,
você está indo muito bem!” E, de fato, o jovem John Wayne reestreou no
cinema A com uma boa atuação. Thomas Mitchell recebeu um merecidíssimo Oscar de
Ator Coadjuvante por sua atuação em “No Tempo das Diligências”, numa criação
soberba como o médico bêbado. Claire Trevor magnífica como a terna prostituta.
John Ford conseguiu extrair de cada um dos atores interpretações
irrepreensíveis.
O mais influente faroeste - O historiador de cinema William K.
Everson escreveu certa vez que o problema dos faroestes era serem eles comparados
aos westerns de John Ford, o que tornava irremediavelmente menor qualquer outro
faroeste. O mesmo pode ser dito em relação a “No Tempo das Diligências”, uma
vez que Ford realizou filmes tão magníficos que este seu western de 1939 parece
menor diante de suas obras-primas do gênero. Mas “No Tempo das Diligências” é
não só uma obra-prima, como o mais influente faroeste do cinema, servindo de
modelo em sua trama e sequências a centenas de filmes. É isso que causa a
sensação de parecer um clichê a chegada salvadora da Cavalaria, que se tornou
das mais imitadas do cinema. Inimitável, porém, é o poético estilo narrativo de
John Ford, dando uma humanidade profunda aos seus personagens e criando
sequências de rara beleza cênica. “No Tempo das Diligências” foi refilmado em
1966 por Gordon Douglas e a 20th Century-Fox, para não passar vergonha, conseguiu
que o filme de Ford não mais fosse exibido por alguns anos, o suficiente para a
refilmagem atrair público sem parâmetro de comparação.
Pôster da versão de 1966; a versão francesa; a versão para a TV. |
Escore musical inventivo - “No Tempo das Diligências” tem uma
portentosa fotografia e lamenta-se que os 30% que encareciam um filme em
Technicolor impediram que o faroeste de Ford fosse ainda mais deslumbrante no
trabalho do diretor de fotografia Bert Glennon. Completa a magnificência de “No
Tempo das Diligências” a criatividade do maestro Richard Hageman que compôs a
trilha musical utilizando uma dúzia de temas bastante conhecidos, entre eles
“Shall We Gather at the River”, “Joe the Wrangler” e “Jeannie with the Light
Brown Hair”. Além do Oscar de Thomas Mitchell, “No Tempo das Diligências”
recebeu também um Oscar de Melhor Score Musical, empatado com o musical “O
Mágico de Oz”. E que ninguém esqueça que o ano-base dessa premiação foi 1939, até hoje considerado o melhor ano do cinema. Houve uma versão de “Stagecoach” feita para a TV, estrelada por
Kris Kristofferson (Ringo Kid), Johnny Cash (Xerife Curley) e Waylon Jennings
(Dr. Boone). E conseguiram um lugar na diligência parae Willie Nelson
interpretando Doc Holliday. Partindo do conto de Guy de Maupassant, “No Tempo
das Diligências” retornou à França como modelo para “Anjo Pecador” (Boule de
Suif), em 1945, filmado por Christian-Jacque e estrelado por Micheline Presle.
Embora passado no período da guerra Franco-Prussiana, o filme copia quase cena
a cena o filme de John Ford. Só faltaram os apaches.
John Ford e os atores num set de filmagem. |
“John
Ford, John Ford e John Ford”
- Sobre “No Tempo das Diligências”, o crítico francês André Bazin escreveu que
o filme era “um exemplo ideal de maturidade de estilo elevado à perfeição
clássica”. A sisuda Pauline Kael, tão econômica em elogios, afirmou que “todo
bom western feito após 1939 ou imitou “No Tempo das Diligências” ou dele tirou
lições”. Orson Welles, em 1966, solicitado a dizer quem eram seus diretores
preferidos respondeu: “John Ford, John Ford e John Ford”. Ainda que não fosse a
obra-prima que é, “No Tempo das Diligências” seria importante por ser o
primeiro western a usar o Monument Valley como cenário e, mais que isso, por
ter catapultado John Wayne ao estrelato. Sem interpretar Ringo Kid, o mocinho
dos ‘Bs’ John Wayne chegaria logo ao ostracismo que engoliu Bill Elliott, Charles
Starrett, Rocky Lane e tantos outros. Mas começava ali a mais brilhante
carreira de um ator no cinema norte-americano e para sorte nossa, um ator de
faroestes. Obrigado por isso, John Ford!
Olá Darci
ResponderExcluirTalvez esses produtores que já estavam fugindo do faroeste, pela ótica da época em que fizeram estas análises, estivessem com razão. Este gênero já estava dando sinais de cansaço pela falta de inovação e ninguém esperaria que um cineasta especialista em faroestes, que praticamente estava há um bom tempo sem fazer
filmes da sua especialidade, aparecesse com um projeto obcecadamente diferente e que não o mudaria por nada. Ford com John Wayne debaixo do braço(o Duke estava em baixa pelo fracasso de a Grande Jornada, Big Trail 1930, Raoul Walsh), fez uma romaria procurando produtores, maior do que aquela que os nordestinos fazem para Juazeiro do Norte, para pedir a benção do meu "Padim pade Ciço".
O "faro" de Ford estava muito apurado em relação ao potencial daquela história e diante de muita dificuldade e críticas, não saiu da trilha; reinventou a maneira de fazer um western, colocou-o em um patemar muito superior e "soprou" a brasa de John Wayne e companhia, deixando-a com calor suficiente para muitas décadas. Faço até uma comparação com outro diretor de reconhecido talento, que tinha um projeto simples na mente, também teve dificuldades com produtores para arranjar dinheiro, estava lidando com o mesmo gênero cinematográfico, só que mais moribundo, com um ator que já estava "velho" e patinando em um seriado de tv decadente e de repente, o Filme, o Diretor, o Gênero, o Ator e companhia, ganharam vida nova.
Parabenizando o Darci e pegando carona nesta brilhante exposição de No tempo das Diligências e aproveitando as suas últimas frases, peço licença e faço um parafraseado:
"Sem interpretar O Homem sem Nome, o mocinho do seriado Clint Eastwood chegaria logo ao ostracismo que engoliu Bill Elliott, Charles Starrett, Rocky Lane e tantos outros. Mas começava ali a mais brilhante carreira de um ator no cinema norte-americano e para sorte nossa, um ator de faroestes. Obrigado por isso, Sérgio Leone!"
Abraços-Joailton
Olá, Joailton
ResponderExcluirConfesso que não conheço melhor o projeto e produção de Rawhide. Ma sei que em 1959, quando a série foi lançada, séries westerns ainda encontravam espaço. Lembro que nesse mesmo ano foi lançada, com episódos de uma hora de duração e em cores a série Bonanza que ficou no ar por 14 anos.
Uma dúvida: será que o talento de Clint não explodiria independentemente de sua aventura italiana? O fato é que Clint, assim como John Wayne, estava fadado a se tornar uma lenda, guiados por mãos mágicas como a de Ford e a de Leone.
Um abraço - Darci
Olá Darci
ResponderExcluirSei que estes meus comentários estão fora do foco da sua bela resenha, mas como "certos" acontecimentos têm o poder de transformar vidas; ouso escrever um pouco mais e talvez seja uma boa oportunidade para repassar algumas informações que li no belíssimo livro com o título "Clint Eastwood:Nada Censurado, de autoria de Marc Elliot.
O seriado Rawhide ficou no ar de 9 de janeiro de 1959 a 7 de dezembro de 1965, entretanto o seu lançamento foi feito muito tempo depois de ser produzido, era a única esperança do Eastwood de deslanchar e esta demora provocou uma crise emocional nele(e ele era um coadjuvante), traduzida por uma urticária que o infernizou por um bom tempo, pois a sua carreira estava emperrada e nada parecia evoluir. O mesmo continuava a fazer bico como frentista em um posto de gasolina e a cavar piscinas. Antes trabalhou em filmes, onde o seu nome nem nos créditos apareciam. Foi dispensado de um estúdio, pois decretaram que não tinha futuro, por ser portador de um pomo de Adão proeminente, pescoço muito comprido, dentes “virados” para dentro e uma dicção de moribundo. Ainda sofreu gozação de Burt Reynolds, demitido juntamente com ele, fazendo alusão ao seu pomo de Adão, que era uma situação sem jeito de resolver.
Nos últimos 2-3 anos, o seriado começou a tropeçar, mudando de diretores, horários, temas, todos os sintomas que estava saindo da trilha e até queriam descartar o Eric Fleming, o ator principal, pois já o enquadravam como velho. O mesmo faleceu afogado, numa filmagem no Peru em 1966.
Acredito que o bonde do destino, só pega os passageiros que estão na estação. Todo mundo conhece alguém de extremo talento e capacidades que ficaram pelos caminhos, onde não passaram bondes ou quando passaram, eles não estavam na estação. Ford e Leone eram dois grandes bondes, como outros, que trafegaram com muitos passageiros e lhes deram um destino. É ilustrativo o valor de 15 mil dólares aceitos por Eastwood , para ir à Itália fazer um filme com um diretor obscuro. Mostra o quando a situação estava ruim. John Wayne ser humilhado por Ford e não deixá-lo, demonstrou muita resignação e crença no futuro.
Eu tenho um amigo virtual, talvez você o conheça, chamado Darci, que a internet foi o seu bonde, que passou na estação e ele estava lá.
Abraços-Joailton
Olá, Joailton
ResponderExcluirAntigamente usava-se a expressão "tomar bonde errado". Pelo que você diz parece que tomei o bonde certo, ainda bem pois nesse bonde encontro passageiros bons de prosa como você.
Gosto de biografar gente esquecida pelos blogs da vida. Um dos biografados foi Eric Fleming. Sobre Clint há no Westerncinemania diversas postagens como "Por que Clint Eastwood virou as costas para o faroeste", "O ciume de Clint Eastwood em Josey Wales" (Bastidores dos Faroestes); "A imperdoável injustiça de Clint Eastwood", "Quem foi a maior bilheteria do cinema, John Wayne ou Clint Eastwood? (Variedades). São postagens feitas a partir de informações colhidas em livros diversos, inclusive o escrito por Sondra Locke. Possuo a biografia de Clint eastwood escrita por Marc Elliot, mas o título é "Clint Eastwood - An American Rebel". Creio que verteram para o Português com um título mais atrativo.
Abraços do Darci
Olá Darci
ResponderExcluirLi algumas das suas postagens referidas. A de Sandra Locke ainda não foi lançada no Brasil, como o meu inglês é devagar e me dou melhor com um livro técnico, ainda espero este livro, pois deve mostrar de uma maneira mais cruel a face oculta do Eastwood.
Abraços-Joailton
Joailton
ResponderExcluirA luta daquela pequena mulher (Sondra Locke) contra a gigante Warner Bros. e o até então imbatível Clint Eastwood precisava ser melhor conhecida neste país de tantas injustiças. Sondra desnudou Clint Eastwood mostrando uma pequenez moral que não conhecíamos. O artista Clint Eastwood é mil vezes maior que o homem Clint Eastwood.
Darci Fonseca