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21 de dezembro de 2012

WINCHESTER 73 – O TEMA DA VINGANÇA NO INFLUENTE WESTERN DE ANTHONY MANN


O escritor Stuart N. Lake conheceu Wyatt Earp por volta de 1925. Earp faleceria em 1929. Lake diz que ouviu muitas histórias contadas pelo ex-Sheriff de Tombstone e se encarregou de ampliar ainda mais a lenda que envolvia o nome do famoso homem da lei. Além disso, Lake escreveu boas histórias que foram aproveitadas pelo cinema. Uma das melhores é “Winchester 73” (Winchester ’73), na qual o autor cria verdadeiro mosaico de situações num genial apanhado do Velho Oeste. E Lake não se esqueceu de seu amigo Wyatt Earp, que na história promove em Dodge City uma competição entre atiradores, justamente no dia da comemoração do Centenário da Independência, 4 de julho de 1876. O vencedor da competição tem como prêmio o cobiçado mais perfeito rifle até então fabricado, apelidado de “Um Entre Mil”. Fritz Lang deveria dirigir “Winchester 73”, mas desistiu e, num desses felizes encontros que o destino costuma promover, o pouco conhecido diretor Anthony Mann e o consagrado astro James Stewart se reuniram nesse western da Universal International, ambos ajudando a mudar o jeito de Hollywood fazer faroestes.





Rifle de muitos donos - Lin McAdam (James Stewart) chega a Dodge City não para competir pelo rifle, mas para encontrar e se vingar de seu irmão Matthew McAdam, fora-da-lei mais conhecido por Dutch Henry Brown (Stephen McNally). Dutch havia matado o próprio pai atirando nele pelas costas e o bom filho Lin decide fazer justiça com as próprias mãos, Colt 45 ou até mesmo com a Winchester 73. Dutch, por seu lado, quer o rifle a todo custo pelo valor que ele possui e para usá-lo em seus próximos projetos como ladrão de bancos. Lin vence a competição mas Dutch o embosca e lhe rouba a Winchester 73. Tem início então a sequência de mudança de donos do rifle que passa para o traficante de armas Joe Lamont (John McIntire), depois para o índio Young Bull (Rock Hudson), o rifle é depois achado pelo soldado Doan (Tony Curtis), a arma permanece um pouco com um oportunista chamado Steve Miller (Charles Drake), de quem é tomada à força pelo facínora Waco Johnny Dean (Dan Duryea), até voltar para Dutch Henry Brown. Um assalto ao Banco de Tascosa não dá certo e Dutch foge com o rifle, sendo perseguido pelo irmão. Defrontam-se numa elevação de formações rochosas e Lin, finalmente, se vinga ficando com a Winchester 73 e com o bem vencendo o mal.

Sequências do torneio de tiro-ao-alvo, indefinido até o último tiro.


John McIntire, Stephen McNally e a Winchester 73.
História em capítulos - A história de Stuart N. Lake é de certa forma simples, mas foi brilhantemente roteirizada pela dupla Borden Chase e Robert L. Richards. Esse roteiro consistente ao integrar as mudanças de dono da Winchester 73, possibilitou que a direção de Anthony Mann desenvolvesse a história em forma de capítulos todos eles emocionantes. Isto desde a sequência da chegada de Lin McAdam a Dodge City e a saborosa competição pelo rifle que abre o filme, torneio organizado por Wyatt Earp (Will Geer). Excelente também o encontro de Dutch e seus comparsas Wesley (Steve Brodie) e Wheeler (James Millican), com o traficante de armas Joe Lamont. Poucas vezes o clássico jogo de pôquer foi tão determinante num filme como o travado entre Joe Lamont e Dutch Henry Brown, valendo 300 dólares ou a Winchester 73. Mas o rifle não para nas mãos de ninguém e é com ele que o jovem chefe Young Bull comandando uma centena de índios tenta repetir Little Big Horn contra um pequeno grupo de soldados da Cavalaria sob as ordens do Sargento Wilkes (Jay C. Flippen). Nova sequência de ação acontece com o psicótico bandido Waco Johnny Dean e seus homens encurralados pelo sheriff Noonan (Ray Teal). Waco consegue fugir com o rifle e no saloon de Tascosa, em frente ao banco local, encontra o raivoso Lin McAdam em novo momento de ação. O duelo de rifles entre Lin e Dutch é extremamente realista com balas ricocheteando por entre as rochas. Um único vacilo de Dutch põe fim à perseguição e concretiza a vingança.

A família McAdam antes da tragédia.
Falhas na Winchester 73 - Porém “Winchester 73” não é somente um filme de ação pois tem o componente psicológico da vingança que justifica a obsessão de Lin McAdam. E isto sem que esse fator interrompa o andamento incessante da ação em seus 92 minutos de duração. Aceita-se psicologismos em qualquer gênero, menos nos faroestes dos quais se espera apenas movimentação. E acusa-se os faroestes de se tornarem cansativos quanto tentam mostrar que habitantes do Velho Oeste eram também humanos. Motivado pelo trágico passado familiar o personagem Lin McAdam é levado à beira da loucura, como na sequência do bar com Waco Johnny Dean. A revelação das razões da ira e sede de vingança de Lin McAdam são citadas gradativamente levando o espectador a aceitar a ferocidade do personagem. Para muitos uma obra-prima, “Winchester 73” tem alguns pecados que, se não comprometem sua qualidade, o impedem de ser um filme excepcional. O ataque dos índios foi feito com muita economia e seu desfecho com a morte de Young Bull é inconvincente. A fotografia dos irmãos McAdam exposta na cabana onde os bandidos estão escondidos é uma total incoerência pois um homem capaz de matar o pai não carregaria a foto da família, por sinal em excelente estado de conservação. E Dutch em momento algum denota arrependimento, tentando, isto sim, matar também o irmão. Lola tentando salvar uma criança em meio ao tiroteio após o assalto ao banco é um desses clichês inaceitáveis em um filme tão brilhantemente concebido.

Cenas do ataque dos índios comandado por Rock Hudson (abaixo);
Acima James Stewart, Tony Curtis, James Best (morto),
Millard Mitchell, Charles Drake e Jay C. Flippen.

Dan Duryea com Shelley Winters.
Dan Duryea mudaria tudo - Provavelmente de todos os ‘Wyatt Earps’ que o cinema mostrou, o de Will Geer é o menos carismático, além de pesado e idoso demais  (Geer estava com 48 anos). No ano do torneio Earp tinha 28 anos enquanto Will Geer parece ter o dobro disso e é inevitável a saudade da elegância de Henry Fonda. Na história Wyatt Earp se impõe como o mais temido homem do Oeste e na realidade Earp, em 1976, era apenas assistente do irmão James Earp, este sim o Marshall de Dodge City. Pobre Shelley Winters, totalmente perdida, mudando mais de braços que o disputado rifle mudava de mãos, num personagem sem brilho e totalmente desnecessário. Outro personagem fraco por força do roteiro é o de Charles Drake, que, no entanto, em uma cena incomum de covardia foge deixando a noiva Lola à mercê dos índios. Millard Mitchell seria o companheiro de jornadas de James Stewart sem conseguir ser interessante quando filosofa ou mesmo quando quer ser cômico, ao dizer que se senta no hífen de seu apelido ‘High-Spade’. Muito melhor momento de descontração, momento quase sublime, é Jay C. Flippen recebendo agrados de Lola (Shelley Winters). Stephen McNally se esforça para parecer capaz da atrocidade de matar o pai, isto no mesmo filme em que está o perverso Dan Duryea. Inacreditável que ninguém tenha tido a idéia de transformar Duryea no irmão de Stewart e tornar “Winchester 73” perfeito? Uma pena pois até fisicamente Duryea e Stewart são mais parecidos.

Luta entre Chuck Roberson e James Stewart.
Coadjuvantes e futuros astros - Mas o enorme elenco tem compensações de sobra com as esplêndidas atuações de John McIntire, Jay C. Flippen, John Alexander (o dono do bar-hotel no meio da estrada) e a pequena participação de Ray Teal. E há os novatos Rock Hudson tentando não provocar risos como índio, ele que ainda viria a interpretar também Taza, outro índio em "Herança Maldita"; Tony Curtis e James Best com poucos momentos na tela, assim como os bandidos Abner Biberman, Stevie Brodie e os excelentes James Millican e John Doucette. De quebra o filme mostra também o fortíssimo Chuck Roberson sendo batido pelo esquálido mas raivoso James Stewart na porta do saloon em Tascosa. A festa de rostos conhecidos que a Universal convocou para pequenas participações em “Winchester 73” parece não ter fim e com prazer o espectador vê, entre outros, Steve Darrell, Guy Wilkerson, Chief Yowlachie e Tex Cooper.

Faceta de James Stewart jamais vista
no cinema até então;
abaixo o conhecido bom
moço com Millard Mitchell.
Um novo James Stewart - Nada, porém, foi mais importante em “Winchester 73” que ter revelado para o faroeste um de seus mais importantes cowboys, James Stewart. Descontado seu ‘Destry’ de 1939, Stewart teve pelas mãos de Anthony Mann o início do processo que o consagraria como um dos maiores atores norte-americanos de todos os tempos. Foi aqui antecipado o tipo neurótico e vingativo com que Stewart enriqueceria o cinema com uma fantástica galeria de personagens nos próximos dez anos, culminando com suas criações máximas em “o Preço de um Homem” e “Um Corpo que Cai”. “Winchester 73” é a perfeita transição entre o western de rotina, acelerado e vazio e o grande faroeste que a década de 50 se acostumou a assistir. Muitos comparam Anthony Mann a John Ford como grande diretor de westerns. Anthony Mann, além de desenvolver a ação de seus filmes em cenários abertos e majestosos, coloca em seus personagens dimensões trágicas e intensidade psicológica. Se os westerns de Mann são magníficos, alguns soberbos mesmo, se ressentem no entanto, numa comparação com os de John Ford, do lirismo e da poesia com que o Mestre das Pradarias inspiradamente emoldurava seus filmes. Ford teve John Wayne, Anthony Mann teve James Stewart e nós tivemos grandes faroestes como não deixa de ser “Winchester 73”.


Jimmy Stewart, depois de "Winchester 73" definitivamente um
homem do Oeste e dos melhores.







5 comentários:

  1. E é justamente Winchester 73 que será exibido na tela do Topázio-Shopping Jaraguá em Indaiatuba,neste sábado,22,9h da manhá,no projeto "Faroestes e Afins" evento promovido por Paulo Lui,aos amantes do gênero.Em 3D o filme em preto e branco fica com imagens bem mais definidas. Vale a pena.

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  2. Olá amigos !! Neste sábado,estivemos na sala 2 do Topázio
    assistindo a este filme de Anthony Mann . 65 pessoas
    amantes do western,se deliciaram com este clássico estrelado por James Stewart e exibido num projetor 3D.
    Valeu !! Vamos aguardar o próximo "Faroeste e afins" projeto
    que tem por finalidade reunir os amigos de Indaiatuba e assistir aos inesquecíveis filmes de bang-bang.
    Obrigado ao Darci pela força !!

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  3. Olá, Lau Shane - É importante saber que o western continua tendo público e que clássicos como Winchester 73 são mostrados nesse projeto do Paulo Lui que conta sua participação. Parabéns pelo sucesso da seção e também pela nobre finalidade de ajudar aos mais necessitados. - Darci Fonseca

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  4. Rock Hudson como índio? Quem diria!
    Não assisti ainda esse clássico, apesar de já ter ouvido falar muito dele...Fiquei mais instigado a ver depois de ler seu ótimo Texto.

    Mais uma vez, parabéns por nos proporcionar esse privilégio de sempre encontrar ótimos conteúdos por aqui!

    Abração!

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  5. Olá, Jefferson - Winchester 73 é desses filmes obrigatórios, até para se ver o renascimento de um ator, um dos melhores de todos os tempos, que é James Stewart. Obrigado e um abração - Darci Fonseca.

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