27 de abril de 2016

SÉRIES WESTERNS DE TV - GLENN FORD É A LEI (CADE’S COUNTY), SUCESSO NO BRASIL


Glenn Ford em "Gatilho Relâmpago".
Entre os grandes cowboys do cinema está Glenn Ford, não só pelos inúmeros westerns clássicos em que atuou mas também por, na vida real, ser um homem que amava a vida de rancheiro. Colegas de filmagens, diretores, técnicos e dublês ficavam admirados ao ver como o ator canadense montava exibindo enorme habilidade em cima de um cavalo. E como Glenn Ford gostava de atuar em faroestes! Decidia sem hesitar por um western mesmo que um outro filme tivesse diretor e elenco de primeira. Nas décadas de 40, 50 e 60, entre os atores classe A, Glenn Ford somente fez menos westerns que John Wayne e em 1970, o astro de “Gatilho Relâmpago” (The Fastest Gun Alive) percebeu que o gênero que tanto apreciava entrava em indiscutível declínio. Chegava para Glenn a hora de, assim como haviam feito Henry Fonda, Barbara Stanwyck e Audie Murphy, olhar com mais carinho para a televisão. Glenn Ford aceitou uma proposta da divisão de televisão da 20th Century-Fox para estrelar uma nova série fadada ao sucesso em razão do apelo do nome do famoso ator.

A abertura da série; abaixo Glenn Ford entre
Vic Morrow, Sidney Poitier e Paul Mazurski.
Glenn Impondo condições - A negociação não foi nada fácil pois Ford impôs algumas condições, todas aceitas pelos produtores: a série deveria ser western; o ator só trabalharia das 9 da manhã às 18 horas; seu amigo Edgar Buchanan deveria fazer parte do elenco fixo da série; e por último Peter Ford, filho do ator teria de ser contratado também, ainda que como ‘aspone’. A ideia inicial era que Ford protagonizasse um policial responsável por uma instituição que visasse reabilitar jovens que tivessem praticado crimes na adolescência. Sem dúvida uma lembrança do drama clássico “Sementes de Violência” (1955) em que, como um professor de escola pública, Ford se vê às voltas com a indisciplina dos alunos Sidney Poitier, Vic Morrow e Paul Mazurski, entre outros. Esse filme pioneiro sobre o tema da violência estudantil ficou famoso por introduzir o rock’n’roll no cinema através de “Rock Around the Clock”, de Bill Haley and His Comets, ouvido nos créditos iniciais. Glenn Ford não gostou da proposta pois queria mesmo uma série western, mas se deixou convencer quando leu uma segunda sinopse (criada por Rick Husky e Anthony Wilson) que estava mais para um western contemporâneo. Como Sam Cade, um moderno xerife do Condado de Madrid, no Sudoeste do País, ele dirigiria um jipe para caçar os bandidos que se metessem no local onde ele era a lei. O título escolhido para a série foi “Cade’s County”, o velho amigo de noitadas de pôquer e de caçadas Edgar Buchanan foi contratado, assim como Peter Ford seria o treinador de diálogos do elenco. A maioria das filmagens seria feita no grande cenário dos estúdio, em Los Angeles, facilitando a vida de Ford que morava a cidade e queria chegar em casa antes do anoitecer. Inicialmente prevista para ter episódios de 25 minutos de duração, prevaleceu a proposta de 50 minutos para cada episódio filmado em cores.

Glenn Ford com Henry Mancini.
Horário nobre - O tratamento dispensado pelos produtores à nova série foi muito especial, seja na escolha dos roteiristas, dos diretores e do elenco. Além de Ford e Buchanan estavam no cast original Taylor Lacher, Victor Campos e Sandra Ego, atriz com descendência índia. Sandra foi logo substituída na série por Betty Ann Carr, legítima índia Cherokee. Após os primeiros episódios, Peter Ford foi incorporado ao elenco fixo da série. Um ponto altamente positivo da produção foi encomendar ao genial Henry Mancini o tema de abertura de “Cade’s County”. Mancini compôs uma canção bastante alegre e marcante. Acreditando no sucesso absoluto da série, a CBS a programou para um horário ultranobre, os domingos às 21h30, horário sempre ocupado por fortes concorrentes. A estreia de “Cade’s County”se deu em 19 de setembro de 1971, com o episódio “Homecoming”, escrito pelos criadores da série e dirigido por Marvin J. Chomski e com Darren McGavin como ator convidado.

Acima Edgar Buchanan, Glenn Ford,
Taylor Lacher e Victor Campos;
abaixo os amigos Buchanan e Ford.
Baixa audiência e cancelamento - Sam Cade, um solteirão de poucas palavras era auxiliado por seus assistentes J.J. Jackson (Edgar Buchanan), Arlo Pritchard (Taylor Lacher), Rudy Davillo (Victor Campos) e Pete (Peter Ford). A delegacia tinha como secretária a índia Betty Ann Sundown (Betty Ann Carr). O xerife enfrentava e perseguia a bordo de seu jipe todo tipo de fora-da-lei, desde corruptos e extorsionistas a ladrões de bancos e foragidos da justiça, salvando, quando preciso, inocentes condenados à morte. Os bons roteiros, a excelente música incidental de Lionel Newman, convidados especiais bastante conhecidos como Broderick Crawford, Forrest Tucker, William Shatner, Linda Cristal, Edmond O’Brien, James Gregory, George Maharis, Cameron Mitchell, Bobby Darin, David Wayne, John Payne e Russ Tamblyn, entre outros, não ajudaram a confirmar a enorme expectativa por uma ótima audiência. Mesmo o empenho de Glenn Ford, atuando com a costumeira classe como se estivesse numa grande produção de Hollywood não levantou a audiência da série. “Cade’s County” chegou ao fim da primeira temporada com índices alarmantes no Nielsen Ratings, mas Glenn Ford acreditava que na temporada seguinte as coisas iriam melhorar, assim como ocorreu com “Bonanza”. A série com os Cartwrights esteve para ser cancelada após as duas fracas temporadas iniciais mas chegou a campeã de audiência por vários anos, ficando 14 temporadas no ar. Para surpresa e desgosto de Glenn Ford, finda a primeira temporada, após 24 episódios produzidos, a série "Cade's County" foi cancelada.

Glenn Ford como 'Sam Cade' com Bobby Darin; com James Gregory
(centro) e ao lado do filho Peter Ford.


Caixas de VHS da série "Glenn Ford é a Lei".
Sucesso no Brasil - Curiosamente esta série não foi ainda lançada em DVD nos Estados Unidos, havendo apenas episódios em VHS disponíveis para venda. No Brasil a série foi exibida com o título “Glenn Ford é a Lei” e, ao contrário dos Estados Unidos, foi muito bem recebida em seu primeiro ano de exibição sendo reprisada por outros anos. O ator de “Gilda”, “Os Corruptos”, “A Casa de Chá do Luar de Agosto”, “Escravas do Medo” e de tantos faroestes clássicos mantinha, depois de mais de três décadas de carreira, um público fiel no país em que ele havia filmado o acidentado “O Forasteiro” (The Americano), em 1953/4. O relativo êxito da série “Glenn Ford é a Lei” no Brasil se deve à qualidade dos episódios, todos bastante movimentados e com o stuntmen Bill Hart cuidando das sequências perigosas. Mas é fora de dúvida que a enorme legião de fãs de Glenn Ford é quem levantava a audiência dos canais que exibiam a série. E, salvo engano, nenhum outro ator havia tido uma série na televisão brasileira com personagem fictício que tivesse como título o nome do ator. “Alfred Hitchcock Presents” levava o nome do famoso diretor como chamariz; “The Donna Reed Show”, “The Dean Martin Show” e tantos outros eram programas de variedades. “Glenn Ford é a Lei” foi, ao menos no Brasil, um grande sucesso à altura do prestígio desse inesquecível cowboy do cinema.

Glenn Ford com seu dublê habitual Bill Hart; no centro Peter Ford;
na capa da revista TV Guide a pergunta: "Por que atores de cinema
não brilham na TV?"

Mais uma vez Ford e Buchanan; Glenn Ford com Rodolfo Acosta.

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