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1 de julho de 2011

HISTÓRIAS DO ÁLAMO - DISCRIMINAÇÃO NO ÁLAMO


DISCRIMINAÇÃO NO ÁLAMO - Os preparativos para o início das filmagens de “O Álamo” agitaram o mundo cinematográfico não só por ser uma superprodução sobre um tema bastante caro aos Estados Unidos, mas principalmente por ser um filme de John Wayne. A efervescência política da época em que o mundo estava em convulsão com a guerra fria, Nikita Krushev e a Revolução Cubana tonaram a próxima corrida pela Casa Branca muito mais disputada. E nos Estados Unidos o movimento anti-segregacionista ganhava cada vez mais força chegando aos violentos confrontos nas cidades mais radicais. Cada gesto ou frase de uma pessoa famosa era motivo para polêmicas. No filme “O Álamo” havia o papel de ‘Jethro’ um ajudante negro de Jim Bowie que seria interpretado por Richard Widmark. Sammy Davis Jr., então com 34 anos, era reconhecido no mundo todo como o mais completo artista do show-business e, a exemplo de Harry Belafonte, queria também se tornar um astro da tela. Sammy já havia atuado em “Ana Lucasta” e “Porgy & Bess”, ambos com elencos formados por atores negros. Sammy acreditava que um filme como “O Álamo”, no qual ele seria o único negro com destaque, alavancaria sua carreira sem que precisasse da ajuda de seu grande amigo Frank Sinatra. Como cantor e ator Sinatra vivia seu momento de maior prestígio, tendo como amigos Dean Martin, Peter Lawford, a família Kennedy e a Famiglia de Sam Giancana, este último capo daquilo que chamavam de crime organizado ou Máfia. Sammy Davis Jr. procurou John Wayne colocando-se à disposição para interpretar ‘Jethro’ que Sammy considerava perfeito por retratar o negro com grande dignidade e coragem. John Wayne ainda lembrou ao cantor que aquele seria o papel de um escravo, e Sammy disse que por isso seria ainda mais interessante. John Wayne prometeu dar a Sammy uma resposta em breve. 

May Britt e Sammy Davis Jr.
AS LOURAS DE SAMMY DAVIS JR. - Assim como John Wayne tinha uma queda por mulheres latinas, Sammy Davis Jr. não podia ver uma loura bonita. Com 1,65 de altura, a cara deformada por um desastre de automóvel em que perdera um olho, feio de doer, convertido ao judaísmo, o talentoso Sammy havia namorado nada menos que a esplendorosa Kim Novak. Em 1959 Sammy chocava Hollywood com o rumoroso caso que mantinha com a sueca e louríssima May Britt, com quem se casaria em 1960. Nesse ano, nada menos que 30 Estados norte-americanos ainda proibiam o casamento inter-racial. Além disso, os amigos republicanos de John Wayne não queriam nem ouvir falar em Frank Sinatra e seus amigos. Acreditando que a presença de Sammy Davis Jr. no elenco de seu filme trouxesse publicidade negativa, Duke optou por entregar o papel de ‘Jethro’ a Jester Hairston, cantor, compositor, músico e ator com maior experiência que Sammy Davis Jr. E o mais importante, Jester não namorava nenhuma loura... Sammy Davis Jr. ficou bastante desapontado por não ter participado de “O Álamo”, porém sua admiração por John Wayne manteve-se por toda vida. Quando da noite da cerimônia de premiação do Oscar, em 1979, três meses antes do falecimento de John Wayne, Sammy Davis Jr. deu em público no Duke um verdadeiramente enorme e afetuoso abraço, apertando com força exagerada o diretor-produtor de “O Álamo” que lhe negara trabalho 20 anos antes. O pequenino showman negro estava muito mais forte que o gigantesco John Wayne cuja saúde estava irreversivelmente debilitada. Pode não ter sido um abraço de gratidão, mas foi certamente um abraço da mais profunda admiração. Ah, em 1972 Sammy Davis Jr. fez campanha presidencial para um amigão de John Wayne, o republicano Richard Nixon, aquele do escândalo de Watergate...

Um comentário:

  1. Certamente que Wayne não daria aquele papel para o Sammy. Não porque não o queria no elenco de seu filme, haja visto um outro negro ter feito aquele papel, mas por suas convicções, suas posições políticas e raciais. A época era uma epoca efervescente para os EUA, com todos aqueles problemas internos e externos, não desejando o Duke trazer mais um para si.
    E rejeição que não abalou nunca a simpatia que o afro Sammy nutria pelo astro Duke. E seu gesto, naquele abraço sincero de um fã por seu astro, deveria ser interpretado, somente, desta forma. Isto porque ele, Sammy, tenho certeza, jamais esqueceu que andou com um pé no elenco de O Àlamo, passagem que seria uma realização para ele, mas que jamais aconteceu. E por decisão de seu astro tão adorado, John Wayne.
    jurandir_lima@bol.com.br

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