UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

15 de julho de 2013

THE LONE RANGER (O ZORRO) E A CIDADE PERDIDA DO OURO, FAROESTE QUE VALE REVER


Gibis que inspiravam as crianças nos anos
50: acima o n.º 1 de 'O Zorro'; abaixo as
edições da Dell que publicou 'Tonto'.
Quem foi criança no Brasil nos anos 50 lembra do fascínio que o personagem ‘O Zorro’ exercia na petizada e também a frustração de se conhecer o herói apenas pelos gibis. Publicado mensalmente pela EBAL (Editora Brasil América Ltda.) esse gibi apresentava capas de grande beleza e aventuras quadrinizadas com o mocinho mascarado e seu cavalo branco chamado Silver, sempre na companhia do índio Tonto. E a frustração da meninada era porque nas matinês de domingo não eram exibidos filmes do Zorro. Parentes e amigos mais velhos falavam de filmes e seriados com um Zorro que usava chicote e espada, em quase tudo, diferente,  menos na máscara, daquele mocinho que montava o cavalo Silver. Comentava-se que Zorro e Tonto podiam ser vistos em filmes para a televisão, mas em meados da década de 50, somente as famílias mais abastadas possuíam televisores, o que mais aumentava a ansiedade de algum dia ver e ouvir o ‘Ai-Yo, Silver!’ no cinema. Finalmente em 1956 os pequenos fãs do mocinho das balas de prata puderam conhecer o ‘Zorro’ com o filme em cores “O Justiceiro Mascarado” que chegou aos cinemas. [Já resenhado aqui no WESTERNCINEMANIA] Dois anos depois foi exibida uma nova aventura do Zorro/Lone Ranger intitulada “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” (The Lone Ranger and the Lost City of Gold). Assim como aconteceu com o faroeste de 1956, essa nova aventura do Zorro, quer dizer, do The Lone Ranger, quer dizer, do Justiceiro Mascarado, compensou a longa espera.


O amuleto de prata - O cinema já havia tocado, em 1955, na lenda daquele tesouro perdido com o filme “Sete Cidades de Ouro”, estrelado por Anthony Quinn, Jeffrey Hunter e Rita Moreno. E agora era a vez do Zorro/Lone Ranger ir em busca da perdida cidade de ouro numa história que começa com a descoberta de um pequeno pedaço de prata que é parte de um amuleto indígena. Esse amuleto contém um mapa indicativo do caminho para uma cidade toda de ouro, o que desperta o interesse da bela e desonesta viúva Frances Henderson (Noreen Nash). Através seu amigo Ross Brady (Douglas Kennedy), que lidera um bando de celerados, Frances consegue reunir os cinco pedaços do amuleto que foram distribuídos entre índios da tribo chefiada por Tomache (John Miljan). Para consegui-las, Brady comete uma série de crimes que chamam a atenção do justiceiro The Lone Ranger (Clayton Moore) e de Tonto (Jay Silverheels). Disfarçado como um caçador de recompensas texano de nome Reagan, The Lone Ranger se aproxima de Frances e de Brady, descobre a trama e desbarata a quadrilha. Antes de gritar ‘Ai-Yo, Silver!’ e partir para novas aventuras, o Justiceiro Mascarado e seu amigo Tonto levam os índios à cidade de ouro perdida que, por direito, a eles pertence. 

Acima Noreen Nash e Charles Watts; abaixo
Ralph Moody, Lisa Montell e Dean Fredericks.
Meteorito no Velho Oeste - Nos anos 50 o gênero faroeste começou a perder espaço no cinema para a ficção-científica o que levou os escritores Eric Freiwald e Robert Schaefer a espertamente tentar dar um toque de modernidade ao enredo de "Zorro e a Cidade Perdida de Ouro”.  A origem da lenda do tesouro se deu quando tropas espanholas estiveram no sudoeste norte-americano sendo fulminadas por um meteorito que caiu no local onde estavam os conquistadores ibéricos. Antes de morrer, um capitão espanhol gravou em uma placa de prata um mapa indicativo da cidade de ouro que os espanhóis haviam descoberto. Esse medalhão acabou nas mãos do chefe índio Tomache que o dividiu em cinco partes, entregando cada uma dessas partes um membro de sua família, justamente os alvos da cobiça da dupla de vilões Frances Henderson e Ross Brady. Não bastasse a interessante ligação sci-fi-western, os autores da história inseriram nela o personagem Dr. James Rolfe (Dean Fredericks), neto do chefe Tomache e médico da cidade de Santorio. O Dr. Rolfe envergonha-se de sua origem índia e tenta escondê-la, ao mesmo tempo que auxilia os pobres da cidade de Santoria, entre eles outros índios. Além de seu conflito emocional, o Dr. Rolfe defronta-se ainda com o xerife Oscar Matthison (Charles Watts), implacável em sua intolerância racial. Essa mescla de sci-fi com racismo, psicologia e mistério faz de “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” um inesperado e diferente faroeste.

Clayton Moore disfarçado como
caçador de recompensas texano.
Western nem tanto para a familia - Este western de Lesley Selander é admirável em diversos outros aspectos como ao fazer referência à Ku Klux Klan e mostrar os bandidos com capuzes e não os tão comum lenços cobrindo seus rostos. Filme produzido para toda a família assistir reunida, assim como era a série de TV, “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” tem uma sequência de incrível violência quando Frances Henderson mata Ross Brady atirando e cravando um machado nas costas do cúmplice. Impressiona também a cena em que os índios torturam um bandido, fazendo-o alvo de suas flechas, para arrancar dele uma confissão. Assim como já havia acontecido em “O Justiceiro Mascarado”, The Lone Ranger (Clayton Moore) disfarça-se para se aproximar dos bandidos. No faroeste de 1956 Clayton Moore se faz passar por um velho e irreconhecível garimpeiro e desta vez seu disfarce o deixa parecidíssimo com Howard Keel (“Sete Noivas para Sete Irmãos”).

 
Bandidos mascarados como Ku Klux Klan; confissão sob tortura;
bandido assassinado de maneira violentíssima pela vilã da história.

O cavalo de Tonto com seu dono;
Charles Watts, Douglas Kennedy e
Lane Bradford, os bandidos.
Vilã sedutora - No elenco de “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” destaca-se Jay Silverheels com um de seus melhores e mais amplos desempenhos como Tonto o amigo de Kemosabe, participando intensamente das ações contra os malfeitores e tendo inclusive muitas e inteligentes falas. Como bom sidekick, Tonto se desentende às vezes com seu cavalo Scout (Escoteiro). A sedutora vilã da história é a bela e boa atriz Noreen Nash que teve curta carreira no cinema, que abandonou para ser apenas a esposa do Dr. Lee Siegel, conhecido como o psicanalista das grandes estrelas de Hollywood. Após a morte de Siegel, Noreen casou-se com o ator James Whitmore. A atriz que interpreta a índia Paviva é a polonesa Lisa Montell que, apesar de também bonita, não passou de promessa. O bom time de bandidos é liderado por Douglas Kennedy, acompanhado por Lane Bradford, filho do vilão dos seriados John Merton. Mas quem rouba mesmo a cena como xerife corrupto é o gorducho Charles Watts. A notar em pequeno papel William Henry, veterano ator que interpreta o médico de “O Álamo”, de John Wayne. Em 1956 a canção “Os Pobres de Paris”  fez um estrondoso sucesso no Brasil em gravação da Orquestra de Les Baxter. Esse mesmo Les Baxter, maestro-arranjador foi o autor da trilha musical de “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida”, na qual se ouve como não poderia deixar de ser a clássica abertura de “Guilherme Tell”, de Rossini. Como bônus, nos créditos, é cantada a canção “Hi-Yo, Silver”, de autoria do próprio Les Baxter.

Clayton Moore, o eterno The Lone Ranger.
Injustiça com o verdadeiro The Lone Ranger - Em 1958 Lesley Selander era um cineasta com mais de uma centena de westerns ‘B’ em seu currículo, 22 deles aventuras com o mocinho Tim Holt. Selander era o William Witney da RKO, realizando com baixíssimos orçamentos excelentes pequenos faroestes. “Zorro e a Cidade Perdida de Ouro” comprova a competência de Selander pois é uma agradável aventura na qual não falta ação de boa qualidade. Filmado entre os muitos cactos de Tucson, Arizona, esse bonito western representou o último filme da carreira de Clayton Moore. Passando a viver de apresentações em eventos e festivais vestido como The Lone Ranger, Clayton Moore viu-se proibido por George W. Tendle de usar a roupa do Justiceiro Mascarado, especialmente a máscara preta. Trendle foi o criador do personagem The Lone Ranger, que levou ao rádio (1930-1954), à TV (1949-1957) e ao cinema onde surgiu pela primeira vez em 1938 e reaparece agora numa superprodução da Buena Vista ao custo de 215 milhões de dólares. Clayton Moore, herói de tantos seriados da Republic Pictures, entre eles “Os Perigos de Nyoka”, “A Volta de Jesse James”, “Aventuras de Frank e Jesse James”, “Vingadores do Crime”, “O Cavaleiro Relâmpago” e, “O Fantasma do Zorro” foi o maior responsável por ter tornado célebre o personagem The Lone Ranger, que viveu na televisão em 169 episódios da série produzida por George W. Tendle. O cinema não investiria novamente no Justiceiro Mascarado The Lone Ranger se Clayton Moore não tivesse imortalizado o personagem na TV e por que não, também no cinema com os dois ótimos faroestes que Moore interpretou.



Um comentário:

  1. eterno the lone range o faroeste mais eternizado dos faroestes b

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