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22 de março de 2016

ESCREVEU SEU NOME A BALA (SHOTGUN) – STERLING HAYDEN, O XERIFE DA ESCOPETA


Rory Calhoun e Lesley Selander
Lesley Selander é reputado como o diretor que mais faroestes dirigiu, num total de 106 filmes do gênero, a maior parte deles westerns ‘B’ com Tim Holt, Hopalong Cassidy, Gene Autry, Bill Elliott e outros. Os faroestes de Lesley Selander eram, invariavelmente, acima da média e longe da rotina, mas trabalhando nesse desprezado segmento nem sempre seu talento foi notado. Selander começou sua carreira como assistente de direção em filmes de Fritz Lang, Howard Hawks, Sam Wood, sem dúvida, um aprendizado respeitável. Rubens Ewald Filho, em seu ‘Dicionário de Cineastas’ (1977), escreveu sobre Lesley Selander: “Na época em que Hollywood produzia faroestes Classe C em massa, Selander era um dos melhores diretores do gênero. Competente e discreto, está para ser descoberto pela maior parte da crítica”. Um bom filme para se ‘descobrir’ o talento de Lesley Selander é “Escreveu Seu Nome a Bala” (Shotgun), produção caprichada da pequena Allied Artists com 80 minutos de duração. A história foi escrita por Rory Calhoun e roteirizada por Clark Reynolds, tendo, mais uma vez, a vingança como tema central.


Disparos de escopeta e Sterling Hayden.
Um homem contra uma quadrilha - O bandido Ben Thompson (Guy Prescott) após cumprir pena de seis anos retorna a uma cidadezinha do Arizona com quatro capangas para se vingar do xerife Mark Fletcher (Lane Chandler), responsável por sua prisão. Thompson assassina Fletcher com dois tiros de escopeta (shotgun) disparados a queima-roupa. Clay Hardin é o assistente do xerife morto que sai no encalço do bando de Thompson. Durante a perseguição Hardin encontra o caçador de recompensas Reb Carlton (Zachary Scott) que pretende ganhar algum dinheiro matando membros da quadrilha perseguida, todos com a cabeça a prêmio. Por seu lado, Clay Hardin não se interessa pelas recompensas e sim por consumar a vingança. Hardin encontra Bentley (Robert J. Wilke), um dos assassinos, e junto com ele uma mulher de nome Abby (Yvonne De Carlo). Bentley tenta escapar mas é morto por Hardin, ficando com a incômoda incumbência de levar Abby junto com ele. Thompson é encontrado num acampamento Apache, onde está negociando armas com o chefe Delgadito (Paul Marion). Delgadito decide que os dois antagonistas se defrontem num duelo a cavalo, cada um com uma escopeta e uma única bala. Hardin mata Thompson e ao final leva Abby junto consigo para uma vida comum em seu rancho.

Serling Hayden e Zachary Scott;
abaixo Hayden e Yvonne De Carlo.
Recompensa e determi-nação - Impossível imaginar um faroeste lançado com o título ‘Escopeta’, tradução para ‘shotgun’ e o nome nacional “Escreveu Seu Nome a Bala” é muito mais atraente. E sorte daqueles que, atraídos pelo título nacional, assistem a esse western de Lesley Selander, filme que, se dirigido por Budd Boetticher e estrelado por Randolph Scott, receberia maior atenção. O filme se desenrola em torno da determinação de Clay Hardin para executar a vingança, capturando ou matando os assassinos de seu amigo xerife, mas a história de Rory Calhoun possui ainda outros elementos que a tornam mais interessante. A presença do ‘bounty hunter’ Reb Carlton cuja intenção conflita com a de Hardin não só em relação ao prêmio pelos bandidos, mas também em relação a Abby. (Nenhum outro ator consegue como Sterling Hayden demonstrar maior desinteresse por uma mulher como ele, mesmo que essa mulher seja a provocante Yvonne De Carlo com calças justíssimas e até despindo-se para um banho solitário. Solitário mas que não escapa aos olhares sôfregos de Zachary Scott.) Reb quer não só a recompensa mas também possuir Abby, o que acaba incomodando Clay Hardin.

Sterling Hayden e Guy Prescott na sequência do
duelo final.
Selander como Anthony Mann - Abby é uma mulher capaz de qualquer sacrifício para alcançar seus intentos, mesmo ligar-se momenta-neamente a um tipo asqueroso como Bentley. Uma das marcantes sequências de “Escreveu Seu Nome a Bala” é quando este bandido interpretado por Bob Wilke se vê prestes a ser mordido por uma cascavel, o réptil livrando-se da amarra que a prende a um toco e ele também preso no chão. Abby a tudo assiste também amarrada a uma árvore. Salvos por Hardin, Abby revolta-se com o tratamento recebido do homem da lei e tenta ajudar o bandido que é morto, com seu corpo desaparecendo ao boiar num rio. Sequência digna de Anthony Mann! O ódio de Abby se transforma em atração e, uma pena, de maneira não muito bem resolvida por Selander, mais preocupado com as sequências de ação. Sterling Hayden trava uma luta violenta contra Zachary Scott e o realismo da cena deve-se bastante à performance do dublê de Hayden, Bob Morgan, então marido de Yvonne De Carlo. Outra sequência espetacular de luta, mais lembrando os memoráveis seriados da Republic, é travada entre os atores Rory Manlisson e Ward Wood contra John Pickard e Al Wyatt (Sr.). O final de “Escreveu Seu Nome a Bala” reserva o emocionante confronto entre Hardin e Thompson, insólito para um western, e que demonstra ainda que os apaches são justos em seus julgamentos.

À esquerda Robert J. Wilke e Yvonne De Carlo (amarrada na árvore);
abaixo Wilke e uma cascável.

Sterling Hayden esbofeteia Yvonne De Carlo em ambas as faces.

Rory Mallinson em luta contra John Pickard.

A morte de Zachary Scott.
Cinismo e antipatia - Nos anos 50 Sterling Hayden era ainda um ator marcado por seu discutido envolvimento nos episódios que convulsionaram Hollywood sob o comando do senador Joseph McCarthy. Pairava o medo dos estúdios de contratar esse ator para produções mais ambiciosas, certos que o público mais bem informado não pagaria para vê-lo nos cinemas. Restou a Hayden pequenos projetos para ‘double features’ (programas duplos) como este “Escreveu Seu Nome a Bala” que o ator ajudou a transformar num quase perfeito western. Deixa a desejar a indecisão entre dia e noite da sequência da morte do xerife Fletcher, que ocorre à noite para na continuação Hardin atirar nos bandidos à luz do dia.  Yvonne De Carlo deixa de lado a simpatia que a fez famosa e interpreta uma mulher oportunista e irascível. Sua interpretação excessiva conflita com o estilo desleixado de Hayden.  Zachary Scott com o cinismo de sempre não foi uma boa escolha para o caçador de recompensas e sua melhor sequência, quando agoniza com uma flecha cravada em seu peito é pouco convincente. Robert J. Wilke morre na primeira meia hora do filme mas não precisava de mais tempo para se destacar com uma morte magnificamente encenada, entre tantas que esse ator viveu em sua carreira. Ressalte-se a ótima trilha musical de autoria de Carl Brandt que colabora para que “Escreveu Seu Nome a Bala” seja mais um merecido triunfo do diretor Lesley Selander.

Sterling Hayden e Yvonne De Carlo entre tapas e beijos.

A nudez de Yvonne De Carlo refletida na água; enfim juntos...


Esta cópia de “Escreveu Seu Nome a Bala” foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.


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