John Ford
foi um dos grandes artistas do século passado, englobadas todas as modalidades
de expressão artística. Ford foi um dos maiores diretores que o cinema conheceu
e, sem nenhum outro a lhe fazer sombra, o mais importante diretor de faroestes.
Ama-se e estuda-se os filmes de John Ford, porém pouco se sabe de sua vida
pessoal, a não ser da rudeza de seu temperamento e da dificuldade de com ele
conviver aceitando seus modos ou a falta deles. Muitos e excelentes livros
foram escritos sobre o ‘Homero das Pradarias’, mas quase todos preocupados em
analisar sua incomparável obra cinematográfica. Avesso a entrevistas, o pouco
que se escreveu sobre a vida de John Ford foi baseado em depoimentos daqueles
que com ele trabalharam e raros amigos pessoais que sobreviveram a ele.
O livro de Carey Jr. |
Reminiscências familiares - Um bom
livro sobre o homem John Ford foi escrito por Harry Carey Jr. e teve o
apropriado título de “Company of Heroes – My Life as an Actor in the Ford Stock
Company”. Harry Carey Jr. era afilhado de John Ford e conta nesse livro alguns
episódios passados nos bastidores dos filmes em que foi dirigido por Ford.
Porém ‘Dobe’ Carey não conseguiu penetrar na intimidade do ‘Coach’ (Ford), como o
chamava John Wayne. Antes do livro de Carey Jr., Dan Ford, neto de John Ford
(filho de Patrick Ford), havia reunido lembranças de seu avô. Dan Ford nasceu
em 1945 e estava com 28 anos quando John Ford faleceu em 31 de agosto de 1973.
As reminiscências familiares vieram também de seu pai Patrick Ford, de sua tia
Barbara Ford (os dois únicos filhos de John Ford) e de sua avó Mary Ford. A
esposa de John Ford faleceu em 1979, mesmo ano do lançamento da 1.ª edição de
“Pappy – The Life of John Ford”.
Katharine Hepburn em "Mary Stuart, a Rainha da Escócia". |
John Ford e Kate Hepburn - Dan Ford escreveu
seu livro numa linguagem simples que certamente seu avô aprovaria. Linguagem fácil
que um estrangeiro que domine minimamente a Língua Inglesa consegue entender.
Paralelamente às lembranças do avô, Dan Ford relata de maneira precisa como
funcionava a indústria cinematográfica desde seu início, que coincide com o
trabalho de Francis Ford, irmão de John Ford. O texto de Dan avança pelo cinema
falado e as mudanças ocorridas com a afirmação dos grandes estúdios e o
surgimento dos ‘moguls’ (chefes de estúdio). Um dos capítulos mais
interessantes relata as batalhas de John Ford com Darryl F. Zanuck, a quem o
diretor chamava de ‘Darryl F. Panic’. Essa leitura permite entender quais foram
os filmes mais pessoais de John Ford e quais os filmes que Ford dirigiu segundo
as imposições de Zanuck para a 20th Century-Fox. Dan Ford relata ainda a
tempestuosa paixão entre John Ford e Katharine Hepburn, nascida durante as
filmagens de “Mary Stuart, a Rainha da Escócia”, em 1936.
O 'Coach' e o 'Duke'. |
Passeios no ‘Araner’ - As
bebedeiras com Ward Bond, John Wayne, Grant Withers e outros amigos próximos de
John Ford que com ele participavam de cruzeiros no iate ‘Araner’, de
propriedade do diretor também são relatadas. Para os fãs de faroestes, que
naturalmente são fãs de John Wayne, é saboroso saber o quanto Ford torturou o
ator, numa dessas viagens no ‘Araner’, antes de definir o jovem Duke como o
intérprete de ‘Ringo Kid’ em “No Tempo das Diligências”, filme que mudou a
carreira de Wayne e que mudou a imagem do próprio western. O livro conta
também, em detalhes, a discussão com Henry Fonda durante as filmagens de “Mr.
Roberts” e que culminou com Ford agredindo Fonda com um soco. Essas histórias
são narradas de forma discreta e distante de qualquer intenção sensacionalista,
porque são histórias que o leitor tem prazer em saber.
Acima Ford com Peter Bogdanovich. |
A sorte de Peter Bogdanovich - O livro de Dan
Ford dedica, como não poderia deixar de ser, um capítulo inteiro à participação
de John Ford na II Guerra Mundial como Capitão da U.S. Navy. O declínio artístico
e físico de John Ford são as páginas mais tristes da biografia até o ‘the last
hurrah’ do diretor de “Rastros de Ódio”. Após a aposentadoria de John Ford,
dezenas de escritores e estudantes receberam sonoros ‘não’ nas tentativas de
entrevistar John Ford. Somente conseguiram falar com o diretor o escritor Joseph
McBride e Peter Bogdanovich. McBride é o autor de “Searching for John Ford” e que
relatou a insuportável irascibilidade do diretor. Peter Bogdanovich teve mais
sorte e obteve a maior entrevista que John Ford deu em toda sua vida e que resultou
em um livro e um documentário intitulados respectivamente “John Ford” e “Directed
by John Ford”. No entanto, Bogdanovich não conseguiu saber mais do homem que
entrevistou. Para aqueles que conhecem a obra cinematográfica do Mestre e
pretendem saber mais sobre o Homem John Ford, o livro “Pappy – The Life of John
Ford” é essencial. Lançado pela Capo Press, essa obra tem 340 páginas,
dezesseis delas sem texto com fotos em preto e branco. O livro foi impresso no
tamanho 15x23 cm e traz na capa uma foto dos bastidores do filme “A Paixão de
uma Vida” com John Ford conversando com Tyrone Power.
Belíssima sugestão, e homenagem. Sou um apaixonado pela obra desse mestre essencial. Prefiro nem falar muito sobre isso... porque amor não se explica. Simplesmente magnífico!
ResponderExcluirDarci, não há no Brasil uma estátua desse gênio? Isso poderia começar a ser pensado pelos amantes de seus filmes.
Abraço!
Vinícius Lemarc
Olá, Vinicius
ResponderExcluirNão acredito que se faça uma estátua para John Ford, ainda que ele mereça. Desconheço se no Maine, onde ele nasceu, ou em Hollywood pensaram nisso. Quanto mais leio sobre John Ford e quanto mais conheço opiniões importantes (como a sua), concluo que John Ford foi o maior entre todos os diretores de cinema. Como você disse, um gênio.
Um abraço do Darci
O MUNDO DO CINEMA conheceu tres gênios na cinematografia (pela ordem) ALFRED HITCHCOCK-JOHN FORD-STANLEY KUBRICK. O resto é resto. Parabens pela homenagem. Pena que ninguém se manifestou. Até derepente. Em tempo: é a minha opinião.
ResponderExcluirDesculpe-me "mestre"Lemarc, você se manifestou. Se você abrir outra vez este tópico, UM ABRAÇO
ResponderExcluirTrês monstros sagrados do cinema, sem dúvida! E você é corajoso pacas, diz mesmo qual acha melhor. Acho muito bom isso, afinal chegamos a um nível de opressão no mundo que nos quer tirar até nossa opinião, como se as pessoas fossem criminosos de opinião. E o mais grave é que quem mais oprime nesse terreno geralmente é quem mais se diz oprimido.
ResponderExcluirForte abraço J. Fernandes, e nada de mestre, sou aprendiz de aprendiz.
Vinícius Lemarc