O que há de mais interessante no faroeste “Roleta Fatal” (Three Young Texans) é a presença de um ator magro, feio e péssimo imitador de Jack Elam. O ator do olhar torto Jack Elam era, já no início da década de 50, um tipo marcante. O nome desse imitador era Aaron Spelling que, ainda bem, trocou a carreira de ator pela de produtor, tornando-se o mais prolífico, o mais famoso e o mais rico produtor da TV norte-americana.
Aaron e Carolyn Jones, marido e mulher em 1953. |
RACISMO INFANTIL EM DALLAS - Aaron Spelling nasceu em Dallas (Texas) em 22 de abril de 1923, filho de imigrantes judeus vindos da Rússia e da Polônia. Quando criança o pequeno e magro Aaron apanhava todos os dias de seus colegas nas idas e vindas à escola só porque seus pais falavam aquele estranho idioma, o idishe. Psicosomaticamente Aaron, aos oito anos de idade, não conseguia se levantar da cama para ir à escola, passando um ano adoentado, até que se recuperou e enfrentou o bullying dos meninos texanos. Em 1942 Aaron se alistou nas Forças Armadas norte-americanas e quando voltou para casa ao fim da II Guerra Mundial trazia as medalhas Estrela de Bronze e a cobiçada medalha dos grandes heróis, a Purple Heart. Certamente os meninos que espancavam o judeuzinho Aaron não mostraram a mesma bravura. Aaron cursou então a Universidade Metodista do Sul, em Dallas, onde estudou Arte Dramática e criação de peças teatrais. Aos 20 anos Aaron se casou com uma jovem e promissora atriz chamada Carolyn Jones que já atuara em dois filmes de prestígio: “O Museu de Cera”, com Vincent Price (primeiro filme no processo chamado Terceira Dimensão) e em “Os Corruptos”, de Fritz Lang, com Glenn Ford e Lee Marvin. Enquanto Carolyn fazia bons filmes seu marido Aaron imitava pessimamente Jack Elam em “Roleta Fatal”, faroeste muito pobre produzido por um certo Leonard Goldberg.
O jovem produtor Aaron Spelling e Don Durant, que interpretou Johnny Ringo. |
JOHNNY RINGO, A PRIMEIRA SÉRIE - A carreira de Carolyn Jones não parava de melhorar e ela contracenava nos filmes com astros como Frank Sinatra, Elvis Presley, Kirk Douglas e Alan Ladd. Enquanto isso o marido Aaron era relegado a humilhantes pontas sem direito sequer a ver seu nome nos créditos iniciais. Foi aí que despertou em Aaron aquele faro próprio muito dos judeus para ganhar dinheiro. Aaron percebeu que os atores bem sucedidos ganhavam bem, mas os produtores ganhavam muito mais. Aaron abandonou a fracassada carreira de ator e passou a escrever roteiros para a televisão para a produtora Four Star em séries como “Zane Grey” e “Caravana”. Não demorou nada e Aaron já havia se tornado produtor de alguns episódios dessas séries. Mais um pouco e Aaron Spelling criou uma série própria chamada “Johnny Ringo”, também para a Four Star. Em 1959 a concorrência com outras séries westerns na TV era acirrada e essa primeira tentativa de Spelling resultou em apenas uma temporada com 38 episódios de meia hora em preto e branco. ‘Johnny Ringo’ era interpretado pelo ator Don Durant.
Alan Ladd com o rosto bastante inchado com Jeanne Crain e em luta com Gilbert Roland em "Gigantes en Luta". |
PARCERIA COM ALAN LADD - Paralelamente a esse trabalho Aaron Spelling decidiu produzir para o cinema, associando-se a Alan Ladd, com quem produziu o western “Gigantes em Luta” (Guns of the Timberland), estrelado por Ladd. A carreira de Alan Ladd já estava em decadência e “Gigantes em Luta” não obteve o sucesso esperado, o que fez com que Aaron Spelling se voltasse decididamente para a televisão. Carolyn Jones e Aaron Spelling se separaram em 1963, exatamente o ano em que a estrela de Spelling começou a brilhar com a série policial “A Lei de Burke”, estrelada por Gene Barry, que vinha do sucesso que havia sido “Bat Masterson”. O novo casamento de Spelling (com Candy Spelling) ocorreu em 1968, ano em que ele formou uma produtora com o ator-produtor Danny Thomas. A Spelling-Thomas produziu a série “Mod Squad”, com sucesso ainda maior que “A Lei de Burke”. Em 1972 Spelling desfez a sociedade com Danny Thomas e se associou ao antigo amigo Leonard Goldberg que era o chefe de produção da ABC. Dessa parceria nasceram séries de enorme êxito como “Swat” e “Starsky e Hutch”. Aaron Spelling percebeu que não precisava de ninguém junto a ele para dividir os altos lucros conseguidos com as séries que criava e a partir de 1976 fundou a Aaron Spelling Productions Inc., que chegou a ser responsável por um terço das séries produzidas pela TV norte-americana, séries sempre distribuídas pela ABC. A rede ABC (American Broadcasting Corporation), que há anos assistia do seu eterno 3.º lugar a briga pela audiência da CBS e com a NBC, passou para o 1.º lugar e todo mundo chamava a ABC de Aaron’s Broadcastig Corporation.
Walter Brennan e Fred Astaire, dois dos patrulheiros aposentados e Clint Walker. Produções de Spelling. |
SUCESSOS SEM FIM - Spelling produziu 140 filmes para a TV, entre eles os westerns “Os Pistoleiros Aposentados” (The Over-the-Hill Gang) e “Os Patrulheiros Aposentados Atacam Outra Vez”, ambos com Walter Brennan e um elenco de veteranos; “Yuma” e “The Bounty Man”, estrelados por Clint Walker; “As Filhas de Joshua Cabe”, com Buddy Ebsen; “The Trackers”, com Ernest Borgnine; “As Novas Filhas de Joshua Cabe”, com Jack Elam. Mas o que transformou Aaron Spelling numa espécie de Rei da Televisão não foram seus TV-movies e sim a mais de uma centena de séries e mini-séries que seu gênio criativo não parava de inventar. Entre essas produções merecem ser lembradas “A Ilha da Fantasia”, “Dinastia”, “Hotel”, “Casal 20”, “As Panteras”, “Melrose Park” e “Barrados no Baile”.
Dois aspectos da fabulosa mansão construída por Aaron Spelling e Holmby Hills, Los Angeles. |
“OLHE PARA MIM, SOU RICO!” - Cada sucesso representava mais e mais dinheiro na conta de Aaron Spelling que chegara em Hollywood cheio de sonhos mas sem dinheiro nos bolsos. Spelling era visto como uma soma de Louis B. Mayer, Jack Warner, Darryl Zanuck e Harry Cohn, os chefões dos grandes estúdios da época de ouro do cinema. Poderoso igual a eles e mais rico que todos eles. Quando Spelling decidiu mostrar que era milionário comprou por dez milhões de dólares, nos anos 70, a mansão que pertencera a Bing Crosby, demolindo-a. No lugar Spelling fez uma elevação para construir uma mansão em estilo castelo francês, que lhe custou mais doze milhões de dólares. Considerada a maior residência dos Estados Unidos, a mansão possuía 123 quartos todos luxuosamente decorados A enorme área de 26 mil metros quadrados e fica em Holmby Hills no mais luxuoso bairro de Los Angeles. Essa mansão com 20 metros de altura pode ser enxergada de qualquer parte da cidade, sendo chamada pelos vizinhos de “Olhe para mim, eu sou rico!” A revista Forbes estimou a fortuna de Spelling, em 1980, em 300 milhões de dólares, hoje algo próximo de um bilhão de dólares, o que fazia de Spelling um bilionário do ramo de entretenimento. Quando Spelling faleceu, em 2006, Candy, sua viúva vendeu a mansão para Bernie Ecclestone, o dono da Fórmula Um, por 150 milhões de dólares.
O POBRE IMITADOR DE JACK ELAM - Aaron Spelling faleceu aos 83 anos de idade, em 23 de junho de 2006, vítima de complicações cardíacas. No fim de sua vida Aaron teve câncer na boca em razão do antigo hábito de fumar cachimbo. À parte a ostentação de sua fortuna, Aaron Spelling era um homem generoso e suas atividades humanitárias lhe renderam incontáveis homenagens. E olhado por qualquer ângulo a televisão lhe deve muito pelos milhares de empregos que propiciou a técnicos, escritores e atores ao longo dos quase 50 anos de sua extraordinária vida de produtor. Pensando bem, nada mal para aquele péssimo imitador de Jack Elam que com alguma boa vontade pode ser visto em “Roleta Fatal”.
Spelling pobre em "Roleta Fatal" e milionário produtor de TV. |
Passei boa parte de minha adolescência vendo séries e telefilmes com o nome do Spelling nos créditos. Tudo descartável e bastante divertido. Pelo menos para aquela época. E que hoje faz parte da memória afetiva de muita gente.
ResponderExcluirMas o curioso em biografias como a dele é ver como o cara acertou em mudar de ramo e explorar suas outras habilidades. Poucos conseguem perceber seus pontos fracos e fortes como ele o fez. Ainda que não tenha saído nenhuma obra-prima de suas produções, Spelling merece reconhecimento. Fiquei curioso para ver sua "versão do Jack Elam".
Edson Paiva
Edson, a coisa mais certa que o Aaron Spelling fez na vida foi desistir de ser ator... - Darci
ResponderExcluirSe os banianos fossem como os judeus, trabalhadores, caprichosos, criativos e eximios comerciantes, principalmente, a Bahia seria a New York deste país sucateado e vergonhoso.
ResponderExcluirMas os bahianos só querem saber de carnaval, praia, namorar, beber cerveja e dançar. Ah! E também de se queixar da vida, que é pobre, que ganha pouco e tudo o mais de queixas que puder existir.
Foi por esta sanha de produzir, de ser sempre alguém na vida, de olhar para o futuro com olhos bem abertos e cairem na lida e, com isso, terem uma vida abastada, que Hitler, cheio de inveja e ira por essa gente lutadora(falo dos judeus), os dizimou como o fez de 1939 a 1945.
Exatamente como fez o feioso, claro que quando estereotipado, pois ele até que se passava ao natural, Spelling percebeu onde a mina de ouro poderia estar, já que até ali vivera de sonhos e de imitações.
Quantas e quantas vezes este nome dançou diante de meus olhos nas telas dos cinemas e TV e jamais lhe dei atenção, somente valorizando os diretores e atores.
Que homem felizardo na vida! Porém, felizardo por sua boa cabeça e indole para produzir e faturar. Inteligente e surpreendentemente sábio, que soube descobrir no momento exato em que sua vida não saia do nada, como poderia ser tudo tão diferente se olhasse mais para os lados e para a frente.
Enfim; um homem cheio de uma beleza singular, lutador, rico, bom e que a muitos e muitos ajudou a triunfar como ele.
Valorizo pessoas assim. Porém, poucos, muito poucos mesmo, afora este povo lutador judeu, que sabem dar reviravoltas poderosas assim na vida.
jurandir_lima@bol.com.br
Soube fazer a alternação, produziu, viveu bem e longos 83 anos para desfrutar, merecidamente, seu sucesso.
Paiva;
ResponderExcluirConforme já citei mais de uma vez, somente leio os comentários já postos depois que faço o meu.
Incrivelmente os nossos comentários têm muito em comum. O seu mais comedido, mais compacto, coisa que não sei fazer e invejo quem escreve tudo em poucas palavras.
Eu, mais dilatado, mais conversador, sem saber escapulir de minha linha de escritor, dando vazão às minhas idéias e enchendo o saco de vocês para lerem tudo que poderia resumir e fazer num trecho do tamanho do que meu amigo faz.
Porém, como pensamos quase que em similar, nossas escritas dizem quase que a mesma coisa, embora com tons diferentes, assim como com palavras também diferentes.
Bom teu comentário. Muito bom, compacto, direto, bem construido e posto nele tudo que o Aaron justificou no mundo do entretimento.
Um grande abraço para meu bom amigo. E que ele não deixe de estar sempre voltando ao que já passou ou lendo "Conversas de Saloon", onde estão postos os ultimos comentários, já que eu me inspiro muito nos seus ditos para me aprofundar mais e mais no que amamos de verdade.
E então me ponho a falar sempre contigo.
Fica com Senhor do Bomfim
jurandir_lima@bol.com.br
Darci;
ResponderExcluirPerfeita sua frase para o Paiva; o Aaron não poderia jamais ter feito melhor escolha na vida, senão deixar a idéia de ser ator de lado e abrir mais seus já graúdos olhos.
Foi assim que ele descortinou novos horizontes, descobrindo que tinha nele valores que nem mesmo ele sabia que existiam.
Abraço do bahiano,
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir, claro que foi só uma ironia pois não daria muito certo acumular as funções de ator com a de produtor. Darci
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