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16 de abril de 2015

“RIO BRAVO” X “EL DORADO” – QUAL O MELHOR ELENCO?


Howard Hawks
Sem o menor acanhamento Howard Hawks recontou em “El Dorado” (1966) a mesma história que havia filmado seis anos antes com o título “Rio Bravo” (“Onde Começa o Inferno” no Brasil). E para não correr riscos quanto ao sucesso desse novo western, Hawks chamou John Wayne para o papel principal. Uma das razões do êxito de público e crítica de “Rio Bravo” foi, sem dúvida, o elenco principal que pode ser chamado de quase perfeito. “El Dorado” foi muito bem recebido, tendo obtido boas críticas e êxito de público. Inferior a “Rio Bravo”, de modo geral foi atribuído ao harmonioso elenco de “El Dorado” a responsabilidade pelos muitos bons momentos desse western com a mesma história. E acompanhando John Wayne estavam no ‘remake’ Robert Mitchum como o sheriff beberrão anteriormente interpretado por Dean Martin; para o lugar do velho e desdentado Stumpy criado por Walter Brennan foi chamado Artur Hunnicutt; o jovem Colorado (Ricky Nelson) virou Mississippi, interpretado por James Caan; a irresistível Feathers de Angie Dickinson foi substituída por Charlene Holt; os irmãos Joe e Nathan Burdette, respectivamente John Russell e Claude Akins tiveram como correspondentes em “El Dorado” Edward Asner e Christopher George.

Wayne, Mitchum e Brennan - Assim como o cotejo entre esses dois faroestes de Howard Hawks é inevitável, normal também é a confrontação entre os elencos, a começar por John Wayne. Na obra-prima que é “Rio Bravo”, John Wayne pouco mais faz que flanar preguiçosamente pelo filme todo; em “El Dorado” o Duke mostra que sabe ser engraçado quando é preciso, além de se sair muito bem nas sequências em que sofre dores lancinantes devido à bala alojada em sua coluna. Dean Martin é um ator adorável e que torna tudo fácil e simples, como fez em “Rio Bravo”, filme que ajudou a consolidar sua carreira depois de ser eterna ‘escada’ de Jerry Lewis. Mas se Dino é bom em tudo que faz, Robert Mitchum é membro da lista seleta dos atores extraordinários que Hollywood produziu através de sua história. E em “El Dorado” Bob mostra que é tão engraçado quanto pode ser intimidante e sinistro como em “O Mensageiro do Diabo” e “O Círculo do Medo”. Na comparação Mitchum ganha de Martin. Walter Brennan criou em “Rio Bravo” uma antológica caracterização como o irascível aleijado Old Stumpy, sempre às turras com John T. Chance (John Wayne). O ótimo Artur Hunnicutt, invariavelmente relegado a personagens caricatos e irrelevantes, está ótimo como Bull, uma espécie de Davy Crockett engraçado, mas, como não poderia deixar de ser, sem possibilidade de comparação com Brennan.


James Caan e Angie Dickinson - Se há um ponto fraco no elenco de “Rio Bravo” é Ricky Nelson que pôs a perder o personagem Colorado que poderia ter sido muito melhor; muito melhor é o atirador de facas Mississippi interpretado por James Cann, aos 26 anos e em um de seus primeiros filmes. Caan brilharia intensamente seis anos depois como Sonny Corleone em “O Poderoso Chefão” e, de goleada, Mississippi é melhor que Colorado. Angie Dickinson é simplesmente uma das personagens femininas inesquecíveis do gênero western, mesmo sem que sua Feathers seja leve e sem a intensidade dramática que tanto agrada os críticos que se esquecem que fazer comédia é igualmente difícil. Charlene Holt em “El Dorado”, um pouco mais madura tem a mesma missão de conquistar John Wayne. É até covardia perguntar se alguém trocaria a irresistível Angie Dickinson por Charlene Holt?


Os vilões de “El Dorado” - Claude Akins, o provocador e irreverente Joe Burdette está esplendido em “Rio Bravo”, assim como ótimo está Christopher George, o amedrontador bandido Nelse McLeod de “El Dorado”. Christopher George, porém, tenta mesclar o Jack Wilson de “Shane” (Jack Palance) com o Liberty Valance de Lee Marvin, ainda que sem atingir a notável culminância daqueles dois lendários vilões do cinema. Pelo maior tempo em cena, prevalece Christopher George. Exigua também a participação do formidável John Russell em “Rio Bravo”, enquanto Edward (Ed) Asner consegue mostrar o quanto perverso poderia ser como vilão no cinema. Mais dedicado às séries de TV, uma delas como o inesquecível ‘Lou Grant’ diretor da emissora de televisão de Minneapolis da série “Mary Tyler Moore”, Ed Asner leva uma violenta coronhada de Robert Mitchum, sequência que bastaria para que vencesse o duelo de comparações com John Russell.



“Eldorado” 5 X “Rio Bravo” 2 – Ao final da comparação “Eldorado” tem grande vantagem sobre “Rio Bravo” que só teve interpretações superiores de Walter Brennan e Angie Dickinson. Esse fato leva a uma conclusão: Howard Hawks é mesmo um grande diretor pois com um elenco ou inferior ou não tão bem aproveitado, foi capaz de realizar um western onde tudo é perfeito. Ou quase descontada a fraca participação de Ricky Nelson. “Eldorado” vale pelo show de interpretações, especialmente as de Robert Mitchum e John Wayne, encontro de duas lendas do cinema.

Foto feita num intervalo das filmagens de "Rio Bravo" vendo Walter Brennan
e Ricky Nelson nas extremidades com técnicos no meio;
à frente Dean Martin, Howard Hawks e John Wayne.

Hawks e o Duke; John Ford em visita às filmagens de "El Dorado",
conversando com Hawks e com a atriz Michelle Carey.

Elenco de "Rio Bravo" publicado na resenha do filme neste blog.

4 comentários:

  1. Oi, Darci!

    Na minha “humirde” opinião:

    John T. Chance (John Wayne) X Cole Thornton - John Wayne como John T. Chance.Aparentemente o ator está na sua costumeira “persona John Wayne", mas o xerife de Rio Bravo é um dos personagens mais ternos e humanos de Wayne no western , Sean Thorton de "Depois do Vendaval" não conta, não é faroeste. Compreensivo, Chance levas dois bofetes de Dude durante o filme e não revida, compreendendo a doença do amigo, quando geralmente Wayne é o primeiro a sair distribuindo socos, como prova a foto dele dando um soco em Mitchum na matéria acima, e alguns pontapés; carrega Feathers no colo quando ela adormece ao estar de vigia; leva algumas broncas de Stumpy e baixa a cabeça, fazendo cara de cachorro pidão; “paizão”, tenta o que pode para que seus amigos não se envolvam no conflito contra os Burdettes; Chance não é o “gatilho mais rápido do Oeste”, aliás, nem pistola ele usa, mas um rifle, é apenas um homem honesto e corajoso querendo fazer o certo; até nas cenas engraçadas há ternura, como no inesperado beijo que ele tasca na testa de Stumpy. Já em “El Dorado", Thorton é interpretado na mais pura “persona Wayne", sendo um dos melhores pistoleiros; dando ordens a torta e a direita, como bem reclama Mississippi;distribuindo socos e pontapés. Mais humanizado que o normal, sim, mas devido as ocorrências e para funcionalidade na narrativa, a paralisia temporária e deslealdade com que mata seu grande rival McLeod, mas não que seja próprio do personagem. A atuação e o personagem de Wayne em Rio Bravo é como uma das magias deste clássicaço, é enganadoramente simples.

    Dude (Dean Martin) X J.P. Harrah (Robert Mitchum) - Dean Martin como Dude. Aqui o páreo é duro. Mas fico com Martin por Dude se mais verossímil que Harrah como bêbado, quem vê o xerife de El Dorado, confiante, corajoso e sensato na primeira parte do filme, custa um pouco a acreditar, ainda mais em tão pouco tempo, que o sujeito teria uma queda tão drástica, talvez percebendo isso, Hawks investe mais no humor com Mitchum. Já Martin tem personagem que tem um melhor equilíbrio entre drama e humor, fora que sua atuação é mais comovente sobre a doença do personagem. Mas duas cenas para mim são decisivas para vitória de Martin: a primeira, a sensacional e estilizada cena inicial, praticamente muda, só com o som ambiente, em que Martin mostra todo o desespero e decadência de um alcoólatra por um trago, chegando inclusive ao humilhante, quase pegando uma moeda numa escarradeira e agredindo irracionalmente seu melhor amigo, tudo isso com gestos e olhares, sem pronunciar uma palavra; a segunda, bom, o cara canta e eterniza “My rifle, my pony and me”.

    Stumpy (Walter Brennan) X Bull (Arthur Hunnicutt) - Walter Brennan como Stumpy. Hunnicutt também é ótimo, mas Brennan é, provavelmente, o maior ator coadjuvante do cinema americano, além disso, Stumpy é muito mais humano, com um relacionamento mais interativo com os demais personagens, ao contrário de Bull, que é mais caricato.

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    1. Robson, quem não gosta de Dean Martin? Só se for ruim da cabeça, do pé, do ouvido, da alma, sei lá... Mas Bob Mitchum quando está disposto a atuar, como em 'Eldorado' é insuperável. John Wayne que o diga depois de ficar assistindo a interpretação de Mitchum. a impresão que dá é que o montanhês Bull só foi colocado no filme para empatar o grupo com 'Rio Bravo'. - Darci.

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  2. Colorado (Ricky Nelson) X Mississippi (James Caan) - James Caan como Mississippi. Aí não tem como Nelson vencer, ele não era ator, Caan, sim. Mestre Hawks ainda que aproveita bem a inexperiência do cantor como intérprete para passar a inexperiência da juventude de Colorado, mas, mesmo assim, Nelson é um tanto duro como ator. Já Caan, em sua segunda parceria com Hawks, depois de Faixa Vermelha 7000, além de passar com com brilho a inexperiência e a afoiteza da juventude de seu personagem, é muito engraçado quando a situação pede. Nesse caso, nem Nelson cantando duas músicas salva a situação dele.

    Feathers (Angie Dickinson) X Maudie (Charlene Holt) - Angie Dickinson como Feathers. Aqui não tem comparação nem as personagens e nem as interpretações, já beleza... Bom, Angie tem uma personagem muito mais desenvolvida e com uma relação mais interativa com os demais personagens e a trama principal, além de sua maravilhosa interpretação num misto perfeito de sensualidade, ternura e humor. A bela Holt é ótima, de se ver, pois interpretando passa tanta emoção quanto um manequim, a cena no início em que ela diz que deseja ficar com o personagem de Wayne, é tão convincente quanto um chuchu. Já Dickinson toda vez que diz “John T." toda sensual, com um ênfase delicioso no T, dá vontade de xingar Wayne por ser tão devagar. Ai, ai. Imagino ela dizendo “Robson” com ênfase no On... Hããã... Vamos pro próximo.

    Nathan Burdette (John Russell) X Bart Jason (Edward Asner) - Edward Asner como Bart Jason. Nesse caso é por mais tempo em cena, pois no pouco tempo que Russel aparece, passa perfeitamente a ideia do ricaço poderoso, que faz as próprias leis, como bem demonstra sua feição de soberba na foto dessa matéria.

    Joe Burdette (Claude Akins) X Nelse McLeod (Christopher George) - Christopher George como Nelse McLeod. Akins é um tremendo ator, principalmente quando faz vilões, mas também tem pouco tempo em cena, apesar que no pouco aparece, é inesquecível. Como não sentir raiva dele, principalmente na sensacional sequencia inicial, em que, sem diálogos, só com aquela risada debochada e sinistra, provoca toda a confusão que dá início a trama. Mas o pistoleiro de McLeod é um dos personagens mais interessantes que já vi num faroeste, com um código próprio, vilão, só que por força da ocasião, e George passa ao mesmo tempo em sua interpretação ameaça e cavalheirismo, é sensacional como, toda vez que ele divide a cena com Wayne, transmite respeito e uma ansiedade por enfrentar seu adversário.

    Abraço.
    Robson

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    1. Robson, Edward Asner não daria para a saída como vilão de faroestes comparado com John Russell, mas Rio Bravo já ficou longo demais sem muito tempo de Russell na tela. Quase empate entre os ótimos Claude Akins e Christopher George. Outra vez pesou a dimensão do papel, mas o cinismo de Burdette e Walter Brennan o ameaçando são sequências inesquecíveis. Angie e Cann, fácil demas. Abraço do Darci.

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