Audie Murphy possuía uma legião de fãs
que aguardavam ansiosamente pelos seus faroestes, ainda que boa parte desses
filmes fossem chamados pela crítica de ‘faroestes de rotina’. O diretor Nathan
Juran, por sua vez já havia dirigido Audie Murphy em dois outros westerns que
foram “A Morte Tem Seu Preço” e “A Ronda da Vingança” (Tumbleweed), ambos de
1953. Nada porém indicava que “Tambores da Morte” (Drums Across the River), de
1954, resultasse num pequeno faroeste tão superior, que se assiste com prazer e
que curiosamente não é citado entre os melhores filmes de Audie Murphy.
Acima Audie Murphy e Walter Brennan; no centro Lyle Bettger e Bob Steele;abaixo Lyle Bettger, James Anderson, Lane Bradford e George Wallace. |
Brancos
e as terras dos índios - “Tambores da Morte” tem história e
roteiro de John K. Butler e fala do conflito entre índios e brancos com estes
últimos tentando se apropriar de terras indígenas que possuem metais valiosos. A
ação se passa numa cidade chamada Crown City, no Colorado, separada das
montanhas conhecidas por San Juan apenas por um rio. Essas montanhas são solo
sagrado para os índios da nação Ute porque lá estão enterrados seus antepassados.
Frank Walker (Lyle Bettger) lidera um grupo de homens que tenciona atravessar o
rio como forma de provocar os índios fazendo com que eles fiquem em pé de
guerra e ocorra a intervenção da Cavalaria. Se os índios forem levados para uma
reserva, consequentemente aquelas terras ficarão de posse dos interessados,
pessoas de Denver, que pagam Walker e seu grupo. Para atravessar o rio Walker
contrata os serviços de Gary Brannon (Audie Murphy) que mantém uma empresa de
frete de carroças com seu pai Sam Brannon (Walter Brennan). Sam Brannon
respeita os índios e é amigo do chefe Ouray (Morris Ankrum) que está velho e
doente e ao morrer passa a seu filho Taos (Jay Silverheels) o posto de cacique.
Taos se torna amigo de Gary Brannon e este ao descobrir as intenções de Frank
Walker luta contra ele e seu bando, impedindo o conflito entre a população de
Crown City contra os índios.
Acima Morris Ankrum, Jay Silverheels e Audie Murphy; abaixo Jay Silverheels. |
A
dignidade dos nativos - “Tambores da Morte” é uma adaptação
do fato histórico da tomada das Colinas Negras (Black Hills) de Dakota, onde
ocorreu uma corrida pelo ouro com a retirada dos índios Lakotas das planícies
colocando-os numa reserva. A diferença é que no faroeste de Nathan Juran havia Gary
Brannon que heroicamente muda o rumo da história permitindo que o bem sobrebuje
o mal configurado pela quadrilha de Frank Walker. Para isso Gary Brannon enfrenta
inúmeros perigos, além de vencer seu ódio pessoal pelos índios. A mãe de
Brannon foi assassinada por um índio que era justamente o filho do chefe Ouray.
O pai de Brannon, ao contrário, demonstra enorme respeito pelos nativos, bem
como pelo território índio e acaba fazendo com que seu filho Gary aceite o fato
de os índios serem justos e terem direito a suas terras. Gary Brannon fica
sabendo através de Ouray que quem matou sua mãe foi o filho do cacique, que por
essa razão foi morto de forma cruel atendendo à justiça dos índios Ute.
“Tambores da Morte” foi produzido em 1954, num momento em que o cinema norte-americano
deixava de ver os índios como meros selvagens irracionais cuja razão de vida
era unicamente matar e escalpelar homens brancos geralmente indefesos até a
chegada da Cavalaria. E azar deles se fosse a 7.ª Cavalaria com o General
Custer no comando.
Audie Murphy em luta contra Lyle Bettger e contra Ken Terrell (abaixo). |
No
ritmo dos ‘to be continued’ - A trama nada original de “Tambores
da Morte” é compensada pelo extraordinário ritmo do filme, com uma sucessão de
ações encenadas com maestria por Nathan Juran. A movimentação intensa lembra os
faroestes ‘B’ ou mais ainda, os seriados dos anos 30 e 40 quando cada episódio
reservava muitas lutas e correrias, além de um emocionante momento de ação
truncado pelo famoso ‘To be continued’ (continua na próxima semana). O pobre
Audie Murphy enfrenta estoicamente Lyle Bettger, James Anderson, o índio Ken
Terrell e numa luta espetacular Bob Steele. Mais conhecido por ‘Battling Bob’
nos tempos áureos de mocinho, o pequeno Bob Steele se destacava por sua
impetuosidade e coragem nas lutas com bandidos muito maiores que ele. Nessa
sequência Audie Murphy luta contra Steele e é substituído em apenas dois
momentos da feroz luta pelo substituto que é nada menos que David Sharp, uma
das lendas entre os dublês da Republic Pictures. Sharp era pequeno como Audie
Murphy mas um gigante nas cenas de ação. O ponto alto de “Tambores da Morte”,
no entanto, é a sequência em que Audie Murphy se defronta com Hugh O’Brian,
este todo de preto fazendo um pistoleiro da linha de Jack Palance, o ‘Wilson’
de “Shane”. Sem outro recurso contra o bandido interpretado por O’Brian, Murphy
faz uso de um chicote atingindo o rosto do pistoleiro, o que lhe possibilita
apanhar o Colt que está no chão e disparar certeiramente contra o sádico O’Brian.
Cena que obriga um replay no DVD.
Violenta luta entre Audie Murphy e Bob Steele; note-se que na foto menor à direita é o stuntman David Sharp quem luta em lugar de Audie Murphy. |
Audie Murphy lembra Lash LaRue ao chicotear o rosto de Hugh O'Brian para ganhar tempo e apanhar o revólver com o qual matará O'Brian. |
Walter Brennan armado até a dentadura que usa em "Tambores da Morte"; abaixo Bob Steele mostra sua habilidade com arco e flecha. |
Walter
Brennan e Bob Steele - Os momentos de ação com Audie Murphy
mostram o ex-soldado se comportando como se estivesse nos campos de batalha
onde se transformou no maior herói norte-americano da 2.ª Guerra Mundial. Mas,
além disso, ele tem atuação boa, assim como boas são as presenças de Lyle Bettger
(um dos marcantes vilões dos westerns), Hugh O’Brian (antes de criar ‘Wyatt
Earp’ na TV), Jay Silverheels, Morris Ankrum, Emile Meyer e Regis Toomey, todos
sabidamente ótimos coadjuvantes. Os destaques ficam para Bob Steele pela
presença maior e participação na referida luta com Murphy e, como não poderia
deixar de ser, para Walter Brennan. O veterano ator que foi vencedor de três
prêmios Oscar como Melhor Coadjuvante, acostumado a ser dirigido por diretores
de prestígio, desta vez atua sob a direção de Nathan Juran e contracenando com
atores de menos renome. Nem por isso Brennan deixa de corresponder, ainda que
longe do tipo adorável que nos acostumamos a vê-lo interpretar, sem dentes e
com o inconfundível sotaque. Ver Walter Brennan na tela sempre vale o filme,
faroeste ou não. A lamentar a presença de Lisa Gaye, mocinha sem graça e as poucas
cenas de Mara Corday como amante do vilão Lyle Bettger.
Galope de Audie Murphy atrás do bandido Lyle Bettger. |
Diversão
garantida - Esta produção da Universal Pictures tem belas sequências
rodadas no Red Rock Station Park e nas florestas de San Bernardino, onde Audie
Murphy monta seu cavalo em disparada lembrando Roy Rogers e Rocky Lane, em
perseguição a Lyle Bettger. Outras sequências rodadas no Iverson Ranch fazem
com que “Tambores da Morte” mais se assemelhe a um faroeste ‘B’, com a
diferença do Technicolor que realça as paisagens. O cinegrafista foi Harold
Lipstein e a economia do filme é notada no uso de cena de arquivo com a
presença da Cavalaria, cena em cor, brilho e nitidez visivelmente diferentes.
Entre os stuntmen estão os excepcionais David Sharp e Cliff Lyons dando maior
veracidade aos momentos de ação. Uma agradável surpresa é a música não
creditada de Henry Mancini que compôs muito para a Universal antes de se tornar
um dos maiores nomes da música para filmes no cinema e na TV. Diversão
garantida, “Tambores da Morte” é um pequeno clássico dos faroestes rotulados
como menores dos anos 50.
Hugh O'Brian espanca Audie Murphy e ameaça matá-lo com o garfo de feno; nas fotos de baixo James Anderson toma uma surra de Audie Murphy dentro de um enorme bebedouro de cavalos. |
Hugh O'Brian lembrando Jack Palance ("Shane"); Emile Meyer ao lado de Walter Brennan que exibe os dentes orgulhosamente; abaixo a recompensa de Audie Murphy nos braços da mocinha Lisa Gaye. |
Pôsteres de "Tambores da Morte": o original norte-americano, o francês, o italiano e o alemão que mais parece cartaz de filme-noir. |
Como disse Walter Brennan, e você de certa forma corrobora, ele sempre fica melhor e faz mais sucesso quando está sem a dentadura. Com ela, parece outro ator. Mas Murphy, sempre subestimado pela crítica, nunca nega fogo e este é mesmo um de seus melhores. Só perde para Balas para um Bandido, Pistoleiro Relâmpago, Patrulha do Inferno, Gatilhos em Duelo, Traição Cruel... be, você entendeu, não é?
ResponderExcluirAbraços, parabéns pelo texto.
Olá, José Tadeu, aquele que se revela um grande fã de Audie Murphy.
ExcluirUm abraço - Darci
Esqueci de assinar o texto acima.. Esqueci também de dizer que, por coincidência, revi mais uma vez o filme domingo passado, com minha esposa. É sempre um prazer rever Audie Murphy.
ResponderExcluirJosé Tadeu, aquele que adora o Anthony Mann.
CASPITE. Que belo artigo sobre um filme menor mas muito bem feito com bastante ação e o canastrão sendo bem conduzido. Parabens pelo artigo e recomendo o filme para todos. Existe na INTERNÊ para download,
ResponderExcluirConheci em janeiro!
ResponderExcluirExcelente! Muito bem dirigido, com ótimas locações, história bacana, ótimo roteiro, trilha afiada, e um elenco para ninguém botar defeito!
Histórico parcial na tv aberta:
ResponderExcluir1997 – 10/01 – 6ª – 16:15 – RECORD – SESSÃO BANG BANG
1997 – 25/04 – 6ª – 16:00 – RECORD – SESSÃO BANG BANG