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André De Toth |
“Matar ou Morrer” (High Noon) foi um
western que influenciou muitos outros filmes, especialmente na situação de um
homem isolado diante da adversidade, sem falar no indefectível relógio que
passou a ser presença constante em tantos faroestes. “Alma de Renegado” (Riding
Shotgun), de André De Toth é um dos westerns que teriam sido filmados na
esteira do clássico de Fred Zinnemann, isto segundo alguns autores. Mas uma análise mais detida desse filme
mostra que não é bem assim e que, como não poderia deixar de ocorrer com um
western do diretor húngaro, “Alma de Renegado” tem personalidade própria. Esta foi a quinta vez que De Toth dirigiu Scott, depois de “Terra do Inferno” (Man
in the Saddle)/1951, “Ouro da Discórdia” (Carson City)/1952, “O Pistoleiro”
(The Stranger Wore a Gun)/1953 e “Torrentes de Vingança” (Thunder Over the
Plains)/1953. E ainda haveria “Feras Humanas” (The Bounty Hunter), também de
1954, derradeira reunião de De Toth com Randy Scott, parceria menos famosa que
a de Scott com Budd Boetticher que rendeu sete faroestes, nenhum tão bem
humorado quanto “Alma de Renegado”.
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Randolph Scott |
Inocente
perseguido - A história de Kenneth Perkins foi adaptada por Thomas W. Blackburn,
e nela Larry Delong (Randolph Scott) passa anos em busca de Dan Marady (James
Millican), fora-da-lei de quem quer se vingar. Delong torna-se um ‘riding
shotgun’ (guarda de diligências), pois sabe que Marady costuma praticar
assaltos a esses veículos. O esperto bandido atrai Delong para uma emboscada
mortal, incriminando-o pela culpa de um crime cometido pelo bando. Delong
consegue sobreviver e escapar, dirigindo-se para a cidade de Deepwater, onde
funciona um cassino que Marady se prepara para roubar. Delong tenta de todos
os modos avisar a população do perigo que é a chegada de Marady, porém ninguém
em Deepwater lhe dá atenção. Por outro lado espalha-se a notícia que Delong foi
o responsável pelo ataque à diligência, no qual um guarda foi morto e dois
passageiros feridos. Ao invés de se preocupar com a iminente chegada do bando
de Marady, os habitantes da cidade querem prender Delong. Com o xerife fora da
cidade, o assistente de xerife Tub Murphy (Wayne Morris) é pressionado a
prender Delong que se refugia em uma cantina. O assistente de xerife acredita
na inocência de Delong e hesita em prendê-lo; quando se decide a proceder à prisão, Marady
e seus homens já estão em Deepwater roubando o cassino e seus frequentadores. Delong
sai da cantina e consegue evitar a ação da quadrilha de Marady, a quem enfrenta
e mata enquanto o restante do bando é dominado.
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Wayne Morris |
Xerife
fora do peso - “Alma de Renegado” não é um western-comédia, até porque
Randolph Scott nada tem de engraçado, mas são tantas as situações espirituosas
do filme que o tornam o western mais divertido do ator do rosto talhado em
granito. Desta vez Scott derruba toda uma quadrilha sem usar os punhos ou seu
Colt; ele corta as cilhas que prendem as selas dos cavalos dos bandidos e um
após o outro eles beijam o chão poeirento de Deepwater. A habilidade de André De
Toth consegue fazer com que o jocoso não prejudique a dramaticidade mesclando-a
com os muitos momentos cômicos. Xerifes distantes do padrão físico ideal nunca
foram novidade em faroestes e Wayne Morris com os muitos quilos a mais parece a
caminho de imitar Andy Devine. E o personagem de Morris deixa de lado a
obrigação com a lei para atender sua necessidade maior que é comer. Fritz, o sovina
dono da cantina interpretado por Fritz Feld sofre quando a esposa e filhos
(todos também robustos) exige dinheiro para comprar comida, dinheiro que Fritz
guarda para adquirir um espelho para sua tosca cantina. Colocado o espelho a
cantina se torna alvo de uma saraivada de tiros que milagrosamente não atingem
o desejado objeto refletivo. O próprio avarento é quem destrói o espelho. Há ainda a
figura bizarra do pequeno homem com a corda nas mãos e o ódio no olhar, pronto
para executar um linchamento, corda que afinal provoca risos ao ser utilizada
de inusitada maneira.
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Wayne Morris devorando mais um prato sendo observado por Joe Sawyer; Morris exibe uma bela barriga ao lado de James Bell. |
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Fritz Feld feliz com o espelho que acaba quebrado. |
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Charles (Buchinsky) Bronson |
Pedrada
em Charles Bronson - “Alma de Renegado” é um faroeste que
perde muito tempo preocupado em explicar a história, recurso típico de
filmes noir e que não funciona bem nos westerns. Scott tem duas boas brigas no
filme, a melhor delas contra o forte Joe Sawyer, desta vez num personagem sério,
ele Sawyer que fez tantas comédias. Em outra sequência um adolescente indignado
atinge o rosto de Larry Delong com seu certeiro bodoque e o personagem de Scott
sem perder a calma murmura “David vs
Golias”. Mais tarde, arrependido da injustiça cometida com o herói, o jovem
o salva da morte apontando o bodoque desta vez para a testa do bandido Pinto
(Charles Bronson). Sexto nome nos créditos, ainda como ‘Buchinsky’, Bronson
demonstra muita personalidade ao se impor irreverentemente a Randolph Scott,
tentando subjugá-lo no início do filme. “Alma de Renegado” foi filmado no mesmo
ano de “Vera Cruz”, de “O Último Bravo” (Apache) e de “Rajadas de Ódio” (Drum
Beat).
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Um bodoque, uma pontaria certeira e Charles Bronson atordoado. |
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Charles Bronson; Wayne Morris. |
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Charles Bronson ameaçando Randolph Scott. |
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James Millican |
Randy
Scott incólume, mais uma vez - Este western vai agradar bastante
àqueles que gostam de descobrir atores antigos em pontas ou mesmo figurações, gente como Buddy Buster, Harry Hines, Bud Osborne, Jack Perrin e principalmente Buddy
Roosevelt, ex-mocinho das matinês nos anos 30. Mais novos mas também com rostos
bastante conhecidos, aparecem Frank Ferguson, Boyd ‘Red’ Morgan e James Bell.
James Millican, um dos últimos a abandonar Will Kane em “Matar ou Morrer”, é o
principal homem mau, sempre bastante convincente, bom ator que era sem maiores
oportunidades. Millican viria a falecer um ano depois (1955) aos 45 anos de
idade. Com a mesma idade faleceria em 1959 Wayne Morris, lembrado como ator
principal do último western B feito em série pela Republic Pictures, que foi “Pistoleiro
por Equívoco” (Two Guns and a Badge), em 1954. Correto e espartano como de
hábito, Randolph Scott consegue mais uma vez se desvencilhar da obrigação de
beijar a mocinha Joan Weldon, com quem Randy já havia contracenado em “O
Pistoleiro” um ano antes.
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Foto para publicidade de Randy com Joan Weldon nos braços, mas sem beijo; Buddy Roosevelt, mocinho dos anos 30; Victor Perrin e sua corda. |
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Randolph Scott |
Fuga
da rotina rigorosa - André De Toth esperaria até 1959
para realizar seu grande filme no gênero que foi “Quadrilha Maldita” (Day of
the Outlaw). Aos 56 anos de idade em 1954, Randolph Scott parecia incansável
rodando um western após o outro, filmes de orçamento pequeno mas de boa qualidade.
“Alma de Renegado” pode não ter se tornado um clássico, mas merece ser visto
especialmente por fugir da rotina rigorosa dos filmes do grande cowboy até seu
encontro com Budd Boetticher que resultou na celebrada série de sete faroestes,
nenhum deles tão jocoso quanto “Alma de Renegado”.
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James Millican com Charles Bronson; Wayne Morris. |
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