Joseph H. Lewis |
Randolph Scott atuou em dois westerns
dirigidos por Joseph H. Lewis, o cultuado diretor dos policiais “Mortalmente
Perigosa” (1950) e “Império do Crime” (1955). O outro filme de Scott com Lewis
foi “O Fantasma do General Custer” (7th Cavalry), de 1956 e o veterano cowboy
não teve muita sorte nessa parceria pois os melhores faroestes de Joseph H.
Lewis são “Ódio Contra Ódio” (The Halliday Brand) e “Reinado do Terror” (Terror
in a Texas Town), respectivamente de 1957 e 1958, sendo que este último marcou
sua despedida como diretor de longa-metragens. Lewis se iniciou dirigindo os
mocinhos ‘Wild’ Bill Elliott e Johnny Mack Brown em westerns da Columbia e
Universal e aos 50 anos de idade, após ter sofrido um ataque cardíaco, se
bandeou para a televisão, passando a dirigir séries de TV. Nada menos que 51
episódios de “O Homem do Rifle” foram por ele dirigidos. No entanto Joseph H.
Lewis conseguiu neste “Obrigado a Matar” algo não muito comum que era ver
Randolph Scott atuando com maior boa vontade e empenhado até mesmo em
participar de uma luta corporal contra o gigante Don Megowan, numa das melhores
sequências deste western.
Randolph Scott com Ruth Donelly e com Angela Lansbury |
Delegado
marcado para morrer - A história original teve o título “The
Marshal of Medicine Bend”, foi escrita por Brad Ward e roteirizada por Kenneth
Gamet. Não confundir com “Shoot-Out at Medicine Bend” (No Rastro dos
Bandoleiros), que Randolph Scott filmaria ao lado de James Garner em 1957. A
ação deste “Obrigado a Matar” também se passa na cidade de Medicine Bend onde
Calem Ware (Randolph Scott) é o delegado. Hamer Thorne (Warner Anderson) e Cody
Clark (John Emery) são dois influentes comerciantes da cidade que com a
iminente exploração de minério pretendem dominar Medicine Bend. Para isso
precisam eliminar o íntegro delegado e contratam um pistoleiro que tenta matá-lo
mas acaba morto pelo homem da lei. Chega então à cidade a artista Tally
Dickenson (Angela Lansbury) a quem Hamer Thorne quer desposar sem saber que Tally
ainda é casada com o delegado. Tally espera que seu marido abdique do cargo mas
ao invés disso seu marido se vê obrigado a enfrentar Harley Baskam (Michael
Pate), outro pistoleiro contratado para assassiná-lo. No confronto entre ambos
Baskam é morto enquanto Thorne acidentalmente mata seu sócio Clark. A população
da cidade se une e prende Thorne, com Calem e Tally indo embora de Medicine
Bend.
James Bell e Jean Parker; Wallace Ford e Randolph Scott |
Tramas
amorosas - Um dos mais influentes westerns de todos os tempos foi
“Matar ou Morrer” (High Noon) e este faroeste é mais um a mostrar um xerife
acuado entre o dever e uma decisão pessoal. Para alterar um pouco o cenário a
esposa agora é uma dançarina que insiste para que o marido mude de vida
deixando o distintivo e o revólver de lado. A história se anuncia interessante
porque há um triângulo amoroso formado pelo conquistador Hamer Thorne e a bela Cora
Dean (Jean Parker) que com Thorne traía o marido. Forma-se então um segundo
triângulo pois Tally, cortejada pelo mesmo Thorne perde as esperanças de reaver
o marido delegado. Raros westerns entrelaçam temas como esses, mais comuns aos
dramas urbanos, com a defesa da lei e da ordem. Porém, à medida que a trama se
desenvolve prevalece a ação deixando de lado as intrigas amorosas. O que é
aceitável pois este é um filme com meros 78 minutos, metragem típica dos
‘double features’, os complementos das sessões duplas dominantes à época. Mas a
mudança brusca de rumo torna “Obrigado a Matar” um faroeste comum e é quando o
homem da lei enfrenta o temível pistoleiro que o filme decai.
Randolph Scott; Michael Pate |
Duelos
decepcionantes - Calem Ware é avisado do perigo pela cozinheira Molly
(Ruth Donnelly) e a comunicação se faz de modo cômico com a simpática velha
senhora batendo no teto com uma vassoura. O delegado já sabe que terá que
enfrentar alguém que quer acertar contas com ele, coloca o cinturão, o lenço no
pescoço, tudo num ritual e vai tranquilamente fazer a barba, deixando exposto
seu revólver dependurado numa displicência imperdoável. O pistoleiro percebe e tenta
atirar em Calem Ware que preparara a armadilha e é mais rápido com a Deriger
que tinha escondida sobre a toalha. Essa excelente sequência contrasta com o
segundo desafio que o delegado enfrenta, que tem início com as mesmas
divertidas batidas de Molly no teto com a vassoura. Joseph E. Lewis se
notabilizou pelo apuro cênico com enquadramentos diferentes mesmo em filmes de
baixo orçamento. Ao colocar frente a frente o novo pistoleiro Harley Baskam e o
delegado, este demora uma eternidade para sacar, chegando mesmo a dar a
impressão de, propositalmente, permitir ser abatido, sequência que deixa bastante
a desejar. Mesmo o segundo confronto entre os dois é inconvincente pois o
pistoleiro que alardeava experiência e frieza esvazia o tambor de seu revólver
mesmo sem ver o opositor. Aquelas que poderiam ter sido as grandes sequências
do filme são frustrantes.
Randolph Scoot com a Deringer e o barbeiro Harry Tyler |
Warner Anderson |
A
cidade corajosa - Se em “Matar ou Morrer” o delegado
Will Kane luta solitariamente contra o quarteto que quer matá-lo, em “Obrigado
a Matar”, ao final, a cidade se enche de brio e impede a fuga de Thorne, num
mal explicado pundonor. Isso não impede Calem Ware de deixar a cidade ao lado da
esposa, não sem antes fazer um altruístico discurso louvando a coragem daqueles
que até então não demonstravam bravura alguma. Calem entende que, agora sim,
Medicine Bend está pronta para se defender sem sua ajuda e diferente de Will Kane
não atira o distintivo no chão, apenas o devolve educadamente. O australiano Michael
Pate é quem interpreta Harley Baskam, ele que em muitos filmes se mostrou bom
ator. Mas chega a ser irritante como o afetado pistoleiro em mais uma cópia
sofrível do Jack Wilson criado por Jack Palance em “Shane” (Os Brutos Também
Amam).
Jeanette Nolan e Don Megowan; Don Megowan e Randolph Scott |
Luta
renhida - Chama a atenção também neste western a presença de três
mulheres no elenco, excetuada a referida cozinheira Molly. A conhecida Jean Parker,
de tantos bons momentos no cinema, é a esposa adúltera que afinal se arrepende
e se reconcilia com o marido; a excelente Jeanette Nolan aparece em pequena
participação e bem que poderia ser melhor aproveitada; a leading-lady de
Randolph Scott é Angela Lansbury que consegue a proeza de ser beijada por ele
no filme. Já fora da MGM onde esteve sob contrato por muitos anos, a atriz é
acentuadamente mais jovem que Scott e interpreta uma esfuziante dançarina de saloon
que quer a todo custo voltar a ser apenas dona-de-casa. Os roteiristas sempre
constroem as histórias de forma a que Scott seja, quase sempre, um viúvo e
desta vez pouco se preocuparam com a coerência. O ponto alto deste faroeste é a
renhida luta travada entre Randolph Scott e Don Megowan, encenação extremamente
convincente ainda mais levando-se em conta que em boa parte desse embate o
veterano cowboy dispensa o dublê, o que é pouco usual. “Obrigado a Matar” é um
filme que poderia ter sido muito melhor mas acaba sendo um faroeste mediano na extensa
lista de westerns de Randolph Scott e nenhum brilho acrescenta à filmografia de
Joseph H. Lewis.
Randolph Scott com Angela Lansbury e com Jeanette Nolan |
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