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27 de abril de 2015

CAMARADAS (JUST PALS) – ENCONTRO DE JACK (JOHN) FORD COM BUCK JONES


John Ford se iniciou no cinema como diretor na Universal, em 1917, dirigindo 35 filmes nesse estúdio, boa parte deles os westerns em parceria com Harry Carey como ator. Em 1920 John Ford, que usava o nome artístico de ‘Jack Ford’, conseguiu arrancar um aumento do sovina alemão dono da Universal, Carl Laemmle, passando de 150 dólares para 300 dólares por semana. Enquanto isso Harry Carey viu também seu salário dobrar só que de 1.250 dólares para 2.500 dólares semanais. A insatisfação de John Ford com a enorme diferença salarial entre ele e Harry Carey fez com que não só os dois deixassem de fazer filmes juntos, mas com que o diretor se mudasse para a Fox, com um contrato que lhe garantia 600 dólares toda semana. Na Fox, John Ford dirigiria mais de 50 filmes, tornando-se um dos mais admirados e premiados diretores do cinema norte-americano.

Carl Laemmle, William Fox, Jack (John) Ford e Harry Carey

Buck, diferente de Harry e de Tom - William S. Hart foi o primeiro verdadeiro grande mocinho do cinema e reinou absoluto até ver-se ameaçado pelo trio formado por Tom Mix, Harry Carey e Buck Jones. Após a I Guerra Mundial ocorreu o declínio da carreira de William S. Hart e o público espectador se dividia entre o extravagante Tom Mix, o sisudo Harry Carey e Buck Jones. Mais atlético que Carey e menos aprumado que Mix, Buck Jones era contratado da Fox, assim como o próprio Tom Mix. Com a chegada de John Ford ao estúdio, William Fox pensou em impulsionar ainda mais a carreira de Buck Jones confiando a ‘Jack’ a direção dos seus dois próximos filmes. Realizados ambos em 1920, o primeiro deles foi “Camaradas” (Just Pals), comédia dramática que não chega a ser um western autêntico, ainda que permita a Buck Jones mostrar suas habilidades como exímio cavaleiro. Buck também exibe a força de seus punhos e mais que isso, revela-se nas mãos de Ford um muito bom ator, o que os westerns rotineiros certamente não permitiam deixar perceber. 

Buck Jones, Tom Mix e William S. Hart

Buck Jones e Georgie Stone
De vagabundo a herói - Com roteiro de Paul Schofield baseado em história de John Mcdermott, “Camaradas” tem Buck Jones como Bim, o vagabundo da cidade que sente um brutal cansaço apenas vendo pessoas trabalhando. Mas apesar de desprezado por todos, o indolente Bim tem bom coração e se condói quando vê o menino Bill (Georgie Stone) ser maltratado pelo guarda da estrada de ferro. Bill é um pequeno hobo (vagabundo que viaja escondido nos trens) que desperta em Bim uma inusitada responsabilidade e desejo de abandonar o ócio. Quem também contribui para isso é Mary Bruce (Helen Ferguson), a professora da escola local, por quem Bim se sente atraído. Mary Bruce namora Harvey Cahill (William Buckley), um desonesto funcionário que dá um desfalque na empresa em que trabalha. Descoberto, Cahill recorre então a Mary Bruce pois sabe ela guarda o dinheiro do fundo da escola, quantia que acaba nas mãos do embusteiro namorado. Cahill trama com bandidos um roubo ao banco da cidade, assalto que é evitado por Bim que ainda consegue resolver o sequestro de um rico menino. Por sua coragem Bim é recompensado com dez mil dólares e também com a admiração de Mary, com quem inicia uma nova vida.


Georgie Stone e Buck Jones.
Forma-se o estilo de Ford - “Camaradas” é uma das raras películas da fase inicial de John Ford que sobreviveram ao tempo, tornando-se por isso mesmo indispensável para os que estudam a obra do diretor ou simplesmente gostam seus filmes. Nos 50 minutos de duração de “Camaradas” é perceptível o estilo que Ford desenvolveria poucos anos depois, assim como a influência inevitável dos dramas de David W. Griffith. Estão presentes a narrativa simples e concisa e a direção de atores segura. E que não se pense que o filme de Ford copia Chaplin na relação entre o vagabundo e uma criança pois “Camaradas” foi filmado um ano antes de “O Garoto”, do genial Carlitos. Ao contrário deste, o sentimentalismo em “Camaradas” é mais contido e a mão de Ford para a comédia é muito pesada se comparada à graça de Chaplin. As gags do filme de Ford são explicadas através dos letreiros pois visualmente elas não funcionam a contento. A obra de John Ford é comumente chamada de ‘Americana’, ou seja, é um conjunto de fatos, histórias e folclore que perfazem a cultura e comportamento do povo norte-americano. Em “Camaradas” Ford começa a penetrar no delicioso universo do cidadão simples que desenvolveria esplendidamente nos filmes que fez com Will Rogers e que teria sua culminância dramática com o Tom Joad de “Vinhas da Ira”.


Duke R. Lee, Helen Ferguson e Buck Jones.
Buck Jones, mais que um valente cowboy - Primeiro filme de John Ford contando com George Schneiderman como cinegrafista, parceria que teve o apogeu com “O Cavalo de Ferro” (The Iron Horse), em 1925 e em “Três Homens Maus” (3 Bad Men), em 1926. Buck Jones está excelente como o desleixado e vadio personagem que se torna herói. E Buck é uma agradável surpresa para quem se acostumou vê-lo apenas como o destemido defensor da lei e da ordem distribuindo sopapos nos bandidos. O menino Georgie Stone, então um veterano do cinema aos 11 anos de idade, parece um pouco crescido para o desafortunado personagem infantil. A mocinha é Helen Ferguson e como era comum nos filmes da época, frágil e graciosa. Em praticamente todos os filmes silenciosos, as caracterizações são caricatas e “Camaradas” não foge à regra, sendo o melhor exemplo o xerife que não perde uma só oportunidade para afirmar que “A lei vai se encarregar do problema”. Ressalte-se a qualidade da cópia e a trilha musical adicionada a esta edição de 2007 do filme de Jack (John) Ford.

Cenas de "Camaradas", vendo-se Buck Jones; Buck e Georgie Stone;
o assalto ao banco e bandidos em disparada.




2 comentários:

  1. Oi!
    Realmente uma delícia de filme, o primeiro que assisti com o lendário e carismático Buck Jones.É muito prazeroso assistir essa aventura, dos primórdios da carreira do grande Ford, de clima saborosamente inocente. Quem quiser conhecer essa pérola, o filme tá disponível no Youtube.
    Abraco, Darci!
    Robson

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  2. Olá, Darci!

    Inspirado pelo seu artigo, acabei de rever esta pérola em média-metragem. É o típico cinema que gosto de ver. Sem mais.

    Abraço!

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