O escritor Stuart N. Lake conheceu
Wyatt Earp por volta de 1925. Earp faleceria em 1929. Lake diz que ouviu muitas
histórias contadas pelo ex-Sheriff de Tombstone e se encarregou de ampliar
ainda mais a lenda que envolvia o nome do famoso homem da lei. Além disso, Lake
escreveu boas histórias que foram aproveitadas pelo cinema. Uma das melhores é
“Winchester 73” (Winchester ’73), na qual o autor cria verdadeiro mosaico de
situações num genial apanhado do Velho Oeste. E Lake não se esqueceu de seu
amigo Wyatt Earp, que na história promove em Dodge City uma competição entre
atiradores, justamente no dia da comemoração do Centenário da Independência, 4
de julho de 1876. O vencedor da competição tem como prêmio o cobiçado mais
perfeito rifle até então fabricado, apelidado de “Um Entre Mil”. Fritz Lang
deveria dirigir “Winchester 73”, mas desistiu e, num desses felizes encontros
que o destino costuma promover, o pouco conhecido diretor Anthony Mann e o
consagrado astro James Stewart se reuniram nesse western da Universal
International, ambos ajudando a mudar o jeito de Hollywood fazer faroestes.
Rifle
de muitos donos - Lin McAdam (James Stewart) chega a Dodge
City não para competir pelo rifle, mas para encontrar e se vingar de seu irmão Matthew
McAdam, fora-da-lei mais conhecido por Dutch Henry Brown (Stephen McNally). Dutch
havia matado o próprio pai atirando nele pelas costas e o bom filho
Lin decide fazer justiça com as próprias mãos, Colt 45 ou até mesmo com a
Winchester 73. Dutch, por seu lado, quer o rifle a todo custo pelo valor que
ele possui e para usá-lo em seus próximos projetos como ladrão de bancos. Lin
vence a competição mas Dutch o embosca e lhe rouba a Winchester 73. Tem início
então a sequência de mudança de donos do rifle que passa para o traficante de
armas Joe Lamont (John McIntire), depois para o índio Young Bull (Rock Hudson),
o rifle é depois achado pelo soldado Doan (Tony Curtis), a arma permanece um
pouco com um oportunista chamado Steve Miller (Charles Drake), de quem é tomada
à força pelo facínora Waco Johnny Dean (Dan Duryea), até voltar para Dutch
Henry Brown. Um assalto ao Banco de Tascosa não dá certo e Dutch foge com o
rifle, sendo perseguido pelo irmão. Defrontam-se numa elevação de formações
rochosas e Lin, finalmente, se vinga ficando com a Winchester 73 e com o bem
vencendo o mal.
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Sequências do torneio de tiro-ao-alvo, indefinido até o último tiro.
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John McIntire, Stephen McNally e a Winchester 73. |
História
em capítulos - A história de Stuart N. Lake é de certa forma simples,
mas foi brilhantemente roteirizada pela dupla Borden Chase e Robert L.
Richards. Esse roteiro consistente ao integrar as mudanças de dono da
Winchester 73, possibilitou que a direção de Anthony Mann desenvolvesse a
história em forma de capítulos todos eles emocionantes. Isto desde a sequência
da chegada de Lin McAdam a Dodge City e a saborosa competição pelo rifle que abre o
filme, torneio organizado por Wyatt Earp (Will Geer). Excelente também o
encontro de Dutch e seus comparsas Wesley (Steve Brodie) e Wheeler (James
Millican), com o traficante de armas Joe Lamont. Poucas vezes o clássico jogo
de pôquer foi tão determinante num filme como o travado entre Joe Lamont e
Dutch Henry Brown, valendo 300 dólares ou a Winchester 73. Mas o rifle não para
nas mãos de ninguém e é com ele que o jovem chefe Young Bull comandando uma
centena de índios tenta repetir Little Big Horn contra um pequeno grupo de
soldados da Cavalaria sob as ordens do Sargento Wilkes (Jay C. Flippen). Nova
sequência de ação acontece com o psicótico bandido Waco Johnny Dean e seus homens
encurralados pelo sheriff Noonan (Ray Teal). Waco consegue fugir com o rifle e
no saloon de Tascosa, em frente ao banco local, encontra o raivoso Lin McAdam
em novo momento de ação. O duelo de rifles entre Lin e Dutch é extremamente
realista com balas ricocheteando por entre as rochas. Um único vacilo de Dutch
põe fim à perseguição e concretiza a vingança.
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A família McAdam antes da tragédia. |
Falhas
na Winchester 73 - Porém “Winchester 73” não é somente
um filme de ação pois tem o componente psicológico da vingança que justifica a
obsessão de Lin McAdam. E isto sem que esse fator interrompa o andamento
incessante da ação em seus 92 minutos de duração. Aceita-se psicologismos em
qualquer gênero, menos nos faroestes dos quais se espera apenas movimentação. E
acusa-se os faroestes de se tornarem cansativos quanto tentam mostrar que
habitantes do Velho Oeste eram também humanos. Motivado pelo trágico passado
familiar o personagem Lin McAdam é levado à beira da loucura, como na sequência
do bar com Waco Johnny Dean. A revelação das razões da ira e sede de vingança
de Lin McAdam são citadas gradativamente levando o espectador a aceitar a
ferocidade do personagem. Para muitos uma obra-prima, “Winchester 73” tem
alguns pecados que, se não comprometem sua qualidade, o impedem de ser um filme excepcional. O ataque dos índios foi feito com muita economia e seu desfecho
com a morte de Young Bull é inconvincente. A fotografia dos irmãos McAdam
exposta na cabana onde os bandidos estão escondidos é uma total incoerência
pois um homem capaz de matar o pai não carregaria a foto da família, por sinal
em excelente estado de conservação. E Dutch em momento algum denota
arrependimento, tentando, isto sim, matar também o irmão. Lola tentando salvar
uma criança em meio ao tiroteio após o assalto ao banco é um desses clichês
inaceitáveis em um filme tão brilhantemente concebido.
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Cenas do ataque dos índios comandado por Rock Hudson (abaixo); Acima James Stewart, Tony Curtis, James Best (morto), Millard Mitchell, Charles Drake e Jay C. Flippen. |
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Dan Duryea com Shelley Winters. |
Dan
Duryea mudaria tudo - Provavelmente de todos os ‘Wyatt
Earps’ que o cinema mostrou, o de Will Geer é o menos carismático, além de
pesado e idoso demais (Geer estava com 48 anos). No ano do torneio Earp tinha 28 anos enquanto Will Geer
parece ter o dobro disso e é inevitável a saudade da elegância de Henry Fonda.
Na história Wyatt Earp se impõe como o mais temido homem do Oeste e na
realidade Earp, em 1976, era apenas assistente do irmão James Earp, este sim o
Marshall de Dodge City. Pobre Shelley Winters, totalmente perdida, mudando mais
de braços que o disputado rifle mudava de mãos, num personagem sem brilho e totalmente
desnecessário. Outro personagem fraco por força do roteiro é o de Charles
Drake, que, no entanto, em uma cena incomum de covardia foge deixando a noiva Lola à mercê
dos índios. Millard Mitchell seria o companheiro de jornadas de James Stewart
sem conseguir ser interessante quando filosofa ou mesmo quando quer ser cômico,
ao dizer que se senta no hífen de seu apelido ‘High-Spade’. Muito melhor
momento de descontração, momento quase sublime, é Jay C. Flippen recebendo agrados de
Lola (Shelley Winters). Stephen McNally se esforça para parecer capaz da
atrocidade de matar o pai, isto no mesmo filme em que está o perverso Dan Duryea. Inacreditável
que ninguém tenha tido a idéia de transformar Duryea no irmão de Stewart e
tornar “Winchester 73” perfeito? Uma pena pois até fisicamente Duryea e Stewart
são mais parecidos.
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Luta entre Chuck Roberson e James Stewart. |
Coadjuvantes
e futuros astros - Mas o enorme elenco tem compensações
de sobra com as esplêndidas atuações de John McIntire, Jay C. Flippen, John
Alexander (o dono do bar-hotel no meio da estrada) e a pequena participação de
Ray Teal. E há os novatos Rock Hudson tentando não provocar risos como índio, ele que ainda viria a interpretar também Taza, outro índio em "Herança Maldita"; Tony Curtis e James Best com
poucos momentos na tela, assim como os bandidos Abner Biberman, Stevie Brodie e
os excelentes James Millican e John Doucette. De quebra o filme mostra também o
fortíssimo Chuck Roberson sendo batido pelo esquálido mas raivoso James Stewart na
porta do saloon em Tascosa. A festa de rostos conhecidos que a Universal
convocou para pequenas participações em “Winchester 73” parece não ter fim e com
prazer o espectador vê, entre outros, Steve Darrell, Guy Wilkerson, Chief
Yowlachie e Tex Cooper.
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Faceta de James Stewart jamais vista no cinema até então; abaixo o conhecido bom moço com Millard Mitchell. |
Um novo James Stewart - Nada, porém, foi mais
importante em “Winchester 73” que ter revelado para o faroeste um de seus mais
importantes cowboys, James Stewart. Descontado seu ‘Destry’ de 1939, Stewart
teve pelas mãos de Anthony Mann o início do processo que o consagraria como um
dos maiores atores norte-americanos de todos os tempos. Foi aqui antecipado o
tipo neurótico e vingativo com que Stewart enriqueceria o cinema com uma
fantástica galeria de personagens nos próximos dez anos, culminando com suas
criações máximas em “o Preço de um Homem” e “Um Corpo que Cai”. “Winchester 73”
é a perfeita transição entre o western de rotina, acelerado e vazio e o grande
faroeste que a década de 50 se acostumou a assistir. Muitos comparam Anthony
Mann a John Ford como grande diretor de westerns. Anthony Mann, além de
desenvolver a ação de seus filmes em cenários abertos e majestosos, coloca em
seus personagens dimensões trágicas e intensidade psicológica. Se os westerns
de Mann são magníficos, alguns soberbos mesmo, se ressentem no entanto, numa
comparação com os de John Ford, do lirismo e da poesia com que o Mestre das
Pradarias inspiradamente emoldurava seus filmes. Ford teve John Wayne, Anthony
Mann teve James Stewart e nós tivemos grandes faroestes como não deixa de ser
“Winchester 73”.
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Jimmy Stewart, depois de "Winchester 73" definitivamente um homem do Oeste e dos melhores.
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E é justamente Winchester 73 que será exibido na tela do Topázio-Shopping Jaraguá em Indaiatuba,neste sábado,22,9h da manhá,no projeto "Faroestes e Afins" evento promovido por Paulo Lui,aos amantes do gênero.Em 3D o filme em preto e branco fica com imagens bem mais definidas. Vale a pena.
ResponderExcluirOlá amigos !! Neste sábado,estivemos na sala 2 do Topázio
ResponderExcluirassistindo a este filme de Anthony Mann . 65 pessoas
amantes do western,se deliciaram com este clássico estrelado por James Stewart e exibido num projetor 3D.
Valeu !! Vamos aguardar o próximo "Faroeste e afins" projeto
que tem por finalidade reunir os amigos de Indaiatuba e assistir aos inesquecíveis filmes de bang-bang.
Obrigado ao Darci pela força !!
Olá, Lau Shane - É importante saber que o western continua tendo público e que clássicos como Winchester 73 são mostrados nesse projeto do Paulo Lui que conta sua participação. Parabéns pelo sucesso da seção e também pela nobre finalidade de ajudar aos mais necessitados. - Darci Fonseca
ResponderExcluirRock Hudson como índio? Quem diria!
ResponderExcluirNão assisti ainda esse clássico, apesar de já ter ouvido falar muito dele...Fiquei mais instigado a ver depois de ler seu ótimo Texto.
Mais uma vez, parabéns por nos proporcionar esse privilégio de sempre encontrar ótimos conteúdos por aqui!
Abração!
Olá, Jefferson - Winchester 73 é desses filmes obrigatórios, até para se ver o renascimento de um ator, um dos melhores de todos os tempos, que é James Stewart. Obrigado e um abração - Darci Fonseca.
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