Gibis que inspiravam as crianças nos anos 50: acima o n.º 1 de 'O Zorro'; abaixo as edições da Dell que publicou 'Tonto'. |
Quem foi criança no Brasil nos anos 50 lembra
do fascínio que o personagem ‘O Zorro’ exercia na petizada e também a
frustração de se conhecer o herói apenas pelos gibis. Publicado mensalmente
pela EBAL (Editora Brasil América Ltda.) esse gibi apresentava capas de grande
beleza e aventuras quadrinizadas com o mocinho mascarado e seu cavalo branco chamado Silver, sempre na companhia do índio Tonto. E a frustração da meninada
era porque nas matinês de domingo não eram exibidos filmes do Zorro. Parentes e
amigos mais velhos falavam de filmes e seriados com um Zorro que usava chicote
e espada, em quase tudo, diferente, menos na máscara, daquele mocinho que montava o
cavalo Silver. Comentava-se que Zorro e Tonto podiam ser vistos em filmes para
a televisão, mas em meados da década de 50, somente as famílias mais abastadas
possuíam televisores, o que mais aumentava a ansiedade de algum dia ver e ouvir
o ‘Ai-Yo, Silver!’ no cinema. Finalmente em 1956 os pequenos fãs do mocinho das
balas de prata puderam conhecer o ‘Zorro’ com o filme em cores “O Justiceiro
Mascarado” que chegou aos cinemas. [Já resenhado aqui no WESTERNCINEMANIA]
Dois anos depois foi exibida uma nova aventura do Zorro/Lone
Ranger intitulada “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” (The Lone Ranger and the
Lost City of Gold). Assim como aconteceu com o faroeste de 1956, essa nova
aventura do Zorro, quer dizer, do The Lone Ranger, quer dizer, do Justiceiro
Mascarado, compensou a longa espera.
O
amuleto de prata - O cinema já havia tocado, em 1955, na
lenda daquele tesouro perdido com o filme “Sete Cidades de Ouro”, estrelado por
Anthony Quinn, Jeffrey Hunter e Rita Moreno. E agora era a vez do Zorro/Lone
Ranger ir em busca da perdida cidade de ouro numa história que começa com a
descoberta de um pequeno pedaço de prata que é parte de um amuleto indígena.
Esse amuleto contém um mapa indicativo do caminho para uma cidade toda de ouro,
o que desperta o interesse da bela e desonesta viúva Frances Henderson (Noreen
Nash). Através seu amigo Ross Brady (Douglas Kennedy), que lidera um bando de celerados,
Frances consegue reunir os cinco pedaços do amuleto que foram distribuídos
entre índios da tribo chefiada por Tomache (John Miljan). Para consegui-las,
Brady comete uma série de crimes que chamam a atenção do justiceiro The Lone
Ranger (Clayton Moore) e de Tonto (Jay Silverheels). Disfarçado como um
caçador de recompensas texano de nome Reagan, The Lone Ranger se aproxima de
Frances e de Brady, descobre a trama e desbarata a quadrilha. Antes de gritar ‘Ai-Yo,
Silver!’ e partir para novas aventuras, o Justiceiro Mascarado e seu amigo
Tonto levam os índios à cidade de ouro perdida que, por direito, a eles
pertence.
Acima Noreen Nash e Charles Watts; abaixo Ralph Moody, Lisa Montell e Dean Fredericks. |
Meteorito
no Velho Oeste - Nos anos 50 o gênero faroeste começou a perder espaço no
cinema para a ficção-científica o que levou os escritores Eric Freiwald e
Robert Schaefer a espertamente tentar dar um toque de modernidade ao enredo de
"Zorro e a Cidade Perdida de Ouro”.
A origem da lenda do tesouro se deu quando tropas espanholas estiveram
no sudoeste norte-americano sendo fulminadas por um meteorito que caiu no local
onde estavam os conquistadores ibéricos. Antes de morrer, um capitão espanhol
gravou em uma placa de prata um mapa indicativo da cidade de ouro que os espanhóis
haviam descoberto. Esse medalhão acabou nas mãos do chefe índio Tomache que o
dividiu em cinco partes, entregando cada uma dessas partes um membro de sua
família, justamente os alvos da cobiça da dupla de vilões Frances Henderson e
Ross Brady. Não bastasse a interessante ligação sci-fi-western, os autores da
história inseriram nela o personagem Dr. James Rolfe (Dean Fredericks), neto do
chefe Tomache e médico da cidade de Santorio. O Dr. Rolfe envergonha-se de sua
origem índia e tenta escondê-la, ao mesmo tempo que auxilia os pobres da cidade
de Santoria, entre eles outros índios. Além de seu conflito emocional, o Dr. Rolfe defronta-se ainda com o
xerife Oscar Matthison (Charles Watts), implacável em sua intolerância racial.
Essa mescla de sci-fi com racismo, psicologia e mistério faz de “Zorro e a Cidade de Ouro
Perdida” um inesperado e diferente faroeste.
Clayton Moore disfarçado como caçador de recompensas texano. |
Western
nem tanto para a familia - Este western de Lesley Selander é admirável em diversos
outros aspectos como ao fazer referência à Ku Klux Klan e mostrar os bandidos
com capuzes e não os tão comum lenços cobrindo seus rostos. Filme produzido
para toda a família assistir reunida, assim como era a série de TV, “Zorro
e a Cidade de Ouro Perdida” tem uma sequência de incrível violência quando
Frances Henderson mata Ross Brady atirando e cravando um machado nas costas do
cúmplice. Impressiona também a cena em que os índios torturam um bandido,
fazendo-o alvo de suas flechas, para arrancar dele uma confissão. Assim como já
havia acontecido em “O Justiceiro Mascarado”, The Lone Ranger (Clayton Moore)
disfarça-se para se aproximar dos bandidos. No faroeste de 1956 Clayton Moore
se faz passar por um velho e irreconhecível garimpeiro e desta vez seu disfarce
o deixa parecidíssimo com Howard Keel (“Sete Noivas para Sete Irmãos”).
Bandidos mascarados como Ku Klux Klan; confissão sob tortura; bandido assassinado de maneira violentíssima pela vilã da história. |
O cavalo de Tonto com seu dono; Charles Watts, Douglas Kennedy e Lane Bradford, os bandidos. |
Vilã
sedutora - No elenco de “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” destaca-se
Jay Silverheels com um de seus melhores e mais amplos desempenhos como Tonto o
amigo de Kemosabe, participando intensamente das ações contra os malfeitores e
tendo inclusive muitas e inteligentes falas. Como bom sidekick, Tonto se
desentende às vezes com seu cavalo Scout (Escoteiro). A sedutora vilã da
história é a bela e boa atriz Noreen Nash que teve curta carreira no cinema, que
abandonou para ser apenas a esposa do Dr. Lee Siegel, conhecido como o
psicanalista das grandes estrelas de Hollywood. Após a morte de Siegel, Noreen
casou-se com o ator James Whitmore. A atriz que interpreta a índia Paviva é a
polonesa Lisa Montell que, apesar de também bonita, não passou de promessa. O
bom time de bandidos é liderado por Douglas Kennedy, acompanhado por Lane
Bradford, filho do vilão dos seriados John Merton. Mas quem rouba mesmo a cena
como xerife corrupto é o gorducho Charles Watts. A notar em pequeno papel
William Henry, veterano ator que interpreta o médico de “O Álamo”, de John
Wayne. Em 1956 a canção “Os Pobres de Paris” fez um estrondoso sucesso no Brasil em gravação da Orquestra de Les Baxter. Esse mesmo Les Baxter, maestro-arranjador foi
o autor da trilha musical de “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida”, na qual se
ouve como não poderia deixar de ser a clássica abertura de “Guilherme Tell”, de
Rossini. Como bônus, nos créditos, é cantada a canção “Hi-Yo, Silver”, de
autoria do próprio Les Baxter.
Clayton Moore, o eterno The Lone Ranger. |
Injustiça
com o verdadeiro The Lone Ranger - Em 1958 Lesley Selander era um
cineasta com mais de uma centena de westerns ‘B’ em seu currículo, 22 deles aventuras
com o mocinho Tim Holt. Selander era o William Witney da RKO, realizando com
baixíssimos orçamentos excelentes pequenos faroestes. “Zorro e a Cidade Perdida de Ouro” comprova a competência de Selander pois é uma agradável aventura na qual não falta ação de boa qualidade. Filmado entre os muitos cactos de Tucson,
Arizona, esse bonito western representou o último filme da carreira de Clayton
Moore. Passando a viver de apresentações em eventos e festivais vestido como The Lone
Ranger, Clayton Moore viu-se proibido por George W. Tendle de usar a roupa do Justiceiro
Mascarado, especialmente a máscara preta. Trendle foi o criador do personagem The Lone Ranger, que levou ao rádio (1930-1954), à TV (1949-1957) e ao cinema onde surgiu pela
primeira vez em 1938 e reaparece agora numa superprodução da Buena Vista ao custo de 215 milhões de dólares. Clayton Moore, herói de tantos seriados da Republic
Pictures, entre eles “Os Perigos de Nyoka”, “A Volta de Jesse James”, “Aventuras
de Frank e Jesse James”, “Vingadores do Crime”, “O Cavaleiro Relâmpago” e, “O
Fantasma do Zorro” foi o maior responsável por ter tornado célebre o personagem
The Lone Ranger, que viveu na televisão em 169 episódios da série produzida por
George W. Tendle. O cinema não investiria novamente no Justiceiro Mascarado The
Lone Ranger se Clayton Moore não tivesse imortalizado o personagem na TV e por
que não, também no cinema com os dois ótimos faroestes que Moore interpretou.
eterno the lone range o faroeste mais eternizado dos faroestes b
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