Glendon Swarthout ao lado de Gary Cooper durante as filmagens de "Heróis de Barro". |
Glendon
Swarthout foi um professor universitário que participou da II Guerra Mundial
como observador e com a missão de recolher informações sobre atos de bravura
dos soldados em batalha. Esses soldados, quase sempre mortos em combate,
recebiam postumamente a Medalha de Honra do Congresso norte-americano.
Swarthout escreveu os livros “7.ª Cavalaria” e “The Shootist”, que foram
levados ao cinema em filmes estrelados respectivamente por Randolph Scott e
John Wayne. “The Shootist” teve o título nacional “O Último Pistoleiro”. Em
1958 Glendon Swarthout escreveu “They Came to Cordura”, que se tornou
imediatamente best-seller e teve os direitos de filmagem adquiridos pelo
produtor William Goetz que pagou a Swarthout 250 mil dólares. Esse alto preço
foi pago pela certeza que Goetz tinha que “They Came to Cordura” seria um
sucesso de público. Sem poupar gastos o produtor contratou Gary Cooper, um dos
atores mais bem remunerados de Hollywood. Cooper liderou um elenco com diversos
nomes famosos, entre eles Rita Hayworth. A adaptação cinematográfica ficou a
cargo de Ivan Moffat (produtor associado de “Os Brutos Também Amam/Shane”) e de
Robert Rossen, roteirista e diretor, famoso pelos filmes “A Grande Ilusão” e
mais tarde “Desafio à Corrupção”. Rossen foi o diretor de “They Came to Cordura”,
que no Brasil recebeu o título “Heróis de Barro”.
Candidatos a heróis - A
história de “Heróis de Barro” se passa em 1916 quando a Cavalaria
norte-americana investiu contra as forças de Pancho Villa após sofrer um ataque
em Columbus, Novo México. O major Thomas Thorn (Gary Cooper) é designado para
observar a tomada de um reduto ocupado por villistas e relacionar soldados que
tenham cometido atos de bravura para receberem a Medalha de Honra do Congresso.
O próprio Thomas Thorn havia, na batalha de Columbus, se acovardado e se
escondido durante a refrega. Cumprindo sua missão Thorn testemunha atos de
heroísmo por parte do tenente Fowler (Tab Hunter), do sargento Chawk (Van
Heflin), do cabo Trubee (Richard Conte), e do soldado Renziehausen (Dick York),
indicando-os para a comenda. Outro indicado foi o soldado Hetherington (Michael
Callan) por bravura em batalha anterior. O coronel Rogers (Robert Keith) que comandou a
investida contra os villistas pede a Thorn que o indique também para que o
Congresso lhe conceda a medalha. Não atendido ordena a Thorn que conduza o
grupo de cinco heróis até a base de Cordura. Junto com os militares irá também
Adelaide Geray (Rita Hayworth), dona da pousada em Ojos Azules, onde estavam os
guerrilheiros mexicanos e considerada prisioneira por ajudar os soldados de
Pancho Villa. Durante o trajeto até Cordura o grupo sob as ordens de Thorn
descobre a real finalidade da viagem e se revoltam contra o major pois tornar
público seus atos de heroísmo contraria seus interesses pessoais. Thorn, no
entanto, não abre mão de levá-los à base militar, mesmo com toda sorte de
ameaças e agressões que passa a sofrer por parte do grupo. A árdua jornada
termina com a chegada do extenuado grupo a Cordura.
Acima Rita Hayworth; abaixo Gary Cooper e Edward Platt. |
Fracasso de bilheteria - “Heróis
de Barro” teve uma produção acidentada com mudança forçada de locação durante
as filmagens, o que levou o custo do filme a ultrapassar os quatro milhões de
dólares. Concluído após dez semanas que esgotaram todos que participaram da
produção, o filme foi lançado com 148 minutos de duração em junho de 1959. O
esperado êxito de bilheteria se transformou num dos grandes fracassos do ano, o
que levou a Columbia a distribuir “Heróis de Barro” com a metragem reduzida para
123 minutos, reeditando o filme contra a vontade do roteirista-diretor Robert
Rossen. Mesmo com a redução o público não se interessou pelo western épico que
discutia os temas de coragem e covardia. “Heróis de Barro” praticamente
desapareceu de circulação, sendo esquecida sua exibição até mesmo pela
televisão e só depois de quase 40 anos foi lançado em VHS. Um triste destino
para este que foi o 26.º e derradeiro western da carreira de Gary Cooper que
viria a falecer em 1961, aos 60 anos de idade.
Acima Richard Conte, Dick York, Michael Callan e Van Heflin; abaixo Conte, York e Callan. |
Covardia e coragem - No filme
os militares que devem receber a comenda pelo heroísmo de suas ações confessam
que agiram por impulso e não por se sentir com coragem suficiente. Nenhum deles
se considera herói e à medida que passam pelas provações da jornada, parte dela
a pé e por uma região árida, afloram as índoles reais de cada um. Revelam-se
rancorosos, traiçoeiros e, com a presença de uma mulher entre eles, até mesmo
estupradores. Por seu lado, o major Thorn, descoberta sua covardia em batalha
passada e torturado por sua própria consciência é quem demonstra coragem. Thorn
não só é um homem de inquebrantável fibra no cumprimento do dever, mas a cada
ato e palavra demonstra caráter e dignidade diante de situação adversa e de
consecução aparentemente impossível. A longa discussão no filme de Rossen a
respeito do que é coragem e do que é covardia conclui que nem sempre os heróis
são de fato homens de coragem. E que o verdadeiro heroísmo não é demonstrado durante
o risco iminente e inerente das batalhas, mas sim em situações em que o moral
psicológico e físico é colocado a prova em meio a inimigos que podem estar do
mesmo lado.
Rita |
O sofrimento de Gary Cooper, ajudado somente por Rita Hayworth. |
Rita e Gary |
Rita, uma atriz de verdade - Este tipo
de filme é tudo que os atores normalmente desejam pois possibilitam criar
personagens com aprofundamento psicológico e a exposição de deformidades
morais. Van Heflin é o mais odioso dos personagens de “Heróis de Barro” e está
ótimo como o sargento brutal que rejeita a medalha para não ser reconhecido por
crime praticado quando vivia em Albuquerque. Richard Conte desempenha bem o
cabo que propõe a troca do segredo da covardia do major Thorn para satisfazer
sua avidez sexual com Adelaide. Tab Hunter que poderia ser o destaque entre os
coadjuvantes desperdiça boa oportunidade para mostrar que não era só mais um
galã em Hollywood. Dick York, Michael Callan e o excelente Robert Keith completam
o elenco principal que tem ainda a presença de Edward Platt antes de se tornar
o chefe dos atrapalhados Agentes 86 e 99 em “Get Smart”. Motivo de enorme
contentamento é ver Rita Hayworth demonstrar a excelente atriz que era, ela que
se celebrizou pela beleza e sensualidade. Adelaide Geray é um papel perfeito
para Rita com certas semelhanças com a própria vida da atriz, no qual marcaram
presença o álcool e a violência masculina. Aos 40 anos de idade e doze anos
depois de “Gilda”, Rita havia perdido parte da fulgurante beleza, mas o poder
de sedução se mostrava inalterado.
No alto Rita Hayworth e Van Heflin; Michael Callan e Rita Hayworth; abaixo Rita com Tab Hunter e Richard Conte. |
Gary Cooper |
Gary Cooper para ninguém colocar defeito - Não são poucos aqueles que
consideram Gary Cooper um ator de um único personagem: ele próprio. O método de
atuar de Cooper não arrebata mas “Heróis de Barro” é outra prova do talento
interpretativo de Gary. Certo que não foi uma escolha das melhores para o
personagem do major Thorn, que no livro de Glendon Swarthout é homem de pouco
mais de 30 anos. Por isso mesmo Cooper encontrou dificuldade para dar
credibilidade ao personagem. Mais sofrido ainda que em sua criação como ‘Will
Kane’, Cooper padeceu de terríveis dores nas costas durante toda a filmagem de
“Heróis de Barro”, o que tornou mais realista sua interpretação como o major
Thorn. E para os fãs de faroestes, seus últimos trabalhos no gênero mostraram
Gary Cooper ainda melhor que em “Matar ou Morrer”. A suas grandes performances
em “O Homem do Oeste” (Man of the West) e “A Árvore dos Enforcados” (The
Hanging Tree) soma-se este épico sobre a coragem humana. Cooper e Rita se
completaram brilhantemente sob a direção de Robert Rossen. Atenção para a
trilha sonora que mesmo sinfônica resulta funcional e até agradável. A
fotografia de Burnett Guffey é outro ponto de destaque deste filme que
imerecidamente não fez sucesso.
A maravilhosa Rita Hayworth em momentos de "Heróis de Barro". |
Olá, Darci!
ResponderExcluirAssisti hoje este bom western desconhecido, movimentado na primeira parte, mas meio arrastado na segunda. Boa fotografia em CinemaScope, assim como o desempenho dos atores. O personagem de Cooper demonstra ter um raro equilíbrio mental ao lidar com tantas adversidades, especialmente em relação aos seus rebeldes comandados. Rita perdeu a estonteante beleza de Gilda, mas brilha em sua atuação. Ao contrário de você, gostei do final. Achei que depois do sofrimento, a glória ao avistarem Cordura veio bem a calhar e fechou bem o filme.
um abraço!
Um filme nota 8!
ResponderExcluirUm western de gabarito.Nota 9.
ResponderExcluirMuito bom filme,A lendária Rita HAYWORTH está lindíssima neste filme.
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