Glenn Ford em "Gatilho Relâmpago". |
Entre os grandes cowboys do cinema está
Glenn Ford, não só pelos inúmeros westerns clássicos em que atuou mas também
por, na vida real, ser um homem que amava a vida de rancheiro. Colegas de
filmagens, diretores, técnicos e dublês ficavam admirados ao ver como o ator
canadense montava exibindo enorme habilidade em cima de um cavalo. E como Glenn
Ford gostava de atuar em faroestes! Decidia sem hesitar por um western mesmo
que um outro filme tivesse diretor e elenco de primeira. Nas décadas de 40, 50
e 60, entre os atores classe A, Glenn Ford somente fez menos westerns que John
Wayne e em 1970, o astro de “Gatilho Relâmpago” (The Fastest Gun Alive) percebeu
que o gênero que tanto apreciava entrava em indiscutível declínio. Chegava para
Glenn a hora de, assim como haviam feito Henry Fonda, Barbara Stanwyck e Audie
Murphy, olhar com mais carinho para a televisão. Glenn Ford aceitou uma
proposta da divisão de televisão da 20th Century-Fox para estrelar uma nova
série fadada ao sucesso em razão do apelo do nome do famoso ator.
A abertura da série; abaixo Glenn Ford entre Vic Morrow, Sidney Poitier e Paul Mazurski. |
Glenn
Impondo condições - A negociação não foi nada fácil pois
Ford impôs algumas condições, todas aceitas pelos produtores: a série deveria
ser western; o ator só trabalharia das 9 da manhã às 18 horas; seu amigo Edgar
Buchanan deveria fazer parte do elenco fixo da série; e por último Peter Ford,
filho do ator teria de ser contratado também, ainda que como ‘aspone’. A ideia inicial
era que Ford protagonizasse um policial responsável por uma instituição que
visasse reabilitar jovens que tivessem praticado crimes na adolescência. Sem
dúvida uma lembrança do drama clássico “Sementes de Violência” (1955) em que, como
um professor de escola pública, Ford se vê às voltas com a indisciplina dos
alunos Sidney Poitier, Vic Morrow e Paul Mazurski, entre outros. Esse filme pioneiro
sobre o tema da violência estudantil ficou famoso por introduzir o rock’n’roll
no cinema através de “Rock Around the Clock”, de Bill Haley and His Comets,
ouvido nos créditos iniciais. Glenn Ford não gostou da proposta pois queria mesmo
uma série western, mas se deixou convencer quando leu uma segunda sinopse (criada
por Rick Husky e Anthony Wilson) que estava mais para um western contemporâneo.
Como Sam Cade, um moderno xerife do Condado de Madrid, no Sudoeste do País, ele
dirigiria um jipe para caçar os bandidos que se metessem no local onde ele era
a lei. O título escolhido para a série foi “Cade’s County”, o velho amigo de
noitadas de pôquer e de caçadas Edgar Buchanan foi contratado, assim como Peter
Ford seria o treinador de diálogos do elenco. A maioria das filmagens seria
feita no grande cenário dos estúdio, em Los Angeles, facilitando a vida de Ford
que morava a cidade e queria chegar em casa antes do anoitecer. Inicialmente
prevista para ter episódios de 25 minutos de duração, prevaleceu a proposta de 50
minutos para cada episódio filmado em cores.
Glenn Ford com Henry Mancini. |
Horário
nobre - O tratamento dispensado pelos produtores à nova série foi
muito especial, seja na escolha dos roteiristas, dos diretores e do elenco. Além
de Ford e Buchanan estavam no cast original Taylor Lacher, Victor Campos e Sandra
Ego, atriz com descendência índia. Sandra foi logo substituída na série por Betty
Ann Carr, legítima índia Cherokee. Após os primeiros episódios, Peter Ford foi
incorporado ao elenco fixo da série. Um ponto altamente positivo da produção
foi encomendar ao genial Henry Mancini o tema de abertura de “Cade’s County”.
Mancini compôs uma canção bastante alegre e marcante. Acreditando no sucesso
absoluto da série, a CBS a programou para um horário ultranobre, os domingos às
21h30, horário sempre ocupado por fortes concorrentes. A estreia de “Cade’s
County”se deu em 19 de setembro de 1971, com o episódio “Homecoming”, escrito
pelos criadores da série e dirigido por Marvin J. Chomski e com Darren McGavin
como ator convidado.
Acima Edgar Buchanan, Glenn Ford, Taylor Lacher e Victor Campos; abaixo os amigos Buchanan e Ford. |
Baixa
audiência e cancelamento - Sam Cade, um solteirão de poucas
palavras era auxiliado por seus assistentes J.J. Jackson (Edgar Buchanan), Arlo
Pritchard (Taylor Lacher), Rudy Davillo (Victor Campos) e Pete (Peter Ford). A
delegacia tinha como secretária a índia Betty Ann Sundown (Betty Ann Carr). O
xerife enfrentava e perseguia a bordo de seu jipe todo tipo de fora-da-lei,
desde corruptos e extorsionistas a ladrões de bancos e foragidos da justiça,
salvando, quando preciso, inocentes condenados à morte. Os bons roteiros, a
excelente música incidental de Lionel Newman, convidados especiais bastante conhecidos
como Broderick Crawford, Forrest Tucker, William Shatner, Linda Cristal, Edmond
O’Brien, James Gregory, George Maharis, Cameron Mitchell, Bobby Darin, David
Wayne, John Payne e Russ Tamblyn, entre outros, não ajudaram a confirmar a
enorme expectativa por uma ótima audiência. Mesmo o empenho de Glenn Ford,
atuando com a costumeira classe como se estivesse numa grande produção de
Hollywood não levantou a audiência da série. “Cade’s County” chegou ao fim da
primeira temporada com índices alarmantes no Nielsen Ratings, mas Glenn Ford
acreditava que na temporada seguinte as coisas iriam melhorar, assim como
ocorreu com “Bonanza”. A série com os Cartwrights esteve para ser cancelada
após as duas fracas temporadas iniciais mas chegou a campeã de audiência por
vários anos, ficando 14 temporadas no ar. Para surpresa e desgosto de Glenn
Ford, finda a primeira temporada, após 24 episódios produzidos, a série "Cade's County" foi cancelada.
Glenn Ford como 'Sam Cade' com Bobby Darin; com James Gregory (centro) e ao lado do filho Peter Ford. |
Caixas de VHS da série "Glenn Ford é a Lei". |
Sucesso
no Brasil - Curiosamente esta série não foi ainda lançada em DVD nos
Estados Unidos, havendo apenas episódios em VHS disponíveis para venda. No
Brasil a série foi exibida com o título “Glenn Ford é a Lei” e, ao contrário
dos Estados Unidos, foi muito bem recebida em seu primeiro ano de exibição
sendo reprisada por outros anos. O ator de “Gilda”, “Os Corruptos”, “A Casa de
Chá do Luar de Agosto”, “Escravas do Medo” e de tantos faroestes clássicos
mantinha, depois de mais de três décadas de carreira, um público fiel no país em
que ele havia filmado o acidentado “O Forasteiro” (The Americano), em 1953/4. O
relativo êxito da série “Glenn Ford é a Lei” no Brasil se deve à qualidade dos
episódios, todos bastante movimentados e com o stuntmen Bill Hart cuidando das
sequências perigosas. Mas é fora de dúvida que a enorme legião de fãs de Glenn
Ford é quem levantava a audiência dos canais que exibiam a série. E, salvo
engano, nenhum outro ator havia tido uma série na televisão brasileira com
personagem fictício que tivesse como título o nome do ator. “Alfred Hitchcock
Presents” levava o nome do famoso diretor como chamariz; “The Donna Reed Show”,
“The Dean Martin Show” e tantos outros eram programas de variedades. “Glenn
Ford é a Lei” foi, ao menos no Brasil, um grande sucesso à altura do prestígio
desse inesquecível cowboy do cinema.
Glenn Ford com seu dublê habitual Bill Hart; no centro Peter Ford; na capa da revista TV Guide a pergunta: "Por que atores de cinema não brilham na TV?" |
Mais uma vez Ford e Buchanan; Glenn Ford com Rodolfo Acosta. |
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