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15 de junho de 2012

CINCO REVÓLVERES MERCENÁRIOS (FIVE GUNS WEST) – DOROTHY MALONE BRILHA EM WESTERN DE ROGER CORMAN


A impressão que se tem de Roger Corman é do diretor que adorava fazer filmes baratos para assustar o público dos drive-ins norte-americanos. Corman criava sem nenhum pudor mulheres-vespas, ataques de caranguejos gigantes, plantas carnívoras, guerras de satélites, castelos com poços, pêndulos e tumbas e ainda achava tempo para dar as primeiras oportunidades no cinema a atores como Jack Nicholson e Robert De Niro e a diretores como Coppola e Scorsese. Mas antes de tudo isso Roger Corman fez westerns. Ou melhor, Corman praticamente iniciou sua carreira como diretor com os westerns “Cinco Revólveres Mercenários” (Five Guns West), “Pistoleiro Solitário” (Apache Woman), “A Lei dos Brutos” (The Gunslinger) e “A Onça de Oklahoma” (The Oklahoma Woman). Todos esses faroestes foram produzidos e dirigidos por Roger Corman entre os anos de 1955 e 1956. Corman se tornou famoso como o diretor que fazia filmes com orçamento reduzido num mínimo de tempo, como por exemplo “A Loja dos Horrores”, 1960, filmada em dois dias com orçamento de 27 mil dólares.

John Lund, Mike Connors, Paul Birch e Jack
Ingram, trabalhando barato para Corman.
DINHEIRO CURTO - O primeiro filme dirigido por Roger Corman foi “Cinco Revólveres Mercenários”, de 1955, que custou a pequena fortuna de 60 mil dólares, isto num tempo em que astros como John Wayne, Burt Lancaster, Liz Taylor, Marlon Brando e outros não saíam de casa para filmar por menos de 500 mil dólares. E esse western foi feito em nove dias, sendo que no primeiro desses nove dias choveu sem parar, uma desgraça para um filme que praticamente só tem cenas externas. Os dois atores principais são John Lund e Dorothy Malone e imagina-se que devam ter recebido menos de cinco mil dólares cada um. Já o desconhecido Touch Connors, terceiro nome do elenco, recebeu 400 dólares por sua participação. Touch Connors mudaria depois seu nome artístico para Michael Connors e posteriormente para Mike Connors. Com esse último nome Connors interpretaria o detetive ‘Joe Mannix’ por oito temporadas na série de TV “Mannix”. “Cinco Revólveres Mercenários” foi filmado em parte no Iverson Ranch e parte no Jack Ingram Ranch, onde havia uma pequena cidade cenográfica aproveitada no filme. E Roger Corman deve ter colocado no pacote pago a Jack Ingram a presença como ator do veterano badman de faroestes B. Com toda essa falta de recursos e considerando-se que era sua estréia como diretor, Roger Corman fez um western muito bom, acima da média dos muitos pequenos faroestes filmados naqueles anos.

Connors, Lund e Birch com Larry Thor (acima);
Jonathan Haze e Bob (R. Wright) Campbell;
Paul Birch, Mike Connors e John Lund a cavalo.
OS CINCO CONDENADOS - A história de “Cinco Revólveres Mercenários” é de autoria de R. Wright Campbell e é semelhante à do western “Resistência Heróica” (Only the Valiant), de 1951, com Gregory Peck. E é impossível não associar a história do western de Roger Corman com o megasucesso de Robert Aldrich “Os Doze Condenados”, estrelado por Lee Marvin. “Cinco Revólveres Mercenários” passa-se nos últimos dias da Guerra Civil e os Confederados com suas forças muito reduzidas apelam para quaisquer tipos de homens para evitar a derrota final. Stephan Jethro (Jack Ingram) é um membro da inteligência sulista que se torna traidor e foge numa diligência para o Kansas, território que está infestado por tropas yankees e também por índios hostis. O comando sulista decide perdoar cinco condenados à morte recrutando-os para a missão de capturar Jethro e recuperar 30 mil dólares em ouro que estão em poder do espião. O quinteto que deve cumprir a difícil missão é composto pelo assaltante de diligências Govern Sturges (John Lund), pelo jogador Hale Clinton (Mike Connors), pelo velho cowboy J.C. Haggard (Paul Birch) e pelos violentos irmãos John Candy (Bob Campbell) e Billy Candy (Jonathan Haze), todos os cinco com assassinatos nos seus currículos. O grupo de cinco homens decide emboscar a diligência numa parada em Dawn Springs, local onde vivem a bela Shalee (Dorothy Malone) e seu tio alcoólatra, o velho Mike. O grupo passa uma noite no posto de parada e, enquanto aguardam o momento decisivo, alguns deles assediam Shalee sexualmente e discutem formas de traições mútuas para ficar com o pequeno tesouro. Com a chegada da diligência Jethro é capturado e Sturges que na realidade é um oficial sulista mata os demais membros do grupo.

CINCO PISTOLAS E DOROTHY MALONE - A história é bastante bem arquitetada pois não há ouro algum com o traidor sulista, mas essa idéia é um pretexto suficiente para motivar o grupo de ex-condenados a cumprir a missão. Claro que todos eles querem se apossar do ouro e, se necessário, também matar Jethro. Além dessa trama há ainda o componente muito especial na figura feminina de Shalee, mulher sozinha num lugar solitário e com pensamentos povoados pela presença de um homem qualquer para aplacar sua sede de sexo. E chegam cinco de uma só vez, quatro deles disputando o amor da ardente Shalee. A sedutora mulher percebe que, assim como ela há muito não desfruta da companhia de um homem de verdade, eles também há tempos não sabem o que é uma mulher. E Shalee acaba por escolher aquele que é o mais promissor justamente por nada dever à Lei, ao contrário dos demais recém-saídos da prisão. Esse western de Corman foi exibido no Brasil com dois títulos, “Cinco Revólveres Mercenários” e o muito mais apropriado “Cinco Pistolas do Oeste”. Quando o personagem de Dorothy Malone aparece na tela já se passaram meia hora do início do filme e a partir daí é que começa a subtrama maliciosa com os homens tentando envolver Shalee. Essa situação culmina numa cena noturna, de dança próxima de uma fogueira, em que ela testa os homens que a assediam. É Roger Corman mostrando sua inventividade e Dorothy Malone provocando a libido dos homens (e dos espectadores também).
As muitas faces, todas lindas, da sedutora Dorothy Malone.

'Beijo por beijo', 'Bala por bala', diz
o pôster anunciando um western
em Widescreen Color.
ONDE ESTÃO OS 500 ÍNDIOS? - Uma sequência apenas seria suficiente para demonstrar como Corman trabalhava, aquela em que o quinteto avista os índios e tomam a providencial decisão de rumar para o lado contrário daquele para onde 500 índios se dirigem. O detalhe é que o esperto Corman usou uma sequência de arquivo para mostrar os 500 índios que se afastam deles e engana o público com a presença de apenas um índio de verdade desgarrado dos demais e que é abatido em outra cena. Com apenas 74 minutos de duração, “Cinco Revólveres Mercenários” é dirigido com mão segura, ainda que econômica, por Roger Corman. Boas sequências de lutas e o confronto final convincente, mesmo que a morte do mais rebelde e nervoso dos irmãos Candy seja forçada. Corman afirmou que muito o ajudou nesse filme a cinematografia de Floyd Crosby. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Fotografia em Preto e Branco por “Matar ou Morrer”, Crosby filmou no processo Pathecolor, conseguindo excelentes imagens, ainda mais considerado o tão pouco tempo para medir luz, posicionar a câmara e outros detalhes técnicos. Floyd Crosby é o pai de David Crosby, famoso cantor e compositor, componente do grupo Crosby, Still, Nash and Young.

Roger Corman
O INCANSÁVEL ROGER CORMAN - John Lund é um ator discreto e correto que jamais força a imagem de herói que ele sabia que não possuir. Mike Connors em início de carreira já fazia o tipo cínico que o marcaria no cinema e na TV. Paul Birch se esforça para parecer menos ridículo escondido atrás de uma barba postiça comprovando que a produção de Corman é tão pobre que até o nome do ator Jonathan Haze saiu errado nos créditos iniciais (Jonathon). Esse ator atuou outras vezes com Corman, uma delas como o jovem do clássico “A Loja dos Horrores”. Bob Campbell é o próprio autor da história de “Cinco Revólveres Mercenários” R. Wright Campbell. Cercada por todos esses atores, a única presença feminina é de Dorothy Malone, mas que presença! Impossível tirar os olhos da fascinante e sensual Dorothy que consumaria seu irresistível poder de atração em “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset). E além de maravilhosa mulher Dorothy é também boa atriz, o que demonstra neste faroeste de Corman. Dorothy Malone por si só já vale assistir “Cinco Revólveres Mercenários”, pequena lição de como fazer um bom filme com tão pouco dinheiro. Ajustada a inflação “Cinco Revólveres Mercenários” custaria hoje 500 mil dólares. Em seguida, no mesmo ano de 1955, Roger Corman filmaria “Pistoleiro Solitário”, agora com um orçamento muito maior, quer dizer, um pouco maior, já que custou a ‘fortuna’ de 80 mil dólares mil dólares. E nos próximos 15 anos Roger Corman dirigiria outros 50 filmes, o que não é quase nada perto dos 400 filmes que produziu, até agora, em 57 anos de carreira.

Dorothy Malone atirando, montando sem sela e distribuindo sua
sensualidade em "Cinco Revólveres Mercenrários".

Um comentário:

  1. Fazer um filme em dois dias e com um orçamento de 27 mil dolares, é mesmo uma façanha que somente Corman seria capaz de experimentar e concluir.

    Ouvi, melhor, andei lendo que o filme de Kurt Newman, A Mosca da Cabeça Branca/58, com Vincent Price, havia sido feito em 19 dias.
    E aquilo já ma impressionara. Depois andei lendo que se faziam filmes em muito menos tempo, como uma semana, quinze dias, dez dias.
    E cheguei a imaginar que eram apenas filmes de curta duração e também simples, sem muito aparatos ou coisa assim.
    Mas não. Temos a prova aí de A Loja dos Horrores, que chegou a fazer um bom sucesso na decada de 60.

    Tal entusiasmo, por se fazer uma fita em tão curto espaço de tempo, dá-se por conhecer os longos anos que foram preciso para se fazer, por exemplo, Os 10 Mandamentos e Quo Vadis. Mesmo se considerando que a maior parte destes tempos foram consumidos na pre-produção.

    Já conhecia tais façanhas do Corman fazendo filmes de terror, que foi onde o conheci, realizando obras baseadas em Poe.
    Porém, jamais assisti a um faroeste dele, nem mesmo o do titulo, que me parece ser um filme bastante dinamico e agradável.

    O Corman é aquela lenda do cinema, mesmo que uma lenda que parecem não desejosos de o divulgarem muito. Talvez por ser ele diferente em tudo com relação às muitas outras lendas da setima arte. Mas que o Roger Corman foi um inovador, um homem do cinema propriamente dito, isso foi sim.

    Ele não apenas dirigiu muitos filmes com baixo orçamento e em curtos espaços de tempo, como lançou muitos hoje grandes atores.
    Também produziu muitos filmes e mostrou como se fazer algo, que não merecesse muitas reclamações, com muito pouco, ou mesmo,e até filmes muito bons.

    Recordo que o Nicholson nasceu de pequenas atuações em suas fitas e que o Price ganhou muita notoriedade em filmes de horror nas mãos competentes deste mestre da inventividade, como também o Terence Fischer o soube aproveitar bastante em muitos filmes da Hammer.

    Falar da Dorothy Malone é desejar meter a mão
    num muito infestado formigueiro de sauvas.
    A jovem loira era algo como se um moinho que se movia com ardencia ao sabor da mais leve brisa.
    Quase que não tenho a menor duvida de que Sirk a escolheu para a Marylee de "Palavras ao Vento", após ve-la nesta pelicula.

    Ser sedutora era ser Malone. Ne sua fisionomia já se lia algo semelhante a mulher tentação que ela era.
    Não era aconselhavel a qualquer homem se fixar muito naquele rosto de olhos graudos e lábios provocativos. Isto porque, se a jovem e bela mulher captasse tal olhar e dirigisse o seu para aquele famingerado interesseiro, a fogueira estaria acesa e o capeta certamente pularia e começaria a dançar sobre as brasas.

    A Dorothy era isso ou muito mais. Ela era ardente demais e de feições provocativas além dos limites normais do que um homem possa suportar sem, ao minimo, dar uma encarada.
    E o Corman, que nunca foi bobo, descobriu estes contornos na atriz e o explorou como devia no seu Cinco Revolveres Mercenários.
    Mas...que bandido esse Corman!
    jurandir_lima@bol.com.br

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