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Clair Huffaker |
A maior parte das histórias escritas
por Clair Huffaker era voltada para o Velho Oeste e elas fugiam do lugar comum.
Foi ele o autor de “Estrela de Fogo” (Flaming Star), “Gigantes em Luta” (The
War Wagon) e deste “Rio Conchos”. Como roteirista, tiveram também a assinatura
de Huffaker “Os Comancheiros”, “100 Rifles”, “Valdez, o Mestiço” (Valdez is
Coming), entre outros westerns. “Rio Conchos” é uma das histórias mais
inspiradas de Huffaker e a 20th Century-Fox, percebendo o potencial da mesma,
não poupou recursos para produzir, em 1964, um faroeste de primeira. Richard
Boone era então um dos grandes nomes da TV após as seis vitoriosas temporadas
interpretando “O Paladino do Oeste” em 225 episódios, de 1957 a 1963. Seu
prestígio era tamanho que ganhou em seguida sua série própria que foi “The
Richard Boone Show”. Foram chamados para o elenco Stuart Whitman que era um
astro em ascensão e Jim Brown o mais famoso jogador de American Football,
estreando no cinema. O experiente Joe MacDonald foi escalado como diretor de
fotografia e o já respeitado Jerry Goldsmith, aos 35 anos de idade, comporia a
trilha sonora musical. “Rio Conchos” merecia ter como diretor algum nome do
porte de Howard Hawks, Raoul Walsh ou Henry Hathaway, mas a Fox houve por bem
entregar a direção a Gordon Douglas, prolífico diretor que, apesar de alguns
bons filmes, jamais galgou à condição dos três aqui citados. O maior problema
com Gordon Douglas é que por ser o chamado ‘pau para toda obra’ dirigia de modo
impessoal, obedecendo cegamente aos roteiros. “Rio Conchos” é um de seus
melhores filmes e certamente o melhor dos muitos westerns que dirigiu e só não
é melhor exatamente por culpa justamente do roteiro de autoria de Clair
Huffaker e Joseph Landon.
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Richard Boone; Edmond O'Brien |
Rifles
para um tresloucado - O ex-Major do Exército Confederado
James Lassiter (Richard Boone) teve sua família massacrada por Apaches e
vinga-se matando todos os Apaches que encontra. Para isso usa um rifle que foi
subtraído de um lote de 200 rifles roubados de um carregamento da Cavalaria. O
Capitão Haven (Stuart Whitman) era quem comandava esse transporte e ele mesmo
encontrou Lassiter com o rifle, levando-o preso para o Fort Davies. Para reaver
os rifles o Capitão Haven consegue autorização para ir rumo ao Sudeste, em
direção à fronteira com o México, onde se concentram os Apaches liderados pelo
chefe Bloodshirt (Rodolfo Acosta). Sob as ordens do Capitão Haven estão
Lassiter, o Sargento Franklyn (Jim Brown) e Rodriguez (Anthony Franciosa), um
mexicano que se torna amigo de Lassiter. Junta-se a eles Sally (Wende Wagner) uma
índia apache. Como isca para atrair os
Apaches o quarteto leva uma carroça carregada com dinamite e descobrem que os
rifles estão em poder de Theron Pardee (Edmond O’Brien), Coronel do Exército
Confederado que aliciando os Apaches intenta formar um exército para retomar a
guerra perdida para o Norte. O tresloucado Pardee e o sanguinário Bloodshirt
fazem Haven, Franklyn e Lassiter prisioneiros mas estes conseguem explodir a
carroça com dinamite e exterminar o exército Apache comandado por Pardee.
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Richard Boone; Boone e Rodolfo Acosta |
Ódio,
ressentimento e desprezo - Uma história contada em um livro
será sempre diferente dessa mesma história levada ao cinema. Mesmo sem ter lido
“Rio Conchos”, que possui muitas ressonâncias com “os Comancheiros”, percebe-se
que Clay Huffaker escreveu uma aventura interessante e por isso mesmo
envolvente. Estão expostos e se cruzando na narrativa diversos tipos de sentimentos:
o ex-Major Lassiter nutre o ressentimento natural dos confederados que perderam
a guerra; tem ele ainda ódio maior pelos apaches que dizimaram sua esposa e
filhos; Lassiter vê o negro Sargento Franklyn com o desprezo natural dos
sulistas que sabem ter sido a causa abolicionista um dos pivôs da guerra
fratricida que dividiu o pais. Mesmo sem a carga de ódio de Lassiter, o Capitão
Haven é um homem moralmente abatido por ter sido o responsável pela perda dos
rifles ora em mãos dos inimigos. Os Apaches que não se resignaram a aceitar as
ordens vindas de Washington cultivam ódio mortal pelos brancos que os
desalojaram de suas seculares terras. O tresloucado Coronel Pardee que sonha
com a reconstrução do Sul derrotado é movido também pelo ódio represado. E os
mexicanos, mais uma vez mostrados como pessoas desprovidas de caráter, são todos
bandidos, sejam os assaltantes de estrada ou o dissimulado Rodriguez que não
pensa duas vezes em matar com sua faca certeira e com maior prazer se a vítima
for um ‘americano’. Huffaker joga com todas essas motivações pessoais em torno
do eixo da trama que são as armas e o desfecho grandioso. O filme, no entanto,
não aproveita devidamente a história de “Rio Conchos”.
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Edmond O'Brien |
Final
empolgante - O que há de errado com o roteiro do próprio Clay Huffaker
em parceria com James Landon são algumas situações criadas para facilitar o
desenvolvimento da história e que a acabam por torná-la monótona. Some-se a
isso a inverossimilhança de outras sequências, a mais gritante delas o desfecho
com a derrota do exército de Pardee, composto por centenas de Apaches e ainda
por muitos mexicanos. A trama toda transcorre criando a expectativa de um final
empolgante e o que se tem é o extermínio incrivelmente simples dos guerreiros e
dos demais homens com as explosões da dinamite, como se estas tivessem poderes
de radiação atômica para atingir um raio de centenas de metros. Porém se o
roteiro filmado por Gordon Douglas é inconvincente em muitos momentos, as
sequências de ação, inclusive a final, são magníficas e de grande impacto
cênico. A imponente fachada da mansão colonial que Pardee constrói às margens
desertas do Rio Conchos é incendiada e, qual um delirante Nero, o megalomaníaco
Coronel não se move diante do mundo que desaba sobre ele. Outras sequências de
ação foram igualmente bem realizadas por Douglas e são o ponto alto deste
western, como a morte do mexicano Rodriguez e a tortura imposta a Lassiter,
Haven e Franklyn.
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Richard Boone; Edmond O'Brien |
Exageros
interpretativos - Gordon Douglas deixa a impressão de
dar total liberdade criativa aos atores que dirige e só isso pode explicar o
exagero das atuações de Anthony Franciosa, Richard Boone e Edmond O’Brien.
Franciosa como o sarcástico conquistador mexicano se excede em todas as suas
participações, por vezes duelando com o normalmente discreto Richard Boone,
desta vez muito forçado nas expressões. Na meia hora final surge Edmond O’Brien
que se esforça para conceber uma mítica e desvairada vítima da Guerra Civil e
também por isso querendo reiniciá-la. O inexperiente Jim Brown é quem acaba se
saindo melhor com suas poucas falas e ampla demonstração de músculos e força a
todo momento. Stuart Whitman comprova
que sem um mínimo de carisma, o que lhe falta, a presença de um ator principal
se torna irrelevante. Rodolfo Acosta ótimo como o chefe Apache num elenco que
traz ainda em papeis menores Timothy Carey, Mickey Simpson, Marie Gomez, Warner
Anderson e Barry Kelley. A jovem e bela índia foi interpretada por Wende
Wagner, atriz mais lembrada por ser a secretária do seriado de TV “O Besouro
Verde”, que se tornou Cult devido à presença de Bruce Lee como ‘Kato’.
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Anthony Franciosa; Jim Brown; Stuart Whitman |
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Richard Boone |
Boa
música e melhores imagens - Filmado quase que inteiramente em
locações com cenários espetaculares como o Monument Valley e diversas regiões
do Utah e Colorado, este é um daqueles westerns que distraem o espectador com a
beleza das imagens. Western da época pré-spaghetti western (“Por Um Punhado de
Dólares” é também de 1964), não sofreu ainda a forte influência da música de
Ennio Morricone e a trilha composta por Jerry Goldsmith merece atenção por sua
originalidade. Mesmo a violência, que passaria a ser vista em westerns
norte-americanos, ainda é contida em “Rio Conchos” apesar de o filme ter sido à
época rotulado de violento. Longe do clássico que poderia ter se tornado, este
faroeste de Gordon Douglas sem dúvida merece ser visto.
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Richard Boone, Stuart Whitman e Jim Brown; Rodolfo Acosta |
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