“Os Três Sargentos” (Sergeants 3),
western de John Sturges realizado em 1962, alcançou razoável sucesso de
bilheteria quando de seu lançamento. E mesmo com Frank Sinatra e Dean Martin no
elenco, esse filme só pode ser revisto 45 anos depois. “Os Três Sargentos” era
um autêntico remake de “Gunga Din”, um dos maiores clássicos dos filmes de
aventuras, produzido em 1939 e baseado em poema de Rudyard Kipling. Dirigido
por George Stevens para a RKO, o filme teve o poema de Kipling adaptado para
uma história de autoria de Ben Hecht e Charles MacArthur, nomes que podem ser
vistos durante a apresentação dos créditos do filme quando o gigantesco gongo é
tocado pela quarta vez. Acontece que a United Artists e o produtor de “Os Três
Sargentos” que era Frank Sinatra esqueceram de mencionar os nome do escritor indiano,
bem como os nomes de Hecht e MacArthur. Esse fato gerou um processo e não
havendo acordo entre as partes foi proibida a exibição do filme. Somente no
aniversário dos dez anos da morte de Sinatra, em 2008, houve o lançamento de
uma caixa com a série de filmes feitos com o Rat Pack (o grupo de amigos de
Frank). Só então “Os Três Sargentos” pode ser assistido por quem perdeu o filme
quando de seu lançamento em 1962 e também pelos mais jovens que ouviam falar do
filme que possuía certa fama.
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John Sturges tentando fazer com que Sinatra cumpra o roteiro na foto acima; abaixo John Sturges, Sammy Davis Jr. e Sinatra ouvem Dean Martin. |
“Eu
decido como vai ser!” - Em 1961 Frank Sinatra era um dos
homens mais poderosos do show-business e fazia o que bem entendia. Após
assistir “Sete Homens e um Destino”, Sinatra achou que era hora de fazer um
western e queria ser dirigido por John Sturges. Sinatra havia atuado sob as
ordens de Sturges em “Quando Explodem as Paixões” e Sturges, por sua vez,
queria ganhar dinheiro para seu sonhado projeto, o filme de guerra “The Great
Escape” (Fugindo do Inferno). Sinatra concordou em pagar a John Sturges 150 mil
dólares. O custo do filme foi orçado em um milhão e oitocentos mil dólares.
Sturges recebeu o elenco pronto e curiosamente era um elenco quase todo formado por
amigos de Sinatra, entre eles Dean Martin, Peter Lawford, Sammy Davis Jr. e Joey
Bishop, integrantes do grupo conhecido por Rat Pack, liderado por Sinatra e que
tinha por princípio levar a vida se divertindo, mesmo quando no trabalho. Amigo
igualmente de políticos e de mafiosos, Sinatra foi logo impondo a John Sturges
suas condições, avisando o diretor da necessidade de conciliar seus
compromissos como cantor com a rotina da filmagem. Sturges entendeu melhor as
condições desse trabalho quando ao rodar uma sequência em que Sinatra luta com um
índio no chão enquanto outro índio salta com uma faca na mão sobre as costas do
ator-produtor. Sinatra é salvo por Dean Martin e ao final da cena Sinatra diz a
Martin: “Por que demorou tanto, amigão?” Sturges gritou “Corta! Que diabo é isso, Frank? Você está no Velho Oeste e não
no palco em Las Vegas!” Sinatra respondeu: “Aqui
quem dirige o show sou eu e eu decido como vai ser. Fica assim Mesmo!” Sturges
abandonou o set de filmagem, mas foi seguido pelo produtor executivo Howard
Koch e depois de duas horas de conversa Sturges decidiu voltar a dirigir o filme. Profissional
que era, Sturges dirigiu até a última cena, mas jamais participou das brincadeiras
de Sinatra e seus amigos, uma constante no set.
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Gunga Din no velho oeste, sobrevivendo e sendo condecorado com a mula Sofia. |
Missão
no topo da montanha - Esse episódio espelhou fielmente o
que seria a produção de “Os Três Sargentos”: Sinatra e seus amigos fazendo o
que bem entendiam durante as cenas, desrespeitando os diálogos com frases e
gírias que costumavam usar nos shows nos cassinos de Las Vegas. Restou a John
Sturges mostrar sua competência nas sequências de ação, especialmente naquelas
em que Sinatra e seus amigos não participavam. O roteiro de W.R. Burnett
transportou para o Velho Oeste, a história dos amigos Mike Merry (Frank
Sinatra), Chip Deal (Dean Martin) e Larry Barrett (Peter Lawford). Os três são
sargentos de um Regimento da Cavalaria destacados para uma arriscada missão num
território ocupado por índios. Esses pele-vermelhas chamados de ‘Vingadores’
seguem cegamente a liderança de Watanka (Michael Pate), um curandeiro que prega
a extinção do homem branco para que os búfalos retornem às planícies. Junta-se
aos três sargentos o negro Jonah Williams, ex-escravo recentemente libertado e
que quer se tornar soldado. Os quatro chegam a uma caverna no topo de uma
montanha, onde Watanka procede aos rituais de sua tribo, alguns deles com a
morte de homens brancos. Nesse local sagrado os três sargentos e Jonah Williams
aprisionam Mountain Hawk (Henry Silva), o filho de Watanka, mantendo-o como
refém. Mountain Hawk escapa, joga-se do alto da montanha e ao ver o filho morto Watanka
ordena o ataque surpresa à Cavalaria que se aproxima. Nesse momento, mesmo
ferido, Jonah Williams consegue tocar seu trompete alertando o comando da tropa
que encurrala os índios vingadores. Os três sargentos são
condecorados por bravura e o ex-escravo negro é admitido como soldado da
Cavalaria.
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A cena da ponte era para ser séria, mas virou mais uma brincadeira; Sinatra e Henry Silva; Dean Martin e Sammy Davis Jr.; Henry Silva e Michael Pate; Henry Silva prestes a se jogar do despenhadeiro.
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Cenas de luta contra os índios viram pura galhofa quando interpretadas pelo Rat Pack de sinatra. |
Sinatra
e a falta de graça - O forte de John Sturges jamais foi a
comédia e isso ficaria provado com “Nas Trilhas da Aventura”. Porém poucos
diretores fizeram um conjunto tão bom de faroestes como Sturges. Acontece que
em “Os Três Sargentos” o diretor teve que lutar contra a vontade de Sinatra e
seus amigos de transformar o western numa verdadeira comédia. Mesmo nas cenas
de ação os três sargentos queriam mostrar aquele tipo de comicidade que era engraçada só para eles
próprios. O problema é que o bom ator Frank Sinatra nunca teve a menor graça e
menos ainda o inglês Peter Lawford. Apenas o relaxado Dean Martin e Sammy Davis
Jr. conseguem, neste filme, provocar algum riso, mas jamais uma gargalhada. No
início de “Os Três Sargentos” ocorre uma grande briga num saloon e, apesar dos
esforços de Sinatra, Martin e Lawford e da destruição do local, a impressão que
fica é que se está assistindo àquelas brigas das comédias dos Três Patetas. E
Henry Hathaway havia mostrado dois anos antes como se filmar uma boa briga num saloon em “Fúria no Alasca”. Insuperável como lição de como
desperdiçar uma sequência inteira é o ataque dos índios à cidade deserta. Para
possibilitar os gracejos dos três heróis, os índios são transformados num bando
de perfeitos idiotas incapazes de reagir aos debochados porém certeiros e
destemidos sargentos. Estes lançam mão de fogos de artifício, bananas de
dinamite e demonstram suas pontarias certeiras com revólveres, rifles e até
arco e flecha. Mesmo assim “Os Três Sargentos” sobreviveu, graças a Sturges.
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O Gunga Din de "Os Três Sargentos". |
‘Gunga
Kid’ sobrevive - O diretor John Sturges conseguiu mais seriedade de
Sinatra e seus amigos na parte final de “Os Três Sargentos” quando o filme
melhora bastante, comportando até mesmo um pequeno suspense e uma excelente
batalha da Cavalaria contra os índios. O espectador chega a acreditar que o
filme foi salvo, mas eis que a United Artists, com a concordância de Sinatra,
exigiu que fosse filmado um novo final. Nele Jonah Williams ressurge, é
incorporado ao Exército, os sargentos são condecorados e há tempo para uma
última brincadeira dos sargentos Mike Merry e Chip Deal enganando o amigo Larry
Barrett que pretende se casar. Quando se assiste a “Os Três Sargentos” é
impossível não lembrar de “Gunga Din”. A versão de John Sturges segue
praticamente cena a cena o maravilhoso filme de George Stevens que influenciou
todos os filmes de aventura, entre eles “Indiana Jones”. Em "Gunga Din" o protagonista interpretado por Sam Jaffe morre. A mudança do final de
“Os Três Sargentos” é a vitória do poder de Sinatra sobre John Sturges.
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Os irmãos Phillip, Dennis e Lindsay Crosby com o cantor Mickey Finn. |
Os
infelizes irmãos Crosby - Winton C. Hoch é o diretor de
fotografia, se esmerando nas imagens do Bryce Canyon, em Utah, mas não
conseguindo fazer milagres com as tomadas do topo da montanha feitas em cenário
de estúdio. Billy May, o maestro arranjador que dividia com Nelson Riddle a
preferência do Sinatra cantor é o responsável pela caprichada e funcional
trilha sonora. Rara oportunidade de se ouvir uma trilha sonora de Billy May para
o cinema. Excelente o trabalho dos stuntmen em incontáveis quedas de telhados e
de cavalos, algumas verdadeiramente espetaculares. Dean Martin e Sammy Davis
Jr. se destacam sem muito esforço. Michael Pate mais uma vez como índio
mostrando o bom ator que era. Boa a presença do engraçado Hank Henry (o dono do
night-club em “Chorei por Você”), ator com apenas 14 filmes em sua carreira,
metade deles com o amigo Sinatra. Bing Crosby, que era amigo de Sinatra
conseguiu que seus filhos Phillip, Lindsay e Dennis participassem do filme. Faltou
apenas Gary Crosby, aquele filho de Bing que escreveria um livro mostrando a faceta de pai
carrasco de Bing Crosby. Phillip chamou o irmão Gary de mentiroso, enquanto
Lindsay e Dennis concordaram com Gary Crosby. Lindsay e Dennis se suicidaram
com tiros de revólver, respectivamente aos 51 e 56 anos de idade.
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Dean Martin e Sinatra fazendo graça o tempo todo. |
Vitória
de John Sturges - A explicação para a
presença de Peter Lawford no grupo de Sinatra seria porque o cantor queria
estar mais próximo de John Kennedy e Lawford era concunhado do presidente.
Quando Kennedy preteriu Sinatra para um show na Casa Branca, chamando Bing
Crosby, Sinatra deu um ‘buona sera’ para Peter Lawford que nunca mais fez parte
do Rat Pack. Muito se comentou que Peter Lawford era quem agenciava atrizes
para os irmãos Kennedy, notórios e insaciáveis amantes de belas mulheres. “Os
Três Sargentos” rendeu 4,3 milhões de dólares em 1962, tendo agradado mais ao público
que à crítica. Apesar de todos os defeitos, valeu à pena esperar para ver ou
rever “Os Três Sargentos”, especialmente depois que as várias biografias
escritas mostraram os bastidores desse filme. Pelas dificuldades enfrentadas até que John Sturges
fez um bom faroeste com “Os Três Sargentos” que, depois de ser assistido,
torna obrigatório rever “Gunga Din”. Este sim, uma aventura inesquecível!
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Filme de cavalaria que se preze tem que ter baile no forte; Sinatra arriscando o pescoço em cena sem dublê; Sinatra e Martin; Dean Martin e Joey Bishop; Dean Martin fazendo jus à imerecida fama que tinha... |
Assisti ainda criança... acredite ou não, este foi um dos faroestes de maior sucesso exibidos em Oliveira/MG, onde passei infância e adolescência. As pessoas simplesmente não conseguiam parar de rir com as bobagens da turma. Também não conseguiam parar de bater os pés (será que erá só lá que havia este costume?) nas inúmeras cenas de ação. Pobres índios, como sofreram nas mãos desses caras.
ResponderExcluirNão acho Sinatra tão sem graça assim. Ele, Dean Martin e Sammy Davis Jr. (principalmente estes dois) mataram a pau. Agora, o Lawford, pelo amor de Deus, heim? Não serve mesmo prá nada.
Eu sempre pensei que o não lançamento do filme em VHS e DVD fosse em virtude do famigerado "politicamente correto", porque, convenhamos, o tratamento dado aos índios no filme é vergonhoso naqueles tempos já bem pós-Flechas de Fogo.
Apesar disso, revi o filme há algum tempo e ele continua muito engraçado, em minha opinião. O filme merece ser redescoberto, faz parte de uma vertente importante do faroeste nos anos 1960, a da paródia.
Um abraço, bela matéria.
José Tadeu
Olá, José Tadeu - Oportuna essa sua lembrança e observações sobre o filme. É explicado no filme que aqueles índios chamados de 'vingadores' eram índios não amigos dos brancos, ou seja, não aceitavam a política a eles imposta pelo governo de Washington. Quanto a achar Sinatra engraçado, vale lembrar aquela história que Dean Martin contava: os dois faziam um show em Las Vegas e o público ria somente nas falas de Dean Martin. Inconformado, Sinatra pediu para que trocassem as falas pois o texto de Dino era engraçado e o dele não. Trocaram as falas e o público riu bastante... com as falas de Dean Martin (que eram de Sinatra) e não riram com as novas falas do The Voice. - Um abraço do Darci.
ResponderExcluirCoincidentemente assisti este filme na quinta feira pela Internet. O diretor devia estar duro e se deixou levar pela turma RAT PACK. Não pode ser levado a serio este filme, acabaram com GUNGA DIN. Sam Jaffe no tumulo deve ter rolado e ficado muito... quando soube deste filme.
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