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23 de abril de 2016

NO RASTRO DOS BANDOLEIROS (SHOOT-OUT AT MEDICINE BEND) – O MAIS DIVERTIDO WESTERN DE RANDOLPH SCOTT


Randolph Scott entre Angie Dickinson e
Dani Janssen.
“No Rastro dos Bandoleiros” foi lançado em 1957 depois de permanecer dois anos nas prateleiras da Warner Bros., filmado que foi em 1955. A razão desse retardamento foi devido ao fato de, nesse ano, Randolph Scott ter feito outros quatro faroestes e cinco filmes num ano é quase uma overdose, mesmo em se tratando dos aguardados westerns de Randy. “No Rastro dos Bandoleiros” havia sido filmado em preto e branco, o que nada ajudava, tendo sido o único western não em cores de Scott na década de 50, além do que o elenco não trazia nenhum nome de real destaque além do prestigiado ator. E o diretor era o pouco conhecido Richard L. Bare, mais um ponto desfavorável ao filme que tinha em sua maior parte Scott vestido não como cowboy e sim como membro de um grupo religioso. Em 1957 o cenário era bem outro pois no ano anterior foi exibido “Sete Homens Sem Destino” (Seven Men from Now), primeiro western da série de sete em que Scott foi dirigido por Budd Boetticher. Esse filme foi muito bem recebido, pela crítica, sendo saudado por Andrè Bazin como um excepcional western, comparado mesmo a “Rastros de Ódio” (The Searchers), de John Ford. O prestígio de Randolph Scott andava alto e ele havia deixado a Warner Bros. que então se lembrou de “No Rastro dos Bandoleiros”, filme que tinha no elenco James Garner, jovem promessa do estúdio e que estreava no cinema. Com tudo para dar errado, este menosprezado filme é um dos mais interessantes westerns entre os tantos em que Randolph Scott atuou.


Randolph Scott, James Garner e Gordon Jones
Cavalarianos vestidos como pastores - O Capitão Buck Devlin (Randolph Scott), ao lado do Sargento John Maitland (James Garner) e do Cabo Wilbur Clegg (Gordon Jones), todos da Cavalaria, cavalgam rumo ao rancho do irmão de Devlin. Lá chegando encontram o local sendo atacado por índios, conseguindo o trio rechaçar o ataque que causou a morte do irmão do Capitão. Sarah (Ann Doran), a cunhada do Capitão Devlin, agora viúva, diz que o marido tentou se defender atirando com um fuzil cujas balas não eram disparadas. O Capitão descobre que isso ocorreu em virtude de os cartuchos não conterem chumbo, mas sim outro tipo de material. A munição fora adquirida em Medicine Bend, numa loja de propriedade de Ep Clark (James Craig) dono também de praticamente tudo na cidade. Devlin, Maitland e Clegg partem então para Medicine Bend para desvendar o mistério das balas que não disparam e resolvem, no caminho, tomar um banho num rio. Distraídos, têm seus cavalos, uniformes, armas e dinheiro roubados. Seminus os três conseguem ajuda com um grupo de religiosos que lhes fornecem roupas que os fazem parecer também religiosos. Assim vestidos chegam a Medicine Bend e descobrem que Ep Clark domina o xerife Bob Massey (Trevor Bardette), o prefeito Sam Pelley (Don Beddoe) e mantém um bando de foras-da-lei a seu serviço. Foram esses bandidos que roubaram os pertences dos militares, assim como roubaram o grupo religioso e praticam assaltos contra caravanas de suprimentos que chegam a Medicine Bend. Ajudado por Priscilla King (Angie Dickinson), sobrinha do comerciante Elam King (Harry Harvey) e ainda pela saloon-girl Nell Garrison (Dani Janssen), o Capitão Devlin desbarata a quadrilha de Ep Clark, liquidando com os malfeitores.

Randolph Scott, James Garner
e Gordon Jones
Esperando pelo tiroteio que não acontece - Assim como acontece em mais da metade dos faroestes, “No Rastro dos Bandoleiros” tem uma cidade dominada por um homem poderoso e inescrupuloso, respaldado por xerife e justiça corruptos, isto até que um destemido e íntegro estranho chegue, vença o chefe e extermine sua quadrilha. Os clichês do enredo deste western, no entanto, param por aí pois a história se desenrola de maneira inusitada, a começar pelos garbosos cavalarianos que repentinamente perdem as fardas e se cobrem com o que conseguem encontrar pelo caminho. As roupas que conseguem com os religiosos fazem com que sejam confundidos com pregadores de alguma seita e o trio assume essa nova identidade para descobrir quem os roubou. Para isso contrariam seus hábitos e o Sargento namorador (James Garner) não pode conquistar nenhuma garota e o Cabo beberrão (Gordon Jones) tem que evitar a garrafa. No balcão do saloon servem-se de... leite, para espanto dos barflies. A esta altura o filme, que se iniciou tragicamente com o ataque índio e a morte do cunhado do Capitão Devlin, descamba para a comédia que só não é mais jocosa porque o ar sério de Randolph Scott promove o devido equilíbrio. James Garner anuncia o modelo cínico que depuraria como Bret Maverick na série de televisão e que o acompanharia por toda sua longa carreira. E Gordon Jones era um comediante nato que, por acaso, um dia (1940) foi o herói Besouro Verde do seriado do mesmo nome. Este western só deixa de ser inteiramente cômico quando se aproxima do final com Scott enfrentando e vencendo cada um dos bandidos isoladamente. O aguardado tiroteio do título original (Shoot-Out) acaba sendo outra piada uma vez que não acontece nenhum tiroteio no sentido amplo do termo, ou seja, intensa troca de tiros entre muitos contendores.

James Garner e Gordon Jones quase enforcados; Jones, Garner e Angie Dickinson.

Randolph Scott e Angie Dickinson;
abaixo Myron Healey.
Resistindo a Angie Dickinson - O que mais agrada em “No Rastro dos Bandoleiros” é justamente o inusitado da situação que envolve Randolph Scott e o veterano ator não se faz de rogado, mostrando que é também capaz de se sair bem num filme menos sério. Imaginar Scott nu num faroeste é algo inimaginável, bem como vê-lo desfilar pelas ruas e saloon de Medicine Bend vestido de pregador, engraçadíssimo, por sinal. Mas este filme de Richard L. Bare tem ainda outros atrativos, como ver os jovialíssimos James Garner e Angie Dickinson em início de carreiras. Quem poderia suspeitar que a doce e inocente Angie, poucos anos depois estaria tão provocante e irresistível num western, conquistando John Wayne 24 anos mais velho que ela. Desta vez quem se rende a Angie é Randolph Scott, 33 anos a mais que ela, despindo o hábito e ficando com a mocinha ao término do filme, ainda que, como sempre, evitando o beijo final. James Garner, que conquistou tantas belas mulheres em sua carreira, teve que se contentar com a loura Dani Janssen, creditada como Dani Crayne. O ‘Janssen’ do nome veio do marido David Janssen, aquele ator que tinha orelhas maiores que as de Clark Gable. Em “No Rastro dos Bandoleiros” Dani Janssen aparece mais que Angie Dickinson e Myron Healey (um dos vilões) aparece mais que James Craig o bandido principal. Entre os demais coadjuvantes a grande e feliz surpresa é a destacada participação de Trevor Bardette, permitindo que o veterano ator de tantos westerns e seriados mostre o excelente ator que era. E viva! Guy Wilkerson, Lane Bradford e Harry Lauter pronunciam diversas frases em diálogos do filme.

Trevor Bardette com Randolph Scott; Bardette com Dani Janssen.

Dani Janssen com Angie Dickinson; James Craig com Myron Healey.

Diversão garantida - Com música (de Roy Webb) e cinematografia (de Carl E. Guthrie) competentes, Dani Janssen interpreta a alegre canção “Kiss me Quick” (nada a ver com o sucesso de Elvis Presley). Que o espectador não se iluda com o descaso que este pequeno e movimentado western recebeu desde sua realização. É diversão garantida, com Randolph Scott (na foto à direita mascarado) em ótima forma, até dispensando dublês, contraponto ideal para os tensos sete westerns seguintes que Randy faria com Budd Boetticher e da obra-prima com que fechou sua magnífica carreira, “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country).

Esta cópia de “No Rastro dos Bandoleiros” foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.

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