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4 de setembro de 2015

ALMA DE RENEGADO (RIDING SHOTGUN), DIVERTIDO WESTERN COM RANDOLPH SCOTT


André De Toth
“Matar ou Morrer” (High Noon) foi um western que influenciou muitos outros filmes, especialmente na situação de um homem isolado diante da adversidade, sem falar no indefectível relógio que passou a ser presença constante em tantos faroestes. “Alma de Renegado” (Riding Shotgun), de André De Toth é um dos westerns que teriam sido filmados na esteira do clássico de Fred Zinnemann, isto segundo alguns autores. Mas uma análise mais detida desse filme mostra que não é bem assim e que, como não poderia deixar de ocorrer com um western do diretor húngaro, “Alma de Renegado” tem personalidade própria. Esta foi a quinta vez que De Toth dirigiu Scott, depois de “Terra do Inferno” (Man in the Saddle)/1951, “Ouro da Discórdia” (Carson City)/1952, “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun)/1953 e “Torrentes de Vingança” (Thunder Over the Plains)/1953. E ainda haveria “Feras Humanas” (The Bounty Hunter), também de 1954, derradeira reunião de De Toth com Randy Scott, parceria menos famosa que a de Scott com Budd Boetticher que rendeu sete faroestes, nenhum tão bem humorado quanto “Alma de Renegado”.


Randolph Scott
Inocente perseguido - A história de Kenneth Perkins foi adaptada por Thomas W. Blackburn, e nela Larry Delong (Randolph Scott) passa anos em busca de Dan Marady (James Millican), fora-da-lei de quem quer se vingar. Delong torna-se um ‘riding shotgun’ (guarda de diligências), pois sabe que Marady costuma praticar assaltos a esses veículos. O esperto bandido atrai Delong para uma emboscada mortal, incriminando-o pela culpa de um crime cometido pelo bando. Delong consegue sobreviver e escapar, dirigindo-se para a cidade de Deepwater, onde funciona um cassino que Marady se prepara para roubar. Delong tenta de todos os modos avisar a população do perigo que é a chegada de Marady, porém ninguém em Deepwater lhe dá atenção. Por outro lado espalha-se a notícia que Delong foi o responsável pelo ataque à diligência, no qual um guarda foi morto e dois passageiros feridos. Ao invés de se preocupar com a iminente chegada do bando de Marady, os habitantes da cidade querem prender Delong. Com o xerife fora da cidade, o assistente de xerife Tub Murphy (Wayne Morris) é pressionado a prender Delong que se refugia em uma cantina. O assistente de xerife acredita na inocência de Delong e hesita em prendê-lo; quando se decide a proceder à prisão, Marady e seus homens já estão em Deepwater roubando o cassino e seus frequentadores. Delong sai da cantina e consegue evitar a ação da quadrilha de Marady, a quem enfrenta e mata enquanto o restante do bando é dominado.

Wayne Morris
Xerife fora do peso - “Alma de Renegado” não é um western-comédia, até porque Randolph Scott nada tem de engraçado, mas são tantas as situações espirituosas do filme que o tornam o western mais divertido do ator do rosto talhado em granito. Desta vez Scott derruba toda uma quadrilha sem usar os punhos ou seu Colt; ele corta as cilhas que prendem as selas dos cavalos dos bandidos e um após o outro eles beijam o chão poeirento de Deepwater. A habilidade de André De Toth consegue fazer com que o jocoso não prejudique a dramaticidade mesclando-a com os muitos momentos cômicos. Xerifes distantes do padrão físico ideal nunca foram novidade em faroestes e Wayne Morris com os muitos quilos a mais parece a caminho de imitar Andy Devine. E o personagem de Morris deixa de lado a obrigação com a lei para atender sua necessidade maior que é comer. Fritz, o sovina dono da cantina interpretado por Fritz Feld sofre quando a esposa e filhos (todos também robustos) exige dinheiro para comprar comida, dinheiro que Fritz guarda para adquirir um espelho para sua tosca cantina. Colocado o espelho a cantina se torna alvo de uma saraivada de tiros que milagrosamente não atingem o desejado objeto refletivo. O próprio avarento é quem destrói o espelho. Há ainda a figura bizarra do pequeno homem com a corda nas mãos e o ódio no olhar, pronto para executar um linchamento, corda que afinal provoca risos ao ser utilizada de inusitada maneira.

Wayne Morris devorando mais um prato sendo observado por Joe Sawyer;
Morris exibe uma bela barriga ao lado de James Bell.

Fritz Feld feliz com o espelho que acaba quebrado. 

Charles (Buchinsky) Bronson
Pedrada em Charles Bronson - “Alma de Renegado” é um faroeste que perde muito tempo preocupado em explicar a história, recurso típico de filmes noir e que não funciona bem nos westerns. Scott tem duas boas brigas no filme, a melhor delas contra o forte Joe Sawyer, desta vez num personagem sério, ele Sawyer que fez tantas comédias. Em outra sequência um adolescente indignado atinge o rosto de Larry Delong com seu certeiro bodoque e o personagem de Scott sem perder a calma murmura “David vs Golias”. Mais tarde, arrependido da injustiça cometida com o herói, o jovem o salva da morte apontando o bodoque desta vez para a testa do bandido Pinto (Charles Bronson). Sexto nome nos créditos, ainda como ‘Buchinsky’, Bronson demonstra muita personalidade ao se impor irreverentemente a Randolph Scott, tentando subjugá-lo no início do filme. “Alma de Renegado” foi filmado no mesmo ano de “Vera Cruz”, de “O Último Bravo” (Apache) e de “Rajadas de Ódio” (Drum Beat).

Um bodoque, uma pontaria certeira e Charles Bronson atordoado.

Charles Bronson; Wayne Morris.

Charles Bronson ameaçando Randolph Scott.

James Millican
Randy Scott incólume, mais uma vez - Este western vai agradar bastante àqueles que gostam de descobrir atores antigos em pontas ou mesmo figurações, gente como Buddy Buster, Harry Hines, Bud Osborne, Jack Perrin e principalmente Buddy Roosevelt, ex-mocinho das matinês nos anos 30. Mais novos mas também com rostos bastante conhecidos, aparecem Frank Ferguson, Boyd ‘Red’ Morgan e James Bell. James Millican, um dos últimos a abandonar Will Kane em “Matar ou Morrer”, é o principal homem mau, sempre bastante convincente, bom ator que era sem maiores oportunidades. Millican viria a falecer um ano depois (1955) aos 45 anos de idade. Com a mesma idade faleceria em 1959 Wayne Morris, lembrado como ator principal do último western B feito em série pela Republic Pictures, que foi “Pistoleiro por Equívoco” (Two Guns and a Badge), em 1954. Correto e espartano como de hábito, Randolph Scott consegue mais uma vez se desvencilhar da obrigação de beijar a mocinha Joan Weldon, com quem Randy já havia contracenado em “O Pistoleiro” um ano antes.

Foto para publicidade de Randy com Joan Weldon nos braços, mas sem beijo;
Buddy Roosevelt, mocinho dos anos 30; Victor Perrin e sua corda.

Randolph Scott
Fuga da rotina rigorosa - André De Toth esperaria até 1959 para realizar seu grande filme no gênero que foi “Quadrilha Maldita” (Day of the Outlaw). Aos 56 anos de idade em 1954, Randolph Scott parecia incansável rodando um western após o outro, filmes de orçamento pequeno mas de boa qualidade. “Alma de Renegado” pode não ter se tornado um clássico, mas merece ser visto especialmente por fugir da rotina rigorosa dos filmes do grande cowboy até seu encontro com Budd Boetticher que resultou na celebrada série de sete faroestes, nenhum deles tão jocoso quanto “Alma de Renegado”.

James Millican com Charles Bronson; Wayne Morris.



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