Mestre
Clóvis Ribeiro e Lázaro Narciso Rodrigues assistiram a centenas de westerns-B,
boa parte deles nos cinemas nos anos 50. E para esses dois cinéfilos “Cowboys
em Desfile” (Trail of Robin Hood é o melhor de todos os faroestes-B. Estrelado
por Roy Rogers e dirigido por William Witney, não há nenhuma surpresa em
“Cowboys em Desfile” ser um filme com sequências de ação muito acima da média
dos ‘bezinhos’ que naquele tempo eram ainda produzidos às dezenas. Witney
dirigiu Roy Rogers 26 vezes, a partir de 1946, mudando a carreira do ‘Rei dos
Cowboys’ ao reduzir os números musicais de seus filmes e torná-los mais movimentados,
aproveitando esplendidamente a vitalidade e simpatia de Roy. “Cowboys em
Desfile” é um faroeste que se assiste com grande prazer e enorme nostalgia, mas
que também provoca admiração por seu quase onírico roteiro com situações
inimagináveis em filmes do gênero. Certamente essa é uma das razões que levam
Clóvis e Lázaro (vistos nas fotos à direita) a gostar tanto desse faroeste produzido em 1950 pela Republic
Pictures.
Acima Clifton Young, Jack Holt e Roy Rogers; abaixo James Magill e Young. |
Pinheiros de graça para as crianças - O autor
da história é Gerald Geraghty, que coloca Roy (como se tornara hábito) num
western contemporâneo em que não falta automóvel. Roy Rogers é um agente de
conservação florestal dos Estados Unidos que chega à cidade de Glenn Rock para
verificar se está sendo respeitado o controle do corte de árvores. Roy surpreende
alguns homens roubando pinheiros da propriedade de Jack Holt. Veterano mocinho (e
bandido muitas vezes) de filmes desde o cinema mudo, Holt se aposentou e passou,
neste esdrúxulo roteiro, a se dedicar ao plantio e corte de pinheiros para
ornamentar as festas natalinas. O velho Holt vende as árvores abaixo do preço
de custo para satisfazer as famílias pobres, especialmente as crianças. A benemerência
de Jack Holt afeta os lucros do concorrente Aldridge (Emory Parnell) que
inconformado com a prática não lucrativa de Holt tenciona atrapalhar suas simbólicas
vendas. Toby (Penny Edwards), filha de Aldridge resolve apressar a vontade do
pai e com o capataz Mitch McCall (Clifton Young) decide sabotar Holt e destruir
seus pinheiros. McCall orienta a queima das árvores de Holt, o que só não
acontece pela providencial ação de Roy Rogers. O agente governamental consegue
sozinho dar conta de McCall e seus capangas, mas necessita de homens para
conduzir as muitas carroças carregadas de pinheiros. Chamados pela menina Sis
(Carol Nugent), um fantástico grupo de mocinhos do cinema surge em Glenn Rock
para conduzir as carroças. A esta altura tanto Aldridge como sua filha Toby se
sensibilizaram com o gesto humanitário de Holt e ajudam a tornar mais feliz o
Natal das famílias modestas abrindo mão dos interesses financeiros.
As chegadas de Rocky Lane e Monte Hale; o encontro de Roy e Gordon Jones com Rex Allen. |
Roy Rogers cercado de mocinhos - Os
executivos da Republic Pictures sabiam que os pequenos frequentadores das
matinês elegiam seus ídolos e que Roy Rogers há tempos era, entre todos, o
mocinho mais querido. Mas os engravatados não desconheciam o imaginário da
garotada que sonhava ver os heróis juntos em algum filme. Só assim para
comprovar que Rocky Lane era melhor que Roy Rogers ou vice-versa. Os fãs já
haviam visto alguns mocinhos reunidos em “Out California Way”, faroeste estrelado
por Monte Hale e com participação pequena de Roy Rogers, Rocky Lane e Don ‘Red’
Barry. O chefão do estúdio Herbert J.
Yates resolveu então dar um presentão no Natal de 1950 para a garotada e colocar
num mesmo filme não só Rocky Lane e Roy Rogers, mas também outros mocinhos ‘top’ da
Republic como Rex Allen e Monte Hale. Alguns, cuja fama declinara nos últimos anos
como Tom Tyler e Ray ‘Crash’ Corrigan, também foram escalados; e mocinhos de
menor expressão como Kermit Maynard e Tom Keene foram igualmente convocados.
Dos tempos do cinema mudo foi lembrado William Farnum e até um notório bandidão
– George Chesebro – se apresentou para ajudar Roy Rogers. Isso era muito mais
que os pequenos fãs imaginavam ver, ainda que ação de verdade tenha ficado
mesmo para o ‘Rei dos Cowboys’, seu cão Bullet e o cavalo Trigger.
Gordon Jones e Carol Nugent |
Duelo de roupas extravagantes - Se todos
esses convidados se limitaram a pequenas aparições na tela, Roy Rogers está
melhor que nunca, tanto nas lutas contra os vilões quanto mostrando sua elegância
e galopando Trigger naquele que é um dos mais belos quadros do cinema western.
Respeitando a ausência de Dale Evans, Roy não corteja a deliciosa mocinha Penny
Edwards. Roy e Penny travam um extravagante duelo de pouco discretas vestimentas
criadas pelos costureiros da Republic, duelo ainda mais acirrado que as lutas
contra Clifton Young, James Magill e Lane Bradford. Em “Cowboys em Desfile” o
boboca é Gordon Jones, ele que dez anos antes havia sido o herói ‘Besouro
verde’ do seriado da Universal. E o simpático Jones não deixa ninguém sentir
saudade de Smiley Burnette, ao fazer dupla com a garota esperta (sem ser chata)
Carol Nugent. Com os belíssimos cenários do Lago e do Vale Big Bear no Parque
Nacional de San Bernardino, com apenas três ou quatro canções executadas parcialmente
por Roy com o auxílio de Foy Willing e os Riders of the Purple Sage, este é
mesmo um western muito especial.
Os muitos trajes de Roy Rogers e Penny Edwards. |
Jack Holt em "Dead Man's Gulch". |
Na trilha de quem mesmo? - Neste western Penny Edwards
chega sempre em um Lincoln Custom Convertible modelo 1950, mas quando há
necessidade de se apagar um incêndio no filme, o carro de bombeiros parece ter
saído de um short dos Comedy Capers, as comédias curtas do cinema mudo.
Possivelmente pela primeira vez um western-B faz uso de imagens homenageando um
antigo ídolo, quando Jack Holt aparece num excerto de um filme intitulado “Dead
Man’s Gulch”. E no quarto onde Jack Holt convalesce há quadros com fotos suas,
de outros mocinhos e até de seu filho Tim Holt. Como se sabe, Jack era pai
também de Jennifer Holt, mocinha de muitos faroestes. Entre os ‘convidados
especiais’, o que tem o melhor momento é o veterano George Chesebro,
ignorado pela roda de mocinhos que se recusa a cumprimentá-lo devido à sua ‘folha
corrida’ repleta de todo tipo de ato criminoso. Chesebro estica a mão e seu
cumprimento é recusado, até ele lembrar que ele era facinoroso só no cinema,
onde começara em 1915. Atraído pelo título original “Trail of Robin Hood”
(Trilha de Robin Hood), o espectador espera qualquer ilação com o herói das
florestas de Sherwood. Qual o que... Ninguém sequer lembra de Robin Hood em “Cowboys
em Desfile”.
Carol Nugent olhando as fotos dos ídolos das matinês. |
Publicidade inserida sobre os rostos dos mocinhos. |
A logomarca sem limites – Infelizmente
a cópia em DVD de “Cowboys em Desfile” que circula no Brasil tem a chancela da
empresa Cinetvnostalgia que coloca sua marca intrusivamente durante grande parte do filme. Isso mesmo sendo essa cópia em DVD extraída de forma precária de uma fita VHS. A
pretexto de propaganda, Paulo Tardin entende que sua logomarca deva aparecer em
todo lugar, mesmo sobre o rosto dos atores, preferencialmente nos momentos de dramaticidade.
Esse é um verdadeiro atentado ao bom senso e que expressa desrespeito às obras
cinematográficas. A Republic Pictures tinha entre seu grupo de técnicos os
irmãos Howard e Theodore Lydecker, responsáveis pelos célebres efeitos
especiais de filmes e seriados do estúdio. Verdadeiros experts do processo de
miniaturização, em “Cowboys em Desfile” a arte dos Lydecker pode ser constatada
na destruição de uma ponte que é queimada, tudo com pequena despesa graças à
genialidade da dupla e seu econômico processo. Incontáveis foram as emoções que eles proporcionaram à
privilegiada geração que dominicalmente via seus trabalhos especialmente nos
seriados. Muitos DVDs com esses filmes em capítulos da Republic Pictures foram
lançados no Brasil com excelente imagem e sem logomarcas abomináveis. Neles se
comprova a criatividade de Howard e Theodore Lydecker.
Na primeira foto a ponte em tamanho natural; nas demais a miniaturização dos irmãos Lydecker sendo destruída. |
O Rei dos Cowboys do cinema. |
A trilha que levou à TV – “Cowboys
em Desfile” foi lançado no Natal de 1950 e Roy Rogers ainda atuaria em outros
cinco filmes para a Republic Pictures, até seu contrato terminar, ele deixar de
ser explorado e se libertar do jugo a que eram submetidos os contratados
daquele estúdio. Em 1951 o ator criaria sua produtora e seria visto
semanalmente na televisão, a grande inimiga dos westerns-B, com o “The Roy Rogers
Show”. Por muitos anos Clóvis Ribeiro e Lázaro Narciso Rodrigues passariam a
vibrar com as aventuras do Rei dos Cowboys em preto e branco numa tela de 20
polegadas. Mas assim como tantos outros fãs jamais se esqueceram de “Cowboys em
Desfile”, o irresistível western-B filmado em Trucolor que reuniu os mocinhos dos tempos dourados
das matinês.
Mocinhos conduzindo os pinheiros: Rocky Lane, Rex Allen e Monte Hale; no centro Tom Tyler, Ray Corrigan e Tom Keene; abaixo Kermit Maynard e Bill Farnum; Roy Rogers e Trigger. |
Amo western estarei sempre visitando esta pagina,gostei muito das informações.Abraços aos que amam os Westernmania;
ResponderExcluirAmei essas informações,sou fan dos Western antigos estarei sempre aqui visitando esse blog;Abraços;
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