Randolph Scott entre Angie Dickinson e Dani Janssen. |
“No Rastro dos Bandoleiros” foi lançado
em 1957 depois de permanecer dois anos nas prateleiras da Warner Bros., filmado
que foi em 1955. A razão desse retardamento foi devido ao fato de, nesse ano,
Randolph Scott ter feito outros quatro faroestes e cinco filmes num ano é quase
uma overdose, mesmo em se tratando dos aguardados westerns de Randy. “No Rastro
dos Bandoleiros” havia sido filmado em preto e branco, o que nada ajudava,
tendo sido o único western não em cores de Scott na década de 50, além do que o
elenco não trazia nenhum nome de real destaque além do prestigiado ator. E o
diretor era o pouco conhecido Richard L. Bare, mais um ponto desfavorável ao
filme que tinha em sua maior parte Scott vestido não como cowboy e sim como
membro de um grupo religioso. Em 1957 o cenário era bem outro pois no ano
anterior foi exibido “Sete Homens Sem Destino” (Seven Men from Now), primeiro
western da série de sete em que Scott foi dirigido por Budd Boetticher. Esse
filme foi muito bem recebido, pela crítica, sendo saudado por Andrè Bazin como
um excepcional western, comparado mesmo a “Rastros de Ódio” (The Searchers), de
John Ford. O prestígio de Randolph Scott andava alto e ele havia deixado a
Warner Bros. que então se lembrou de “No Rastro dos Bandoleiros”, filme que
tinha no elenco James Garner, jovem promessa do estúdio e que estreava no
cinema. Com tudo para dar errado, este menosprezado filme é um dos mais
interessantes westerns entre os tantos em que Randolph Scott atuou.
Randolph Scott, James Garner e Gordon Jones |
Cavalarianos
vestidos como pastores - O Capitão Buck Devlin (Randolph
Scott), ao lado do Sargento John Maitland (James Garner) e do Cabo Wilbur Clegg
(Gordon Jones), todos da Cavalaria, cavalgam rumo ao rancho do irmão de Devlin.
Lá chegando encontram o local sendo atacado por índios, conseguindo o trio
rechaçar o ataque que causou a morte do irmão do Capitão. Sarah (Ann Doran), a
cunhada do Capitão Devlin, agora viúva, diz que o marido tentou se defender
atirando com um fuzil cujas balas não eram disparadas. O Capitão descobre que
isso ocorreu em virtude de os cartuchos não conterem chumbo, mas sim outro tipo
de material. A munição fora adquirida em Medicine Bend, numa loja de
propriedade de Ep Clark (James Craig) dono também de praticamente tudo na
cidade. Devlin, Maitland e Clegg partem então para Medicine Bend para desvendar
o mistério das balas que não disparam e resolvem, no caminho, tomar um banho
num rio. Distraídos, têm seus cavalos, uniformes, armas e dinheiro roubados.
Seminus os três conseguem ajuda com um grupo de religiosos que lhes fornecem
roupas que os fazem parecer também religiosos. Assim vestidos chegam a Medicine
Bend e descobrem que Ep Clark domina o xerife Bob Massey (Trevor Bardette), o
prefeito Sam Pelley (Don Beddoe) e mantém um bando de foras-da-lei a seu
serviço. Foram esses bandidos que roubaram os pertences dos militares, assim
como roubaram o grupo religioso e praticam assaltos contra caravanas de
suprimentos que chegam a Medicine Bend. Ajudado por Priscilla King (Angie
Dickinson), sobrinha do comerciante Elam King (Harry Harvey) e ainda pela
saloon-girl Nell Garrison (Dani Janssen), o Capitão Devlin desbarata a
quadrilha de Ep Clark, liquidando com os malfeitores.
Randolph Scott, James Garner e Gordon Jones |
Esperando
pelo tiroteio que não acontece - Assim como acontece em mais da
metade dos faroestes, “No Rastro dos Bandoleiros” tem uma cidade dominada por
um homem poderoso e inescrupuloso, respaldado por xerife e justiça corruptos,
isto até que um destemido e íntegro estranho chegue, vença o chefe e extermine
sua quadrilha. Os clichês do enredo deste western, no entanto, param por aí
pois a história se desenrola de maneira inusitada, a começar pelos garbosos
cavalarianos que repentinamente perdem as fardas e se cobrem com o que
conseguem encontrar pelo caminho. As roupas que conseguem com os religiosos
fazem com que sejam confundidos com pregadores de alguma seita e o trio assume
essa nova identidade para descobrir quem os roubou. Para isso contrariam seus
hábitos e o Sargento namorador (James Garner) não pode conquistar nenhuma
garota e o Cabo beberrão (Gordon Jones) tem que evitar a garrafa. No balcão do
saloon servem-se de... leite, para espanto dos barflies. A esta altura o filme,
que se iniciou tragicamente com o ataque índio e a morte do cunhado do Capitão
Devlin, descamba para a comédia que só não é mais jocosa porque o ar sério de
Randolph Scott promove o devido equilíbrio. James Garner anuncia o modelo
cínico que depuraria como Bret Maverick na série de televisão e que o
acompanharia por toda sua longa carreira. E Gordon Jones era um comediante nato
que, por acaso, um dia (1940) foi o herói Besouro Verde do seriado do mesmo
nome. Este western só deixa de ser inteiramente cômico quando se aproxima do
final com Scott enfrentando e vencendo cada um dos bandidos isoladamente. O
aguardado tiroteio do título original (Shoot-Out) acaba sendo outra piada uma
vez que não acontece nenhum tiroteio no sentido amplo do termo, ou seja,
intensa troca de tiros entre muitos contendores.
James Garner e Gordon Jones quase enforcados; Jones, Garner e Angie Dickinson. |
Randolph Scott e Angie Dickinson; abaixo Myron Healey. |
Resistindo
a Angie Dickinson - O que mais agrada em “No Rastro dos
Bandoleiros” é justamente o inusitado da situação que envolve Randolph Scott e
o veterano ator não se faz de rogado, mostrando que é também capaz de se sair
bem num filme menos sério. Imaginar Scott nu num faroeste é algo inimaginável,
bem como vê-lo desfilar pelas ruas e saloon de Medicine Bend vestido de
pregador, engraçadíssimo, por sinal. Mas este filme de Richard L. Bare tem
ainda outros atrativos, como ver os jovialíssimos James Garner e Angie
Dickinson em início de carreiras. Quem poderia suspeitar que a doce e inocente
Angie, poucos anos depois estaria tão provocante e irresistível num western,
conquistando John Wayne 24 anos mais velho que ela. Desta vez quem se rende a
Angie é Randolph Scott, 33 anos a mais que ela, despindo o hábito e ficando com
a mocinha ao término do filme, ainda que, como sempre, evitando o beijo final.
James Garner, que conquistou tantas belas mulheres em sua carreira, teve que se
contentar com a loura Dani Janssen, creditada como Dani Crayne. O ‘Janssen’ do
nome veio do marido David Janssen, aquele ator que tinha orelhas maiores que as
de Clark Gable. Em “No Rastro dos Bandoleiros” Dani Janssen aparece mais que
Angie Dickinson e Myron Healey (um dos vilões) aparece mais que James Craig o
bandido principal. Entre os demais coadjuvantes a grande e feliz surpresa é a
destacada participação de Trevor Bardette, permitindo que o veterano ator de
tantos westerns e seriados mostre o excelente ator que era. E viva! Guy
Wilkerson, Lane Bradford e Harry Lauter pronunciam diversas frases em diálogos
do filme.
Trevor Bardette com Randolph Scott; Bardette com Dani Janssen. |
Dani Janssen com Angie Dickinson; James Craig com Myron Healey. |
Diversão
garantida - Com música (de Roy Webb) e cinematografia (de Carl E.
Guthrie) competentes, Dani Janssen interpreta a alegre canção “Kiss me Quick”
(nada a ver com o sucesso de Elvis Presley). Que o espectador não se iluda com
o descaso que este pequeno e movimentado western recebeu desde sua realização.
É diversão garantida, com Randolph Scott (na foto à direita mascarado) em ótima forma, até dispensando dublês,
contraponto ideal para os tensos sete westerns seguintes que Randy faria com
Budd Boetticher e da obra-prima com que fechou sua magnífica carreira, “Pistoleiros
do Entardecer” (Ride the High Country).
Esta cópia de “No Rastro dos
Bandoleiros” foi gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador Marcelo
Cardoso.
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