André Bazin |
Parece que listas dos melhores não têm
outra função senão a de provocar polêmicas. Recentemente o site Complex.com
publicou a lista dos ‘25 Melhores Críticos Cinematográficos de Todos os Tempos’.
O site não explica qual foi a metodologia para a escolha que leva alguém a ser considerado
o melhor do mundo. O critério poderia ter sido o poder de influência das
críticos com suas análises; ou a importância dos livros publicados pelo crítico; ou ainda seu
estilo de escrever; poderia ser também o conjunto dos prêmios recebidos.
Poderia a Complex.com observar que uma escolha desse tipo só pode ser
subjetiva, mas nem isso é dito. Nada é explicado. A Complex.com apenas comenta, referentemente ao primeiro colocado que “Não há nenhum livro sobre cinema tão
obrigatório como ‘O Que é Cinema?”, de autoria de Bazin. Indispensável nas
aulas sobre Cinema, esse livro é a explicação definitiva do que é uma narrativa
visual. Bazin foi o responsável pela ‘Teoria do Autor’, que contextualizou
filmes clássicos feitos pelos grandes diretores”.
Os críticos Roger Ebert, Andrew Sarris, Pauline Kael e J. Hoberman. |
Os
melhores críticos - Os cinco primeiros colocados na
lista dos ‘25 Melhores Críticos de Todos os Tempos’, segundo o site Complex.com
são: 1.º) André Bazin; 2.º) Roger
Ebert; 3.º) Andrew Sarris; 4.º) Pauline Kael; 5.º) J. Hoberman.
André Bazin foi um dos fundadores da influente publicação francesa “Cahiers du
Cinema”, que tinha como críticos, além de Bazin, os jovens Éric Rommer,
Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jacques Rivette e Claude Chabrol. Todos os
cinco se tornaram cineastas. André Bazin faleceu em 1958, aos 40 anos de idade,
quando era o mentor indiscutível do “Cahiers du Cinema” e após criar a ‘Teoria
do Autor’ que, de certa forma mudou a maneira de se fazer cinema. Os artigos de
Bazin foram reunidos em dois livros intitulados “O Que é o Cinema?”, obra
essencial e que faz parte das bibliotecas de todos aqueles que querem
compreender melhor a 7.ª Arte.
James Stewart em "O Preço de um Homem", de Anthony Mann. |
Direto para as prateleiras - Entre as críticas de autoria de
André Bazin contidas em “O Que é o Cinema?” estão as referentes aos faroestes
“Os Brutos Também Amam” e “Sete Homens Sem Destino”. Segundo Bazin, esses
filmes são exemplares em demonstrar as diferenças entre dois tipos de produção
de westerns. Bazin explica que, “Shane é uma superprodução ambiciosa da Paramount concebida
para celebrar o 40.º aniversário desse estúdio e também para comemorrar os 70
anos de Adolph Zukor, o presidente daquela empresa. Shane é um filme que nasceu para ser saudado como uma obra-prima.
Por outro lado, Sete Homens Sem Destino,
western muito superior ao de Stevens, vai passar despercebido e provavelmente
vai voltar para as prateleiras da Warner Bros., de onde vai sair apenas para
completar programação”. Ao escrever sobre o filme de Budd Boetticher, André
Bazin disse: “Minha admiração por Sete Homens Sem Destino não vai me
levar a concluir que Budd Boetticher é o maior diretor de filmes de faroeste -
hipótese que não descarto - mas simplesmente este seu filme é talvez o melhor
western que eu já vi desde o fim da guerra (II Guerra Mundial). O que me faz ser reticente nessa questão é
lembrar dos westerns O Preço de um Homem e Rastros de Ódio. (Crítica publicada
no “Cahiers du Cinema” n.º 74, de setembro de 1957)
Oscar 'Budd' Boetticher Jr. |
Elogio de Sergio Leone - O entusiasmo de André Bazin por “Sete Homens Sem
Destino” acabou por tornar o western de Budd Boetticher um filme
verdadeiramente Cult no mais amplo sentido que essa palavra possa ter. A profecia
de Bazin quanto ao destino do primeiro dos sete filmes que Budd Boetticher fez
com Randolph Scott, acabou não acontecendo. Devido a questões de direitos de
distribuição “Sete Homens Sem Destino” que foi produzido pela Batjac de John
Wayne, desapareceu de circulação e não foi mais exibido nem como complemento em
sessões duplas e nem mesmo na televisão por mais de 40 anos. O universo dos fãs de faroestes
parecia dividido entre aqueles orgulhosos cinéfilos que assistiram “Sete Homens
Sem Destino” e aqueles que sonhavam um dia poder ver esse filme. Segundo Jim
Kitses, outro crítico e historiador de cinema apaixonado pelos filmes de Budd Boetticher, havia uma
única cópia muito desbotada de “Sete Homens Sem Destino” que clandestinamente
circulava em cineclubes e em festivais de menor expressão. E foi num desses
festivais que, após a exibição de um western de Boetticher, Sergio Leone se
levantou e, de onde estava, dirigindo-se a Boetticher com a característica expansividade, gritou para todos ouvirem: “Oscar, eu roubei tudo de você!” (O nome
do diretor era Oscar Boetticher Jr.).
Alan Ladd |
Sacarina
santificação de Shane
- Voltando a André Bazin, sua opinião sobre “Rastros de Ódio” fez com que um
tanto tardiamente esse western de John Ford ganhasse cada vez mais admiradores,
isto a partir da década de 70. E como Bazin admirava igualmente os filmes de
Anthony Mann, em especial seus faroestes, a obra de Mann ganhou contornos de
clássica. Para muitos “O Preço de um Homem” citado por Bazin é a obra-prima da
parceria Mann-Stewart. Quando escreveu sobre “L’Homme des Vallées Perdues”
(título francês de “Shane”), Bazin apontou senões que faziam desse western “um filme afetado e sem espontaneidade, excessivamente
preocupado com a sacarina santificação do pistoleiro dos vales perdidos”.
Certamente devido em parte à crítica de André Bazin, “Os Brutos Também Amam”
deixou de ser a unanimidade que vinha sendo com seu título senpre acompanhado do
epiteto ‘o maior faroeste do cinema’. E mesmo reputados por Bazin como ‘os três melhores faroeste já produzidos’,
nem mesmo “Rastros de Ódio”, “O Preço de um Homem” ou “Sete Homens Sem Destino”
obtiveram a referida unanimidade entre os cinéfilos.
Grande Darci,
ResponderExcluirMuito interessante esse post.
Adquiri esses dias um box com alguns filmes da BATJAC e entre eles SETE HOMENS SEM DESTINO. Gostei do filme mas não o vi como um dos melhores faroestes já realizados....
Essa questão de melhores críticos, melhores filmes é bem particular e como sempre, bem polêmica!
Olá, Jefferson
ResponderExcluirVocê tem razão na sua observação. Mas é impossível não refletir sobre a opinião de Bazin. Ele ficou impressionadíssimo com Sete Homens Sem Destino e com Budd Boetticher. Uma pena Bazin ter ido tão cedo.
Um abraço do Darci
Acho que Bazin tinha razão . Vim assistir este filme sòmente agora nos anos 2000 . Me empolguei com êle . Budd Boetticher e
ResponderExcluirRandolph Scott estão muito bem !! É sem dúvida,na minha opinião o melhor da dupla !! Abraços !!