James Neilson; Anthony Mann |
Anthony Mann foi, reconhecidamente, o
grande cineasta do gênero western nos anos 50, década em que realizou uma
dezena de faroestes, muitos deles clássicos. A parceria de Mann com James
Stewart é ainda uma das mais famosas do cinema entre ator-diretor, resultando
em nada menos que oito filmes, cinco deles westerns. Em 1956, enquanto
aguardava o início das filmagens de “Vertigo” (Um Corpo que Cai), Stewart
aceitou participar de um novo faroeste roteirizado por Borden Chase, desde que
o filme fosse dirigido por seu amigo Anthony Mann. Logo de início o diretor não
gostou do projeto porque entendeu ser incoerente Stewart interpretar um irmão
de Audie Murphy pois ambos são inteiramente diferentes. Mann também não gostou
do excessivo número de sequências em que o personagem de James toca um
acordeão. Em sua juventude Stewart aprendeu a tocar o instrumento e o que mais
o atraiu nesse filme foi justamente a oportunidade de poder demonstrar sua
habilidade musical. Para atrapalhar ainda mais as coisas Mann começou a filmar
pelas sequências que mais exigiam fisicamente de Stewart, o que gerou
discussões entre eles. Mais poderoso que o diretor, pois tinha interesse
financeiro na produção, o ator exigiu do produtor Aaron Rosenberg que
despedisse sumariamente Anthony Mann. Embora haja versões que relatem que Mann
foi quem abandonou as filmagens, prevalece a contada por James Stewart. Esse
incidente colocou fim a uma amizade que parecia duradoura e, enquanto Mann com
satisfação foi filmar “O Homem dos Olhos Frios” (The Thin Man), James Neilson
foi chamado para substituí-lo. Neilson nunca havia dirigido um longa-metragem e
sua experiência era toda dos trabalhos em TV e ainda como cinegrafista que foi
durante a II Guerra Mundial. “A Passagem da Noite” recebeu críticas pouco
elogiosas e o público não se interessou muito por esse western, mesmo com
elenco encabeçado pelos nomes e Stewart e Audie Murphy.
James Stewart e Audie Murphy |
Irmão
reencontra irmão - Grant McLaine (James Stewart) é uma
ex-empregado de uma ferrovia, onde atuava como espécie de segurança dos valores
transportados. Acusado de conivência em um assalto faciltando a fuga de um
bandido, afasta-se da função por cinco anos após o que é recontratado porque o
bandido Whitey Harbin (Dan Duryea) e seu bando têm praticado reiterados
assaltos roubando o pagamento dos trabalhadores da ferrovia. Como primeiro
trabalho na nova fase McLaine deve, fazendo-se passar por passageiro anônimo no
trem, transportar dez mil dólares para efetuar o pagamento há meses devido aos
trabalhadores. Faz parte do bando de Whitey um jovem bandido apelidado The Utica
Kid (Audie Murphy), cujo nome verdadeiro é Lee McLaine e que é, de fato, irmão
de Grant. Acompanhava o bando de Whitey o menino órfão Joey Adams (Brandon De
Wilde), protegido de The Utica Kid. O novo assalto é praticado mas os dez mil
dólares escondidos numa caixa de sapatos que está o tempo todo em poder do
pequeno Joey não são descobertos. Trava-se uma luta desigual entre Grant e a
quadrilha, com Grant levando a melhor com a ajuda de seu irmão Lee que decide
mudar de lado. No entanto Lee é alvejado por Whitey e morre, enquanto o bandido
é também morto por Grant que leva os dez mil dólares para o acampamento dos
ferroviários.
James Stewart; Audie Murphy |
Audie
Murphy como vilão sarcástico - Entre as queixas de Anthony Mann em
relação à história, estava também o personagem do garoto carregando o tempo
todo uma caixa com dez mil dólares sem levantar suspeitas. Mas bem pior que
isso são os diálogos travados entre os bandidos Whitey e The Utica Kid, diálogos
que visam criar um clima de antagonismo divertido mas que apenas conseguem ser
deslocados, para não dizer bizarros. Dan Duryea está seguramente entre os
melhores vilões que Hollywood apresentou, com seu tão imitado riso cínico e
fria crueldade homicida. Mas nada disso se vê no bandido Whitey porque parece
que Dan Duryea a todo momento vai gargalhar vendo Audie Murphy interpretar um fora-da-lei
pretensamente sarcástico. Mann sabia das limitações de Murphy como ator e
pressentiu que aquele tipo de personagem não seria apropriado para o mais condecorado
herói de guerra norte-americano transformado em astro de cinema. E James
Stewart nos remete aos tempos dos pequenos faroestes da Republic, estrelados
por Roy Rogers, Gene Autry e Rex Allen, nos quais pelo menos meia dúzia de
vezes os mocinhos interrompiam suas cavalgadas, lutas e tiroteios para...
cantar. Stewart toca seu acordeão a todo momento e sob qualquer pretexto para
que ele demonstre seus dotes musicais. Anthony Mann sabia que “A Passagem da
Noite” tinha tudo para não dar certo.
James Stewart e Audie Murphy |
Audie Murphy com Elaine Stewart; Dianne Foster |
Personagens
incoerentes - Sem ser complexo, este enredo de Borden Chase é tão
confuso quanto inconsequente, colocando em cena as presenças de duas mulheres
que no passado conheceram os irmãos McLaine. Uma delas, Verna Kimball (Elaine
Stewart), é casada com o velho o dono da ferrovia (Jay C. Flippen) e a outra,
Charlotte (Dianne Foster), é eterna apaixonada por The Utica Kid. Verna é
daquelas mulheres insatisfeitas que se insinuam junto ao homem que estiver mais
próximo a ela, frustrando-se inteiramente pois, mesmo prisioneira do grupo
enorme de bandidos, nem Whitey e nem The Utica Kid se interessam em disputá-la.
Isto após ser rejeitada também por Grant. Já a íntegra Charlotte, mal o corpo
de seu amado Kid esfriou e ela termina o filme de mãos dadas com o irmão deste,
partindo para uma vida comum com o quase futuro cunhado. Atenção, o autor do
roteiro é Borden Chase, ele que demonstrou saber conceber tipos femininos mais
interessantes, como a pouco escrupulosa criadora de gado de “Homem Sem Rumo”
(Man Without a Star) interpretada por Jeanne Crain; ou as mulheres que assediam
Gary Cooper e Burt Lancaster em “Vera Cruz” (Sarita Montiel e Denise Darcell).
Tanto Verna Kimball como Charlotte Drew, a rigor, pouco acrescentam à história
sendo apenas o contraponto feminino ao vastíssimo elenco masculino. Sem
esquecer das presenças, estas sim, marcantes de Olive Carey e Ellen Corby que
poderiam ser mais e melhor aproveitada.
James Stewart e Audie Murphy |
Exterminando
a grande quadrilha – Muito boa a sequência de assalto ao
trem em movimento, mas o momento com mais ação de “A Passagem da Noite” é o
enfrentamento do solitário herói Grant McLaine contra a numerosa quadrilha
chefiada por Whitey. Destoando do inconvincente desenvol-vimento deste western,
o tiroteio é bem encenado, valorizado pelas presenças de diversos stuntmen que
atuam como membros do bando de Whitey. Entre eles Chuck Roberson, Boyd
Stockman, Henry Wills e John Daheim, que morrem com ‘gusto’, o mesmo ocorrendo
com Dan Duryea na sequência em que é abatido por Stewart. Do bando composto por
dez malfeitores, um a um vão sendo postos fora de combate por Grant, assistido
do alto de um morro por seu indeciso irmão. Até que finalmente participa da
troca de tiros. Essa sequência compensa a frustração de ver tanta música e
bandidos com tão pouca inteligência que jamais desconfiam da caixa de sapatos
que o garoto Joey carrega para todo lado. O início da ‘conversão’ de The Utica
Kid foi imaginada como uma sequência comovente quando através de uma canção
tocada e cantada pela família Grant, o jovem bandido repensa sua vida. No
entanto produz efeito contrário, resultando no momento mais piegas deste
western.
Dan Duryea |
Elenco
sem maiores destaques - Os personagens criados por James
Stewart em westerns de Anthony Mann são geralmente homens torturados
psicologicamente pelo passado e fisicamente no presente, enfrentando quase
sempre solitariamente os desafios. Grant McLaine, sem qualquer profundidade
psicológica, é seguramente o mais vazio de todos os tipos vividos por Stewart
na série de faroestes que ele filmou na década de 50. Do mesmo modo Dan Duryea
deixa saudades do sádico vilão que comumente interpreta, como o ‘Fred McCarthy’
de “Homens Indomáveis” (Silver Lode). Audie Murphy inteiramente fora do tipo
que pouco dele exigia para interpretar os westerns da Universal em que atuava.
A reunião de vilões que compõem o bando de Whitey só permite maior destaque para
Robert J. Wilke, desperdiçando Jack Elam. Brandon De Wilde depois de ter que
gritar ‘Shaaaaaane’ interminavelmente em “Os Brutos Também Amam” teve que
carregar uma caixa de sapatos o tempo todo em “A Passagem da Noite”, não tendo
oportunidade para demonstrar o ótimo ator infanto-juvenil que era. O elenco de
coadjuvantes traz ainda Paul Fix como marido da ciumenta Ellen Corby em
sequências cômicas e Olive Carey com seu tipo único é sempre presença agradável
na tela.
Sing,
Stewart, Sing - Dimitri Tiomkin é o autor da trilha musical, com duas
canções que são “Follow the River” e “You Can’t Get Far Without a Railroad”. A
primeira demais pomposa e por isso mesmo pretensiosa; a segunda cantada por
James Stewart com sua voz anasalada em arranjos mais lento e acelerado, com ele
acompanhando-se ao acordeão. Nenhuma das canções tornou-se memorável.
Salienta-se mais que tudo neste filme as belíssimas imagens de Williams H.
Daniels no processo Technirama feitas nas locações no Colorado e na Inyo
National Forest, na California, cenários tão apreciados por Anthony Mann. O
diretor James Neilson não fez carreira no cinema e “A Passagem da Noite” deixa
a impressão que poderia ser bem melhor pelas mãos do diretor dispensado pelo
egocentrismo que dominou James Stewart (na foto à esquerda) neste western.
Brandon De Wilde e James Stewart; o acordeão sendo queimado. |
Funny ... because when I watched this I kept wishing he would stop playing that damn thing. LoL!
ResponderExcluirStewart made some great Westerns, but this was not one of them.
Nossa!! Que satisfação em ver esse maldito acordeão sendo queimado.
ResponderExcluirEu não sou tão exigente. Gostei do filme.James e Audie dois dos meus atores preferidos.
ResponderExcluirEu não sou tão exigente.Gostei do filme.James e Audie dois dos meus atores preferidos.
ResponderExcluir