10 de agosto de 2018

OBRIGADO A MATAR (A LAWLESS STREET), 1955 – DESAFIOS PARA RANDOLPH SCOTT


Joseph H. Lewis

Randolph Scott atuou em dois westerns dirigidos por Joseph H. Lewis, o cultuado diretor dos policiais “Mortalmente Perigosa” (1950) e “Império do Crime” (1955). O outro filme de Scott com Lewis foi “O Fantasma do General Custer” (7th Cavalry), de 1956 e o veterano cowboy não teve muita sorte nessa parceria pois os melhores faroestes de Joseph H. Lewis são “Ódio Contra Ódio” (The Halliday Brand) e “Reinado do Terror” (Terror in a Texas Town), respectivamente de 1957 e 1958, sendo que este último marcou sua despedida como diretor de longa-metragens. Lewis se iniciou dirigindo os mocinhos ‘Wild’ Bill Elliott e Johnny Mack Brown em westerns da Columbia e Universal e aos 50 anos de idade, após ter sofrido um ataque cardíaco, se bandeou para a televisão, passando a dirigir séries de TV. Nada menos que 51 episódios de “O Homem do Rifle” foram por ele dirigidos. No entanto Joseph H. Lewis conseguiu neste “Obrigado a Matar” algo não muito comum que era ver Randolph Scott atuando com maior boa vontade e empenhado até mesmo em participar de uma luta corporal contra o gigante Don Megowan, numa das melhores sequências deste western.


Randolph Scott com Ruth Donelly
e com Angela Lansbury
Delegado marcado para morrer - A história original teve o título “The Marshal of Medicine Bend”, foi escrita por Brad Ward e roteirizada por Kenneth Gamet. Não confundir com “Shoot-Out at Medicine Bend” (No Rastro dos Bandoleiros), que Randolph Scott filmaria ao lado de James Garner em 1957. A ação deste “Obrigado a Matar” também se passa na cidade de Medicine Bend onde Calem Ware (Randolph Scott) é o delegado. Hamer Thorne (Warner Anderson) e Cody Clark (John Emery) são dois influentes comerciantes da cidade que com a iminente exploração de minério pretendem dominar Medicine Bend. Para isso precisam eliminar o íntegro delegado e contratam um pistoleiro que tenta matá-lo mas acaba morto pelo homem da lei. Chega então à cidade a artista Tally Dickenson (Angela Lansbury) a quem Hamer Thorne quer desposar sem saber que Tally ainda é casada com o delegado. Tally espera que seu marido abdique do cargo mas ao invés disso seu marido se vê obrigado a enfrentar Harley Baskam (Michael Pate), outro pistoleiro contratado para assassiná-lo. No confronto entre ambos Baskam é morto enquanto Thorne acidentalmente mata seu sócio Clark. A população da cidade se une e prende Thorne, com Calem e Tally indo embora de Medicine Bend.

James Bell e Jean Parker;
Wallace Ford e Randolph Scott
Tramas amorosas - Um dos mais influentes westerns de todos os tempos foi “Matar ou Morrer” (High Noon) e este faroeste é mais um a mostrar um xerife acuado entre o dever e uma decisão pessoal. Para alterar um pouco o cenário a esposa agora é uma dançarina que insiste para que o marido mude de vida deixando o distintivo e o revólver de lado. A história se anuncia interessante porque há um triângulo amoroso formado pelo conquistador Hamer Thorne e a bela Cora Dean (Jean Parker) que com Thorne traía o marido. Forma-se então um segundo triângulo pois Tally, cortejada pelo mesmo Thorne perde as esperanças de reaver o marido delegado. Raros westerns entrelaçam temas como esses, mais comuns aos dramas urbanos, com a defesa da lei e da ordem. Porém, à medida que a trama se desenvolve prevalece a ação deixando de lado as intrigas amorosas. O que é aceitável pois este é um filme com meros 78 minutos, metragem típica dos ‘double features’, os complementos das sessões duplas dominantes à época. Mas a mudança brusca de rumo torna “Obrigado a Matar” um faroeste comum e é quando o homem da lei enfrenta o temível pistoleiro que o filme decai.

Randolph Scott; Michael Pate
Duelos decepcionantes - Calem Ware é avisado do perigo pela cozinheira Molly (Ruth Donnelly) e a comunicação se faz de modo cômico com a simpática velha senhora batendo no teto com uma vassoura. O delegado já sabe que terá que enfrentar alguém que quer acertar contas com ele, coloca o cinturão, o lenço no pescoço, tudo num ritual e vai tranquilamente fazer a barba, deixando exposto seu revólver dependurado numa displicência imperdoável. O pistoleiro percebe e tenta atirar em Calem Ware que preparara a armadilha e é mais rápido com a Deriger que tinha escondida sobre a toalha. Essa excelente sequência contrasta com o segundo desafio que o delegado enfrenta, que tem início com as mesmas divertidas batidas de Molly no teto com a vassoura. Joseph E. Lewis se notabilizou pelo apuro cênico com enquadramentos diferentes mesmo em filmes de baixo orçamento. Ao colocar frente a frente o novo pistoleiro Harley Baskam e o delegado, este demora uma eternidade para sacar, chegando mesmo a dar a impressão de, propositalmente, permitir ser abatido, sequência que deixa bastante a desejar. Mesmo o segundo confronto entre os dois é inconvincente pois o pistoleiro que alardeava experiência e frieza esvazia o tambor de seu revólver mesmo sem ver o opositor. Aquelas que poderiam ter sido as grandes sequências do filme são frustrantes.

Randolph Scoot com a Deringer e o barbeiro Harry Tyler

Warner Anderson
A cidade corajosa - Se em “Matar ou Morrer” o delegado Will Kane luta solitariamente contra o quarteto que quer matá-lo, em “Obrigado a Matar”, ao final, a cidade se enche de brio e impede a fuga de Thorne, num mal explicado pundonor. Isso não impede Calem Ware de deixar a cidade ao lado da esposa, não sem antes fazer um altruístico discurso louvando a coragem daqueles que até então não demonstravam bravura alguma. Calem entende que, agora sim, Medicine Bend está pronta para se defender sem sua ajuda e diferente de Will Kane não atira o distintivo no chão, apenas o devolve educadamente. O australiano Michael Pate é quem interpreta Harley Baskam, ele que em muitos filmes se mostrou bom ator. Mas chega a ser irritante como o afetado pistoleiro em mais uma cópia sofrível do Jack Wilson criado por Jack Palance em “Shane” (Os Brutos Também Amam).

Jeanette Nolan e Don Megowan;
Don Megowan e Randolph Scott
Luta renhida - Chama a atenção também neste western a presença de três mulheres no elenco, excetuada a referida cozinheira Molly. A conhecida Jean Parker, de tantos bons momentos no cinema, é a esposa adúltera que afinal se arrepende e se reconcilia com o marido; a excelente Jeanette Nolan aparece em pequena participação e bem que poderia ser melhor aproveitada; a leading-lady de Randolph Scott é Angela Lansbury que consegue a proeza de ser beijada por ele no filme. Já fora da MGM onde esteve sob contrato por muitos anos, a atriz é acentuadamente mais jovem que Scott e interpreta uma esfuziante dançarina de saloon que quer a todo custo voltar a ser apenas dona-de-casa. Os roteiristas sempre constroem as histórias de forma a que Scott seja, quase sempre, um viúvo e desta vez pouco se preocuparam com a coerência. O ponto alto deste faroeste é a renhida luta travada entre Randolph Scott e Don Megowan, encenação extremamente convincente ainda mais levando-se em conta que em boa parte desse embate o veterano cowboy dispensa o dublê, o que é pouco usual. “Obrigado a Matar” é um filme que poderia ter sido muito melhor mas acaba sendo um faroeste mediano na extensa lista de westerns de Randolph Scott e nenhum brilho acrescenta à filmografia de Joseph H. Lewis.

Randolph Scott com Angela Lansbury e com Jeanette Nolan

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