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19 de janeiro de 2020

RIO CONCHOS (RIO CONCHOS) – RICHARD BOONE COMO BRUTAL VINGADOR


Clair
Huffaker

A maior parte das histórias escritas por Clair Huffaker era voltada para o Velho Oeste e elas fugiam do lugar comum. Foi ele o autor de “Estrela de Fogo” (Flaming Star), “Gigantes em Luta” (The War Wagon) e deste “Rio Conchos”. Como roteirista, tiveram também a assinatura de Huffaker “Os Comancheiros”, “100 Rifles”, “Valdez, o Mestiço” (Valdez is Coming), entre outros westerns. “Rio Conchos” é uma das histórias mais inspiradas de Huffaker e a 20th Century-Fox, percebendo o potencial da mesma, não poupou recursos para produzir, em 1964, um faroeste de primeira. Richard Boone era então um dos grandes nomes da TV após as seis vitoriosas temporadas interpretando “O Paladino do Oeste” em 225 episódios, de 1957 a 1963. Seu prestígio era tamanho que ganhou em seguida sua série própria que foi “The Richard Boone Show”. Foram chamados para o elenco Stuart Whitman que era um astro em ascensão e Jim Brown o mais famoso jogador de American Football, estreando no cinema. O experiente Joe MacDonald foi escalado como diretor de fotografia e o já respeitado Jerry Goldsmith, aos 35 anos de idade, comporia a trilha sonora musical. “Rio Conchos” merecia ter como diretor algum nome do porte de Howard Hawks, Raoul Walsh ou Henry Hathaway, mas a Fox houve por bem entregar a direção a Gordon Douglas, prolífico diretor que, apesar de alguns bons filmes, jamais galgou à condição dos três aqui citados. O maior problema com Gordon Douglas é que por ser o chamado ‘pau para toda obra’ dirigia de modo impessoal, obedecendo cegamente aos roteiros. “Rio Conchos” é um de seus melhores filmes e certamente o melhor dos muitos westerns que dirigiu e só não é melhor exatamente por culpa justamente do roteiro de autoria de Clair Huffaker e Joseph Landon.


Richard Boone; Edmond O'Brien
Rifles para um tresloucado - O ex-Major do Exército Confederado James Lassiter (Richard Boone) teve sua família massacrada por Apaches e vinga-se matando todos os Apaches que encontra. Para isso usa um rifle que foi subtraído de um lote de 200 rifles roubados de um carregamento da Cavalaria. O Capitão Haven (Stuart Whitman) era quem comandava esse transporte e ele mesmo encontrou Lassiter com o rifle, levando-o preso para o Fort Davies. Para reaver os rifles o Capitão Haven consegue autorização para ir rumo ao Sudeste, em direção à fronteira com o México, onde se concentram os Apaches liderados pelo chefe Bloodshirt (Rodolfo Acosta). Sob as ordens do Capitão Haven estão Lassiter, o Sargento Franklyn (Jim Brown) e Rodriguez (Anthony Franciosa), um mexicano que se torna amigo de Lassiter. Junta-se a eles Sally (Wende Wagner) uma índia apache.  Como isca para atrair os Apaches o quarteto leva uma carroça carregada com dinamite e descobrem que os rifles estão em poder de Theron Pardee (Edmond O’Brien), Coronel do Exército Confederado que aliciando os Apaches intenta formar um exército para retomar a guerra perdida para o Norte. O tresloucado Pardee e o sanguinário Bloodshirt fazem Haven, Franklyn e Lassiter prisioneiros mas estes conseguem explodir a carroça com dinamite e exterminar o exército Apache comandado por Pardee.

Richard Boone; Boone e Rodolfo Acosta
Ódio, ressentimento e desprezo - Uma história contada em um livro será sempre diferente dessa mesma história levada ao cinema. Mesmo sem ter lido “Rio Conchos”, que possui muitas ressonâncias com “os Comancheiros”, percebe-se que Clay Huffaker escreveu uma aventura interessante e por isso mesmo envolvente. Estão expostos e se cruzando na narrativa diversos tipos de sentimentos: o ex-Major Lassiter nutre o ressentimento natural dos confederados que perderam a guerra; tem ele ainda ódio maior pelos apaches que dizimaram sua esposa e filhos; Lassiter vê o negro Sargento Franklyn com o desprezo natural dos sulistas que sabem ter sido a causa abolicionista um dos pivôs da guerra fratricida que dividiu o pais. Mesmo sem a carga de ódio de Lassiter, o Capitão Haven é um homem moralmente abatido por ter sido o responsável pela perda dos rifles ora em mãos dos inimigos. Os Apaches que não se resignaram a aceitar as ordens vindas de Washington cultivam ódio mortal pelos brancos que os desalojaram de suas seculares terras. O tresloucado Coronel Pardee que sonha com a reconstrução do Sul derrotado é movido também pelo ódio represado. E os mexicanos, mais uma vez mostrados como pessoas desprovidas de caráter, são todos bandidos, sejam os assaltantes de estrada ou o dissimulado Rodriguez que não pensa duas vezes em matar com sua faca certeira e com maior prazer se a vítima for um ‘americano’. Huffaker joga com todas essas motivações pessoais em torno do eixo da trama que são as armas e o desfecho grandioso. O filme, no entanto, não aproveita devidamente a história de “Rio Conchos”.

Edmond O'Brien
Final empolgante - O que há de errado com o roteiro do próprio Clay Huffaker em parceria com James Landon são algumas situações criadas para facilitar o desenvolvimento da história e que a acabam por torná-la monótona. Some-se a isso a inverossimilhança de outras sequências, a mais gritante delas o desfecho com a derrota do exército de Pardee, composto por centenas de Apaches e ainda por muitos mexicanos. A trama toda transcorre criando a expectativa de um final empolgante e o que se tem é o extermínio incrivelmente simples dos guerreiros e dos demais homens com as explosões da dinamite, como se estas tivessem poderes de radiação atômica para atingir um raio de centenas de metros. Porém se o roteiro filmado por Gordon Douglas é inconvincente em muitos momentos, as sequências de ação, inclusive a final, são magníficas e de grande impacto cênico. A imponente fachada da mansão colonial que Pardee constrói às margens desertas do Rio Conchos é incendiada e, qual um delirante Nero, o megalomaníaco Coronel não se move diante do mundo que desaba sobre ele. Outras sequências de ação foram igualmente bem realizadas por Douglas e são o ponto alto deste western, como a morte do mexicano Rodriguez e a tortura imposta a Lassiter, Haven e Franklyn.

Richard Boone; Edmond O'Brien
Exageros interpretativos - Gordon Douglas deixa a impressão de dar total liberdade criativa aos atores que dirige e só isso pode explicar o exagero das atuações de Anthony Franciosa, Richard Boone e Edmond O’Brien. Franciosa como o sarcástico conquistador mexicano se excede em todas as suas participações, por vezes duelando com o normalmente discreto Richard Boone, desta vez muito forçado nas expressões. Na meia hora final surge Edmond O’Brien que se esforça para conceber uma mítica e desvairada vítima da Guerra Civil e também por isso querendo reiniciá-la. O inexperiente Jim Brown é quem acaba se saindo melhor com suas poucas falas e ampla demonstração de músculos e força a todo momento.  Stuart Whitman comprova que sem um mínimo de carisma, o que lhe falta, a presença de um ator principal se torna irrelevante. Rodolfo Acosta ótimo como o chefe Apache num elenco que traz ainda em papeis menores Timothy Carey, Mickey Simpson, Marie Gomez, Warner Anderson e Barry Kelley. A jovem e bela índia foi interpretada por Wende Wagner, atriz mais lembrada por ser a secretária do seriado de TV “O Besouro Verde”, que se tornou Cult devido à presença de Bruce Lee como ‘Kato’.

Anthony Franciosa; Jim Brown; Stuart Whitman

Richard Boone
Boa música e melhores imagens - Filmado quase que inteiramente em locações com cenários espetaculares como o Monument Valley e diversas regiões do Utah e Colorado, este é um daqueles westerns que distraem o espectador com a beleza das imagens. Western da época pré-spaghetti western (“Por Um Punhado de Dólares” é também de 1964), não sofreu ainda a forte influência da música de Ennio Morricone e a trilha composta por Jerry Goldsmith merece atenção por sua originalidade. Mesmo a violência, que passaria a ser vista em westerns norte-americanos, ainda é contida em “Rio Conchos” apesar de o filme ter sido à época rotulado de violento. Longe do clássico que poderia ter se tornado, este faroeste de Gordon Douglas sem dúvida merece ser visto.

Richard Boone, Stuart Whitman e Jim Brown; Rodolfo Acosta


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