Há exatamente cem anos, no dia 15 de
janeiro de 1913, nascia Lloyd Bridges que para os fãs de faroestes será sempre
lembrado por sua participação em “Matar ou Morrer”. Em uma carreira
ininterrupta de mais de 60 anos como ator Lloyd Bridges atuou com destaque no
cinema e se tornou ídolo na TV. Lloyd Bridges nunca conseguiu se aposentar pois
mesmo na velhice se reencontrou com o sucesso fazendo divertidas comédias. Além de seu
trabalho como ator, Bridges legou ao cinema dois filhos, Beau e Jeff Bridges,
este último, assim como o pai, estrelou vários e ótimos faroestes.
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Lloyd Bridges em um de seus primeiros trabalhos no cinema. |
De Othello a Durango Kid - Nascido em San Leandro, Califórnia,
com o nome de Lloyd Vernet Bridges Jr., seus pais se separaram quando tinha
apenas dois anos. O pai de Lloyd Jr. era Lloyd Vernet Bridges Sr., ex-ator do
cinema mudo e proprietário de um cinema e embora não morasse com o filho,
possibilitou seus estudos. Lloyd Bridges Jr. estudou na UCLA (Universidade da
Califórnia) e seu pai queria que o filho fosse advogado, mas Lloyd Jr. percebeu
que gostava mesmo era de interpretar e graduou-se em Arte Dramática na UCLA. Depois de
duas pontas em filmes, aos 24 anos de
idade e com o nome artístico ‘Lloyd Bridges’ ele estreou na Broadway em 1937 numa montagem de “Othello”,
protagonizado por Walter Huston. Depois da experiência no teatro em Nova York
Lloyd Bridges retornou à capital do cinema e em 1940 fez parte do grande elenco
liderado por Spencer Tracy no filme “Bandeirantes do Norte”. Somente prestando
muita atenção pode-se descobrir Lloyd Bridges nesse filme e nos mais de 40 filmes que
ele fez nos próximos três anos. Em 1943 Bridges trabalhou até com os Três Patetas em “They
Stooge to Conga” e com Durango Kid em “Bandidos Contra Heróis" (Hail to the Rangers). Voltou a atuar com
Charles Starrett em 1944 nos faroestes 'B' “Oeste Contra Leste” (Riding West) e “A Lei
da Sela” (Saddle Leather Law), da série Durango Kid.
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Lloyd Bridges em duas cenas do seriado "Agente Secreto X-9", com Jan Wiley e
Keye Luke, o Mestre da série "Kung-Fu". |
Agente Secreto X-9 - Em 1938 Lloyd Bridges conheceu e
se casou com uma colega de companhia teatral chamada Dorothy Simpson. Em 1941 o
casal teve o primeiro filho, que recebeu nome de Lloyd Vernet Bridges III, mas
que era chamado de ‘Beau’. Como Lloyd Bridges era louro com boa estampa e muita
paciência, aos poucos conseguiu papéis cada vez melhores, tornando-se um dos
rostos novos mais conhecidos do cinema. Finalmente em 1945 chegou a vez de Lloyd Bridges
liderar o elenco de um filme. Ou melhor, de um seriado em 13 capítulos
produzido pela Universal Pictures intitulado “Agente Secreto X-9”. Lloyd
Bridges era Phil Corrigan o agente secreto X-9 e Keye Luke seu ajudante. Lloyd
Bridges não era mais uma promessa e recebendo o primeiro nome do elenco em
alguns de seus próximos filmes essa ascensão se confirmava. Entre esses filmes
estão “Hideout”, “O Cerco” e “Da Terra à Lua”. Lloyd Bridges estrelou até uma
produção italiana intitulada “Três Passos para o Norte da Itália”, filmada em
Cinecittà, com Lea Padovani e Aldo Fabrizzi também no elenco.
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Lloyd Bridges com Katy Jurado em "Matar ou Morrer". |
Amizade com Carl Foreman - Lloyd Bridges atuou em diversos
faroestes nessa primeira fase de sua carreira: “Rua dos Conflitos” (Abilene
Town), com Randolph Scott e Rhonda Fleming; “Paixão Selvagem” (Canyon Passage),
com Dana Andrews e Susan Hayward; “Fúria Abrasadora” (Ramrod), com Joel McCrea
e Veronica Lake; “Escrava do Ódio” (Red Canyon), com Howard Duff e Ann Blyth; “A
Escandalosa” (Calamity Jane and Sam Bass), com Yvonne De Carlo e Howard Duff;
“Calibre 45” (Colt .45), com Randolph Scott. Em “Little Big Horn”, de 1951,
Bridges foi o astro principal, tendo John Ireland e Marie Windsor como
coadjuvantes. No ano seguinte Lloyd Bridges teve papel destacado naquele que viria
a ser um dos mais importantes westerns da história do cinema, “Matar ou
Morrer”. Como um ajudante do xerife Will Kane (Gary Cooper) que tenciona ocupar
esse cargo que iria ficar vago com o casamento de Kane, Lloyd Bridges interpretou um personagem
invejoso, covarde e traiçoeiro, uma síntese dos cidadãos de Hadleyville, onde
se passa a história. “Matar ou Morrer”, como é sabido, é uma alegoria ao
Macarthismo e Carl Foreman, autor do roteiro era amigo de Lloyd Bridges, ambos
filiados ao Partido Comunista. Os dois tiveram que depor diante do comitê de
atividades que investigava o mundo do cinema e Foreman terminou na lista negra de Hollywood,
tendo que ir trabalhar na Europa. Curiosamente Lloyd Bridges não sofreu nenhum
tipo de perseguição e continuou trabalhando normalmente, mesmo sem ter
denunciado ninguém.
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O grande faroeste da carreira de Lloyd Bridges, nas fotos com Grace Kelly, Katy Jurado e Gary Cooper. O liberal Lloyd Bridges não se entendeu bem com o radical de direita Cooper nas filmagens de "Matar ou Morrer". |
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Lloyd Briges, Ruth Roman e Zachary Scott em "Calibre 45". |
Ator em muitos faroestes - Na década de 50 Lloyd Bridges
atuou em outros faroestes como “O Sabre e a Flecha” (Last of the Comanches),
com Broderick Crawford; “Cidade do Mal” (City of Bad Men), com Richard Boone; “The
Tall Texan”, com Marie Windsor; “Choque de Ódios” (Wichita), com Joel McCrea;
“Pistoleiro Solitário” (Apache Woman); “A Lei do Oeste” (Ride Out for Revenge),
com Rory Calhoun. O último verdadeiro filme importante no qual Lloyd Bridges
atuou foi “Matar ou Morrer”. Somente em 1956 Lloyd atuaria ao lado de astros de
renome e isso ocorreu em “Lágrimas do Céu”, estrelado por Burt Lancaster e
Katharine Hepburn, grande sucesso da Broadway que não rendeu o esperado nas
bilheterias apesar dos nomes de Burt e Katharine. A família de Lloyd Bridges
havia aumentado com os nascimentos do filho Jeffrey Leon Bridges em 1949 e da
filha Lucinda Bridges em 1950. Isso significava que Lloyd precisava ganhar mais
dinheiro, mas o fato é que já tendo passado dos 40 anos, tornar-se um astro
como Burt Lancaster, que tinha a mesma idade parecia um sonho cada vez mais
distante. Lloyd Bridges passou a aceitar convites para atuar na televisão, onde
começou a aparecer em diversos programas como convidado. Em 1958 uma grande
mudança ocorreria na carreira de Lloyd Bridges.
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Lloyd Bridges acima com Marie Windsor; com George Mathews, Chubby Johnson, Mickey Shaughnessy, Broderick Crawford e Barbara Hale em cena de "O Sabre e a Flecha"; com Zachary Scott; com Keith Larsen, Joel McCrea e Vera Miles em cena de "Choque de Ódios"; abaixo na foto maior com Howard Da Silva, Paulette Goddard e Henry Wilcoxon em "Os Inconquistáveis". |
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O ex-oficial Mike Nelson em um episódio de "Aventura Submarina", o maior sucesso de Bridges. |
Uma aventura submarina na TV - A United Artists decidiu produzir
uma série diferente das que eram exibidas, tendo como herói o ex-oficial da
Marinha e exímio mergulhador Mike Nelson. A série se chamou “Sea Hunt” (“Aventura
Submarina” no Brasil). Curiosamente nenhuma das três grandes redes norte-americanas
– NBC, CBS e ABC – se interessou em adquirir a distribuição da série que teve
que ir ao ar na forma ‘syndicated’, ou seja, através de exibidores particulares
como Aaron Spelling. Os episódios da série tinham 25 minutos de duração e desde
a exibição dos primeiros episódios “Aventura Submarina” conquistou altos
índices de audiência. O sucesso da série transformou Lloyd Bridges não só em
verdadeiro astro, como também em milionário. Graças a essa série ocorreu grande
desenvolvimento na prática do mergulho, que se tornou um esporte cada vez mais
praticado. A série “Aventura Submarina” teve 155 episódios e foi produzida até
1963, sendo bastante reprisada nas décadas seguintes.
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Lloyd Bridges na série "The Loner". |
As carreiras de Beau e Jeff Bridges - Após “Aventura Submarina”, Lloyd
Bridges tentou repetir em 1963 o êxito na TV estrelando um programa chamado
“The Lloyd Bridges Show”, que permaneceu no ar apenas uma temporada. Pior destino
teve a tentativa seguinte, em 1965, com a série western “The Loner”, criada por
Rod Serling, o criador da série “Além da Imaginação”. Nessa série Bridges
interpretava um ex-soldado confederado que solitariamente combatia a injustiça
no Velho Oeste e "The Loner" teve apenas 26 episódios, sendo cancelada devido à
baixa audiência. Esse fracasso veio ao mesmo tempo em que Beau Bridges, o filho
mais velho de Lloyd Bridges, se firmava como ator como se viu no excelente
drama urbano “O Incidente”, de 1967, quase todo passado dentro de um vagão de
metrô. O mesmo caminho seguiu o irmão de Beau, Jeff Bridges, que entrou nos
anos 70 mostrando claramente que viria a ser o grande ator da família, iniciando
com “A Última Sessão de Cinema”, em 1971, uma sucessão incrível de ótimos
filmes e melhores interpretações. Se as carreiras dos filhos caminhava bem, a
de Lloyd, que se aproximava dos 60 anos de idade parecia ter chegado ao fim.
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Lloyd Bridges como Jefferson Davis na série "Norte e Sul", produzida em 1986. |
Canastrões veteranos e bem sucedidos - Nos anos 70 Lloyd Bridges só
encontrava papéis principais em filmes feitos para a TV e assim como Leslie Nielsen,
outro ator dos anos 50, havia criado fama de canastrão. Ambos com os cabelos
grisalhos foram redescobertos como... comediantes. Nielsen interpretando o
Detetive Frank Drebin na série de filmes “Corra que a Polícia Vem Aí”; Lloyd
Bridges em “Apertem os Cintos” I e II. A impressão que Lloyd Bridges causava é
que havia se tornado melhor ator quando envelheceu, talvez por osmose em relação aos
filhos. Lloyd Bridges atuou nas séries “The Blue and the Gray” e “North and
South”, ambas sobre a Guerra Civil e exibidas no Brasil e lançadas em DVD. Em
“Norte e Sul” Lloyd Bridges interpretou Jefferson Davis, o presidente dos Estados Confederados durante a Guerra
Civil norte-americana. Lloyd Bridges continuou atuando sem parar depois que se
tornou conhecido de mais uma geração, a terceira que o viu atuar. Em 1986
interpretou um senador no filme “Tucker – Um Homem e seu Sonho”, que contava a
história do lendário automóvel criado por Preston Tucker, personagem interpretado
por Jeff Bridges.
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Lloyd Bridges nas comédias parodiando "Top Gun"; abaixo com Robert Stack. |
Dinastia Bridges - Em 1990 Lloyd Bridges teve papel destacado em “Joe Contra o Vulcão”,
com Tom Hanks. Em 1991, atuou na paródia “Top Gang – Ases Muito Loucos”,
besteirol que teve uma sequência em 1993, também com Lloyd Bridges. Em 1993
Beau Bridges estrelou a série “Harts of the West”, com a qual recebeu um prêmio
Emmy de Melhor ator. Lloyd Bridges participou de diversos episódios dessa
série. Em 1997 Bridges foi homenageado em dois episódios da série “Seinfeld”, o
maior sucesso daqueles tempos na TV. Em 1998 interpretou um mafioso na comédia
“Máfia!”. Em 10 de março de 1998, aos 85 anos, Lloyd Bridges faleceu de causas
naturais em Los Angeles, deixando viúva a esposa Dorothy, companheira de 60
anos. Antes de falecer Lloyd Bridges havia participado de “Encontro com Papai”,
que demorou dois anos para ser lançado, o que só ocorreu em 2000. Nessa comédia
atuaram também Beau Bridges e Cindy (Lucinda) Bridges, filha de Lloyd que quase
viu a família reunida na sua despedida do cinema. Na vida real, no entanto,
Lloyd Bridges e sua esposa Dorothy estiveram sempre juntos e cercados pelos
três filhos. Politica e socialmente os filhos de Lloyd Bridges sempre tiveram orgulho do pai por suas posições liberais, ao lado dos Democratas e contra os Republicanos e atuando em inúmero projetos sociais. Mesmo sem ser lembrado como grande ator Lloyd Bridges soube se
manter em evidência por seis décadas e
criar uma dinastia que os filhos Beau e principalmente Jeff Bridges se
incumbiram de manter bastante conhecida.
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Álbum da família Bridges. |
Lloyd Bridges teve uma bela carreira, mesmo que para muitos ele seja lembrado apenas pelas comédias dos últimos anos de carreira.
ResponderExcluirAbraço
Era vidrado no seriado Aventura Submarina, que a Globo exibiu nos seus primeiros anos de vida. Viva Mike Nelson! Viva Lloyd Bridges!
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