Gregory Peck |
Gregory Peck não era um homem de meias
palavras e em sua biografia escrita por Gary Fishgal contou a este que detestou
ter feito “O Ouro de Mackenna” (Mackenna’s Gold), o western realizado em 1969 como
superprodução e elenco estelar. No livro Peck diz também que não gostou nada de
ter atuado em “Resistência Heroica” e as razões não eram poucas. A começar
porque ele vinha de atuar em filmes importantes, como o western “Duelo ao Sol”
(Duel in the Sun), enorme êxito de bilheteria ou bem recebidos pela crítica
como “O Matador” (The Gunfighter), que se tornaria um clássico no gênero. E
Peck foi praticamente obrigado, por razões contratuais, a substituir Gary
Cooper que desistiu de interpretar o heroico Capitão deste “Resistência
Heroica”. Teve ainda que usar a mesma farda que havia sido utilizada
anteriormente por Rod Cameron, ator fortíssimo e mais alto que Peck, sem que a
Warner ao menos mandasse ajustar o uniforme de Cavalaria que, nitidamente,
parece sobrar em Gregory Peck. Houve também a questão da leading-lady escalada
ser a quase desconhecida Barbara Payton, o que muito contrariou o ator
acostumado a contracenar com grandes estrelas. E finalmente o fato de ser
dirigido por Gordon Douglas, então diretor de pouca expressão. Mesmo a soma de
tudo isso não impediu Peck de se empenhar, como de hábito, para propiciar uma convincente
interpretação. A produção de “Resistência Heroica” foi de William Cagney, irmão
de James Cagney, também associado ao projeto. A historia original foi escrita
por Charles Marquis Warren, que mais tarde se tornaria diretor e produtor de
westerns para a TV (“Gunsmoke” e “Rawhide”). O roteiro foi elaborado pelos
premiados Edmund H. North (“Patton, Rebelde ou Herói?”) e Harry Brown (“Um
Lugar ao Sol”).
Gregory Peck |
A
luta dupla do Capitão Lance - No Forte Winston, o Capitão Richard
Lance (Gregory Peck) disputa com o Tenente William Holloway (Gig Young) o amor
de Cathy Eversham (Barbara Payton), filha de um veterano capitão. É prisioneiro
nesse forte o chefe Apache Tucsos (Michael Ansara), que deve ser levado para o
Forte Grant por um grupo de soldados comandado pelo Capitão Lance. Porém o
Coronel que comanda o Forte Winston ordena que o Tenente Holloway assuma a
missão em lugar do Capitão Lance. A caminho do Forte Grant os Apaches atacam o
pequeno destacamento, libertam Tucsos e torturam o Tenente Holloway até a morte.
Encontrado pelo batedor Joe Harmony (Jeff Corey), o corpo de Holloway é levado
de volta ao Forte Winston. Lá toda a tropa acredita que Lance tenha
deliberadamente enviado Holloway para a morte para ficar com Cathy. Os Apaches
novamente sob a liderança de Tucsos se mobilizam para um ataque ao Forte Winston
pois o chefe Apache sabe do número
reduzido de soldados que compõe a tropa do Forte. O Capitão Lance então sugere
e recebe aprovação para uma missão quase suicida que é deter os Apaches no
Forte Invincible que foi semidestruído e onde Tucsos foi aprisionado. O Forte
Invincible situa-se na única passagem possível para os índios que habitam as
Montanhas Flinthead. O Capitão Lance reúne então sete homens, todos com algum
tipo de problema pessoal e quase todos com forte antagonismo em relação ao seu
modo disciplinador e rígido de agir segundo o regulamento militar. Quando chega
ao Forte Invincible a patrulha descobre que não há água e que Tucsos prepara o ataque.
Os soldados conseguem se defender mesmo com a perda de quase todo o grupo e um
deles é destacado para buscar reforço, que chega ainda em tempo de salvar o
Capitão Lance e mais dois de seus homens.
Barbara Payton com Gig Young (acima) e com Gregory Peck |
Produção
‘B’ com roteiro inteligente - Uma das queixas de Gregory Peck em
relação a “Resistência Heroica” é que o filme não passava de uma mera produção
‘B’. E isso fica patente com a construção, nos estúdios da Warner Bros., do
Forte Invincible e dos paredões rochosos que o cercam, visivelmente com
cenários de papel e madeira pintados imitando rochas e pedras. E é nesse
cenário que transcorre a segunda parte deste western com as sequências de
batalha. Curiosamente, é em meio a esse cenário falso que o filme ganha força
graças à boa direção de Gordon Douglas e às ótimas interpretações de Peck e do
excelente elenco de apoio. Além disso, a historia de Charles Marquis Warren é
engenhosa ao colocar dois oficiais disputando o amor da bela filha de um
Capitão e como resultado disso criar um propício clima de motim que acaba não
acontecendo. No entanto o roteiro foi infeliz com a sequência bisonha em que a
moça é beijada ardentemente numa despedida pelo seu pretendente Tenente
Holloway que havia sido preterido por ela em favor do Capitão Lance. Este parte
para a missão com alguns de seus comandados dispostos a matá-lo, cada um com
sua razão particular. Porém Lance consegue demonstrar coragem e conhecimento
militar suficientes para reverter as hostilidades, situação parecida com aquela
que seria excepcionalmente bem trabalhada por Robert Aldrich em “Os Doze
Condenados”. Há ainda o conflito entre um rebelde sulista que aceitou renegar
seu Exército Confederado para se tornar soldado ianque, não faltando o soldado
covarde e um cabo bêbado, estereótipos, é certo, mas que funcionam bem nesta
aventura militar.
Lon Chaney Jr. e Ward Bond |
Os
muitos inimigos do rígido Capitão - Inúmeros foram os westerns nos quais
um forte é sitiado por índios possibilitando aos soldados provarem sua bravura
destacando-se a liderança de um corajoso oficial. “Resistência Heroica” não
foge desse clichê mas seu diferencial é o grupo de homens que o Capitão Lance
comanda. Há o fanático árabe (Lon Chaney, Jr.) que não esconde o desejo de
matar o Capitão, agindo pelo que entende serem desígnios dos céus. A Guerra
Civil não foi esquecida e dois soldados (Neville Brand e Steve Brodie), um
deles ex-sulista, reavivam as escaramuças seccionistas até que caem
prisioneiros dos Apaches sendo, paradoxalmente, amarrados juntos para serem
torturados. Os Apaches percebem que ambos são inimigos e, para se divertir, os
libertam para que travem luta mortal como se essa violência vingasse as
centenas de milhares de vidas que a guerra ceifou de Norte a Sul. O fordiano
Ward Bond recria, sem a graça de Victor McLaglen, o soldado bêbado e irresponsável
que enche cantis com uísque em lugar da tão preciosa água. O Capitão Lance tem
nos homens que lidera inimigos tão ou mais perigosos que os próprios Apaches e
Gregory Peck brilha com a dignidade que incute no personagem e que leva o grupo
a respeitá-lo no momento decisivo da batalha.
Gregory Peck |
Desfecho
estranho para um triângulo amoroso - Como em tantos e tantos outros
faroestes, mais uma vez Hollywood mostra índios com inteligência e habilidade
reduzidas, em outro pecado que o filme contém. Mas não foi esquecida, no entanto, a
crueldade dos nativos, quase uma norma do cinema norte-americano como que para justificar a ação exterminadora da Cavalaria e, sabe-se, os apaches eram mesmo cruéis. Pouco convincente também é a construção do triângulo amoroso, ainda
que sirva como ponto de partida para o ressentimento da tropa em relação ao
Capitão Lance. Rifles de soldados chegam a mirar o Capitão e uma enorme pedra por pouco não o mata de forma nada acidental. Por outro lado Gordon Douglas se mostra criativo ao, com poucos
recursos e em um cenário típico de filmes de orçamento limitado, mais lembrando
as cavernas dos seriados da Republic e da Universal, desenvolver a emoção
necessária tornando este western acima da média.
Lon Chaney Jr. e Ward Bond |
Fanático
Lon Chaney Jr., um árabe fanático - Gregory Peck está excelente, ele que
como poucos atores incute integridade a seus personagens. Embora nunca reconhecido
como grande ator (chamado até de canastrão por alguns críticos), Peck raramente
desaponta. Ward Bond é ótimo quando não excessivo e neste western ele se excede
tentando fazer graça, o que não é necessário porque sua maior graça consiste em ser
natural. O grande destaque no elenco de apoio é Lon Chaney Jr. como o soldado
árabe Kebussyan, brutal e ameaçador, ele Lon Chaney Jr. que interpretou diversos tipos
monstruosos nos cinema em filmes de terror, sempre à sombra do nome famoso de seu pai. Jeff Corey
merecia maior participação, pequena a exemplo de Gig Young. O sírio de
nascimento Michael Ansara, que se notabilizou por interpretar tipos étnicos é o
chefe Apache Tucsos, enquanto Neville Brand em sua primeira aparição creditada no
cinema já demonstra que viria a ser um dos mais violentos homens maus da tela.
Barbara Payton |
A
infeliz Barbara Payton - A atriz Barbara Payton, então com 24
anos, preocupou mais a produção quando não estava diante das câmeras por ter mantido
durante as filmagens um romance com Gregory Peck. Barbara chegou a ser proibida
de sair de seu camarim para não atrapalhar os trabalhos, o que pouco adiantou
pois Peck saia de cena e ia direto para o camarim da atriz. Barbara Payton, que
teve curta carreira como atriz, foi protagonista de uma das mais tristes
historias de Hollywood, indo do cinema para a prostituição no Sunset Boulevard,
para as drogas, bebida, escândalos, casamentos tumultuados e finalmente teve
morte precoce aos 39 anos de idade. Como atriz pouco talentosa ela jamais
chegaria longe, levada que foi ao cinema por sua beleza, de onde saiu em razão
de seu comportamento tortuoso.
Western
pouco lembrado - Pouco lembrado entre os westerns de Gregory Peck, a ponto
de ter sido ignorado na ‘Encyclopedia of Westerns’ de Herb Fagen, “Resistência
Heroica” merece ser visto não apenas por entreter o espectador, mas também por
reunir um elenco de coadjuvantes dos melhores. Este faroeste é um dos destaques
da filmografia cheia de altos e baixos de Gordon Douglas (na foto ao lado).
Pôsteres de "Resistência Heroica" |
Barbara Payton, Gregory Peck e Gig Young; Gregory Peck e Michael Ansara; Ward Bond com Barbara e Gregory ao fundo |
Barbara Payton e Gregory Peck em foto para publicidade |
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