UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

25 de setembro de 2015

WAYNE MORRIS E AUDIE MURPHY – HERÓIS DE GUERRA COM SORTES DIFERENTES


Wayne Morris e Audie Murphy
Qualquer cinéfilo sabe que o baixinho Audie Murphy foi o mais condecorado soldado norte-americano na II Guerra Mundial. Findo o conflito, Audie seguiu uma bem sucedida carreira como ator e, além dele, também Neville Brand e Lee Marvin enveredaram pelo cinema. Neville foi o segundo mais condecorado soldado de Tio Sam naquela Guerra e Marvin também retornou dos campos de batalha ferido e com o peito repleto de medalhas. Muitos ex-soldados se tornaram atores e dessa longa lista são lembrados Chuck Connors, James Arness, Charles Bronson, Ernest Borgnine, Lee Van Cleef, Aldo Ray, Jack Palance e outros. Houve ainda um sem número de atores que, de alguma forma, participaram da II Guerra Mundial mas que eram já atores famosos, merecendo ser lembrados Tyrone Power, James Stewart, Clark Gable, Gene Kelly, Victor Mature, Henry Fonda, Douglas Fairbanks Jr., Spencer Tracy e, menos conhecido que estes, Wayne Morris.

Wayne Morris
Wayne Morris, abatendo os japs - Assim como Audie Murphy, Wayne Morris recebeu muitas honrarias, sendo o mais condecorado piloto da Marinha Norte-Americana, tendo participado de 57 missões e abatido sete aviões japoneses. Ainda ator, Wayne Morris gostava de voar, tornando-se piloto. Com a eclosão da Guerra e com a participação norte-americana, Morris alistou-se na U.S. Navy sendo treinado como piloto e logo entrando em ação, mostrando bravura e perícia incomuns. Wayne Morris nasceu em 17 de fevereiro de 1914, estando, portanto, com 28 anos quando se alistou em 1942. Dez anos mais novo, Audie Murphy era ainda adolescente quando aos 18 anos começou os treinamentos para ser mandado como soldado para o front europeu. Wayne se destacou na faculdade como jogador de American Football e simultaneamente cursava o Pasadena Playhouse, famosa escola de Arte Dramática de Los Angeles. Louro e boa pinta, com 1,88m de altura, Bert DeWayne Morris não demorou a ser percebido por um caçador de talentos da Warner Bros., assinando contrato com o estúdio e participando de seu primeiro filme em 1936. Por coincidência esse filme intitulado “Titã dos Ares” era sobre aviões.

Pausa na carreira para lutar - No ano seguinte, sete filmes depois, Morris interpretou ‘Kid Galahad’ em “Talhado para Campeão”, drama sobre boxe estrelado por Edward G. Robinson, Bette Davis e Humphrey Bogart. Daí para frente Wayne Morris passou a obter cada vez melhores papéis, invariavelmente como ator principal, mostrando ser versátil em dramas, comédias e policiais. Somente em 1941 Morris atuou em um western, “Três Homens Maus” (Bad Men of Missouri), interpretando Bob Younger, um dos três irmãos foras-da-lei. Os demais são Dennis Morgan (Cole) e Arthur Kennedy (Jim). 1941 foi o ano de despedida de Wayne Morris do cinema pois em 1942, depois do ataque japonês a Pearl Harbour,  ele já estava pilotando caças na U.S. Navy. Finda a Guerra, Wayne Morris retornou à Warner Bros. para retomar sua carreira, agora como herói da pátria. E parecia que aquele outro herói ultracondecorado – Audie Leon Murphy – com cara de adolescente e que tentava o cinema teria que lutar muito para chegar onde estava Wayne Morris. Mas não foi bem assim...

À direita pôster de "Três Homens Maus" vendo-se Arthur Kennedy, Dennis Morgan,
Wayne Morris e Jane Wyman; à esquerda cena de "Talhado para Campeão" com
Wayne Morris como o boxeador ladeado por Harry Carey e Edward G. Robinson.

Lola Albright e Wayne Morris
Relegado a filmes ‘B’ - O retorno de Wayne Morris à Warner Bros. foi até auspicioso, com o drama “Vale do Destino”, contracenando com uma das principais atrizes do estúdio que era Ida Lupino. Mas nos filmes seguintes Morris se viu relegado à condição de coadjuvante em filmes, quase sempre estrelados por Ronald Reagan ou por Jane Wyman, quando não pelos dois juntos no tempo em que ainda eram casados. A carreira de Wayne Morris não deslanchou como era de se esperar e a Warner Bros. passou a escalar o ator em  filmes ‘B’, aqueles que complementavam programas duplos. Chamados de ‘Double Features’, esses filmes não ultrapassavam os 80 minutos. Foi assim em “Inferno ou Glória” (The Younger Brothers), em que novamente Morris interpretou um dos irmãos Younger, desta vez Cole. Terminada a vigência do contrato com o estúdio dirigido por Jack Warner, Wayne Morris se viu desempregado uma vez que o contrato não foi renovado, seguindo a nova política dos estúdios de Hollywood.

Única foto conhecida de Wayne Morris com
Audie Murphy, ambos conversando com
Jeanne Cagney, irmã de James Cagney.
Audie cresce, Wayne desce - O declínio de Wayne Morris coincidiu com a ascensão de Audie Murphy que, contratado pela Universal International, fazia westerns um atrás do outro, todos eles rendendo muito ao estúdio. A Universal sabia que descobrira uma mina de ouro ao contratar Audie Murphy e comentava-se que as receitas dos filmes do pequeno novo cowboy ajudavam a produzir westerns mais caros e que nem sempre davam lucro, como os de Anthony Mann com James Stewart. Se a cada filme Audie Murphy mais crescia no conceito dos produtores e junto ao público, Wayne Morris viu-se obrigado a trabalhar para a modesta Monogram, onde estrelou “Vingança que se Desvanece” (Sierra Passage), com Lola Albright no elenco. Notava-se que, aos 35 anos, Wayne Morris acumulava uns quilos a mais, impróprios para a silhueta de um mocinho. Nada que um bom espartilho não disfarçasse, como muitos outros cowboys costumavam fazer para esconder a incômoda barriguinha.

Wayne Morris
Série de westerns B - Em 1951 Wayne Morris atuou em “Guerrilheiros do Sertão” (The Bushwackers), western B cujo pôster colocava em destaque Dorothy Malone e sequer mostrava Wayne Morris. Outros westerns feitos por Morris para as produtoras independentes Westwood Productions e Silvermine Productions foram “Desert Pursuit” e “Missão Cumprida” (The Fighting Lawman), ambos com Virginia Grey, “Enredo Sinistro” (Star of Texas), “The Marksman”, “Texas Bad Man”, “Duelo de Assassinos” (The Desperado). Distribuídos pela Allied Artists, esses westerns eram dirigidos ou por Thomas Carr ou por Lewis D. Collins, especialistas em filmes de baixíssimo orçamento. A Republic Pictures já havia encerrado as séries westerns B com Allan Rocky Lane, Roy Rogers, Sunset Carson, Bill Elliott Monte Hale e Rex Allen, os últimos cowboys do estúdio. O mesmo ocorrera com a Columbia que havia aposentado Charles Starrett e com a RKO que tinha sob contrato Tim Holt. Muitos mocinhos (Roy Rogers, Gene Autry, Hopalong Cassidy) haviam migrado para a novidade chamada televisão e somente Wayne Morris, mesmo sem possuir o renome e o carisma dos mocinhos citados, resistia fazendo, em série, aquele tipo de western, isto até 1954.

Wayne Morris e Beverly Garland
‘O último western B’ - Veio então a derradeira produção distribuída pela Allied Artists com direção de Lewis D. Collins e estrelada por Wayne Morris, western B intitulado “Pistoleiro por Equívoco” (Two Guns and a Badge). Esse faroeste é citado pela quase totalidade dos autores como o ultimo western B produzido em série, adquirindo uma singular fama e status de cult, tornando de certa forma importante, ainda que duvidosamente honrosa, o nome de Wayne Morris. O outro herói de Guerra que se tornara ator, Audie Murphy, seguia estrelando westerns na Universal ao passo que Wayne Morris despencava para quarto ou quinto nome nos créditos dos filmes, isto quando não tinha que buscar trabalho em pequenas participações em séries de TV. Uma boa chance Morris teve em “Alma de Renegado” (Riding Shotgun), western da Warner Bros. com Randolph Scott. Interessante comentar que os westerns de Randolph Scott, Joel McCrea, Audie Murphy, Rory Calhoun e George Montgomery, por muitos chamados de ‘B’, acabaram por criar uma categoria ainda mais inferior para os faroestes da Republic Pictures e congêneres: westerns C ou filmes da Poverty Row, região de Los Angeles onde se situavam os estúdios sem expressão de Hollywood.

Pôster de "pistoleiro por Equívoco"; à direita Wayne Morris aponta two guns
para o vilão Robert J. Wilke.

Kirk Douglas e Wayne Morris
Com Kirk Douglas e Kubrick - “The Lonesome Trail”, de 1955, foi o último western de Wayne Morris, filme que teve no elenco John Agar, outro ator que depois de sentir o sabor do sucesso passou a atuar em produções B. Descendo degrau a degrau rumo ao ostracismo, Wayne Morris tentou a sorte na televisão com a série “The Adventures of the Big Man”, exibida em 1956 e que foi cancelada após 16 episódios. E veio, em 1957, a grande oportunidade para a carreira de Wayne Morris, com “Glória Feita de Sangue”, filme de guerra e primeira obra-prima de Stanley Kubrick. Com Kirk Douglas no papel principal, Wayne Morris como um tenente covarde é o quinto nome do elenco, tendo oportunidade de demonstrar o muito bom ator dramático que era. Tudo indicava que um novo horizonte se desenhava para Wayne Morris, mas paradoxalmente ele não teve nenhum outro convite para um filme, sobrevivendo de suas aparições na televisão.

O piloto Wayne Morris.
A morte num porta-aviões - Se o público olvidou Wayne Morris, as Forças Armadas norte-americanas não o esqueceram e em 14 de setembro de 1959 Morris foi o convidado especial para uma comemoração na Marinha. Lá estava o piloto herói de guerra na Baía de São Francisco, a bordo de um porta-aviões, o mesmo que que fora utilizado no conflito mundial. Morris fora chamado para receber uma homenagem de seu ex-comandante e quando isso acontecia sofreu um fulminante ataque cardíaco. O ator foi levado ao Hospital Naval da Califórnia, mas não resistiu, morrendo ao dar entrada no nosocômio. Wayne Morris deixou viúva sua segunda esposa, Patrícia O’Rourke. Audie Murphy certamente deve ter ficado chocado e triste com as circunstâncias da morte do ex-colega soldado e ator. Mas a vida continuava e Audie, no auge do sucesso cinematográfico, seguia fazendo bons westerns mesclados com outros não tão bons e se desgostando com os críticos que insistiam em afirmar que como ator ele era um pequeno grande soldado.

Audie Murphy
A morte num avião - Audie Murphy teve uma carreira mais brilhante que a de Wayne Morris, mas sua sorte na vida real não foi muito melhor. Após parar de filmar, Audie passou a conviver com uma série de problemas psicológicos (traumas pós-guerra) atribuídos aos momentos que esteve nos campos de batalha, onde assegura-se, ele teria matado pelo menos 240 soldados alemães. A desordem mental de Audie Murphy chegou ao ponto de ele brigar num bar e atirar contra um homem, ferindo-o. Em 18 de maio de 1971, quando estava com 46 anos de idade, o avião particular em que Audie viajava chocou-se contra uma rocha em Roanoke, na Virgínia. Tanto Audie Murphy quanto Wayne Morris foram enterrados com honras militares e quando se compara as carreiras dos dois pode-se afirmar que Audie Murphy teve mais sorte. Sua passagem nos campos de batalha lhe abriram as portas para o cinema, enquanto o contrário ocorreu com Wayne Morris.



À esquerda pôster do western "Duelo de Assassinos"; à direita grande público
aguarda a chegada de Audie Murphy para a estreia de "Terrível como o Inferno",
filme de guerra baseado na vida de Audie Murphy e estrelado por ele.

Pôsteres dos westerns "Vingança que se Desvanece" e "Desert Pursuit" e
lobby-card de "Missão Cumprida", vendo-se Wayne Morris com Virginia Grey.



Nenhum comentário:

Postar um comentário