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1 de março de 2020

AS PORTAS DO INFERNO (HELL’S HINGES) – O MELHOR WESTERN DO PRIMEIRO GRANDE COWBOY DO CINEMA



Produzido por Thomas H. Ince e filmado nos meses de setembro e outubro de 1915, “As Portas do Inferno” é unanimemente considerado o melhor dos westerns estrelados por William S. Hart. Consta dos créditos, como diretor, o nome do alemão Charles Swickard, mas a direção de fato foi de William S. Hart, cabendo a Swickard a assistência de direção. Tendo estreado no cinema em filmes de dois rolos somente em 1914 (antes havia participado de alguns ‘shorts’), aos 50 anos de idade Hart, que era novaiorquino de nascimento, se identificou inteiramente com o gênero western. Tornou-se então o maior astro daqueles filmes que retratavam um Velho Oeste que há poucos anos havia sofrido a profunda transição para um tempo mais moderno. Pode-se afirmar que William Surrey Hart estava para o faroeste nos primórdios do cinema assim como Chaplin estava para a comédia, tamanha era sua popularidade. Em suas duas primeiras incursões no faroeste, Hart com sua cara de poucos amigos, raros sorrisos e 1,88m de altura, interpretou vilões, passando depois a ser herói nos filmes seguintes. C. Gardner Sullivan escreveu a história e o roteiro original de “Hell’s Hinges”, filme com 64 minutos de duração e que no Brasil recebeu o título de “As Portas do Inferno”, sendo, no entanto também conhecido como “Terra do Inferno” e “Dobradiças do Inferno”. Nas fotos à direita William S. Hart e Thomas H. Ince.


A cidade que virou um inferno - O padre Robert Henley (Jack Standing) é designado para a cidade de Placer Center, lugar mais conhecido como ‘Hell’s Hinges’ devido à violência que lá campeia. Ainda jovem e com tendências licenciosas, o padre acredita que encontrará muitas mulheres para exercitar seu lado libertino. Henley viaja acompanhado da irmã Faith (Clara Williams) que, ao contrário dele, é virtuosa. Chegando a Hell’s Hinges, Henley desperta a preocupação de Silk Miller (Alfred Hollingsworth), dono do saloon local e que acredita que o padre poderá com sua pregação afastar os frequentadores do saloon. Miller então pede a Blaze Tracy (William S. Hart), temido pistoleiro, que force o padre a sair da cidade, mas o que ocorre é que Tracy se encanta com Faith e passa a protegê-la e também a seu irmão. Miller no entanto percebe a fraqueza do padre Henley e faz com que a saloon girl Dolly (Louise Glaum) o embebede, o seduza e o desmoralize. Henley é alvejado e ferido pelos capangas de Silk Miller e Blaze Tracy cavalga até o povoado vizinho buscar um médico para socorrer o padre Henley. Enquanto isso o povo de Hell’s Hinges é incitado a incendiar a igreja que é defendida por alguns poucos fiéis. Quando Tracy retorna encontra a igreja foi destruída pelo fogo nela ateado e o padre Henley morto. Indignado Tracy se revolta, mata Miller e seus homens e queima o que restou da cidade, começando pelo saloon. Tracy e Faith olham a cidade em cinzas e partem juntos para algum local onde possam começar uma nova vida.

William S. Hart
A fúria do pistoleiro - Tornou-se recorrente nos faroestes estrelados por William S. Hart os seus personagens passarem de foras-da-lei para homens íntegros e defensores dos oprimidos. Some-se a esse aspecto os temas moralistas, a religião sempre presente e uma mulher bonita com bom coração para ajudar na conversão do herói, ingredientes que agradavam as plateias. O diferencial de “As Portas do Inferno” é a violência exacerbada, a fúria que se apossa do pistoleiro convertido e a vingança cruel que ele executa. Quase 60 anos depois Clint Eastwood como o ‘Stranger’, incendeia a cidade de Lago em “O Estranho Sem Nome” (High Plains Drifter), certamente influenciado pelo filme de William S. Hart. A figura de Hart impressiona bastante, não só pelo seu porte, mas pela sinceridade que transmite. O cinema de Hart é austero, sem lugar para comicidade e seu personagem nada elegante no trajar tenta se aproximar o mais possível daquilo que era o Velho Oeste. O realismo incutido em seus westerns atingiu o ápice em “As Portas do Inferno” com os cenários sendo queimados e com isso criando a desejada atmosfera de horror.

Jack Standing
Realismo chocante - Hell’s Hinges é mostrada como uma cidade turbulenta onde fala mais alto a lei do revólver. Tiroteios acontecem e o saloon é o local onde todos vão se embebedar e divertir com as prostitutas. O refúgio da igreja comporta poucos fiéis, incapazes de conter a violência dos valentões, alguns deles a soldo do homem mau da cidade, Silk Miller. Paradoxalmente a igreja, sempre símbolo da paz e da generosidade, é mostrada como passível de ter entre seus evangelizadores um homem inepto e, mais que isso, dissoluto mesmo. Isto num faroeste dos primórdios do cinema mais que surpreender, é mesmo chocante e é outra prova do realismo com que William S. Hart dava a seus filmes.

Louise Glaum; Louise Glaum e Jack Standing

William S. Hart
Hart, um bom ator - As interpretações, como não poderia deixar de ser são teatrais, exagerando nos olhares e gestos, padrão daqueles tempos. William S. Hart se distancia desses excessos e é convincente como o pistoleiro redimido. “As Portas do Inferno” marcou a estreia no cinema de John Gilbert, que viria a ser na década seguinte o maior galã do cinema mudo, fazendo quase figuração como um dos homens de Silk Miller. O fã atento vai reconhecer também Jean Hersholt e ainda Bob Kortman, vilão em quase 300 filmes, a maior parte faroestes, com sua fisionomia assustadora. O cavalo de William S. Hart era ‘Fritz’ e neste filme tem pouco destaque e o melhor momento é quando o mocinho salta de uma elevação caindo sobre a sela e saindo a galope.

William S. Hart e Alfred Hollingsorth
Reconhecimento 80 anos depois - Filmado em Inceville, a cidade cenográfica criada por Thomas H. Ince, “As Portas do Inferno” teve o merecido reconhecimento muitas décadas depois de seu lançamento. Quando exibido num circuito de arte em 1994, o crítico do ‘Chicago Tribune’ afirmou ser este o mais importante western até o aparecimento de “No Tempo das Diligências” (Stagecoach), o célebre filme dirigido por John Ford em 1939. Este western de Willaim S. Hart foi selecionado, ainda em 1994 pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para ser preservado pela sua importância cultural, histórica e estética. Esta excelente cópia foi fornecida ao blog Westerncinemania pelo cinéfilo e colecionador Sebá Santos.

Clara Williams; William S. Hart e Clara Williams



Um comentário:

  1. Bom ver este clássico por aqui. Está na lista dos "100 Maiores Westerns de Todos os Tempos" que criei há 5 anos. Ah, também tenho 1,88m.

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