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19 de janeiro de 2015

A ÚLTIMA ETAPA (QUANTEZ) – DOROTHY MALONE DISPUTADA NUMA CIDADE FANTASMA


Dorothy Malone e Fred MacMurray
em "Mancha de Sangue".
O nome do diretor Harry Keller é familiar para os fãs dos westerns em série da Republic Pictures pois foi ele o diretor dos últimos faroestes dos mocinhos Allan ‘Rocky’ Lane e Rex Allen para aquele estúdio. Findo esse ciclo Harry Keller prosseguiu carreira na Universal Pictures dirigindo Audie Murphy e Fred MacMurray duas vezes cada, ambas as vezes em westerns. MacMurray era um ator que se sentia bem mais à vontade de terno e gravata em dramas ou comédias que cavalgando pelo Velho Oeste. Estão aí para comprovar esse fato os clássicos “Pacto de Sangue” (1944) e “Se Meu Apartamento Falasse” (1960). Mas parece que os produtores entendiam diferente pois Fred MacMurray estrelou nada menos que oito westerns entre os anos de 1955-1959. Dois deles ao lado da fascinante Dorothy Malone. O primeiro foi “Mancha de Sangue” (At Gunpoint) em 1955 e em 1957 foi a vez de “A Última Etapa” (Quantez) reunir MacMurray e Dorothy. Uma pena que a direção deste último tenha sido entregue a Harry Keller.


Duelo fatal em Quantez; abaixo John
Larch, John Gavin, Fred MacMurray.
Cerco na cidade fantasma - “A Última Etapa” tem roteiro de R. Wright Campbell e começa com quatro homens e uma mulher fugindo rumo ao México, perseguidos por uma patrulha, após terem assaltado um banco. O líder do grupo é Heller (John Larch) que trouxe na fuga sua namorada Chaney (Dorothy Malone). Os outros homens são o pistoleiro John Coventry (Fred MacMurray) que mudou seu nome para Gentry para evitar ser reconhecido; Gato (Sidney Chaplin) e Teach (John Gavin). Ao anoitecer o grupo se refugia num lugarejo denominado Quantez que está abandonado há algum tempo, sem viva alma no local. Os habitantes de Quantez foram expulsos pelos apaches chefiados por Delgadito (Michael Ansara) e este espera pela aurora para atacar o bando de ladrões de banco que ali se instalou. Heller reuniu seu bando metodicamente pois Gentry é conhecedor daquela região que levaria ao México; Teach foi escolhido por alardear ser rápido no gatilho; Gato é um branco que foi criado por apaches e seria útil diante da presença dos apaches hostis. Gato porém faz contato com Delgadito passando a informar o chefe índio sobre as ações do bando. Descoberto como espião, Heller golpeia Gato e ao raiar do dia seguinte tenta atirar em Teach mas é baleado por Gentry. Os dois sobreviventes e mais Chaney fogem a cavalo perseguidos pelos apaches até uma depressão de terra. Para atravessar o local havia uma ponte que está parcialmente destruída. Enquanto Teach e Chaney tentam escapar Gentry permanece do lado em que estão os índios, enfrentando-os. Gentry é morto mas possibilita a fuga do casal.

Fred MacMurray e John Gavin
Terra dos homens maus - Este western de Harry Keller possui alguns aspectos que poderiam torná-lo bastante interessante. Não há heróis e todos os personagens são maus: John Coventry é um ex-pistoleiro responsável por muitas mortes e que pretende mudar de vida após o roubo ao banco. Para isso adota um novo nome mas acaba sendo reconhecido por um velho aventureiro misto de menestrel e pintor chamado Puritan (James Barton); Heller é um assassino frio que matou desnecessariamente uma pessoa durante o assalto ao banco e visa ficar com o dinheiro só para ele; Teach é um mentiroso que se faz passar por pistoleiro sem jamais ter enfrentado ou atirado em alguém; Gato quer a morte dos companheiros de assalto para dividir o dinheiro meio a meio com os apaches; a ex-saloon girl Chaney, por sua vez, detesta Heller que se considera dono dela enquanto a moça assedia cada um dos homens visando fugir de Heller. Delgadito, depois de utilizar as informações de Gato pretende matá-lo também porque sabe que Gato não comunga a causa dos apaches, mas sim a própria. Como não poderia deixar de ser, aos poucos a tensão entre os homens cresce e para isso também contribui a presença provocadora de Chaney. Os quatro homens facilitam o trabalho de Delgadito ao iniciar a autodestruição do grupo.

Belíssimo pôster de "A Última Etapa", com destaque para Dorothy Malone.

Diálogos de "A Última Etapa".
Filme claustrofóbico - Outro aspecto de “A Última Etapa” que poderia resultar satisfatório é o ambiente claustrofóbico em que se passa a quase totalidade do filme: o saloon de Quantez. Faroestes muito bons como “Céu Amarelo” (Yellow Sky), de William A. Wellman e “Os Mal Encarados” (Ambush at Tomahawk Gap), de Fred F. Sears também transcorrem em ambientes semelhantes. Porém o roteiro excessivamente dialogado e repleto de frases insonsas e ainda a falta de ação acaba, tornando o filme cansativo. Ameaças são feitas o tempo todo dentro do saloon e a cada momento alguém corre risco de morte sem que nada aconteça. Há uma boa cena de luta entre os personagens de John Larch e John Gavin e no final as mortes de Larch e Sidney Chaplin. O clímax que seria o final com John Coventry/Gentry enfrentando os apaches e ajudando Chaney e Teach a alcançar o outro lado da enorme fenda é despido de emoção. E tudo isso se passa nos dez minutos finais, valendo lembrar que dos 80 minutos que o filme dura apenas dez minutos foram filmados a céu aberto e com luz natural. Faroestes de estúdio já bastam os das séries de televisão com seus reduzidíssimos orçamentos. Este filme foi feito para o cinema e em Cinemascope, ainda que a cópia lançada seja em tela 3x4 e tenha contado com direção de arte do competente Alfredo Ybarra.

A linda Dorothy Malone
Nem Dorothy Malone escapa - Poderia haver a prenissa que com Dorothy Malone no elenco nem tudo está perdido! Não é bem assim. A sedutora atriz, que como poucas é capaz de interpretar uma mulher que já conheceu muitos saloons e incontáveis homens, não é suficiente para segurar um filme que após meia hora se mostra insuportavelmente modorrento. Dorothy, que um ano antes havia recebido um Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante se vê obrigada a fazer caras e bocas e a dar gritinhos histéricos como se estivesse num filme de terror. Melhor sorte Dorothy teria em seus dois próximos faroestes, nos quais atingiu o apogeu de sua deslumbrante beleza madura: “Minha Vontade é Lei” (Warlock) e “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), respectivamente de 1959 e 1961. Para piorar um pouco as coisas em "A Última Etapa", essa cópia distribuída pela DVD Talent foi gravada a partir de uma sofrível cópia em VHS com legendagem feita por alguém pouco familiarizado com o idioma Português. A exuberância de Dorothy surge em imagens desbotadas que a DVD Talent não se envergonha de colocar à venda. A bela atriz chega a cantar alguns versos de uma canção intitulada “True Love”, que nada tem a ver com a clássica “True Love” de autoria de Cole Porter.

Dorothy com Fred MacMurray, com Sidney Chaplin e com John Gavin.


Acima John Gavin,
abaixo Michael Ansara.
A canção do pistoleiro - Em contraste com a qualidade técnica e com o ritmo monótono de “A Última Etapa”, o reduzido elenco é bastante bom, a começar por Fred MacMurray convincente sem se esforçar muito para isso. . John Larch interpreta o pior dos homens maus, o que para ele não é difícil. Rara oportunidade para se ver Sidney Chaplin, único filho do casamento de Carlitos com Lita Grey, atuando num faroeste. O sírio Michael Ansara, mais uma vez, interpreta um indígena, ele que certamente é um recordista nessa categoria. O veterano James Barton tem uma marcante aparição como o estranho ‘Puritano’ e é ele também quem canta a canção “The Lonely One” ouvida durante a apresentação dos créditos. Durante o filme Barton volta a cantar essa canção cujos versos fazem referência à vida do pistoleiro John Coventry (Fred MacMurray). Surpresa é ver John Gavin, que Alfred Hitchcock detestou dirigir em “Psicose” não comprometer num faroeste. John Gavin, que a Universal lançou como substituto de Rock Hudson participou de alguns poucos filmes, entre eles “Spartacus” e anos mais tarde se tornou embaixador norte-americano no México durante o governo Reagan, de quem era amigo. Uma curiosidade sobre John Gavin é que ele fez questão de aprender a Língua Portuguesa para poder ler “Os Lusíadas” no original. Gavin deve lembrar de boa parte das épicas estrofes da obra de Camões, mas certamente “A Última Etapa” não deve ter ficado em suas melhores lembranças como ator.

Fred MacMurray e John Larch

Foto para publicidade com MacMurray e Dorothy; descanso nas filmagens e
pés na tina para refrescar: Fred, Larch, Gavin e Chaplin ao redor de Dorothy.

4 comentários:

  1. ...grande resenha, como sempre amigo Darci ! Só uma ressalva: pra mim, a Dorothy mantém qualquer filme interessante até o fim..hehehe...

    Grande abraço e até o próximo encontro !!

    Beto M.

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    Respostas
    1. Pois é, amigo Beto, a maior razão para se chegar até o fim deste western é justamente a presença de Dorothy Malone. - Abraço do Darci.

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  2. Olá, Darci!
    Pela qualidade técnica deficiente e má distribuição do filme no Brasil, descritas por você em seu texto, compreendo melhor porque este western permanecia até então desconhecido para mim. Valeu pela descoberta!
    Um abraço!

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  3. O filme,pelo menos minha cópia,não está muito boa ! E o filme se arrasta um pouco naquela cabana. Mas,como já disseram,vale pela Dorothy !!

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